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  • (outro) Histórias de coveiros
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MISTÉRIOS E HISTÓRIAS DO CEMITÉRIO DE SÃO JOSÉ DO CALÇADO 

Por Addison Viana

São José do Calçado:O cemitério de Calçado é repleto de histórias e mistérios que são contadas pelo coveiro que trabalha no cargo a 10 anos. Em uma conversa, ele revelou algumas situações que já presenciou no local. Confira.



A primeira curiosidade que vamos esclarecer são os números soldados nas alegorias do portão do local, 1, 9, 1 e 3, que se juntarmos formam o ano de 1913.

A segunda curiosidade são as letras que se encontram logo abaixo dos números, as letras A e M já fizeram muitas pessoas quebrarem a cabeça para descobrir o seu significado, já palpitaram em "Ave Maria", "Até Mais" e outros.

De acordo com o coveiro que trabalha a dez anos no cemitério de Calçado, os dois palpites estão totalmente errados. Os números que formam a data de 1913 significam o ano o qual o então cemitério foi construído. A primeira carneira a ser instalada no local foi o do senhor Pedro Gomes da Fonseca no ano de 1914. O coveiro não soube explicar o porquê dos números terem sidos colocados no portão de forma tal camuflada, passando por despercebidos nos olhos de quem entra no local.


As famosas letras visíveis A e M, são as iniciais do antigo ferreiro de Calçado que doou o portão para o cemitério, Américo Muniz. O coveiro Miguel Paraná, conta que a família de Américo era de Bom Jesus do Norte, mas tudo indica que ela morava em São José do Calçado. Américo foi enterrado no cemitério de Calçado ao lado dos túmulos dos coronéis.

Miguel lembra que há muitos anos, a capela onde velava os corpos era instalada dentro do próprio cemitério. Segundo ele, a capela parou de funcionar a aproximadamente quarenta anos. Hoje, o local onde velava os defuntos serve como depósito de ferramentas.

- Há alguns meses atrás eu estava dentro da antiga capela pegando algumas ferramentas quando de repente senti uma água quente sendo jogada em minhas costas. Olhei, procurando a pessoa que teria me jogado a água e não encontrei absolutamente ninguém. Minha camisa ficou com uma roda manchada no local onde bateu a água – conta Miguel.

O coveiro conta também dos tão falados túmulos dos coronéis, como por exemplo, o do Coronel Theophilo Virgílio Lobo. Os antigos contam que o coronel Theophilo era um carrasco com os empregados e que chegava a sacrificá-los quando eles não serviam mais para prestar os serviços desejados por ele. Theophilo tinha muito dinheiro que era circulado apenas dentro da fazenda. Era rigoroso, e ficou mais ainda depois de ter ganhado a patente de Coronel. O seu túmulo é hoje lacrado, para nada pode ser mexido, há informações de que na parte interna dele existe um grande tesouro que foi enterrado junto ao corpo do coronel.

Miguel Paraná conta que já viu e ouviu muitos sinais no local onde trabalha.
- Há duas semanas, o céu estava todo nublado, eu vi uma luz, tipo uma lâmpada acessa atrás do anjo dourado que tem no túmulo da falecida Germana Pimentel, achei que fosse algum reflexo, mas não tinha sol e nem uma outra luz por perto que poderia causar tal reflexo, segundos depois a luz sumiu – conta emocionado Miguel que trabalha no cemitério há 10 anos.

O coveiro fala que com esse sinal ele tirou a própria conclusão. Segundo ele, a mãe de Germana sempre vai a túmulo da filha para rezar por ela, e nesse momento de oração ela acaba se emocionando vindo a chorar. Ele acredita que essa luz que apareceu para ele foi um aviso de que a alma dela está em um lugar iluminado.
- Infelizmente não é todo mundo que tem o dom da visão, para quem o possui não tem horário certo para ver as coisas, pode ser noite ou dia que se tiver de ver irá ver – diz Miguel.

Paraná afirma ter visto também num domingo, às duas horas da tarde, uma senhora vestida de um vestido xadrez aparentando ter aproximadamente 55 anos de idade, como se estivesse procurando por um túmulo. Resolveu então ir oferecer ajuda a ela, e foi num piscar de olhos que do nada ela desapareceu.

