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  • Seria um Lobisomem?
    Iniciado por Arph
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#15
Citação de: oculto em 10 setembro, 2010, 15:49
E falar com o pároco?

A aldeia não tem igreja. A igreja e o pároco mais próximos ficam numa outra a uns 4 km. Tanto quanto sei a notícia nunca chegou à localidade vizinha. Nem acredito que um pároco fosse aceitar um delato destes serenamente. Decerto ria-se e mandava-me passear. Era o mais certo. Poucos padres tem essa sensibilidade. Para eles é mais uma visão do mundo maniqueísta: dum lado o bem, do outro o mal. E mais nada.
A pessoa em causa, à semelhança dos homens mais velhos da aldeia, embora cristãos católicos, não frequentam as missas. As únicas vezes em que vi e vejo os velhotes da minha referida aldeia nas missas, incluindo o Ti..., é aquando dum baptismo ou casamento na família, ou um funeral com missa de corpo presente ou 7º Dia.


Ainda vi a tua mensagem Panito  ;D
Sim, é vivo. Anda pelos 80 anos, 80 e tal. Viu-o pela última vez, se não me falha a memória, lá pelo fim do ano passado, e já andava apoiado numa bengala, muito trôpego.

Já agora, para não andar sempre com sucessivos postes, aproveito mais este para o modificar e dizer que cheguei a comer várias vezes em casa dele, sobretudo aos fins-de-semana, a convite do filho.
O Ti..., trabalhava na aldeia, na agricultura, sendo, pois, um homem que durante o dia se expunha publicamente e era visível a todos e a toda a hora, pelo que se deveriam manifestar as suas eventuais capacidades extraordinárias só de noite. Só assim conseguia manter em completo segredo (aos olhos de estranhos e por manifestação pública) das pessoas. Se desse de dia até eu teria visto algo ao vivo, pois era frequentíssimo vê-lo. Quase todos os dias o via.
Estou em crer que se tem algum dom, só à noite se manifestaria.

panito
Tenta Falar com ele =)

#17
 ;D ;D ;D Acredita que há um bloqueio natural que me impede de o fazer. Na altura dos factos até estive para lhe perguntar, já que o vi ao outro dia, o que lhe tinha acontecido, mas "algo" me impediu de o fazer. Talvez uma consciência secreta de que sei o que ele é e que tenho o dever de preservar, de ocultar dos estranhos.
Postando aqui este relato, e mesmo que vocês venham a saber quem eu sou, sem menção de nomes de pessoas ou localidades, com a referência apenas de que ele ainda é meu familiar afastado e tem um filho meu amigo (não disse, só um filho), nada quebro de sigiloso; afinal na aldeia vários casais dessa época tem pelo menos um filho e serão todos meus familiares afastados  ;D ;D

panito
È a tal questão que falaste

Citação de: panito em 10 setembro, 2010, 16:16
È a tal questão que falaste

Exactamente.
Abordar agora este assunto com o filho era capaz de criar desconfianças, dissabores e deixar um mal-estar na nossa amizade. Eu não o faço.

panito
Acho que fazes bastante bem

Talvez um dia, se o ambiente se proporcionar o seja capaz de fazer. Mas têm que estar presentes as condições necessárias. Se num ambiente descontraído em que a conversa descambe para este tipo de tema (o que acho improvável), pode ser que tente colocar o assunto com subtileza ao filho. Afinal de contas vocês não estão mais curiosos do que eu  ;D

panito
mas estamos um pouco curiosos

Citação de: Arph em 10 setembro, 2010, 16:41
Talvez um dia, se o ambiente se proporcionar o seja capaz de fazer. Mas têm que estar presentes as condições necessárias. Se num ambiente descontraído em que a conversa descambe para este tipo de tema (o que acho improvável), pode ser que tente colocar o assunto com subtileza ao filho. Afinal de contas vocês não estão mais curiosos do que eu  ;D


Pôe curiosidade nisso. Eu é que já não tenho mais histórias!!! Só se as inventar ;)
Templa - Membro nº 708

#24
Boas, Templa  ;D

Mas não será nos tempos mais próximos, já que neste momento estou um bom bocado afastado da aldeia e só lá vou muito esporadicamente.

Ainda tenho alguns relatos, uns passados comigo e outros com terceiros que conheço.
Tenho pelo menos dois casos singulares de Experiências-Quase Morte (EQM) que faço questão de postar a seu tempo, até porque tenho que voltar a falar com as pessoas em causa para avivar pormenores. Um deles foi num acidente de moto, e a outra num parto.



