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  • Os Abikus
    Iniciado por madamedacosta
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Na tradição Yoruba que acrdita que existem crianças que apenas vêm ao mundo terreno por breves momentos para rapidamente regressarem ao reino dos mortos. Eles são os Àbíkú (Nós nascemos para morrer).

Quando uma mulher, num país yoruba dá à luz uma série de crianças mortas ou as mesmas partem deste mundo em tenra idade, acredita-se que não se trata da vinda ao mundo de várias crianças diferentes mas sim de várias aparições do mesmo ser (para eles maléfico) chamado àbíkú (nascer-morrer) que quer regressar ao Orun.
O Orun é o mundo paralelo que nos rodeia, a residência de deuses e antepassados, palavra facilmente traduzível por Céu. Aí mora um grupo de crianças denominadas Egbe Orun Abiku: as crianças que nascem para morrer num curto espaço de tempo e que provocam grande sofrimento nas suas famílias. As meninas são chefiadas por Oloiko (chefe de grupo) e os meninos por Ìyájanjasa (a mãe que bate e corre). A permanência dos Abiku (ou Emere) é condicionada a um pacto que fazem na passagem do Orun para o Aiye (a Terra) com Onibode Orun, o porteiro do Céu. Este pacto é cumprido rigorosamente pelos Abiku: uma criança cujo acordo for não nascer, realmente não nascerá; outra que combine voltar quando romper seu primeiro dente, terá morte súbita, por acidente ou por doença, horas ou dias após o aparecimento deste dente. Quando uma criança Abiku nasce, seu par, aquele seu companheiro mais chegado no Orun, começará a interferir em sua vida, atormentando-a, aparecendo-lhe em sonhos, a fim de que não se esqueça de seus amigos do Orun e rapidamente volte para eles, assim que houver cumprido o seu pacto.

Ele passa assim seu tempo a ir e voltar do céu para o mundo sem jamais permanecer aqui por muito tempo, para grande desespero de seus pais, desejosos de ter os filhos vivos. Essa crença é comum entre os Akan, onde a mãe é chamada Awomawu (ela dá à luz os filhos no mundo para a morte). Os Ibo chamam os Abikú de Ogbanje, os Hauças de Danwabi e os Fanti, de Kossamah. Encontramos informações a respeito dos Abikú em oito itans (histórias) de Ifá, sistema de adivinhação dos yorubá, classificados nos 256 Odu (sinais de ifá).

Aláwaiyé (Rei de Awaiyé) terá sido quem trouxe ao mundo pela primeira vez estas crianças na sua cidade de Awayié. É onde se encontra a floresta sagrada dos abikú, onde os pais de abikú vão fazer oferendas para que eles fiquem no mundo. Quando eles vêm do céu para a terra, os abikú passam os limites do céu diante do guardião da porta, Oníbodé Órun, seus companheiros vão com ele até o local onde eles se dizem até logo. Os que partem declaram o tempo que vão ficar no mundo e o que farão. Se prometerem a seus companheiros que não ficarão ausentes, essas, crianças apesar de todo os esforços de seus pais, retornarão, para encontrar seus amigos no céu. Os abikú podem ficar no mundo por períodos mais ou menos longos.

Um Abikú menina chamada "A-morte-os-puniu" declara diante de Oníbodé Órun que nada do que os seus pais façam será capaz de retê-la no mundo, nem presentes nem dinheiro, nem roupas que lhes ofereçam, nem todas as coisas que eles gostariam de fazer por ela atrairiam os seus olhares nem lhe agradariam.

Um Abikú menino, chamado Ilere, diz que recusará todo alimento e todas as coisas que lhe queiram dar no mundo. Ele aceitará tudo isto no céu.

Quando Aláwaiyé levou duzentos e oitenta Abikú ao mundo pela primeira vez, cada um deles tinha declarado, ao passar a barreira do céu, o tempo que iria ficar no mundo. Um deles prpôs-se a voltar ao céu assim que tivesse visto sua mãe; um outro, iria esperar até o dia em que seus pais decidissem que ele casasse; um outro que retornaria ao céu, quando seus pais concebessem um novo filho, um ainda não esperaria mais do que o dia em que começasse a andar. Outros prometem à Iyàjanjasà, que chefia a sua sociedade no céu, respectivamente, ficar no mundo sete dias, ou até o momento em que começasse a andar, ou quando ele começasse a se arrastar pelo chão, ou quando começasse a ter dentes ou ficar em pé.