Conta também, que há uns seis anos, ele foi retirar o corpo de uma mulher para enterrar junto ao dela um parente que teria acabado de falecer. Quando ele puxou os restos podres do caixão, pode ver que o esqueleto da falecida encontrava-se de perfil, levando-o a concluir que ela foi enterrada viva.

Uma situação extremamente chocante presenciada pelo coveiro, foi o enterro de um rapaz que carregava na cabeça dois toquinhos que pareciam chifres, um toquinho de rabo e um olho grande na testa. – O rapaz sofria de sistema nervoso e antes de falecer estava internado em uma clínica – comenta Miguel.

Outra grande história do cemitério é a do bicho Charpinel. Diz Miguel, que depois da morte de Francisco Daniel Junger, ele assombrava as pessoas com gritos tão altos que até quem se encontrava nas ruas de Calçado mais próximas assustavam com o som. Diz ainda que um padre teve de ir exorcizar o corpo do falecido, que ficou então conhecido como o Bicho Charpinel.

Miguel Paraná, o coveiro que trabalha no cemitério de São José do Calçado, conta que nesses dez anos de trabalho, já enterrou mais de mil corpos. As famílias que mais possuem parentes enterrados no terceiro cemitério de Calçado são as Almeida, Tatagiba e Rezende. – Este á é o terceiro cemitério de Calçado, e o quarto já está vindo por aí – concluí Miguel se referindo a lotação do local.
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Causos e histórias do coveiro Silvano


"Ontem éramos o que tu és. Amanhã serás o que nós somos". A inscrição sombria da fachada do cemitério contrasta com as novas cores e grafismos da Capela de Santa Luzia que transformaram o ambiente de trabalho do coveiro Silvano. Fruto da inspiração do artista plástico Stephan Doitschnoff, que demorou dez dias até concluir o trabalho, o novo espaço foi aberto ao público no Dia de Finados.

Silvano Araújo nasceu em Lençóis e trabalhou grande parte de sua vida como garimpeiro. Como a maior parte de seus companheiros de profissão, não construiu patrimônio com os diamantes que suas mãos buscaram.

Com a proibição do garimpo, Silvano começou a ajudar o então coveiro Sílvio, que mais tarde deu-lhe a incumbência de vigiar a capela e o cemitério, "o Ibama não deixou a gente trabalhar e o Silvio me deu a oportunidade de ser coveiro".

A primeira cova que abriu, rendeu a Silvano noites mal dormidas. Ele se lembra que nos primeiros dias quando deitava na cama ao lado de sua companheira, D. Maria Nilda, uma mulher vestida de vermelho vinha assombrá-lo e puxava-lhe os pés.

A rotina do trabalho e as várias covas que abriu posteriormente fizeram com que Silvano não mais recebesse a inusitada visita.

Assim que Silvano começou a trabalhar no cemitério, mudou-se para perto do local. Uma casa de adobe abrigava toda sua família. Ele se lembra como hoje do episódio em que uma árvore despencou em cima da casa, com ele, a mulher e os quatro filhos dentro. Amigos e vizinhos colaboraram com o material para colocar de pé sua nova morada, no mesmo local da casa atingida pela árvore.

Enquanto a casa era construída, ele foi morar nos vestiários abandonados do campo de futebol do Tomba Surrão.

O baba da meninada não agradava sua companheira, que respondia às bolas acertadas nas paredes da casa, com gritos de indignação e sempre transformava as traves do gol em lenha para seu fogão. Os garotos, por sua vez, revoltados com a atitude de D. Maria Nilda, ameaçaram destruir a "casa-vestiário", tarefa que cumpriram com o acirramento dos conflitos. Foram derrubando paredes e telhados forçando a família a se aglomerar nos cômodos que iam restando.

Até o momento em que havia sobrado apenas um quartinho e, com mais uma investida da meninada, a casa improvisada foi totalmente destruída.

A família, sem saída, mudou-se para a casa ainda em construção.

Silvano dividia-se entre os problemas que enfrentava com a casa e o trabalho no cemitério. Cuidadoso com o espaço de que cuida, ele sempre mantém a ordem no local, retirando as mandingas que as pessoas deixam na cruz do cemitério.