#25
Desculpem-me a colocação de dois comentários seguidos sem haver intercalação, mas se colocasse esta minha observação aproveitando o meu comentário anterior perdia-se o sentido.

Curioso, agora reparo que há aqui muitos pontos semelhantes com um outro post que aqui coloquei com o nome de " Os Cavaleiros Fantasmas", história que a minha avó me contou e que se passou com um bisavô meu.
1º-Também houve a cena do surgimento do elemento humano ligado à realidade "lobisomem", em cima dum meio de transporte;
2º- Vendaval repentino,
3º- Barulho;
4º- Cães a ladrar.

No entanto, a minha avó referiu-me que os cães começaram a "ladrar". No meu caso houve o vendaval e houve o barulho, mas os cães "uivaram".
Não sei se no caso contado pela minha avó os cães também não teriam uivado em vez de ladrar, e teria sido falta de preciosismo ou até pouco uso pelos antigos da palavra "uivar", ao tratar-se de cães.
No entanto, não deixa de ser pertinente, que na mesma área (o meu bisavô era da minha aldeia e ia a caminho duma aldeia vizinha) surjam acontecimentos estranhos em que elementos se repetem, em histórias de ditos lobisomens.

Embora a sequência dos factos não seja semelhante, pois no meu caso primeiro deu-se o barulho e só depois o vendaval; tudo, afinal, pode ser fruto do factor tempo/memória, ou seja, a minha avó contou os factos mas já com alguma confusão quanto à sequência exacta dos factos. Os factos estão lá todos, só que dois deles numa sequência diversa. Ou então a minha avó contou-me bem e posso ter sido eu a contar-vos mal a sequência factual, e o lapso ser meu.

Acreditem que só agora fiz essa associação. Lembrei-me de repente que este caso tinha algo de muito próximo com aquele outro de "Os cavaleiros fantasma", e compreendi imediatamente a relação entre eles e agora, peço desculpa a todos, acredito sinceramente que tudo isto não é mera coincidência mas algo muito estranho se tem passado por aquelas bandas.
Estou plenamente convencido disso.
Uma coisa é ouvirmos uma história contada por quem nos merece confiança, mas ficamos sempre naquela se não houve enfabulação; outra diferente, é sermos nós protagonistas numa história que tem os contornos exactos duma outra que nos afiançaram ser verdadeira.
Pela veracidade da minha história concluo pela veracidade da história que a minha avó me contou de "Os cavaleiros fantasmas".

Desculpem ter-me alongado, mas não podia deixar de vos dizer isto quando se me fez luz.
Há alguém que sobre "lobisomens" tenha também estes elementos presentes?

#26
Peço desculpa a quem me lê, e em especial, ao autor do post inicial.

A história inicial e os relatos posteriores são interessantes e testemunho de um certo Portugal.
Uma história agradável enquanto relato de uma noite de Verão.

Mas, onde encaixa aqui a existência de lobisomens?,
Como é eu hei-de colocar a questão sem ofender a seriedade do autor do relato?
Não li nada na história que me conduza à existência de um lobisomem, nem estou sequer a fala da veracidade ou não da existência desses seres míticos.

De acordo com a história, lemos um relato de quem viu passar depressa um homem de bicicleta e um cão a ladrar e um «vendaval repentino».
A única coisa que sabemos é o relato feito por uma das duas testemunhas.

O que sabemos antes da própria história começar é que alguém em certa aldeia de Portugal tem a fama de lobisomem, nada mais.
Nada mais os dito ou relatado que indicie ou sugira estarmos perante algo anormal quanto mais paranormal.
Nada mais nos conduz ao lobisomem.

Fazendo a ligação desta história à dos "Cavaleiros Fantasmas", esta mais próxima de relatos que tenho lido e ouvido de diversas origens com um ponto comum: algo que aparece e desaparece do nada, mas e ainda aqui nada relacionado com os supostos lobisomens.

Os lobisomens são como a bruxas, não que as haja, mas que se sabe que existem mas ninguém sabe o que são.
E quanto a bruxas, o melhor que conheço, em Portugal, são os relatos dos processos da Inquisição nos séc. XVI, XVII e XVIII e nos Estados Unidos o processo das Bruxas da Salém, mas, todas elas, de bruxas não tinham nada, excepto, que serem mulheres com capacidades paranormais, situação bastante incómoda numa sociedade medieval em que a Igreja e o Papado atravessam um crise e uma divisão profunda com as reformas luteranas.

