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  • Uma questão filosófica - Deus e a Sua Criação
    Iniciado por Templa
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Acabo de ler uma notícia acerca de um inquérito feito aos alunos de uma escola, sobre o qual alguém concluiu pela sua inadequação, já que continha, mais do que explícitos, esgares profundamente racistas. Era uma dessas notícias em que algumas pessoas, de uma forma apaixonada, manifestavam as suas opiniões acerca da xenofobia.
Ela, a notícia, forneceu-me o mote para uma reflexão filosófica profunda, cujas contradições vou tentar pacificar pela via da razão.
Progredindo no meu método de trabalho, vou colocar em evidência toda a obra de Deus incluindo, sobretudo, o Homem, o tal criado à Sua imagem e semelhança, tentando estabelecer eventuais diferenças entre um e outro.
Mas, antes, vou contar a história do João, um rapaz cigano com dezoito anos feitos.
Um dia chegou, na sua cor saariana e olhos curiosos, ao meu gabinete de trabalho, carregando uma pasta onde guardava todos os seus papéis importantes, no meio dos quais se encontrava uma pequena bíblia, transformada agora na sua cartilha de intervenção.
Não sei qual o motivo por que o João me procurou e já se escapuliu da memória a solução que eventualmente lhe apontei. Lembro-me, contudo, de lhe ter perguntado quais as suas habilitações literárias. questão motivada por um desejo premente dele em saber quem mandava naquela instituição.
 É o ministério....
 O que é um ministério?
Devo ter respondido de acordo com as circunstâncias, mas aproveitei para lhe colocar algumas perguntas relacionadas com a vida em sociedade:
 O João sabe ler?
 Sei! Tenho a terceira classe.
 E por que não continuou?
 Estudar faz muito mal ao mundo e à cabeça  respondeu, enquanto procurava na bíblia um versículo suficientemente ilustrativo dos malefícios da ciência, da qual ele próprio e a sua casta se mantinham afastados e em diferentes meridianos...
O João voltou mais uma ou duas vezes com vontade repartida entre a impaciência de conhecer uma estrutura ministerial e, eventualmente, uma paixãozinha que a interlocutora lhe inspirava:
 Explique-me essa coisa dos ministérios...
 Não posso, João! Tenho mais que fazer....
 Eu faço-lhe três partes do trabalho e você faz a diferença!...
 Não insista, João! Contudo, aconselho-o a retomar a escola. Vai ver como, lá, consegue aprender coisas fascinantes.
Já tenho aqui dois fios para puxar: a atitude do João e a minha própria atitude. Porém, o meu método reflexivo aconselha-me a esticar aquele onde o João está pendurado, agarrado a uma cultura cigana que o faz auto-marginalizar-se da sociedade, ao menos neste contexto sumptuário da ordem civilizacional. Nas orientações da natureza, é claro que o João come, bebe e, e, e,...  excluam a perversidade, por favor...
Agora, já que estou com a natureza em mãos e já a elas se agarra a massa com que Deus a fez, com os seus apetrechos, terra, plantas, animais, todos os seres vivos em geral e, claro, sua excelência o Homem  o cosmos ficará para outra análise  pergunto-me se, e na medida em que Deus criou o homem negro em África, haverá alguma razão para o achar racista?!... O mesmo se questione relativamente ao norte, onde o branco foi plantado. Terá Deus sido racista ou, simplesmente,  tinha um motivo muito forte em vista quando se decidiu por essas cores?
Dos exemplos a branco e preto retinto, entre um polo e o outro, surge-me agora a ideia de me imiscuir nos hábitos do filho de Deus, por essas latitudes fora: será que o Criador foi xenófobo quando engendrou criaturas com os olhos em bico que comem sushi e quando concebeu outras que, em vez de comerem as vacas, as adoram?!...
Outra coisa que às vezes me confunde, mas esta relativa ao próprio Deus, é o facto de nós O criarmos sempre homem, possivelmente de fato e gravata, com a braguilha das calças virada à direita por convenção dos alfaiates quando as inventaram, e sempre branco!... Como se ele, com a Sua infinita versatilidade, não pudesse auto-conceber-se preto, amarelo, vermelho, ou até azul-marinho, ou até um ser de outra forma ou essência − trovão que seja...  Mas isso é uma questão de genes e cromossomas, ácidos, sais...e, e...que não vou tratar aqui...
O que me faz reflectir é se Deus, na concepção e nos seus projectos para o mundo, terá, com efeito, sido racista ou se, pura e simplesmente, não pensou nas consequências para o facto de ter criado o Homem assim às cores, conforme os sítios onde o colocou.
