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  • Como criar um trauma benigno para anular um maligno
    Iniciado por F.Leite
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     1ª Parte:

    Hoje vivemos um tipo de vida que nada tem a ver com a vida dos primeiros homens. Temos formas de ver e de julgar a vida e a sociedade que são já uma criação da inteligência e agimos mediante um julgamento social moderno.

    A nossa mente no entanto foi criada para agir e reagir mediante as condições da época em que se formou e não segundo as regras actuais. Adaptamos a forma de raciocinar mas o mecanismo cerebral funciona da mesma forma que há milhares de anos atrás, quando foi criado.

    A forma como memorizamos continua a mesma, embora memorizemos coisas diferentes, pois é diferente o que vemos e ouvimos. Contudo os mecanismos que constroem a nossa personalidade continuam exactamente iguais ao que sempre foram. E nós humanos, não fomos criados num ambiente de mordomias e bom viver como aquele em que vivemos actualmente.

    A nossa mente (cérebro) foi criada para nos dar condições de sobrevivência num ambiente hostil que não tinha nada a ver com amabilidades. Era matar para comer e matar para sobreviver. Fomos criados para aprender, não por livros mas à nossa custa e pela dureza da vida. Pelos perigos ultrapassados ganhamos a experiência e o conhecimento e os que assim não fizeram ficaram pelo caminho.

    Por isso mesmo o medo é o nosso sentimento mais forte. O medo obriga-nos a aprender a contornar o perigo e a arranjar forma de o evitar. Naquela época um individuo sem medo, ou se tornava um líder ou em pouco tempo era um cadáver por não saber avaliar o perigo das situações.

    O medo, embora nos ensine a viver, tem o inconveniente de nos causar traumas que perduram para toda a vida. E é assim porque é o medo o responsável por grande parte da informação que o subconsciente retém como extremamente importante. O subconsciente guarda a memória do que provocou o medo com todos os dados que foram captados aquando esse medo se manifestou. Principalmente a ordem que foi interiorizada como forma de reagir a esse medo.

    Trauma é uma desagradável experiência emocional de tal intensidade, que deixa uma marca duradoura na mente do indivíduo.

    E porque raio precisamos de ter um cérebro sujeito a traumas?  - Porque ao nível da consciência estamos sempre a mudar de ideias e a esquecer coisas que já aconteceram e que foram momentos importantes na auto defesa.

    O nosso subconsciente é como um sistema de proteção integrado no nosso cérebro. Tudo o que foi mau e que por isso provocou medo fica gravado como exemplo de situações futuras. Tem o inconveniente de guardar também os medos que nos são impingidos.

    Ter medo de estar em situações que nos podem conduzir à morte é bom. A má experiência de uma queimadura que nos faz ter medo ao usar o fogo é bom que fique guardada pois assim de futuro vamos ter cuidado para não nos queimar-mos. O mal é de quando a voz de quem nos chama a atenção ou critica nos faz ter medo também.

    E nós intimamente sabemos que o tom de voz causa dano, por isso mesmo levantamos a voz quando nos queremos impôr. Nessas ocasiões usamos uma entoação que tenta ressoar no cérebro do ouvinte a quem se dirige a ameaça. Chegamos a falar até com os dentes cerrados para conseguir também uma expressão ameaçadora que reforce a tentativa de amedrontar. Ora pensem lá bem se não é assim que fazem.

    Da mesma forma que pelo medo gravamos as situações que o provocaram, pelo mesmo medo guardamos as palavras que nos proferiram. O subconsciente não deu atenção à expressão ou ao tom de voz que somente servem para provocar medo na mente. Ele atua quando o medo já está instalado e guarda a memória do que aconteceu antes do medo surgir, do que está a acontecer e da resposta dos sentidos ao acontecimento que deu origem ao medo. Tudo o que os olhos vêem e os ouvidos ouvem é guardado no subconsciente como lição de vida. O subconsciente tem por norma que se o corpo continua vivo com a forma como reagiu ao medo é porque o que foi feito pela consciência estava correto. De futuro reagirá da mesma forma se a mesma situação ou situação idêntica voltar a acontecer.