As histórias de Ifá dizem que as oferendas feitas com conhecimento de causa são capazes de reter no mundo esses Abíkú e de os fazer esquecer as suas promessas de volta, rompendo assim o ciclo idas e vindas constantes entre o céu e a terra, porque, uma vez que o tempo marcado para a volta pode já ter passado, os seus companheiros arriscam-se a perder o poder sobre eles.

Existem várias histórias.

Um caçador que estava à espreita, no cruzamento dos caminhos dos Abíkú, ouviu quais eram as promessas feitas por três Abíkú quanto à época do seu retorno ao céu. Um deles prometeu que deixaria o mundo assim que o fogo utilizado por sua mãe para preparar a sua papa de legumes se apagasse por falta de combustível. O segundo esperaria que o pano que a sua mãe usasse para carregá-lo nas costas se rasgasse. A terceira esperaria para morrer pelo dia em que os seus pais lhe dissessem que era tempo de ela se casar e ir morar com seu esposo. O caçador foi visitar as três mães no momento em que elas estavam a dar à luz os seus filhos Abíkú. Aconselhou a primeira a não deixar queimar a lenha completamente sob o pote que cozinhasse os legumes que ela prepararia para seu filho; a segunda que não deixasse rasgar o pano que ela usaria para carregar o seu filho nas costas usando um pano de qualidade diferente; e recomendou, por fim, à terceira, para não dizer o momento em que a sua filha deveria ir para a casa do seu marido.

As três mães foram então consultar a sorte, Ifá, que lhes recomendou que fizessem as oferendas de um tronco de bananeira, de uma cabra e de um galo, impedindo assim que os três Abíkú pudessem manter o seu compromisso. Se a primeira instalasse um tronco de bananeira no fogo destinado a cozinhar a papa do seu filho, como é cheio de seiva e esponjoso, não se queimaria e o abikú, ao ver uma acha de lenha não consumida pelo fogo, concluiria que o momento da sua partida ainda não é chegado.

A pele de cabra oferecida pela segunda mãe serviria para reforçar o pano que ela iria usar para levar o seu filho às costas e como o pano não se rasgaria o abiku manteria a sua promessa.

A história da oferta de um galo nunca se entendeu bem, mas a história conta que quando chegou a hora de dizer à filha que ela deveria ir para casa do seu marido, os pais não lhe disseram nada e enviaram-na repentinamente para casa dele. Assim, estes três abikú não iriam morrer da forma predestinada. Eles seguiram um outro caminho.

Num país Yorubá a sorte (destino) pode ser modificada, até certo ponto, quando certos segredos são conhecidos. As plantas mais usadas nas oferendas são: Abíríkolo (crotalaria lachnophera, papilolionacaae), Agídímagbayin (não identificada), Ídí (terminalia ivorensis combretacae), Ijá àgborin (não identificada), Lara pupa (ricinus communis), Olobutoje (jatropha curcas euphorbiaceae) e Òpá eméré (waltheria americana, sterculiaceae).

A oferta destas plantas constitui uma espécie de mensagem e é acompanhada por Ofó (encantamentos). Num país yorubá, os pais para proteger seus filhos abikú e tentar retê-los no mundo, podem se dedicar a certas práticas tais como fazer pequenas incisões nas juntas da criança para esfregar atin (um pó preto feito com osso, favas e folhas litúrgicas para esse fim) ou ainda ligar à cintura da criança um ondè (talismã feito do mesmo pó negro dentro de um saquinho de couro). A acção protetora procurada nas folhas é introduzida no corpo da criança por pequenas incisões e fricções, e a parte do pó preto, dentro do saquinho do ondé, representa uma mensagem não verbal, ou seja, uma espécie de apoio material e permanente da mensagem dirigida pelos elementos protetores contra os elementos inimigos.

