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  • Tecnologia moderna ao serviço de múmias
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AndreiaLi
Tecnologia moderna ao serviço de múmias

Morreram há mais de dois mil anos no Egipto pensando que as suas almas seriam imortais. As suas múmias vieram parar a Lisboa e hoje têm um exército de técnicos a tentar perceber como viveram.

Num laboratório radiológico de Lisboa, uma equipa de técnicos ocupou-se este domingo a analisar pela primeira vez as três múmias do Museu Nacional de Arqueologia, usando tecnologia moderna para reconstruir digitalmente as imagens dos corpos mumificados.

Os exames de tomografia, feitos com equipamentos de última geração, permitem «fatias» de um quarto de milímetro, que são depois reconstituídas num todo a três dimensões, dando uma ideia concreta dos corpos mumificados, das ligaduras que os envolvem, sem sequer ser preciso tocar-lhes ou mesmo abrir os sarcófagos.

O egiptólogo Luís Araújo, do Instituto de Estudos Orientais da Faculdade de Letras de Lisboa, disse à Agência Lusa que uma das maiores curiosidades relativamente ao interior dos sarcófagos é saber se entre as ligaduras estão «amuletos», cuja qualidade poderá determinar a importância das pessoas embalsamadas na sociedade egípcia.

Segundo explicou, era costume colocar um amuleto de um escaravelho, um símbolo sagrado, sobre o coração dos mortos.

Em relação aos dois corpos que estão dentro de sarcófagos, sabe-se os seus nomes - Pabasa e Irtieru - inscritos no exterior. Um dos corpos é de um sacerdote, mas em relação aos outros dois pouco se sabe: «Os outros não têm títulos, mas eram pessoas importantes de certeza.»

«A religião egípcia inventou a ideia de imortalidade e através deste processo de embalsamamento fez dos homens deuses. Toda esta gente ia para o além convencida de que ia viver eternamente. Para isso era preciso tratar bem do corpo, robustecê-lo magicamente, profilaticamente com estes amuletos, mas até pode não haver lá nada», explicou.

Carlos Prates, radiologista da Imagens Médicas Integradas, disse à Lusa que as múmias vão ser analisadas com raio-X digital e com tomografia axial computorizada (TAC).

«Vamos ter a possibilidade de ter informação em volume que, reconstruída, permite ter cortes coronais, sagitais e axiais, imagens em três dimensões, com a capacidade de depois fazer endoscopia virtual e, depois, outros trabalhos tridimensionais, como reconstrução facial», acrescentou.

«Centenas de milhares de imagens» recolhidas por TAC ficarão disponíveis e permitirão «fazer estudo durante anos», podendo ser trabalhadas por investigadores de várias áreas, afirmou Carlos Prates, indicando que parte do «fascínio» destes exames é o facto de estas serem «das últimas múmias descobertas há muito tempo que nunca foram estudadas».

As múmias, que chegaram a Portugal num navio alemão que atracou ao Tejo durante a Primeira Guerra Mundial e foi arrestado pelas autoridades portuguesas depois de uma denúncia da embaixada inglesa sobre a presença de armas a bordo, fazem parte do espólio do Museu Nacional de Arqueologia.

O director do Museu, Luís Araújo, afirmou que os resultados dos exames passarão, «a seu tempo», a fazer parte da exposição de artefactos egípcios do museu, em formato de filme.

«Através da análise detalhada podemos calcular a idade, possíveis patologias, doenças profissionais, estilo de vida», salientou.

Dentro de três meses, segundo as expectativas dos organizadores do Lisbon Mummy Project - que será tema de capa numa das próximas edições da revista National Geographic - haverá «dados preliminares» sobre os exames feitos.


fonte: IOL