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  • O Ritual de Umbanda e os Antigos Cultos
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O Ritual de Umbanda e os Antigos Cultos


Rubens Saraceni



Houve um tempo em que as religiões eram praticadas de uma forma muito simples.
Os povos cultuavam Deus que se mostrava sob a forma de uma boa colheita, de um bom tempo, de prosperidade para todos. A seu modo agradeciam com oferendas, cantos, danças, enfim, com festividades.
Para eles Deus era o sol que germinava as sementes lançadas à terra, era a própria terra que alimentava e dava vida às sementes, era a chuva bendita que vinha do céu para molhar a terra e fazer crescer as plantações, matar a sede e encher seus poços de água.
As árvores que davam bons frutos também eram respeitadas e algumas eram objeto de culto.
Consequentemente a natureza era sagrada para aqueles povos simples. Eles encontravam Deus em todos os lugares, toda manifestação da natureza era uma manifestação divina.
Chamavam essas manifestações de nomes que sobreviveram ao longo dos milênios até nossos dias. Em cada religião essas manifestações receberam nomes diferentes mas seus fundamentos são sempre os mesmos.
E por que isso? Por que Deus se manifesta a todos em todos os momentos e em todos os lugares. Eles eram simples e Deus era encontrado nas coisas simples.
Com o passar dos séculos a humanidade evoluiu em todos os sentidos, e no que diz respeito à religião foram criadas doutrinas e leis que regulavam o modo de se cultuar Deus. Quem não se adaptasse a elas era considerado um herege, pagão, infiel, bárbaro e outras coisas ainda piores.
O sacerdote deixou de ser um igual aos seus, passou a ser um guardião das leis por ele mesmo criadas, passou a ditar normas de conduta ritual, deixou de auxiliar seus irmãos com o conhecimento das forças da natureza e deixou de responder às indagações mais simples sobre o seu dia-a-dia, seus problemas, suas angústias, suas aflições.
Os sacerdotes eram a única ligação com Deus e assim ninguém mais conseguia encontrar Deus nas coisas simples, nos lugares comuns, mas apenas nos templos, a cada dia mais grandiosos, mais ornados, mais bonitos. Deus passou a viver no céu num lugar que ninguém sabe onde fica.
Deixaram de dizer que Deus está conosco no nosso dia-a-dia e que podemos encontrá-Lo em tudo e em todos os lugares pelas Suas manifestações mais diversas.
Esqueceram-se de que na trindade divina, o Pai é o Criador, o Filho é a Sua Criação, e que o Espírito Santo é a sua Manifestação entre nós. Esqueceram-se de que Deus se manifesta nas mais diversas formas, a todos e em todos os lugares e que o Espírito Santo nada mais é que a manifestação de seus mensageiros que nos acompanham em nossa caminhada rumo a Ele, o Pai, o Criador.
A Umbanda nada mais é que um retomo à simplicidade em cultuar Deus em aceitá-Lo como algo do qual nós também fazemos parte em vermos, nas manifestações dos espíritos, a manifestação dos nossos mentores espirituais ou como nós os chamamos, os nossos "guias".
O templo de Umbanda é o local destinado a essas manifestações espirituais. Os mediadores de Umbanda nada mais são do que os antigos sacerdotes da natureza sempre dispostos a ouvir a quem quer que seja, sem lhe perguntar de onde vem, qual o seu credo religioso, qual a sua posição social, por que nada disso importa. O que interessa é que eles estão ali e que foram conduzidos por mãos divinas.
Na simplicidade do ritual umbandista é que reside a sua força pois não adianta um templo luxuoso cheio de pessoas ignorantes sobre a natureza do Ser Divino.
Quantas vezes encontramos pessoas que nada sabem a respeito das forças divinas que habitam na natureza? Sobre isso um médium pode falar com um pouco de conhecimento já que os orixás são os regentes dessas forças todas elas colocadas à nossa disposição desde o tempo da criação do mundo. Quando vamos a um local, um ponto de força da natureza, muitos nos olham como tolos ou como pagãos. Isso não é verdade. Se somos pagãos no modo de cultuarmos o Criador através de suas mais diversas manifestações, bárbaros são eles que estão distorcendo a essência do próprio Deus que cultuam.
A Umbanda é um movimento espiritual muito forte no astral e que sempre esteve ativo, muitas vezes com nomes diferentes mas sempre ativo. Cultuar os orixás na natureza nada mais é que reconhecer o lugar onde a Árvore da Vida dá os seus melhores e mais saborosos frutos.
Outras formas de se cultuar Deus são estilizadas de louvaçãoe, por esta estilização ser uma forma de domínio sobre muitas pessoas, a Umbanda não leva avante os grandes templos.
O movimento espiritual que existe por trás de cada tenda de Umbanda não permite uma expansão vertical. Quando um templo atinge o seu limite, ele se multiplica em muitos outros, que logo se tornam independentes, mantendo relações de amizade com o antigo templo, mas não de subserviência.
O crescimento deve ser horizontal e nunca vertical. O crescimento vertical das religiões levou os homens a se antagonizarem usando o nome de Deus como desculpa.