Não raramente, o coveiro corajoso, depara-se com galinhas mortas, punhados de farofa, velas pretas e outros símbolos de superstição, não se importando de varrer qualquer tipo de objeto para manter o local em ordem.

Apesar de seu esmero e cuidado com o espaço sagrado, as pessoas daqui não gostam de ver Silvano empunhado de uma vassoura.

Reza a lenda na cidade que quando o cemitério é limpo, algumas pessoas morrem. Silvano faz coro com o povo e diz que isso, de fato, acontece.

Sem dúvida o trabalho de Silvano não é desejado por muitos, mas ele diz estar acostumado com o que faz.

Não tem medo de trabalhar entre os mortos e realiza suas tarefas com muita dedicação. Afinal de contas, como ele mesmo diz, "o que eu faço aqui, eu faço para mim mesmo. Um dia eu vou estar aqui. Já estou preparando a minha carneira".

Créditos: Thaís Castilho MTB
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História que o povo conta

Cafezinho das três no cemitério

Três horas da tarde, sol ardente. Hora sagrada do cafezinho dos quatro coveiros, que, sentados em um túmulo, contavam histórias de arrepiar.
De repente, o sol se põe. O tempo obscureceu. Começou a trovejar. O céu anunciou chuva, vento forte, temporal. Amedrontados, perceberam que isso só estava acontecendo dentro das limitações geográficas do cemitério. Foi coveiro correndo pra todo lado.
Nesse momento tremularam catacumbas, túmulos, covas abertas, etc. As folhas das árvores choveram sobre o cemitério. Ninguém enxergava mais nada.
Um dos coveiros, espantado, notou que o portão grande do cemitério ora abria, ora fechava, e batia uma parte na outra assustadoramente. Parecia o badalo do sino de Deus anunciando o fim do mundo. De súbito, observou uma silhueta vultosa, esbranquiçada, tentando se esconder da tempestade. Não compreendendo o mistério e tremendo de medo, de sua boca ecoou um grito pavoroso, dizendo: É alma penada! É bicho feio! Valha meu Deus!
Começara a rezar para São Miguel Arcanjo (A Oração contra as ciladas do demônio...).
Dos outros coveiros, viam-se apenas seus olhos esbugalhados fitando aquela figura estranha que parecia bicho de outro mundo.
Um dos coveiros, tenso, pasmo, seguiu com os olhos aquela "coisa", que flutuava perdidamente, em ziguezague, em busca de abrigo.
Outro, apesar do momento esquisito e do ser fantasmagórico, só pensava nos túmulos que já tinham sido saqueados. Imaginava que se tratava de mais um vândalo ou de um ladrão, tentando assustá-los. (Poucos dias atrás tinha pegado um idiota defecando em cima de um túmulo. Ao flagrá-lo, lhe dera uns safanões, pontapés – este nunca mais se atreveu a importunar o sono sagrado dos mortos.)
Outro dia, dera falta das inscrições douradas, prateadas, de muitos jazigos. (Os parentes das vítimas exigiram das autoridades, justiça.)
O instante era de apreensão, medo, nervosismo. A ventania não parava. Aquela "coisa" esvoaçava como assombração peregrina... E de repente, sumira.
Um coveiro que não a perdera de vista foi ao seu encontro. Por sorte... se viu diante de um vulto mágico dentro duma cova, levitando. (Aquela cova aberta estava pronta para receber seu ilustre morador, que já estava a caminho.)
Assustado, o coveiro chamou um dos colegas, que ao se aproximar, deparou-se com aquela "coisa" dentro da cova. Foi tomado por uma síncope descomunal... Ao sentir-se vivo novamente, tratou de abandonar seu companheiro, seus pertences e deitou o cabelo...
Outro coveiro vendo aquela cena, aproximou-se, e ao ver aquilo, gritou: Sangue de Cristo tem poder! Isso é alma penada mesmo! Minha Nossa Senhora da Boa Morte! Saiu em disparada com as mãos à cabeça, tropeçando, caindo, se levantando, e aos berros dizia: Deus me livre! É o fim dos tempos! Socorro!
O coveiro, o corajoso, que olhava – a "coisa" resolveu lhe perguntar de supetão: - Que faz aí dentro dessa cova que não lhe pertence?!
E "a coisa" com uma voz trêmula do além, lhe respondeu sem pestanejar: - Vocês não me deixam em paz. Sentam em cima de mim contando histórias cabeludas, mentirosas; e ainda por cima, sujam meu túmulo com farelo de pão, de bolacha, café.
O coveiro, o corajoso, então lhe disse: - Vou chamar o padre para lhe dar a estrema-unção. Você não diz coisa com coisa. Ta louca! Ta na ânsia da morte.
E aquela "coisa" ali, como uma alma penada, engoliu a língua por uns segundos, e lhe respondeu: - Não precisa! Já to morto há muito tempo. Não ta me conhecendo? Sou o Luiz. Você que me sepultou. Não se Lembra de mim, Roberval?
O coveiro perturbado pensou: Santo Deus, isso não ta acontecendo comigo!... Vou buscar água benta e vou jogar em cima desta "coisa esquisita."
A "Coisa" lhe respondeu aborrecida: - Você e os seus colegas estão usando meu túmulo como cozinha de cemitério. Não façam mais isso. Deixem-me descansar em paz. Quero ter o sono eterno que mereço.
E, falando isso, a alma penada elevou seu espírito até seu túmulo – que se abriu sozinho; ao adentrá-lo, pôde enfim dormir em paz para sempre. Ao repousar em sua última morada, fechou-se o túmulo, e misteriosamente, o temporal cessou.
Os coveiros do cemitério ficaram extáticos ao ver aquela alma se refugiar.
Prometeram que nunca mais usariam túmulos para tomar o costumeiro cafezinho das três.

