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  • A lenda das opas brancas
    Iniciado por TyranusZeng
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Havia aqui na aldeia um senhor que não acreditava nada nas coisas da igreja. A mulher, essa era muito religiosa. Ele não. E só gostava de andar de noite. A mulher não queria que ele saísse, mas ele passava sempre a noite fora a levar as águas, ora para esta terra, ora para aquela, nos batatais, nos lameiros. E tanto se lhe dava roubar como não roubar. Ia às poças, tirava a água e deixava as poças abertas. Depois dizia que eram os ratos que abriam as poças.
Isto até uma certa noite de Sexta-Feira. Quando chegou à meia-noite, levantou-se e diz p'rá mulher:
— Vou regar!
E a mulher:
— Tu p'ronde vais a esta hora, homem?
— Vou à minha vida. Não tens nada com isso
— Mas olha que esta hora, diz que é perigoso. Não acreditas nisso?
— Deixa-me cá. Eu não acredito, nem em Deus nem no Diabo!
Tanto fez a mulher teimar como não teimar. Ele levanta-se, agarra no sacho ao ombro e vai por aí a fora. Ao chegar ao Santo Ovídio, sentiu aquelas rezas e ladainhas próprias das procissões, e viu muitos vultos, cada um com a sua opa branca e com a sua grande pedra às costas. Mas só via os vultos. Pessoas naturais não.
Iam então os vultos a cantar e a rezar e, ao tempo que iam a passar por ele, o homem cai redondo ao chão. Mas não perdeu os sentidos. Diz que viu tudo. E viu que, chegados ao Santo Ovídio, acabaram com a procissão e deitaram as pedras todas ao chão.
Depois, lá conseguiu levantar-se, passado um bom bocado, e veio para casa. Já não foi regar. Chegou a casa muito abatido, muito assustado. E a mulher:
— Que tens? Que tens? Que tens?
E ele, gago, nem podia quase até falar. Começou a ficar doente, doente, doente... e nunca mais trabalhou.

Fonte Biblio PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro - Narrações Orais (contos, lendas, mitos) Vol. 1 Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2007 , p.161