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  • Nora ou uma história de violência doméstica
    Iniciado por Templa
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          Mais um cigarro e uma nuvem de fumo pela sala. Esta rapariga é uma chaminé ambulante, fuma como uma condenada sem amanhã. Na verdade, não o tem. Perdeu-o no dia em que se apaixonou por Carlos, o colega casado de quem engravidou mal se deitou com ele, na cama onde a mulher não tinha ainda arrefecido. Não sei o que a Nora viu nele. Um rapaz meio fuinhas, de óculos encovados, cinco cêntimos de altura. E, já nessa época, pelo tempo que passava no bar a emborcar cervejas secas sem amendoins nem tremoços, era de prever o bêbado em que se tornaria. Já era bêbado, então, julgo eu e talvez julgasse toda a gente, mas ainda disfarçava. Ou talvez ninguém quisesse ainda atribuir-lhe esse estado por puro preconceito com a palavra.
          Talvez não tivesse sido a Nora a apaixonar-se por ele mas o contrário. Ela era bonita, inteligente, teria dado uma investigadora competente, capaz de lhe fazer frente e de o ultrapassar pela força de uma competência que sempre lhe fora reconhecida. Mas não se permitiu isso. Se Nora algum dia sonhou com uma carreira brilhante na investigação do cancro, mal, depois do divórcio, casou com Carlos, viu, quase de imediato, evaporar o seu sonho junto com o bafo das panelas onde passou a cozinhar a vida dos dois. Entretanto, vieram as febres, as vacinas e os médicos, nas noites em que ele parecia não dar pelo choro da bebé, quando Nora tinha de se levantar para lhe mudar as fraldas e medir-lhe a temperatura.
         Já ouvi dizer que não era Carlos de quem Nora gostava,  mas sim do Sérgio, um homem bonito, alto, com os olhos verdes acutilantes e igualmente casado. Nora deve ter sofrido desde sempre da tentação da vertigem, gostar de labirintos, de vidas complexas de que depois pudesse ter coisas para contar. E o Sérgio, se algo queria dela, não passaria de encontros fortuitos e que não lhe pusessem o casamento em perigo. Até a paixão se esgotar no último sémen do derradeiro encontro.
           Depois, a Nora, veio a união oficial com Carlos e, a seguir à Eloisa, a filha, dez anos mais tarde, o Bernardo, enquanto ela, morta no casamento e na profissão, sofria, ano após ano, de uma nova doença, como se tudo não passasse de terrível maldição. As cirurgias sucediam-se, a uma coisa ou outra. Enquanto isso, o alcoolismo de Carlos tornava-se num dado adquirido, tratado ainda a eufemismos, e ela perdia a beleza para uma magreza que a transformara num esqueleto sem graça que ela tentava adornar com roupa comprada compulsivamente nas lojas de marca.
          Agora, Nora fuma como uma chaminé ambulante, enquanto Carlos se tornou no previsível alcoólico que emborcava cervejas secas no bar e que lhe bate há muito por Nora já não gostar, também há muito, de ter relações sexuais com ele.
         Num dia de nervosismo e vergonha, ali junto com a nuvem de fumo, no meio de inconfidências, disse-me que só suporta o marido que foi de outra, talvez então já bêbado, não por causa dos filhos, já adultos entretanto, mas por ser constantemente ameaçada de morte. E é também por isso que ainda tem relações sexuais com ele, juntamente com o nojo que isso lhe provoca...     
Templa - Membro nº 708

#1
Um retrato da realidade de hoje e de outrora. A violência doméstica não é só isto. Há muitas variantes: contra mulheres, contra homens, contra crianças, contra idosos, violência económica, psicológica e, se calhar, há mais.  :(
Iei Or (faça-se luz)
Shalom Aleichem

nunca ninguem fala é da violencia contra os homens...  ::)
a minha religião é a verdade...