Autor: Osmar Fernandes,

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Profissão: coveiro
24/04/2007 

NATALIA SAHLIT 

FOTOS DE NATALIA SAHLIT

ZÉ CARLOS. Nunca chorou em serviço 



Quinta-feira de poucas nuvens, sol das dez da manhã. José Carlos de Lima, 41 anos, vem crescendo rapidamente a partir de uma das tantas quadras do Cemitério São João Batista, em Botafogo, o corpo parrudo tremulando abrasado, perdendo os contornos no calor emanado do asfalto.

– Não posso falar agora não, não posso falar agora não – repete, as mãos encardidas secando as suíças molhadas de suor, o rosto vermelho sob um gasto boné azul.

A esta hora, o coveiro – ou "administrador de cemitério", como se apressa em corrigir a funcionária do SJB – já abriu a golpes de picareta uma cova rasa no alto da quadra 19 e realizou pelo menos cinco exumações. Não chove há dias, e o chão "pega fogo", explica. As exumações consistem na retirada dos restos mortais de uma sepultura, gaveta ou cova rasa para entregá-los à família do morto numa caixinha de fibra. Seriam oito até as 15h30, horário em que José Carlos pára para o cafezinho e a entrevista, depois de cinco sepultamentos.

– Gostava de trabalhar com agricultura, mas aquilo não dá futuro. O preço é tabelado em dólar, e a gente fica dependendo da natureza – diz o coveiro, um dos dez que compõem o quadro de funcionários do cemitério.

Uma mulher se exalta: "Vocês não têm coração?"



SOLIDÃO. Sol a pino no São João Batista 



José Carlos trocou a roça pelo SJB há sete anos, quando o sogro, coveiro por quase 30 anos, achou que a filha precisava de mais estabilidade para criar os dois filhos em Magé. Desde então, trabalha das 7h às 18h, folga toda quarta-feira, tem carteira assinada e ganha R$ 800 por mês; não tem religião, não acredita em vida após a morte, acha tolas todas as histórias que contam sobre cemitérios e nunca chorou num sepultamento.

– Uma vez uma mulher gritou comigo na capela: "Vocês não têm coração?" Se eu chorasse a cada enterro, já teria secado – justifica.

Sobre o ofício incomum, o coveiro argumenta que hoje em dia "não dá pra ficar escolhendo trabalho". Luis Moreira, de 48 anos, discorda do colega. Ele é um dos 30 responsáveis pelos enterros no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.

– Não é pela estabilidade, não é medo do desemprego, é vontade e desejo. Já vi gente trabalhar aqui uma semana e ficar maluca. Nós nascemos para isso – afirma, com convicção, o homem baixo e moreno.

