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  • conto de natal
    Iniciado por Lena
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este conto surgiu de um sonho que tive e que registei assim que acordei.

                                Sinto-me só, mas não estou só

"Batem leve, levemente, como quem chama por mim, será chuva, será gente, gente não é certamente e a chuva não bate assim"... ao ouvir o tempo que faz lá fora lembrei-me de súbito deste poema, porque o vento exerce a sua força de uma tal forma contra a minha porta, que cheguei a pensar ser gente, mas isso seria com certeza muito difícil, não espero a chegada de ninguém, vivo só, à muito que estou só. Nem sempre foi assim... comecei por ser filha, irmã, prima, mais tarde veio a profissão, enfermeira, e a minha família eram os doentes, depois fui tia, esposa, cunhada e mãe, ymas hoje sou novamente só enfermeira, vivo para os meus doentes. Preparo-me para ir fazer o turno da noite no hospital, hoje é noite de natal. Já não tem significado assim tão importante para mim, estou só, e vou estar com aqueles que também hoje estão sós.
Vou percorrendo as ruas lentamente, ouço risadas, cânticos e palmas, vêm dali, e dali, vêm da frente, de trás, de todos os lados, vêm das casas cheias de família, que se enchem de luz e alegria. Que saudades que tenho...
Chego ao hospital e o silêncio arrepia-me, existe uma calmaria exagerada, os doentes descansam num sono tranquilo, mas naquele quarto está uma luzinha ligada, fui ver, um senhor de barbas brancas sentado no cadeirão.
– senhor Nicolau, não tem sono, tens dores, não consegue dormir?;
- Não minha menina, nunca durmo nesta noite, ou não costumava dormir... as dores que sinto não são físicas, não vale a pena trazer-me medicação. Prefiro estar aqui a olhar para ontem...
Fui fazer um chá quentinho e sentei-me junto dele.
- Senhor Nicolau, vou fazer-lhe um pouco de companhia, beba este chá, vai ver que fica melhor, e sabe, já não sou mais menina, já passaram muitos e muitos anos por mim;
- eu sei ... é esse o problema, meninos e meninas como tu cresceram, e deixaram de acreditar em mim, por isso estou fraco, doente, quase a desaparecer, quase a cair no esquecimento.
Enquanto falava, adormeceu, tapei-o com um cobertor e deixei que descansasse, quando saí do quarto fiquei a pensar nas suas palavras de tristeza, a que meninos e meninas se estaria a referir, seria aos filhos, provavelmente...
A noite passou num ápice, os doentes dormiram como anjinhos, sentem dores, sentem medo, mas sentem-se seguros e por isso estão mais calmos, ficam nas camas olhando para a esperança e garrando-se a vida.
Saí do hospital, e novamente percorro a ruas lentamente, o dia começa a nascer e agora não ouço barulhos, mas sim um silêncio infinito, um silêncio inquietante, chego à porta de casa, ao pegar na chave sinto uma brisa forte que me faz cair e gelar, levanto-me e ouço baixinho – "feliz natal minha querida", olho em redor, não vejo ninguém. É a minha imaginação, só pode ser, é o meu desejo de ouvir alguém sucumbido pelo cansaço que me faz ouvir coisas, ouvir o que gostaria de ouvir da boca de alguém. Não, não foi ninguém. Entrei e descansei na minha cama, onde um dia já alguém esteve a meu lado e me disse . "Feliz natal"

Muito bonito, Lena. Gostei. Mas os Natais por aqui andam um pouco tristes, não achas?!...
Templa - Membro nº 708

Lena, gostei muito..

Estou a ver que este forum também tem gente como eu...

Sinto-me em casa!

Margarida
Sou como sou, quem gosta, muito bem.
Quem não gosta, paciência!
Viva a liberdade de escolha!

acho que sim templa. acho que se perdeu o verdadeiro espírito de natal, que se vivia noutras épocas e passou a ser um natal consumista.
estava outro dia a ouvir a RFM, e eles lançaram um desafia que não deixa de ter um pouco de verdade, mandam as pessoas procurar o menino jesus, que era tão característico do natal, porque agora os enfeites de natal é só luzes, estrelas, pais natal..... antigamente quem trazia as prendas era o "menino jesus"

e margarida, este conto nasceu-me das mãos ao recordar um sonho, não sei como fui escrevendo isto, desconhecia este meu lado.

Então minha querida começa a desenvolvê-lo...
Do nosso nada surgem coisas fantásticas com que nunca sonhámos.
é de aproveitar!

Margarida
Sou como sou, quem gosta, muito bem.
Quem não gosta, paciência!
Viva a liberdade de escolha!

Que lindo! Lena,adorei! ;D

O conto do teu sonho é muito bonito, apesar de triste. Não desanimes, porque o que viste pode não corresponder exactamente ao futuro, pode ser simplesmente uma via futura, mas não necessariamente o futuro real. Ainda vais a tempo de mudar o conto na tua vida e quem sabe, ao chagares a casa, estar lá a familia a tua espera.  :)
è para isso que serve o milagre do Natal.
bjs
"Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana." Teilhard de Chardin