Também relacionado com o supostos lobisomens existem portugueses que foram incomodados os inquisidores do Santo Ofício bastante mais pelo medo da invenção destas heresias do que pela realidade dos factos de que eram acusados, por ouvir dizer.

Quanto à realidade do lobisomem, pode encontrar-se na palavra "licantropia", conceito que a medicina atribui à «Doença mental em que o doente se julga transformado em lobo».

Se a isto juntarmos a capacidade de o ser humano com a força da mente provocar alterações no seu próprio corpo, incluindo doenças como no caso das doenças psicossomáticas, estamos esclarecidos quanto à origem dos lobisomens.

Esta história poderia (e deveria) ligar-se à história dos "Cavaleiros Fantasmas" e apurar a sua veracidade e origem que se perdem a noite dos tempos.
«Para aqueles que não querem pensar existe o alimento dos templos»
(Manuscrito de Urga)

#27
Damiano, tens toda a razão!

De facto, faltou apresentar previamente a definição de lobisomem. Conceptualmente advém de "licantropia", como bem referes. Porém, e foi isto que me faltou dizer na história, é que na minha zona (Zona Centro-Litoral) a figura do lobisomem não se subsume apenas à ortodoxa definição que muito bem apresentaste da licantropia. Vai muito mais além: confunde-se com o ser humano masculino fantástico que tem capacidades de transformação física, de domínio dos quatro elementos (ar, água, fogo e terra), e se manifesta na noite aos incautos, sobretudo nas de lua cheia. Não é apenas aquele que se transforma em lobo, e como ele se comporta. Não, é o ser humano masculino dotado de dons especiais, invulgares, místicos, se quiserem, e que os usa ocultamente, demonstrando de quando em vez, e sempre disfarçando e protegendo a sua identidade, esses seus poderes extraordinários. E são esses poderes, que lhe serão concedidos à nascença, que o forçam à transformação, muitas vezes dolorosa para o próprio.

Quando contei a história, não tive o devido cuidado de fazer esta introdução. Mas quem é da minha zona ou habita em aldeias percebeu-me perfeitamente.
Para nós, esse vendaval inusitado, no momento em que passou o referido senhor, não nos pareceu obra do acaso, ou um fenómeno natural que, diga-se, nunca na minha vida a outro igual assisti. Poderia ser um fenómeno natural, não ponho de parte, claro está, mas as coincidências não me convencem e eu, por critério pessoal, nunca acredito em coincidências.


Coloco aqui um excerto dum comentário meu no post "Os cavaleiros fantasmas", para se perceber melhor a ideia que se tem na minha zona da figura do lobisomem:


"Para o meu bisavô, e à luz da mentalidade supersticiosa de então, aquilo fora obra de "lobisomens" e, mais, contou-me como as coisas se passavam, para explicar porque razão não tinham a forma de homens-lobo mas de cavaleiros. Então tudo se passava assim: há pessoas que nascem com esse "dom" de se transformarem. Pode ser gente pacífica, até amigos próximos, mas em certas noites, sobretudo de lua cheia, sentem uma grande necessidade de sair de madrugada e transformam-se no rasto da primeira coisa, pessoa ou animal que pisam. Assim, poderiam aparecer na figura dum animal, dum objecto ou duma pessoa qualquer que ali tenha deixado o rasto. Aqueles, seriam quatro lobisomens que ao sair de casa teriam pisado os rastos dos cavaleiros e cavalos. E contava que se falava dum célebre barril que numa noite se fartou de atravessar a povoação dum lado para o outro, sem ninguém lhe mexer, até desaparecer.
Muitos deles (lobisomens), que tinham amigos de confiança, contavam-lhes as suas capacidades e pediam-lhes ajuda para os livrarem desse fardo. E só havia uma forma, que era a seguinte: O amigo devia estar junto da porta do seu colega lobisomem, munido duma agulha, quando fosse a altura das "saídas" (lua cheia), e assim que este metesse o pé na rua, mas antes de o fazer, devia picá-lo para que saísse o sangue com a energia causadora da sua transformação. Tinha que ser antes de pisar algum rasto, pois caso contrário, após a transformação, já não surtia efeito. Porém, o amigo que isso fizesse, devia ter muitas cautelas, pois se o sangue caísse sobre si, a "maldição"  passava para si e era ele que agora se transformava em lobisomem
."