Coveiro diz ouvir assovios no crematório



LUIS. "Coveiro tem que ser invisível" 



Luis começou a trabalhar na área aos 12 anos. Levava marmitas para os três tios, coveiros do Caju. Aos 18, foi para o Instituto Médico-Legal, onde passou a lavar corpos. De vez em quando tinha medo, principalmente quando os mortos "se levantavam" das macas. O sentimento só passou quando Dr. Jamin, diretor-geral do IML na época, explicou que o fenômeno era normal, causado pela liberação dos gases acumulados nos corpos.

Por querer se dedicar mais aos ossos e conhecer o ser humano por dentro, foi para o Caju, onde trabalha há tantos anos que já não sabe precisar. Enjoou, trocou de emprego: foi para uma funerária fazer remoções, preparação e ornamentação de cadáveres para sepultamentos. Há quatro anos decidiu voltar ao cemitério, onde ainda trabalha como "regra três" – de acordo com os colegas, uma espécie de zero à esquerda, que não recebe salário: apenas uma gorjeta, de R$ 10 a R$ 50, que as famílias podem dar ou não depois dos enterros.

– Gosto de ver os ossos crescendo depois da morte. Gosto também de adivinhar, pela posição deles, como os mortos dormem: de lado, de frente... o que eu não gosto é quando eles estão mumificados, cheios de formol. A pele fica ressecada – comenta Luis, um misto de coveiro-cientista e católico fervoroso que sonha ver os filhos, duas meninas e três meninos, trabalhando como peritos.

O coveiro garante que já ouviu assovios no crematório e flagrou bolas de fogo saindo das bordas de sepulturas. Para ele, quem não acredita nas histórias não tem o poder de ver.

– Mas não tenho medo da morte, porque ela é uma coisa muito linda – conclui, com um certo brilho nos olhos castanho-amarelados.

Um desejo exótico: trabalhar nos EUA



COVA RASA. A morte mais barata 



O grande sonho de Luis Moreira é trabalhar em um cemitério nos Estados Unidos. A idéia surgiu quando ele ainda estava no IML, onde vira-e-mexe encontrava um corpo de gringo:

– Tenho vontade de sentir o cheiro deles. Nós cheiramos a carne de animal putrefata, mas os americanos cheiram a batatas estragadas. Se pudesse, conheceria os cheiros das pessoas dos outros países. A gente tem que se aprofundar – teoriza.

O cheiro dos mortos era o que mais incomodava José Francisco, de 51 anos, quando ele deixou de ser gráfico e produtor de bailes funk em Realengo para se tornar coveiro, há cinco anos. Na primeira exumação, realizada com a ajuda de um colega mais experiente, teve muito nojo e se espantou ao descobrir que o serviço era realizado sem luvas. Depois, a repulsa passou.

– Estava desempregado, mas acabei gostando mesmo da profissão. O trabalho é pesado. Tem que ter bom preparo físico para carregar os caixões onde os carrinhos não passam, colocar as lajes por cima dos jazigos. Acho que é por isso que não conheço nenhuma mulher coveira. Mas tem o lado bom, que é trabalhar sem ninguém no seu pé e lidar diretamente com o público – diz, em pleno dia de folga, recostando o corpo negro e esguio num dos jazigos da quadra 13 do Caju.

Salário de coveiros é de R$ 800. Serventes recebem menos da metade



ROTINA. O trabalho anônimo no SJB 



O "lidar com o público" não se aprende de uma hora para outra. Geralmente, entra-se num cemitério como servente. O serviço rende, no SJB, R$ 380 por mês, e funciona como uma espécie de estágio para a profissão de coveiro. O funcionário vai observando como se trabalha no cemitério e, se tiver "bom comportamento" – ou seja, se entender que não se deve falar alto ou fumar durante os sepultamentos e souber tratar as famílias com respeito – pode requisitar uma vaga de coveiro depois de algum tempo, o que eleva o salário a R$ 800.

Alguns funcionários ainda conseguem se tornar encarregados de coveiros, depois de muitos anos de trabalho e de o corpo já estar moído pela idade. Estes ganham até R$ 1.200 por mês para coordenar os colegas e geralmente podem deixar o serviço por volta das 16h, quando os coveiros ainda têm pelo menos duas horas de trabalho pesado pela frente.