Quando uma religião se agiganta, começa a interferir nas menores, buscando destrui-las e absorver-lhes os adeptos, como se Deus tivesse feito dela sua representante única na terra. Eis o perigo do crescimento vertical.
Entenda-se por crescimento vertical a hierarquização do culto colocando-se vários sacerdotes sob as ordens de uns poucos. No processo de crescimento horizontal, todos os sacerdotes são iguais e têm os mesmos poderes e obrigações perante o conselho invisível dos Orixás.
Não podemos nos esquecer também de que foi a hierarquização que dividiu o mundo em nações distintas, firmando os limites de atuação das antigas religiões e os princípios religiosos dos povos como hoje temos.
A religião oficial não admitia um templo estranho em seus limites. Esse foi o inicio da desgraça da humanidade, porque aí começaram as guerras pelo direito de serem os únicos ungidos. Muitos foram os conflitos que tiveram a sua origem na intolerância religiosa.
Os mais astutos usaram o nome de Deus para dominar os povos mais fracos. Ao impor-lhes um novo deus, destruíam o anterior, tal qual hoje acontece com empresas comerciais: uma absorve a outra, fazendo com que seu nome desapareça do comércio.
Mas existe uma diferença: uma empresa vende um produto fabricado pelo homem, e os religiosos, ao agirem desta forma, estão vendendo algo que não lhes pertence. Deus não tem dono e os bens divinos não são para ser vendidos, pois estão á disposição de todos, em todos os lugares.
Se assim não fosse, os humildes não poderiam se aproximar de Deus, enquanto os ricos O comprariam e O trocariam em seus cofres pessoais.
Será que não foi isso o que fizeram as grandes religiões?
Guardaram Deus dentro de templos suntuosos, e quem quiser ser bem visto na sociedade dos homens deve se submeter aos seus ditames. O Tesouro Divino estaria sendo comercializado como algo profano.
A isto tudo a Umbanda tem confrontado através da sua simplicidade de culto.
Todo o Umbandista praticante tem sua Linha de Lei a acompanhá-lo. Ela não depende de mais nada para existir. Existe unicamente porque o adepto existe. Se ele não cultivar essa força ela deixa de ser atuante e fica passiva.
O adepto é seu ativador, seu cultuador e seu beneficiário em primeiro lugar. Aqueles que vivem á sua volta são beneficiários, mas apenas se ele for atuante, nunca se for passivo.
Esta é a essência da Umbanda: cada umbandista é um templo do seu culto. Este é um mistério sagrado que sempre esteve oculto dos homens. Não interessa ás grandes religiões ensiná-lo, pois assim perderiam o domínio sobre o adepto.
Por que revelar os mistérios sagrados, se isso vai enfraquecer o seu poder sobre o adepto?
O resultado é que o povo fica desiludido com as religiões e muitos se tornam ateus e outros cépticos a respeito das leis divinas. A maioria dos mistérios é ocultada por uns poucos que os conhecem e é ignorada pela maior parte dos seus fiéis.
Mas, no ritual Umbandista, os mistérios vão sendo revelados de uma forma velada, ou seja, o adepto vai tomando conhecimento dele através dos ORIXÁS e suas várias formas de atuação, sem que isso implique o conhecimento de uma codificação abrangente. O que já existe, e bem divulgado, são os nomes dos guardiões dos mistérios, e não os mistérios propriamente ditos.
Sendo assim, o Orixá regente vai abrindo a cada médium a cortina sobre o seu poder de atuação no mundo astral e material. Isto é feito de uma forma gradual, pois ainda não é o tempo de se levantar o véu de luz que oculta os grandes mistérios sagrados.
São revelados apenas os mistérios já subdivididos, nunca como um todo. Somente os adeptos que se interessarem em recolher os fragmentos que se encontram espalhados ao fim de um longo tempo poderão aquilatar o que estamos dizendo aqui.
Não é tarefa fácil porque implica um envolvimento cada vez maior pelos guardiões desses mistérios. Se eles acharem por bem bloquear essa busca, o adepto, sem que se aperceba, é levado a se afastar da sua rota. Tudo em nome do crescimento horizontal do Ritual de Umbanda.
O crescimento horizontal não concentra muito poder, e nem requer o conhecimento de muitos mistérios. Somente o conhecimento de alguns mistérios menores relacionados aos Orixás basta para sustentar um templo. Se forem dados a conhecer muitos mistérios, estes poderão interferir nesse processo de expansão horizontal.
Se for possível, no futuro todos terão acesso a um maior conhecimento sobre os mistérios sagrados, mas somente se isso for possível.
O ritual deve manter sua forma porque, fora da comunhão com as forças da natureza, não é possível criar um ambiente propicio para o conhecimento e o uso das forças espirituais que atuam junto a estas mesmas forças.
Muitos tentam passar por cima de etapas fundamentais no curso do aprendizado do Ritual. Isso somente interfere na harmonização das suas forças atuantes.
O Ritual da Umbanda ainda está para ser descodificado. Muitas partes importantes dos seus fundamentos continuam ocultas da maioria dos seus praticantes, que não procuram descobrir nada mais além dos passos iniciais, mantendo-se num estágio pouco avançado.