Noutra história, são feitas alusões aos Xaorôs (anéis providos de guizos) usados nos tornozelos pelas crianças Abikú para afastar os companheiros que tentam vir buscá-los a este mundo e lembrar-lhes suas promessas. Esses seus companheiros não aceitam facilmente a falta de palavra dos Abikú retidos no mundo pelas oferendas, encantamentos e talismãs preparados pelos pais. Nem sempre essas precauções e oferendas são suficientes para reter as crianças Abikú na terra. Iyàjanjasà é muitas vezes mais forte.

Contra os Abikú não há remédios. Yiájanjàsá atrai-os à força para o céu. Os corpos dos Abikú que morrem assim são frequentemente mutilados para que eles percam os seus atractivos e os seus companheiros no céu não queiram brincar com eles. Mas sobretudo para que o espírito do Abikú, maltratado deste modo, não deseje mais vir ao mundo. Essas crianças Abikú recebem no seu nascimento nomes particulares. Alguns desses nomes são acompanhados de saudações tradicionais. Eles podem ser classificados com nomes que estabeleçam a sua condição de Abikú, com nomes que lhes aconselhem ou lhe supliquem que permaneçam no mundo, ou com indicações de que as condições para que o Abikú volte não são favoráveis.

A freqüência com que se encontram, num país Yorubá, esses nomes em adultos ou velhinhos que gozam de boa saúde, mostra que muitos Abikú ficam no mundo graças a todas essas precauções, à acção de Òrúnmìlà e à intervenção dos Babalowos.

Alguns nomes dados a Abikús:


Aiyédùn - a vida é doce

Aiyélagbe - nós ficamos no mundo

Akúji - o que está morto, desperta

Bánjókó - senta-se comigo

Dúrójaiyé - fica para gozar a vida

Dúróoríìke - fica tu serás mimada

Èbèlokú - suplica para que fique.

Ilètán - a terra acabou (não há mais terra para enterra-lo)

Kòjékú - não consinta em morrer

Kòkúmó - não morra mais

Kúmápáyìí - a morte não leva este daqui

Omotúndé - a criança voltou

Tìjúikú - envergonhado da morte (não deixa a morte te matar).

As cerimónias para os Abikú parecem ser pouco frequentes entre os Yorubás. Nos dias de hoje, quando morre uma criança ainda nova, há muita possibilidade de ser um Abikú que está a regressar ao "Céu" mantendo-se a probabilidade de voltar num próximo filho, ainda na mesma geração ou na próxima. Quando uma criança fica muito doente e corre risco de vida, deve-se averiguar na família se já existiram casos de aborto ou de morte prematura pois é uma forte possibilidade. As reacções, mais da mãe que do pai, em caso de aborto no seu dia-a-dia são sintomáticas: desequilíbrio generalizado,na vida pessoal, no trabalho, em casa e nos estudos. Parece que nada dá certo prevalecendo a angústia, a depressão, o pessimismo e o desânimo. Aparentemente tudo deveria estar bem. É a influência daquele "ser", que contrariando as leis da natureza foi "fisicamente" eliminado, ficando a gravitar num plano próximo dos pais e a afectar as suas vidas. Por uma questão de justiça, um Abikú que foi "gerado" por uma família não pode aparecer noutra.

Os antigos deixaram instrumentos dentro da religião Yorubá para"enganar" os Abikús. A mãe que poderia vir a ter um filho Abikú pode evitar a vinda de um ser deformado ou com problemas sérios através dos ebós e oferendas que, na realidade, não são mais do que um "retorno sob forma de castigo" dos nossos actos ou de gerações passadas. Além de amuletos e magias feito nos Abikús, que vão desde símbolos e patuás postos nas suas pernas, braços e pulsos, são feitas pinturas destoantes nos seus corpos para repelirem os seus "antigos companheiros" do outro lado e os obrigarem a ficar na vida.