– O coveiro tem que ser um pouco invisível no sepultamento, ainda que seja ele o grande condutor da cerimônia. Existe esta etiqueta – teoriza Luís Moura, que trabalhou como servente, pedreiro, condutor (profissional que leva os carrinhos com os caixões) e coveiro antes de se tornar encarregado no SJB, há cinco anos.

No código de conduta, a regra de esconder os sentimentos



SOMBRAS. Pôr-do-sol no Caju 



Outra regra de etiqueta seguida pelos coveiros é não demonstrar emoção durante os sepultamentos. Mas há exceções, como quando um funcionário acaba sendo, ao mesmo tempo, responsável pelo sepultamento e amigo do defunto.

– Já enterrei um compadre e uma comadre. Fui eu que fiz o sepultamento, conduzi e fechei as gavetas. A gente se acostuma, não tem mais aquele negócio de choro. Mas a gente sente, a gente só sente – murmura Luis Moura, óculos escuros de aviador, entre uma tragada e outra no cigarrinho magro.

Aos 44 anos, Joel Pires, que passou metade da vida como encarregado no SJB, compara o coveiro a um médico na sala de cirurgia. É preciso controlar os sentimentos, ele explica.

– Fácil não é. Mas quando eu tinha nove anos, enterrei minha mãe num dia 12 de dezembro, meu irmão no dia 14, meu pai em janeiro e, ainda no mesmo mês, outro irmão. Nunca chorei num sepultamento – orgulha-se.


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As várias histórias contadas por um coveiro
mar 5th, 2009 | por Jornal Vanguarda | Categoria: Especial
"Tem gente que me chama de louco, mas tenho certeza que sou mais certo do que eles", é assim que se define Vitalino Biz, mais conhecido como Bife, coveiro do cemitério municipal há 29 anos. Aos 75 anos de idade, tem muitas histórias para contar. Muitas tristes, comoventes, e outras curiosas e, porque não dizer, engraçadas. Durante todo este tempo em que esteve à frente dos trabalhos no cemitério, Bife construiu 526 capelas e centenas de túmulos, tantos que ele nem lembra quantos. "Ah, foram muitos", garante.

O gosto pelo trabalho é de família. O pai cuidou do cemitério durante 40 anos, quando ele ainda se localizava nos fundos da Igreja Matriz. "Quando foi transferido de lugar, eu e meu irmão arrancamos todos os corpos com a pá. Como se fosse lei, as pessoas eram mesmo enterradas a sete palmos do chão", lembra ele.

Bife é um homem objetivo e direto. Fala o que vem à cabeça, e não tem medo da repercussão que isso pode ter. Depois de quase três décadas trabalhando neste segmento, conta as histórias mais mirabolantes que podem ser imaginadas, e não se intimida ao falar o nome dos responsáveis. "Certa vez, um empresário muito conhecido e importante de Urussanga veio fazer um despacho aqui. Ele fez um carreiro de incenso na frente da Santa Cruz e colocou fogo. A explosão foi tão forte que ele teve que ficar de costas, e em seguida saiu. Aquele cheiro forte ficou entranhado no cemitério durante horas. Não sei o significado que aquilo teve, mas alguma coisa era", avalia o coveiro.

Por falar em despachos, eles são comuns no local. Os mais diversos objetos aparecem em meio às bebidas, animais e velas. "Cerveja, vinho, cachaça, tudo que é tipo de bebida é colocado aqui. Geralmente tem uma galinha ou um galo preto esticado e com o pescoço quebrado, mas também pode ser outro tipo qualquer de animal, assim como a cabeça de porco que surgiu há uns dias atrás. Acredito que cada objeto significa algo diferente, porque as opções são inúmeras. Também é comum colocar roupas, e olha que são peças boas hein!", fala Bife.

Ele conta que nunca viu nada de mais no cemitério, e não tem nenhum pouco de medo de ficar lá durante o dia e também de madrugada. "Quando completei 60 anos eu fiz um túmulo pra mim. Às vezes, quando bebo um pouquinho a mais ou a mulher briga comigo vou dormir lá. Uma vez peguei no sono ao lado do ossário, na parte central do cemitério. Quando percebi, meu braço encostou em um objeto meio arredondado. Era um crânio. Nem dei bola, continuei dormindo", lembra o coveiro.

