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  • O Conto do Náufrago
    Iniciado por Hammurabi
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O Conto do Náufrago

O Conto do Náufrago surge num único manuscrito: o Papiro 1115 do Museu do Ermitage Imperial de São Petersburgo. Este facto e a total ausência de eco da existência deste conto no seu tempo, impede de avaliar qual o seu impacto junto dos seus contemporâneos.
  É um papiro provavelmente da XII dinastia. Independentemente da datação literária
poder ser anterior, W. Golénischeff, comparando com os papiros do Conto do Camponês Eloquente, da História de Sinuhe e dos Diálogo de um desesperado com o seu ba, acredita que todos eles são coevos do quarto rei da XII dinastia ou posteriores, tendo sido escritos na mesma época. Tem um comprimento de 3,80 metros e cerca de 12 cm de largura, encontra-se em perfeito estado de conservação e apresenta 189 linhas intactas, 136 verticais e 53 horizontais, numa escrita egípcia hierática muito bem desenhada e de bonito efeito.
  De proveniência desconhecida, foi encontrado num armário do referido Museu, em 1881, ano em que W. Golénischeff o apresentou no V Congresso de Orientalistas, em Berlim,cinco anos depois de se terem encontrado no mesmo local outros dois papiros em muito pior estado de conservação e sem se saber como qualquer deles chegou à Rússia. De um papiro com folha relativamente espessa, foi escrito apenas no verso, tendo sido utilizadas tinta negra e encarnada.

  Sem que haja uma nomeação, temporização ou localização exatas, embora se possam reconhecer alguns locais, este conto tem sobretudo uma perspetiva simbólica, não sendo possível encontrar-lhe qualquer dimensão histórica. O capitão de um barco acaba de chegar ao Egipto, provavelmente a Elefantina, vindo de uma expedição à Núbia, que não terá corrido pelo melhor, pois teme enfrentar o faraó, sendo visível na sua única fala que julga ter a vida em perigo. Para o confortar, o narrador e herói do conto, elevado à condição de «companheiro excelente», conta-lhe uma história fantástica, destinada a mostrar-lhe que mesmo nas piores circunstâncias é sempre possível acontecer um milagre. Único sobrevivente de um naufrágio provocado por uma violenta tempestade onde pereceram todos os outros tripulantes do seu barco, acaba por ir parar a uma ilha maravilhosa mas imaginária, a Ilha do Ka, onde se depara com o seu único habitante, um deus serpente. Recebido como algo de insignificante e desprezível, acaba por ser confidente da enorme serpente, nessa terra sagrada de regras rituais precisas. Mais abaixo, a serpente afirma claramente «Na verdade, eu sou o soberano do Punt», terra mítica de localização incerta mas real, «O País de Deus», de onde vinham muitas riquezas para o Egipto, que também vemos descritas no conto. No fim, o deus serpente permite ao náufrago que regresse ao Egipto e seja feliz.

  Conto para crianças ou não, muitos investigadores apontam para um novo significado desta história; que tudo na verdade se tratou de uma experiência sobrenatural: que o náufrago na verdade morrera, e o que tivera foi um vislumbre do "paraíso", e que o capitão experienciou o sobrenatural ao tomar contato com o espírito do náufrago.


Fonte: História e Cultura Pré-Clássica