    Esta forma do subconsciente funcionar embora seja a ideal para a nossa sobrevivência, tem para nós muitos inconvenientes na forma como vivemos, isto porque o subconsciente se limita a comparar situações presentes com as memórias que guardou e a fazer-nos agir em conformidade.

    Por exemplo, Você subiu para um sitio alto quando algum animal pequeno a assustou e dessa forma sentiu-se protegida de um possível ataque do animal. Pois quando voltar a ver um animal pequeno que a assuste, a primeira reação que vai ter, vai ser procurar um sitio alto onde se possa proteger. Se não houver um sitio mais alto, por instinto procurará algo alto a que se agarrar, nem que seja um desconhecido que esteja perto. A menos que tenha um medo a desconhecidos ainda maior que o medo que tem ao animal. Nesta situação ficará incapaz de reagir e a solução será a que a mente naquele momento inventar. Poderá fugir, atacar ou defender-se porque faz parte do instinto primário de qualquer ser vivo.

     De ter em conta que este tipo de resposta do subconsciente não é só quando se sente ameaçado fisicamente. Quando numa conversa a nossa opinião é ameaçada, procuramos apoio na opinião de alguém que entendemos ser "mais alto" que nós no conhecimento do tema. Se nos faltar esse apoio, ou fugimos à conversa rodeando o tema, ou atacamos esgrimindo qualquer argumento que nos surja, ou defende-mo-nos tentando virar os argumentos do interlocutor contra ele mesmo.

    Esta forma de agir e reagir não deixa de ser fruto de traumas, uns benéficos e outros não, que já aconteceram na nossa vida. Outros há que são herança genética.

    O texto já vai longo e para não se tornar cansativo continua mais logo.

#1
F. Leite, resumindo e concluindo está a falar, aquilo que a psicologia chama, de recalcamentos. :)
Os dois testes mais duros no caminho espiritual são a paciência para esperar o momento certo e a coragem de não nos decepcionar com o que encontramos.
Paulo Coelho

#2
Citação de: flor123 em 30 agosto, 2017, 19:00
F. Leite, resumindo e concluindo está a falar, aquilo que a psicologia chama, de recalcamentos. :)

    Eu não entendo muito de psicologia, nem sei se a psicologia entende as coisas como eu entendo. Mas se os "recalcamentos" são conteúdos expulsos da consciência que reaparecem de maneira distorcida ou deformada, como dizem os livros, acho que não é disso que se trata.
     A causa primária destes traumas continuam presentes na consciência, pois ao falar sobre elas (as causas), elas são recordadas na forma como aconteceram.

Se não for abusar muito da sua disposição, gostaria que desse seguimento ao seu texto, pois estou a gostar de acompanhar o que escreve.
Muito obrigado.

#4
2ª parte

    O João tem 10 anos. Foi à escola saber os resultados de um ano de estudos e fica a saber o que já esperava. Tinha reprovado.

    O pai, homem criado pela vida e forçado a superar dificuldades para manter a família, tinha naquele filho a esperança de ver o seu futuro alterado. Por vezes dava-se consigo mesmo a sonhar acordado, vendo o filho doutor ou engenheiro. Desejava para o filho o que a vida nunca lhe pôde dar.

    Ao saber das notas do filho o seu mundo imaginário desmoronou-se e sem se dar conta, estava a vociferar contra o filho exactamente as palavras que ouvira já de seu pai. "-És um burro e nunca vais ser ninguém na vida! Devia era por-te a trolha, mas nem para isso tens jeito!" e levantando a cabeça aos céus argumenta: "- E matasse um homem a trabalhar para isto!"

    Embora João já estivesse à espera do recado pois sabia que tinha fracassado a sua meta, os berros autoritários do pai e a forma como este gesticulava, fizeram-no "temer" o pior. O seu coração acelerou mal o pai lhe levantou a voz. Baixou a cabeça com medo de o enfrentar e preparou-se para aceitar o pior que dali viesse. O pai ficou-se pelas palavras duras ditas como sentença, e foi essa sentença que foi guardada pelo íntimo do João.