Uma passagem que vale ser lembrada e é, com certeza, impressionante, aconteceu há cerca de dez anos. "Esta eu tenho certeza e dou minha palavra. Uma pessoa foi enterrada viva! Depois de cinco anos da suposta morte tive que desenterrar o corpo. Ele estava com as mãos descruzadas. Um braço estava torto para trás, e o outro mais esticado, com os dedos dobrados. Imagina a agonia que ele passou. Isto aconteceu porque o homem tinha ataques epilépticos, e ele 'morreu' às 9 horas. O enterro ocorreu algumas horas após, às 16, sem completar as 24 horas que hoje são exigidas por lei. Deixei o corpo fora do túmulo por 15 dias para ninguém dizer que eu estava inventando ou mentindo. Pessoas dos diversos lugares vieram ver aquele que foi enterrado vivo", ressalta Bife.

O coveiro divide os trabalhos no cemitério com Waldemar Consoni, e eles contam com dois ajudantes. Entre os meses de abril e dezembro vão diariamente ao local, e no verão, trabalham quando é preciso. Levam em média cinco horas para fazer um túmulo, "Com 29 anos de experiência consigo fazer o jazigo a olho". Ele diz que é raro, mas acontece de placas de bronze serem roubadas, assim como as tampas de alumínio dos túmulos e anjos ou objetos de valor.

O enterro que mais levou pessoas ao cemitério foi o do Padre Agenor, seguido pelo do ex-prefeito Lydio De Brida. Já o local onde sempre tem flores, velas, e pessoas rezando é à frente do túmulo das freiras e dos padres, perto da Santa Cruz, no centro do cemitério. "Está sempre enfeitado, principalmente onde estão enterrados o padre Agenor e o Luiz Gilli. Por falar no Gilli, se há alguém que merece ser santo nesta cidade, este alguém é ele. Estava sempre disposto a ajudar e estender a mão a quem necessitasse", salienta.

Depois de tantos anos vivenciando as angústias e tristezas que se passam no cemitério, o coveiro ainda se emociona em determinadas situações. "Quando o enterro é de alguém conhecido, eu saio do cemitério chorando. Dos meus amigos de infância, apenas três ainda permanecem vivos, quase todos já foram embora. Hoje, tenho dúvidas do que acontece depois da morte, se vamos pra algum lugar especial ou se acaba tudo. Acredito que já vivi o suficiente, e estou preparado para morrer, não tenho medo de esse dia chegar", afirma Bife.

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(1/1)

Dante23:
Zeca Honório era uma cria ruim, pior que carne de pescoço, com ele ninguém lidava, ninguém tirava farinha. Quando criança contava-se que fazia todo tipo de maldade, tanto com animais quanto com pessoas. Sua mãe dona Assunta, era uma coitada, viúva, com cinco filhos, tinha no caçula o tal do Zeca a personificação da ruindade. Porém, Zeca cresceu e casou-se com Catarina, uma pobre mulher que morreu dois anos depois, num formidável pontapé na barriga prenhe que o marido desferiu num de seus ataques de cólera. Morta a mulher, voltou a residir com a sofrida mãe, a qual como sempre socorria o Zequinha, todavia, suas crises e ruindades aumentavam, até que um dia por qualquer motivo, chegava a espancar a pobre velha, proferindo uma série de blasfêmias aos céus. Dona Assunta de desgosto morreu logo e passado um ano o tal do Zeca, aos quarenta e imprestáveis anos foi fulminado por um ataque cardíaco.
Passado alguns meses, diziam que o coveiro teve que enterrar de novo o Zeca Honório, pois misteriosamente o corpo estava exposto e o que é pior intacto. Passou um ano, a terra rachou e para surpresa do coveiro o corpo outra vez subira a superfície, apesar das roupas corroídas o corpo estava inteiro e os cabelos e as unhas tinham crescido.
O coveiro, muito esperto, entendeu que Zeca Honório pelo fato de ter batido na mãe e outras maldade mais, virara Corpo Seco, o qual tanto a terra, quanto os vermes o repudiavam.
Escondeu o corpo em outra cova e ladino como ele só, contou o caso a uma benzedeira e esta informou que para acabar com a maldição, seria necessário a mãe do defunto dar uma surra com vara benta no dito cujo, como a mesma já era falecida, tornava-se impossível acabar com a maldição por completo, só restava uma solução, enviar o corpo para Pico do Selado, onde as almas penadas pagam penitência.
Na primeira tempestade noturna que se formou, o coveiro, a benzedeira e mais um ajudante pegaram uma rede, passaram uma taquara (bangüê), recolheram o corpo e foram para a igreja, lá passaram um conto no vigário, ou seja, informaram que era uma mulher que tinha falecido de doença contagiosa e necessitava ser enterrada o quanto antes, o padre, já de idade avançada, cansado, meio míope, num clarão de vela, mal olhou o cadáver e começou a encomendar o corpo. Conforme rezava, o vento assobiava forte, raios e trovões pareciam aumentar a cada instante; a cada sinal da cruz um raio iluminava e estremecia a igreja. Terminada a reza, o trio dirigiu-se para fora e deixaram o corpo no chão e este sacudido pelo forte vento começou a balançar, a flutuar num sobe e desce tétrico e horripilante. Os três mal respiravam e com os olhos arregalados, viram o corpo se desvencilhar da rede, os cabelos esvoaçando vistos com os clarões dos relâmpagos e de repente um estouro (buummm!) e num clarão faiscante o corpo foi em direção ao Pico do Selado, deixando um rastro vermelho no céu.
Assim termina a história de Zeca Honório, cuja alma como tantas outras, está aprisionado no Pico do Selado, local este que foi muito temido até décadas atrás, donde se ouviam as mais variadas histórias, possíveis e impossíveis.

