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  • O silêncio e o caos
    Iniciado por sofiagov
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sofiagov

Esta ideia pois quando estamos em silêncio, não interferimos em nada a nossa volta e, por esse motivo, não geramos o caos.
O silêncio é tão belo e tão puro que emudece aquele que fala demais.
O silêncio demarca os espaços entre as palavras, entre os pensamentos e também o espaço entre nós e o mundo.
Agir em silêncio é ato de humildade e de forte compromisso com a acção e não com o resultado, pois não há expectativa de aprovação.

Quando paro pensar no que vou falar, geralmente fico quieto, pois compreendo que em grande parte, o que falo, é tradução de uma massiva confusão mental inerente de preconceitos e informações mal formadas da minha mente. Porém, há uma diferença nobre em falar o que pensa e falar o que sente.
Quando trago do fundo sentimentos, emoções e pensamentos construídos a partir da observação dessas emoções, crio um silêncio profundo entre mim e o mundo que se traduz em emoção harmónica e não o caos.

Quero dizer que, se pretendemos falar, primeiro devemos silenciar e deixar que esse silêncio tome conta de todo o nosso ser e que cada momento de silêncio seja uma oportunidade para se valorizar o que irá ser dito.

"Morremos pela boca. Pelo que comemos e pelo que falamos."
SILENCIE SUA MENTE



Antes de deitar-se ao anoitecer para relaxar e limpar a sua mente, deixando-a cada vez menos turbulenta.
Alguns chamam isso de meditação, mas prefiro chamar de observação, uma vez que meditar tornou-se um verbo que traduz uma actividade a que muitos se impõem um horário determinado para praticá-la, como se existisse alguma prática no ato de meditar. Ao contrário, quando inicia o modo de observação em nosso corpo, simplesmente paramos e observamos o que acontece em nós.

Somos como um lago. A cada vez que aprofundamos a nossa observação sobre este lago, conhecemos ainda mais qual a sua profundidade e, cada vez que sabemos o quão profundo ele é, mais imersos ficamos sob as águas até que alguma razão melhor observada nos faça soprar um vento para tocarmos as margens do mundo que nos acolhe.

A cada dia a nossa vida fica mais atribulada, cheia de questões não resolvidas e assuntos para "correr atrás". E isto só acontece porque nos mantemos muito na superfície do nosso lago ainda e nos esquecemos de nos aprofundar por completo no que realmente somos.

"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses." – Sócrates

Há 3500 anos esta frase está cravada em pedra no Templo de Apolo na Grécia e até hoje poucos homens conseguiram conhecer o universo e os deuses. Porém, basta uma única decisão para conhecermos quem realmente somos e ajudarmos a outros a mergulharem em seus lagos em silêncio.

Deixem-se transportar para uma cidade. Uma cidade muito movimentada. Uma das vossas cidades. Gradualmente, todo o movimento aquieta-se e desaparece. O que sentem perante o silêncio? Serenidade? Inquietude?


O mundo exige que façamos barulho, que sejamos barulho. Para mostrar produtividade, para provar superioridade ou para impor respeito. Barulho para tudo. O bebé, ao nascer, chora para mostrar que está vivo. Nós já nascemos fazendo barulho e nossa mente cada vez mais grita por silêncio.
Os diálogos são cada vez mais vazios, ainda que deveras barulhentos. Não há espaço para o silêncio nas conversas, para a reflexão, para o saber ouvir. E ainda assim, elas nos dizem quase nada. Conversas barulhentas e mudas. Nós não sabemos ouvir porque não sabemos calar.

Diz um provérbio que quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz. Sinto que nossos ruídos vem à tona para disfarçar nossos vazios e para calar nosso silêncio. Quando, na verdade, deveríamos dar voz a ele, voz ao silêncio. Deixar a quietude falar é se permitir reflectir, ponderar, compreender e, no caso de um diálogo, significa respeitar o outro, o barulho do outro.