Existem mais nomes que se dão aos Abíkús:

Malómo - não vai embora novamente

Kosokó - não existe mais pá (para cavar a sepultura)

Banjokô - senta-te ou fica comigo

Durosimi - espera para me enterrares (enquanto eu viver)

Jekiniyin - permite que eu tenha um pouco de respeito

Akisatan - não há mais mortalhas para sepultar

Apará - aquele que vai e vem

Okú - o morto

Igbekoyi - nem a floresta te quer

Enú-Kún-Onipê - o consolador está desgastado

Akuji - morto e acordado

Tijú-Ikú - Envergonha-te de morrer

Duró-Orí-Iké - Espera e vê como vais ser mimado

São feitas festas especiais para esse tipo de crianças, onde o feijão frade e o azeite de dendê são distribuídos a todos como prato principal. Os Abikús e outras crianças são convidadas, assim como os "demónios" que as acompanham. Supostamente, a festa agradará aos "amiguinhos do outro lado", convencendo-os a deixarem os Abikús terem uma vida normal.

Abikús e Abiexés

Os Abikús têm sido confundidos no Brasil com Abiaxé, as quais são as crianças nascidas "feitas de berço" e com uma missão espiritual. Os Abiaxés podem ou não recusar a missão espiritual na terra e regressar ao convívio de Olorún, dependendo unicamente do teor de compreensão que obtiverem do seus pais, mestres, tutores, cônjuges, etc. Existem dois tipos de Abiaxés. O primeiro é oriundo de uma transmigração espiritual e nasce na mesma hora ou horas depois num outro e outro corpo. Precisa apenas de um ritual de confirmação ou coroação do Ibá Orí conforme o cargo espiritual designado por Ifá. É oferecido a Olodumaré e Olorúm pelos seus pais ou tutores e nunca conseguirá fugir de seu Odú (predestinação).

O segundo é "feito" (raspado) na barriga da mãe quando esta é recolhida para a "feitura" e está grávida. Aí a criança recebe todos os fundamentos que a mãe receber, independentemente da qualidade de Orixá, nascendo "feita" deste mesmo Orixá e precisando apenas da confirmação ou coroação, as quais seguem as mesmas ritualísticas do primeiro caso de Abiaxé.   

Os quatro tipos de Abikù:

Abikú Inã ou Izô - do fogo: este Abikú é o que mata a mãe com o seu nascimento ou o pai, por acidente, posteriormente. É um Abikú de difícil trato, trazendo consigo a má sorte para quem com ele mantiver relacionamento permanente. O Abikú de fogo geralmente aliena o segmento social no qual estiver envolvido e desenvolve uma psicopatia irreversível após os 21 anos.

Abikú Omí ou Azín - da água: é o tipo de Abikú que nasce de 6, 7 ou 8 meses,indo para a incubadora. Morre precocemente ou cresce e sai desse período critico. Se seus avós forem vivos, liga-se mais a eles do que aos pais. o seu principio de Abi (vida) dá-se entre um anos ou três anos e meio de idade e o seu processo de Ikú (morte) inicia-se entre os três e os cinco. Morre quase sempre por afogamento, tuberculose, desidratação ou cólera. A forma de evitar esse retorno é usar um nome contrário ao nome que trouxe do útero e fazer trabalhos espirituais fazendo ofertas aos Odús (presságios).

Abikú Alé - da terra: estes Abikús segundo a ancestral cultura Yorubana, são os mais trabalhosos para os sacerdotes e parentes, pois estão intimamente ligados aos "amiguinhos das florestas" que os chamam frequentemente. Muitas vezes nasce por cesariana ou de parto normal muito difícil. É uma criança agitada com tendências a neuroses familiares.A forma de retorno também é por acidente em quedas de alturas ou por doenças de pele e órgão digestivo. O tempo de vida (se não for tratado) oscila entre os 4 e os 8 anos.

Abikú Fefé - do vento: estes Abikús diferem um pouco dos outros, por ser de especial origem no meio do convívio das pessoas. Ele destaca-se em todo o ambiente desde o seu nascimento que, geralmente, foi inspirado ou não planeado. Tem características próprias e pode ser facilmente induzido a manter-se na vida dada a sua instabilidade emocional inicial. Por ter mais do que "amiguinhos" do outro lado, poderá ser salvo por Exú e Oyá na hora H.


Todas estas informações foram recolhidas em vários sites sobre o assunto :) Espero que tenham gostado  ::)
Madame DaCosta