Muitos que tentam avançar as etapas sem o devido preparo são bloqueados pelos seus próprios mentores ou pelos Orixás.
Mas se o contacto com as forças da natureza se mantiver num nível propicio ás manifestações, essas mesmas forças irão se tornando cada vez mais actuantes até atingirem total comunhão com o mediador. Talvez com o adepto de um novo ciclo da humanidade, o Ritual possa atingir um estágio mais avançado. Mas isso somente o futuro irá responder.
O que importa atualmente é manter o maior contato possível com as forças da natureza, pois aí está o maior mistério do Ritual de Umbanda, o ritual aberto a todos os povos, sem distinção de cor, credo ou raça, já que as forças da natureza atuam em todos os pontos do globo terreste, quase sempre de forma oculta.
Aqueles que tinham a mensagem que comovia multidões dominaram estas mesmas multidões através do ocultamento dos mistérios naturais. Se vereficarmos com cuidado, veremos que foi a opção pelo crescimento vertical que fez isso.
Todo crescimento vertical é perverso na sua execução por que poda os mais capazes em detrimento dos mais espertos, intrigantes ou astutos.
Essa poda se dá no momento em que os mais capacitados em levar a mensagem ao povo são bloqueados. O dom natural em relação a qualquer religião não é algo que se adquire numa escola. O máximo que uma escola pode ensinar é o ordenamento das forças desse dom e o aprendizado de seu uso em benefício dos que praticam aquela religião.
Quando alguém tem um dom natural muito evidente os menos dotados logo começam a bloqueá-lo por simples inveja. Isso é comum em todos os rituais e religiões. Se aqueles que bloqueiam o dom natural de alguém dentro de uma crença religiosa soubessem o erro que cometem não iriam fazê-lo em hipótese alguma, pois o preço de tal atitude é muito alto.
O templo em que se pratica o Ritual de Umbanda é uma escola na qual o iniciante trava os seus primeiros contactos com as forças da natureza. É ali que começa a conhecer suas forças e o seu dom natural é ordenado. Também é desse contato com as forças da natureza que se aprende onde se localizam os seus pontos de força actuantes, regidos pelos Orixás."

Continua....................

Gostei muito de ler, obrigada pela partilha :)