Vou postar, a propósito, um novo episódio onde, na minha zona, se atribui a actividade de um lobisomem, e terá o título: "Seria um lobisomem II"

Citação de: Arph em 11 setembro, 2010, 14:52
Damiano, tens toda a razão!

De facto, faltou apresentar previamente a definição de lobisomem. Conceptualmente advém de "licantropia", como bem referes. Porém, e foi isto que me faltou dizer na história, é que na minha zona (Zona Centro-Litoral) a figura do lobisomem não se subsume apenas a ortodoxa definição que muito bem apresentaste da licantropia, Vai muito mais além: confunde-se com o ser humano masculino fantástico que tem capacidades de transformação física, de domínio dos quatro elementos (ar, água, fogo e terra), e se manifesta na noite aos incautos, sobretudo nas de lua cheia. Não é apenas aquele que se transforma em lobo, e como ele se comporta. Não, é o ser humano masculino dotado de dons especiais, invulgares, místicos, se quiserem, e que os usa ocultamente, demonstrando de quando em vez, e sempre disfarçando e protegendo a sua identidade, esses seus poderes extraordinários. E são esses poderes, que lhe serão concedidos à nascença, que o forçam à transformação, muitas vezes dolorosa para o próprio.

Quando contei a história, não tive o devido cuidado de fazer esta introdução. Mas quem é da minha zona ou habita em aldeias percebeu-me perfeitamente.
Para nós, esse vendaval inusitado, no momento em que passou o referido senhor, não nos pareceu obra do acaso, ou um fenómeno natural que, diga-se, nunca na minha vida a outro igual assisti. Poderia ser um fenómeno natural, não ponho de parte, claro está, mas as coincidências não me convencem e eu, por critério pessoal, nunca acredito em coincidências.

Perfeito, assim sim.
Esta explicação foi importante por duas razões:

A ideia do lobisomem na cultura rural portuguesa que ultrapassa em muito o mito do homem-lobo era a situação que eu conhecia e por isso referi a maior aproximação com a realidade dos "cavaleiros fantasmas", que apareciam  e desapareciam do nada, envoltos em nuvens, em tempestades e situações semelhantes.
As histórias mudam de personagens ou locais ou contornais conforme a região, mas havia uma linhagem comum que eu procurava, por vezes em vão, porque o contador da história nem sempre valorizava os aspectos mais importantes ou reais, esquecendo-se ou perdendo-se na sua fértil imaginação.
Nunca aconteceu muitas vezes mas as suficientes para as admirar tentando descortinar onde a história era esticada. Por vezes surgia a resposta na pronta da língua: «foi assim que a ouvi, foi assim que a minha avó, a minha tia-(avó) me contou», etc.

Esta ideia que transmites e permito-me citar-te:

«confunde-se com o ser humano masculino fantástico que tem capacidades de transformação física, de domínio dos quatro elementos (ar, água, fogo e terra), e se manifesta na noite aos incautos, sobretudo nas de lua cheia.»

é extraordinariamente importante, porque é a chave da história que publicaste.

Aqui está o cerne da questão. Era esta ideia que eu tinha - não de qualquer vivência rural que nunca tive - mas do convívio dos meus tempos da escola secundária, quando os meus colegas contavam o que para mim eram histórias extraordinárias que tinham ouvido nas suas férias grandes na terra dos pais ou dos avós.
Eu maravilhava-me por descobrir um Portugal que sabia que existia, mas não que tinha histórias que se liam nos livros.

Como bem referes o lobisomem e bem mais do que um homem-lobo e assim tudo faz sentido, mas ainda assim, é a visão campestre ou rural a falar,
Tem muito de cultura, ingenuidade e crendice.
O factos eram vistos por todos mas interpretados por alguns e repetidos por poucos e sempre na aldeia do lado.

Estas histórias fazem-me lembrar o filme de M Night Shyamalan, A Vila, que quando o vi me fez lembrar estes relatos da minha juventude. Só o amor supera o medo, era o lema daquele filme.
Como o lema destas histórias são parece ser também o medo, o maior pecado, ou como eu prefiro chamar-lhe a ignorância fundamental.

Meu caro, por mim podes continuar a contar histórias que sou todo ouvidos.
«Para aqueles que não querem pensar existe o alimento dos templos»
(Manuscrito de Urga)

Damiano, apraz-me saber que há quem critique fundamentadamente.
Gostei dos teus comentários e vejo que és um investigador e interessado por estes temas da ruralidade e mitos e crenças da alma portuguesa.
São comentários como teu (sem desprimor para os demais) que enriquecem este fórum.
Continua  ;)