    Se o João tivesse medo de reprovar por certo teria melhores resultados nos estudos. Acontece é que ninguém lhe soube oferecer objetivos que o auto-determinassem, ou no mínimo o estimulassem a ser bom aluno.

    O João nunca teve medo de chumbar, sempre teve foi medo da reação que o pai poderia ter se ele chumbasse e foi o facto de estar à espera dessa reação que ajudou mais ainda que o que lhe foi dito, ficasse gravado bem fundo no seu subconsciente.

    João não se socorreu da raiva para jurar a si mesmo que o pai não tinha razão e que iria ser alguém na vida. Não, o João ficou ali, entregue aos seus medos e às consequências da irritação do pai. Saiu vivo da situação e o seu intimo, por força da forma como o cérebro foi criado, registou que, perante o medo de falhar, não conseguir o objetivo de obter o que se quer da vida é uma forma de continuar vivo.

    Agora, sempre que a oportunidade de singrar aparece, o seu subconsciente boicota a oportunidade. Alcançar o objetivo é um salto no desconhecido que o subconsciente entende como perigoso. Como o subconsciente comanda todas as funções do corpo, não lhe é difícil de criar obstáculos que impeçam o João de fazer mais.

    Faltou ao João ter alguém em quem confiasse e que, sem que o pai se apercebesse, lhe tivesse dito que a fúria do pai se devia ao amor que tinha ao filho, mas que este (o João), iria ser alguém na vida e que iria provar ao pai que ele se tinha enganado. Alguém que de voz firme e confiante lhe soubesse enaltecer as qualidades e o incentivasse a vencer. Só dessa forma o subconsciente do João alteraria o juízo da situação porque nós humanos somos estimulados pelo desafio.

    Este é um exemplo como muitos outros que eu poderia aqui relatar.

    Os prazeres também levam o subconsciente a fazerem-nos querer mais do mesmo, assim como tudo o que nos acontece que nos deixa satisfeitos ou felizes, mas quando a situação que propicia o prazer se apresenta, ela é quase sempre rejeitada se exige atitudes ou posturas que estejam relacionadas e condicionados por algum medo. Não só com o medo como também com a vergonha.

    Quem não consegue superar os traumas pela auto-sugestão, só o consegue se conseguir provocar em si mesmo e através do medo ou da raiva, um trauma que faça com que o subconsciente passe o trauma que queremos limpar para segundo plano.

    Com um trauma se inibe outro trauma e é uma variante do "amor com amor se paga" ou de que "com um veneno se cura de outro".

    Fica para a próxima.

Gostei bastante do texto, é uma abordagem muito interessante, no fundo é combater o fogo com o fogo. Parabéns pelo texto, é muito esclarecedor, aguardo novos desenvolvimentos. :)
"Um dia eu lhe disse para esconder o seu coração... Você deveria ter escutado"

Citação de: F.Leite em 30 agosto, 2017, 21:06
2ª parte

     Se o João tivesse medo de reprovar por certo teria melhores resultados nos estudos. Acontece é que ninguém lhe soube oferecer objetivos que o auto-determinassem, ou no mínimo o estimulassem a ser bom aluno.

F.Leite,

Do meu ponto de vista, a vontade é o factor desencadeante da auto-determinação. Se o João estudasse por impulso da sua vontade os seus resultados escolares não ficariam completamente dependentes da existência ou inexistência traumas ou estímulos exteriores.

Concordo que o medo como consequência dos traumas pode proteger-nos de perigos mas não concordo que ele seja condição necessária para que ocorra a aprendizagem. Penso que a vontade tem também um papel determinante no percurso evolutivo das pessoas.

Gostei bastante do seu texto, apesar deste pequeno reparo.


#7
Citação de: xion em 31 agosto, 2017, 00:05
Do meu ponto de vista, a vontade é o factor desencadeante da auto-determinação.

     É esse pormenor da vontade que eu tento fazer ressaltar quando digo que ninguém o estimulou a no mínimo ser bom aluno. A estimulação a que me refiro faz-se dando uma imagem de algo passível de ser alcançado e portanto credível, como compensação do esforço de estudar. A vontade será de acordo com o desejo interiorizado de conseguir esse objetivo e usará os estudos como alavanca para lá chegar.