Citação de: incertus em 11 março, 2015, 22:55
nunca ninguem fala é da violencia contra os homens...  ::)

Existe e não é pouca!
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

verdade... mas existe uma campanha por parte das feministas que insiste em demonizar os homens... como se fossem todos iguais... já as mulheres são consideradas todas umas santinhas embora a gente saiba que anda por aí com cada "vaca"...  ::)

enfim... isto é tudo parte do mesmo "esquema" e serve apenas para dividir a humanidade em mais este ponto... é a guerra de religiões... é a guerra das raças... e neste caso a guerra dos sexos...

...a intenção é apenas uma... a primeira e principal tactica militar conhecida... "dividir para conquistar".
a minha religião é a verdade...

Incertus tem que concordar que as mulheres sempre foram vistas como o "sexo mais fraco" e portanto, mais suscetíveis aos desígnios do "sexo mais forte". No entanto, hoje em dia, esta visão já não se encontra tão patente no âmbito da violência doméstica, pois há homens (e muitos) que são alvo de violência por parte delas. Há ainda, também, algum estigma por parte destes homens em assumirem que são elas que "vestem as calças" lá em casa ;)

A violência doméstica ou de outro tipo é, na minha perspetiva uma questão isenta de género, de idade, de raça, etc... por si só é condenável!
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

eu não estou a dizer que não existe violencia doméstica... existe... mas tanto existe com as mulheres como existe com os homens...

e embora sendo o sexo "visicamente" mais fraco... a verdade é que as mulheres sempre controlaram os homens de "outras formas"...  ;)

a minha religião é a verdade...

É só uma história ( baseada em factos verídicos, é certo)... Há outros tipos de violência doméstica.  Esta foi, contudo, a  que eu escolhi para  hoje,  para a página da .literatura.

Obrigada pelos comentários.


Abraço a todos

Templa
Templa - Membro nº 708

muitas das vezes as mulheres praticam violência psicológica que é bem pior que a fisica
mas lá está, violência domestica é coisa de homens ::)

Citação de: bullitpt em 11 março, 2015, 23:36
mas lá está, violência domestica é coisa de homens ::)

E os casos em que eles são agredidos fisicamente por elas, pois elas querem que eles reagam e as agridam, para serem elas as vítimas?
É que a sociedade acredita mais num mulher que seja vítima, do que num homem. Mas eles existem...
O problema é quando eles não reagem, elas agridem de todas as formas para os tentar e depois elas não tem como se defender...
Se um rema e outro cruza os braços ou rema para outro lado... mais vale abandonar o barco e seguir sozinho.

Eu já tive casos de que eles eram violentados fisicamente por elas. Não há só violência emocional...
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

#11
Citação de: VodGas em 11 março, 2015, 23:46
E os casos em que eles são agredidos fisicamente por elas, pois elas querem que eles reagam e as agridam, para serem elas as vítimas?
É que a sociedade acredita mais num mulher que seja vítima, do que num homem. Mas eles existem...
O problema é quando eles não reagem, elas agridem de todas as formas para os tentar e depois elas não tem como se defender...
temos que ver que os homens são sempre vistos como os maus da fita
tudo o que há de mal no mundo provem dos homens, é a mentalidade que há

vejam este video
http://www.youtube.com/watch?v=gOyrYThlOag
e reparem na dualidade de critérios

Citação de: Faty Lee em 11 março, 2015, 23:53
Eu já tive casos de que eles eram violentados fisicamente por elas. Não há só violência emocional...
o problema é que as pessoas gozam ou menosprezam quando é uma mulher a bater num homem porque vêem como se fosse uma formiga a bater num elefante
as pessoas gozam e brincam com a situação e não percebem que se o homem se defende passa de vitima a agressor

Ao escrever a peça no local reservado à Literatura, esperava mais reacções no âmbito da escrita e menos  sobre o conteúdo,  que desencadeou, todavia,  alguma emoção. No entanto, sem negar a existência de violência doméstica mais geral, abarcando, homens, crianças, velhos e novos, tenho de relembrar aqui que habitualmente são elas a morrer às mãos dos homens e não o contrário.

Templa - Membro nº 708