O barulho faz parte de nossa estrutura social e parece nos servir de escudo aos nossos dilemas existenciais.
E não é apenas o silêncio da boca a que me refiro, mas o silêncio do cérebro, da alma. Passar horas lendo em frente ao computador pode nos colocar em silêncio com o outro, mas não connosco mesmo. O silêncio merece um momento só dele. É como um encontro, mas sem muita cerimónia. Pode ser em qualquer lugar, a qualquer hora, desde que consigamos desligar o barulho do mundo.

Temos por hábito valorizar o silêncio quando estamos no campo, em meio à natureza, afastados dos ruídos da cidade. É mais fácil percebê-lo e permiti-lo chegar. Geralmente saímos revigorados destes encontros com a gente mesmo. É como se tivéssemos descoberto uma nova faceta que o caos teimava em encobrir.
A necessidade do silêncio é tanta que cada vez mais pessoas o buscam nas meditações conduzidas, no yoga ou em diversas outras práticas, como que tentando doutriná-lo. Só é preciso uma coisa para isso: tempo.
Vamos dedicar alguns minutos, alguns dias na semana, para uma conversa franca com a gente mesmo. Na verdade, esta conversa pode ter mais um integrante, este sim, exímio ouvinte, que nos criou no silêncio, mas que está sempre disposto a ouvir nosso barulho. Se você não sabe como começar esta conversa, acalme o coração e deixe que ele conduza a conversa. Em silêncio!


Na etimologia da palavra, silêncio vem de silentium, de silens (silere) que significa estar em repouso, tranquilidade, descanso.
No nosso pensamento mítico, o silêncio é identificado com o caos; é anti-história. O tempo é silencioso e abstracto, como refere Jankélévitch. O ruído está ligado à presença humana e relaciona-se com o movimento. O devir dos eventos e ocorrências no tempo faz ruído. O ruído, ao negar o silêncio, torna-se criação, representação do mundo, símbolo da vida. Ao enfrentar este "muro de silêncio", o homem através do mito exprime-se e afirma a dualidade ruído/vida, reacção do dualismo silêncio/morte.
O silêncio não é sinónimo da presença de uma ausência mas da denominação da realidade.
Com a afirmação "até morrermos existirão sons", John Cage explicitamente relaciona o silêncio com a morte. Talvez possamos compreender o silêncio, pensar o silêncio, mas a experiência do silêncio absoluto permanece uma aporia para nós. Morte e silêncio, ligados através da mesma experiência inexequível.
De entre várias abordagens, o silêncio pode ser compreendido pelo menos de duas formas. Por um lado temos o silêncio audível, um silêncio que permanece entre o perceptível: o silêncio significa a totalidade do som; são todos os sons não intencionais, afirma Cage.
O silêncio absoluto refere-se a tudo o que sai do âmbito do audível. Não existe qualquer tipo de estrutura auditiva. Este silêncio implica o silêncio na morte, da morte, morte como silêncio. O homem receia a ausência do som tal como receia a ausência da vida, declara o compositor Murray Schafer.
O momento da morte já não pertence ao seu tempo escreve Derrida. O silêncio absoluto já não está conectado ao tempo; está para além dele.
A música nasce do silêncio e retorna ao mesmo. Existe um silêncio antes e depois, como o nascimento e a morte. O silêncio inicial é uma promessa ou ameaça. O silêncio terminal designa talvez o nada ao qual a vida retorna.


insistimento.com; thesecret;ojardimdossentidos e filosofiadaarte.

Onde é que vais arranjar textos tão bonitos.
Este é apenas mais um.
Parabéns pela escolha.
Iei Or (faça-se luz)
Shalom Aleichem

sofiagov
#2
Citação de: cleopatra em 07 outubro, 2015, 12:57
Onde é que vais arranjar textos tão bonitos.
Este é apenas mais um.
Parabéns pela escolha.

Obrigado Cleo... :)
Todos estes textos no fundo estão ao alcance de qualquer pessoa, bastando a sua procura/investigação ...acho que por ai...no entanto agradeço as tuas palavras reforçando que tens igualmente partilhado informação de excelência.
A contribuição de todos os membros tem sido vital se assim não o fosse não haveria esta multiplicidade de informação no forum.
Um grande bem haja com a continuação de boas partilhas. :-*