Não há amor como o primeiro

Primeiro dia de aulas do 6º ano. Dia de encontros e reencontros. Vamos lá para as apresentações, se bem que eu dispensava, pois já era bem conhecida.

- Bolas, as carteiras de trás estão ocupadas! Vamos para as seguintes, para continuarmos a conversa!
- Mas estão ocupadas por quem?!

Foi quando olhei para trás e te vi. Os meus olhos bateram nos teus e fiquei completamente hipnotizada por esse verde-azeitona a contrastar com o tom moreno da pele. "Wow, é o mais bonito da turma, senão da escola...", pensei.

Não me lembro quanto tempo passou até me perguntares se queria namorar contigo. Meu Deus, eu nem queria acreditar! Eu, o "patinho feio", fui pedida em namoro pelo rapaz mais lindo do mundo! Claro que aceitei! Não com este entusiasmo, para não dar parte fraca.

Também não me lembro quanto tempo passou até darmos o primeiro beijo, pois nos primeiros dias havia muita vergonha...  
Mas lembro-me como se tivesse sido hoje: à beira da loja das gomas, ouvi o teu melhor amigo "anda lá, vai lá agora que ela está sozinha!". E tu encheste o peito de coragem, começaste a andar na minha direcção sem olhar para mais lado nenhum (não fosses perdê-la outra vez) e... deste o meu primeiro beijo. Como poderia esquecer?...

A partir dali acabaram-se as vergonhas.
Andávamos de mãos dadas ou colocavas o braço à volta dos meus ombros. Éramos tão engraçados, o casal mais baixinho da escola. Ficámos logo a mascote! Até os professores achavam piada!
Eh pá, tu eras tão, mas tão bonito...

Pena que quisesses fazer "amizades" com más companhias e, primeiro, começaste a faltar às aulas. Apenas vinhas esperar por mim para me levares até ao início da rua (para os meus pais não verem) ou então aparecias nos intervalos e dávamos beijinhos por entre as grades da escola.
Depois, decidiste que para acompanhares essa malta havias de ter várias namoradas. Que grande desgosto me deste, caramba! Tantas zangas e tantas pazes , tantas vezes e tanto tempo sem te dirigir a palavra... e, no entanto, lá aparecias no sítio do costume, na hora do costume. Se não me vias, querias saber como fui embora e com quem. Eu passava por ti mas não podia olhar para ti, porque o meu coração disparava e derretia...  

Começaste a piorar nos teus caminhos e eu mudei de escola. Fui para a escola onde andava a tua irmã. Engraçado que ela começou a estranhar a tua visita todos os dias!
Admito que também armava os maiores estratagemas para ir passear com as amigas e passar à tua porta, ou nos sítios onde era provável te encontrar. Meu Deus, os kilómetros que fazia...!

Lá fomos fazer as pazes outra vez. Nunca tinha deixado de gostar de ti e acho que tu também não. Pena que eras tão influenciável... e pena que eu não tivesse tido influência suficiente para te "puxar"...
Voltámos ao mesmo, zangas e pazes... Durante 3 anos foi assim. Era tão miúda mas tão apaixonada por ti. Foi mesmo um sentimento muito bonito.

Mas sabes, é dos períodos das zangas que mais me rio. Eu estava em casa e sempre que ouvia uma mota a passar corria para a janela feita doida só para ver se eras tu e olhar para ti. Claro que quando te contaram isso começaste a passar à minha porta ainda mais vezes. Também eu, para saber de ti punha as minhas amigas a ligarem para tua casa e perguntar à tua mãe por ti. O meu coração quase que saía pela boca quando ela perguntou se era eu que queria saber!!!
Mas o meu coração também disparava com força G quando te via, quando sabia notícias tuas... borboletas, muitas borboletas na barriga! Lembras-te quando foste ao futebol e mandaste recado para eu ir à janela naquele dia e naquele horário? Só para olharmos um para o outro, porque não nos falávamos! Lembras-te quando estava a acenar a uma amiga e a andar ao mesmo tempo e caí em cima de ti? Era tão engraçado!!

Namorámos pela última vez já estava eu quase no 9º ano. Tu, ficaste no 6º, continuavas com as más companhias e fiquei a saber que já tinhas experimentado muitas coisas que não devias. Ficámos por ali e eu segui em frente.

Passado alguns meses lá passaste tu de mota à minha porta. Para meu espanto, paraste e vieste ter comigo para conversarmos. Concluí naquele dia que não iríamos nunca ser namorados a sério, mas tínhamos um enorme carinho um pelo outro. Deixaste bem claro que nunca ninguém se metesse comigo, pois não irias permitir tal coisa (aquele machão que adoravas ser...).

Acho que depois disso só nos vimos mais uma vez. Acenámos, e não precisei de mais nada. Aquele carinho estava lá.Que bom.

Soube anos depois que passaste mal com o falecimento dos teus pais. Tive vontade de te encontrar nesse momento e prestar-te o meu apoio.


Quase 20 anos depois deste amor de criança, mas que guardo a melhor das recordações, sonhei contigo. Não sei a razão, pois não sei nada de ti há uns bons anos, mas sonhei. E tu estavas muito feliz.

E esses olhos verdes, ai ai...





Quem se lembra do seu primeiro amor? E como o explicam espiritualmente? E porquê sonhar ao fim de tantos anos?

Que bonito

O meu não me marcou assim, pelo menos não me relembro dele da forma que tu o fazes. Tudo o que deixa marcas para mim acaba por passar.

Cepticooucrente,
que bonito relato.

Porque não o tentas procurar, sem segundas intenções e pões a conversa em dia ?
Nem que seja procurar no facebook...
Sabes que nessas fases de infância há relações que se constrõem muito fortes, que permanecem com um carinho incomparável.
Se calhar fazia-te bem saber como é que ele está.

Cepticooucrente,
que bonito relato.

Porque não o tentas procurar, sem segundas intenções e pões a conversa em dia ?
Nem que seja procurar no facebook...
Sabes que nessas fases de infância há relações que se constrõem muito fortes, que permanecem com um carinho incomparável.
Se calhar fazia-te bem saber como é que ele está.

Já pensei nisso, lol, talvez lhe peça amizade.

Claro que não há segundas intenções, credo! Mas como sonhei com ele todas estas recordações vieram ao de cima, que foram muito marcantes.
Foi um grande malandreco, mas muito engraçado.

Achei mesmo curioso foi este sonho vindo do nada!

Gostei muito Ceptico...
São etapas da vida que nos marcam...

...ė uma verdade...não existe amor como o primeiro...nunca mais esqueci as palavras que me marcaram a alma... Se o meu sorriso mostrasse o fundo da minha alma...muitas pessoas ao me verem sorrir chorariam comigo.... by kurt cobain

Adorei este texto, é delicioso mesmo

Lembro-me muito bem do meu primeiro amor