Amar

Vou começar com uma questão interessante.

Sabem amar?

Pergunto isto porque venho duma geração onde interesse é confundido com amor e com "craves", no termo vulgo da internet, traduzido para necessidades. São necessidades que se fazem sentir às 3 da manhã e são partilhadas no twitter, no facebook e no tumblr atravez de frases "filosóficas" sobre como precisamos de sentir o carinho de alguém e como nos sentimos sozinhos ou até de imagens de "objetivos de relação" nomeadamente relações sexuais e acordar agarrado a alguém e dar a mão na rua.

Está bem que isso é essêncial a qualquer relação e é intrínseco ao ser humano. Mas tem de haver uma certa consciência em relação ao quão destrutivas as pessoas estão a tornar-se em relação à sua ilusão de amor.

Isto pois procuram no outro aquilo que não são capazes de dar a si mesmas, esperam do outro aquilo que não tentam alcançar para si mesmas e depois vemos a história toda do "fiquei apegada/o" ou "a culpa é toda dele/a por não me amar tanto".

Mas a pergunta chave que tem de ser feita é: Porque é que focam-se tanto na necessidade do amor vir de outro lado? Porque é que se recusam a dar a vocês mesmos aquilo que sabem que no íntimo precisam? Eu sei o que é estar numa relação por interesse e o quão ilusório isso é. E também cresci num ambiente marcado por pesadas discussões e uma relação que ameaçava arrastar tudo no seu caminho destrutivo; dizendo desde já que é dos piores ambientes que uma criança nos seus 6 anos pode crescer.

E tendo isso tudo como exemplos daquilo que não quero fazer ou não quero que ninguém passe aprendi o valor de aprender a amar ao meu EU primeiro. Aprendi o valor de sentir amor próprio antes de procurar o amor vindo de fora como compensação pelas minhas inseguranças. Acrescento até que estou bastante longe de o alcançar! Eu sinto imensas inseguranças, sinto as minhas falhas todas mas esforço-me por manter a "cabeça limpa" e por continuar neste caminho para fortalecer o meu pilar interior. Não sei se é o método adequado mas é o mais direto e frontal na questão, isto na minha opinião e baseado na minha experiência pessoal.

Por isso volto a perguntar. Sabem amar ou são apenas dependentes do amor de outro que a qualquer momento pode ser quebrado? Pois não tem uma base segura por onde assentar, um amor-próprio donde que sirva de plataforma. Falando no meu caso, nos meus 17 quase 18 anos, faço o tremendo esforço de aprender a estar sozinho antes de procurar um relacionamento.

Forço-me ao isolamento emocional para só me ter a mim mesmo como apoio e aprender a lidar com os meus demónios e com os meus medos. É arrasador, é algo que me faz sentir extremamente errado e alienado da minha cultura. Claro que eu preferia ter uma "curte" com alguém, claro que eu preferia seguir as minhas "craves" das 3 da manha. Claro que eu preferia abraçar, beijar, tentar amar alguém... Óbvio que sim. Sou humano e tenho as minhas necessidades e tenho os meus sentimentos.

Mas sei que não tenho muito futuro em algo se o prender. O amor não pode ser preso nem funcionar como compensação para as inseguranças. Nós temos de ser os nossos próprios pilares mas também temos o direito a fraquejar como acontece. Mas temos o dever de saber vivermos à custa de nós próprios.

A vida dá muitas voltas e tanto estamos no céu como na lama e se dentro de nós não existir uma base forte que nos sustente no pior, como podemos esperar sobreviver às maiores dificuldades?

Voltando a perguntar mais uma vez. vale a pena amar como ensinamos à nossa juventude? Não tem de ser para sempre, não te apegues, age com indiferença, não cedas... Isso não me parece amor, parece mais encontrar o calor duma outra pessoa para os momentos de necessidade com ou sem cariz sexual e nos restantes ser frio, indiferente e afastado.

Isso não é amar, isso é seguir o interesse.

E pior é seguir o interesse e basear no interesse as nossas forças. Algo do género de "Sem ele eu não existia." Uma das frases tão comuns nas redes sociais hoje em dia. E depois as culpas são atiradas para o amor. Mas a culpa não é do amor. A culpa jáz na falta de autocontrolo, na falta de amor-próprio e sobretudo nos hábitos que ensinamos aos mais novos.

Com isto não quero denegrir ou mandar alguém abaixo. Quero apenas alertar e aumentar a consciência sobre o quão destrutivos os nossos métodos estão a ser. Espero que compreendam as minhas palavras e o que quero fazer e sejamos capazes de ensinar aos nossos amigos, ou filhos ou irmãos o verdadeiro valor do amor.

Fingarfan, obrigada mais uma vez pelo teu excelente relato.

Continuo seriamente a questionar se tu terás mesmo 17 perto de 18 Os teus pensamentos são simplesmente de uma alma muito evoluída, pelo menos sob o meu ponto de vista. Já trabalhei anos seguidos com jovens e acredita que "vejo" um jovem "diferente" logo à primeira vista. Normalmente eles são como as "ovelhas", andam em grupo, mas tu, tu és "diferente".

Refletes aqui sobre o Amor de uma forma simplesmente maravilhosa. As tuas palavras deliciosas expressam claramente aquilo que distingo ser o Amor e o Apego... é uma triste realidade, mas acho que muita gente ainda confunde estes dois conceitos. Amar é libertar... por isso tem que começar sempre por nós. Como será possível amarmos os outros intensamente se não nos amamos a nós próprios? Para mim isto é paradoxal... só quando  Amor que sentimos por nós próprios começa a transbordar de dentro para fora é que estamos preparados para Amar o outro!

Simplesmente genial!! Bem-hajas pela tua contribuição neste fórum.

Fingarfan, antes de mais, deixa-me dizer-te que amei esta tua reflexão. É maravilhosa, simplesmente. E eu também tenho sérias dúvidas sobre a tua idade, aliás como já referi noutros tópicos.

Acho que te referes ao Amor que é "ensinado" como uma necessidade de dependermos de alguém. Mesmo a "curte", não sei se já reparaste ou já aconteceu, mas na adolescência naquele momento da "curte" a pessoa pode sentir-se especial, "amada", porque a outra a escolheu para curtir. A mesma coisa nos casos de uma noite, para a satisfação que referiste.
Na adolescência e não só, ao que se vê...

Na minha opinião, estes episódios servem apenas como lições para a vida, por isso é que existem, não serão inúteis certamente.

Quantas vezes vemos pessoas a perdem o seu amor e respeito próprios em prol do Amor por alguém e de alguém? Isso será o verdadeiro Amor? Não, não me parece.

Temos de nos amar a nós, tratar e cuidar muito bem , para termos a segurança, a força, o Amor que está dentro de nós para dar e estarmos preparados de braços abertos para receber. Às vezes isso não acontece ao mesmo tempo, por isso mesmo é que temos de ter nosso Amor, por nós.

Um grande bem-haja para ti, acho que até agora, este foi dos tópicos teus que mais gostei de ler. Excelente mesmo.

Muito boa reflexão....