arcanosafins

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O sétimo Coveiro
O SÉTIMO COVEIRO
Tudo começa numa pequena cidade da Paraíba chamada Olho Santo. Cidade de poucos habitantes, mas de muitos mortos. Lugar para enterrar já se tornava um problema. Só tinha um pequeno cemitério e sete coveiros.
Aconteceu que, num período de um ano, os coveiros começaram a morrer. Dizem que o primeiro morreu de tanto beber cachaça. O segundo afogou-se ao tentar salvar um gato que caiu no riacho. O terceiro morreu de febre. O quarto pisou num prego enferrujado de caixão e morreu dois dias depois. O quinto foi assassinado pelo amante da mulher. O sexto coveiro morreu de causas desconhecidas. O único sobrevivente foi seu José, o mais velho de todos. Como o prefeito não tomava providencias, José teve que trabalhar duro. Chegava a enterrar dez defuntos num só dia. O tempo foi passando. Numa tarde, em final de expediente, a Morte apareceu para José em forma de gente.
- Vim te buscar - Disse a figura vestida de preto.
Seu José teve um pequeno susto. Nunca acreditou em alma penada ou coisa parecida. Mesmo assim não deixou de ser educado.
- Mas dona Morte, se a senhora me levar agora, quem vai fazer o serviço pra senhora? Respondeu o derradeiro coveiro.
José era bom de lábia. Deixou a Morte pensativa. Mas logo veio a resposta.
- Não posso fazer nada, chegou sua hora.
José não titubeou:
- Tenho uma proposta pra senhora, dona Morte. Tô ensinando meu filho o ofício de coveiro, quando ele completar dezoito anos a senhora me leva.
O filho de José ainda tinha oito anos. Mais uma vez a Morte parecia encurralada. O diálogo entrou pela madrugada. A Morte enfim cedeu. Viria buscar José quando seu filho completasse dezoito anos. Finalmente, quando isso aconteceu, o sétimo e ultimo coveiro de Olho Santo, depois de cantar parabéns para o jovem filho, entrou no quarto e se matou com um tiro na cabeça. Deixou um bilhete para a esposa que dizia:
- A dona Morte vinha me buscar hoje, mas enganei a Coisa antes que chegasse. Deixo minha pá pra meu filho Tiago. Até queria ser enterrado por ele. Tem um dinheirinho embaixo do colchão, é seu. Assinado: José
A esposa de José não entendeu, mas chorou bastante ao ver o marido morto. Na cidade, todos, inclusive o prefeito, comentaram o fato ao mesmo tempo em que perguntavam: e agora, quem vai enterrar o sétimo coveiro?




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DiogoM
A melhor para mim e a do Zeca Honório. ;)