Quanto a mim, gosto da Europa, de África, da Ásia, da América e da Austrália ou Oceânia e até tratei muito bem o João. Tanto, que ele voltou mais vezes. E das grandes ilhas, se tivesse de definir cada uma delas numa palavra, diria que estávamos perante o requinte, a força, a magia, a aventura e a bonança, respectivamente.
Deus está em todos os continentes e em todas as suas coisas, com plenitude, orgulhoso da Sua obra, que jamais renegará. Sim! Deus nada renegará, muito menos o João, um rapaz de dezoito anos feitos, ciente e respeitador da ancestral cultura onde foi criado com a chancela divina, renegando, através da bíblia, qualquer outra forma de estar em sociedade e em comunhão com ela que não a sua.
O jovem já não anda em bolandas, casa às costas como o caracol, de terra em terra, a fazer a magia das crianças como outrora. Agora, por decreto, tem de cercear o seu espírito errante, ficar em terra, aprender a morar toda a vida numa casa de bairro e em sedentarização forçada.
Alguém faz debates sobre os supostos direitos das minorias, os direitos do João, paga-lhe o esforço de aculturação, a efectuar-se  lagarto, lagarto, lagarto!  longe das demagogas portas. De contrário, o imóvel desvaloriza à custa da gitana vizinhança...
E eis uma intransponível diferença entre o abstracto e o concreto, enquanto se pode dizer que, mais arroba menos quintal, o João está para a demagogia como o índio brasileiro está para a missão: nem uns nem outros aceitam as regras da contraparte.
Depois, no encalço da casta do João, eis a droga, amplamente generalizada, à mão  é do conhecimento comum que o tráfico de estupefacientes é dominado pelos ciganos  cavalos e burros nas banheiras, arruaças de vida ou de morte por dá cá aquela palha, embora, como em tudo, haja bons e maus ciganos.
E eu, que até tratei bem o João, tenho o genuíno direito de me insurgir contra as minorias, concebidas por Deus, se calhar também ao sexto dia, no fim, quando o cansaço já lhe diluíra a inspiração. Não me é legítimo pensar de outra forma, em virtude das complicações que elas potenciam. Isto, até que os iluminados, os tais demagogos, entendam que os direitos das minorias não têm de se sobrepor aos direitos das maiorias numa clara inversão das regras de uma democracia.
Deus, no seu acto de criação, provavelmente não se debruçou sobre a questão das raças. Para Ele, a cor foi um acidente de percurso, as crenças e religiões também. A Sua obra era tão harmoniosa que Ele se limitou, depois de a ter criado, a contemplá-la e a deixá-la ser, pura e simplesmente. Nas Suas cogitações, talvez, contudo, Ele se tenha questionado algumas vezes sobre o sentido do bom quando deu inteligência à sua criatura mais complexa, o filho.
Se muito bem calhar, nesta questão, Deus agiu até com dolo eventua, l aceitando todas as possibilidades,  incluindo a de o homem, sobretudo o português, chegar a todo o lado,  esventrando a terra, alterando hábitos, removendo coisas e criaturas de um lado para outro, numa miscelânea que só poderia redundar em agitação.
Agora, tudo isto é bem visível. O mundo anda, com razão, preocupado com o terrorismo,  que é preciso travar. Mas, numa escola,  alguém detectou haver num inquérito de palavras rácicas, as quais era preciso eliminar por inadequação.
Hoje em dia, apesar de haver em todos os países uma multiplicidade de gente e de etnias, ainda se pensa muito que, com chineses, pretos, amarelos e vermelhos, tem de se lidar como quando se vai ao mercado comprar uma cesta de ovos susceptíveis de quebra. Fala-se como se fosse impossível de alijar a existência de tanta diversificação, com todo o bom e mau que isso implica. 
Por tudo isto, eu que até tratei bem o João, invoco o Altíssimo dizendo: Ó valha-me Deus, por tanto racismo deduzido por exclusão de partes e a contrario sensu!...
Resumindo, neste meu discorrer filosófico, concluo que Deus não é racista, mas, apenas e unicamente, universalista convicto. Ele, contudo, deve andar a rir-se da Sua criação mais sofisticada  o homem  que, de tanto tentar ser melhor do que o Pai, tem feito muitas asneiras.
A menos que o Homem tenha sido criado por Deus com a finalidade específica de dar cabo do mundo...

Aveiro, 14 de Abril de 2004

Templa
Templa - Membro nº 708