Citação de: xion em 31 agosto, 2017, 00:05
... Se o João estudasse por impulso da sua vontade os seus resultados escolares não ficariam completamente dependentes da existência ou inexistência traumas ou estímulos exteriores.

    Concordo perfeitamente, no entanto e quanto me dou conta, tal como diz, a vontade é um impulso, ou pelo menos funciona como um impulsionador de acção, mas não deixa de estar sujeita aos seus picos de acção. Agora a vontade é muita, mas mais logo ela esmorece e isto porque, a meu ver, está mais ligada ao consciente que ao subconsciente. As coisas que nos acontecem de forma consciente e que passam pelo crivo da critica, são passiveis de nos alterar os sentimentos e emoções, factores que aparentemente interferem com a vontade, aumentando-a, reduzindo-a ou chegando mesmo a anulá-la.

    Por exemplo, eu agora tenho muita vontade de escrever, mas se alguém me denunciar erros ortográficos ou me diz que não sei exprimir as minhas ideias no que escrevo, a minha vontade de escrever será confrontada com a vergonha que me causa essa observação e a vontade esmorecerá. A vergonha (se a observação for verídica) vai-se sobrepor à vontade tirando-lhe a força, o que não acontece se eu estiver auto-determinado a escrever. Essa auto-determinação tornar-me-ia cego às criticas e anularia a acção que a vergonha tentaria exercer sobre a vontade.

Citação de: xion em 31 agosto, 2017, 00:05
Concordo que o medo como consequência dos traumas pode proteger-nos de perigos mas não concordo que ele seja condição necessária para que ocorra a aprendizagem. Penso que a vontade tem também um papel determinante no percurso evolutivo das pessoas.

    A aprendizagem não está necessariamente refém do medo para que aconteça, concordo plenamente consigo. A aprendizagem começa logo na tenra infância quando testamos os nossos limites, quando por instinto procuramos saber até onde nos deixam ir nas coisas que fazemos. O nosso cérebro é que não foi feito a pensar que íamos ter alguém ali à mão para nos impedir de correr riscos. O medo é como um educador que impõe limites aos perigos que são enfrentados através de experiências que serão guardadas para memoria futura e guarda não só o limite como a forma de o evitar.

    O medo é assim um regulador da aprendizagem que promove a sobrevivência, nada tendo a ver com a forma como adquirimos a inteligência cognitiva. Contudo, medos experimentados podem criar limites inconscientes que por si mesmos condicionam a capacidade, senão mesmo a vontade, de memorizar novos conhecimentos.

    Haverá por certo outros fatores a ter em conta os quais eu desconheço e outros para os quais ainda não encontrei uma lógica conclusiva. Como já aqui disse eu não entendo de psicologia e somente me baseio nas conclusões a que cheguei após a observação de algumas dúzias de situações para as quais me pediram ajuda e também por estudar os comportamentos daqueles que me rodeiam. Tenho ainda muito para aprender e morrerei sem nada saber.

Agradeço a explicação.

Conhece "um João"/"uma Joana" que tenha manifestado desde cedo uma inclinação/vontade/interesse por algo que dir-se-ia ter sido estimulado(a) para esse propósito antes de nascer?
Admite que isso possa acontecer?

Citação de: xion em 31 agosto, 2017, 16:22
Agradeço a explicação.

Conhece "um João"/"uma Joana" que tenha manifestado desde cedo uma inclinação/vontade/interesse por algo que dir-se-ia ter sido estimulado(a) para esse propósito antes de nascer?
Admite que isso possa acontecer?


     Começando pela segunda pergunta a minha resposta será que não antes de nascer, mas sim quando ainda criança. É como que uma necessidade que se sobrepõe à vontade e ao desejo. É assim como se esse algo para que se é estimulado fizesse parte da pessoa, como se o conhecimento e o saber fazer já existissem camuflados na imaginação ou no inconsciente.

     Contudo, como esse "estimulo" surge acompanhado de um estado emocional especifico, parece-me ser como que algo programado e portanto um estimulo induzido com um propósito definido.

     Julgo eu que conheço uma pessoa que apresenta essas características.