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  • Os cavaleiros fantasmas
    Iniciado por Arph
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Esta história era contada pela minha avó materna. Mulher séria, nada dada a mentiras e contava-a com muito respeito e só em momentos em que nós, os netos, "puxávamos por ela" para nos contar histórias do seu tempo e do tempo dos pais dela, o que nos fascinava e, algumas delas, deixavam-nos apavorados.
Houve uma altura, como eu já contei em outras partes, em que vivi com os meus avós maternos numa aldeia. As casas das aldeias costumam ter uma lareira, onde a família se senta nas noites invernosas, frias, para aquecer o corpo junto do fogo. E estes momentos de convívio, há uns 30 anos atrás, tinham um sabor mágico, já que era aí que se propiciava o contar de histórias estranhas acontecidas há muitos anos e que, muitas delas, já vinham dos tempos dos bisavós. Esta, era do tempo dos pais dela, meus bisavós.
Contava ela, muito séria e não admitia risos ou troças senão parava a conversa, que um dia o seu pai, seria ela da nossa idade (11/12 anos), homem destemido como eram os aldeões de então, que, após o sol posto, viviam sem luz eléctrica, em completa escuridão, saiu por volta das duas da madrugada, em Abril, para avisar um seu compadre, que vivia a uns 6 quilómetros dali, para que preparasse os bois pois tinham-lhe dado recado que os pescadores iam para o mar por volta das 5 da manhã e precisavam dos bois para empurrar o barco para o mar e puxar depois as redes (arte xávega).
Assim saiu o meu bisavô, acostumado àquelas andanças, e pôs-se a caminho. Naquele tempo não havia estradas, mas caminhos de carros de bois entre ladeiras, veredas e alamedas, silvados, matagais e florestas. A noite estava de luar, e ele lá foi apressado para avisar o compadre, de modo a que tudo estivesse pronto quando o barco fosse para o mar. Se fosse preciso, ainda ia ajudar a apanhar erva para os animais comerem na praia durante o dia. Por isso, ele imprimia um passo apressado. Logo que saiu da orla da aldeia, embrenhou-se num imenso pinhal que terminava na aldeia do seu compadre.
Era aqui que o olhar da minha avó adquiria uma distância como se se perdesse em memórias e medos, e a sua face contraía-se, pois tudo lhe fora contado pelo seu próprio pai, com as emoções próprias de quem conta o que consigo se passou.
Nessa altura, quando, então, já se encontrava em pleno pinhal, eis que surgem dois cavaleiros, muito bem vestidos e com uns cavalos formidáveis, que dele se aproximaram e o ladearam. Um de cada lado.
O meu bisavô não os conhecia, nem nunca tinha visto cavaleiros assim por tais bandas, onde não havia animais de montar. A princípio, ele não teve medo, mas perante a mudez dos cavaleiros e a posição que tomavam de o manterem no meio dificultando-lhe o passo, tentou apressar-se mas eles mantinham-se colados a ele.
Já perto da casa do compadre, onde vislumbrou uma ténue luz da lamparina e, nessa altura, levantou-se um enorme vendaval junto do meu bisavô, com o ar a redopiar em grande alvoroço, e um "estrondo". Os cães começaram a ladrar em uníssono, e os cavaleiros desapareceram como por magia. Ele pôs-se em corrida desenfreada na direcção da casa do seu compadre, o qual o recebeu à porta, pois também ele veio ver a que se devia tal alarido dos animais e do temporal e do barulho (estrondo).
A noite estava sem vento algum, e sem vento ficou.
Depois do meu bisavô lhe ter contado a história o outro acreditou piamente, pois também ele tinha assistido à sua última parte, apesar de não ter já visto os cavaleiros.
Esta história foi contada de gerações em gerações, como acontecimento invulgar e marcante naqueles povoados.

Caro Arph,

Tem aqui uma bela e misteriosa história. Depois do sucedido, o seu bisavô não tentou procurar uma explicação para o acontecimento? Sei que nessa altura era mais difícil encontrar explicações mas sei também que os antigos são os mais entendidos neste tipo de assunto, penso que se ele tivesse procurado uma explicação provavelmente teria encontrado uma.
Na minha opinião tratam-se realmente de "Cavaleiros Fantasma".

Atenciosamente,

Giles.

relato muito bom!! ;) impressionante, além de que deve ter sido mesmo assustador... ;)

Muito fixe.
Isto passou-se em que zona?

Beijokas
Quando sou boa, sou boa, mas quando sou má, sou melhor ainda.


Isto passou-se no litoral atlântico, no Centro de Portugal, na zona de Mira, há uns bons 90 anos.

A minha avó, quando lhe perguntei quem seriam os cavaleiros, disse-me que o pai dela (meu bisavô) lhe tinha dito que "aquilo" era obra de lobisomens. Era esta a explicação que corria entre as gentes de lá. Claro que temos que ver isto num contexto de grande superstição. Cheguei a viver nessa aldeia sem electricidade na rua, e em noites escuras, com um pinhal enorme à frente, digo-vos que era assustador para crianças e adolescentes. Só a título de curiosidade, para verem as partidas que a mente nos prega, eu, por essa altura, queria ir ver o "Lancer" (quem se lembra desta série de cowboys ?!), e como não tinha tv em casa dos meus avós tinha que ir a casa dum amigo meu, no outro lado da aldeia. Para isso, tinha que passar por um baldio, junto do pinhal, e a certa altura, ao olhar para a frente, não é que me parecia estar um rinoceronte no meio do caminho!? Nem mais, nem menos: um rinoceronte, em pleno Centro de Portugal, às portas da minha casa  ;D ;D ;D
Claro que a sugestão foi mais forte e, para meu desgosto, voltei para trás e lá se foi o episódio do Lancer. Ao outro dia fui ver o que era, e nada mais era que um monte de mato que um vizinho havia juntado.

Para o meu bisavô, e à luz da mentalidade supersticiosa de então, aquilo fora obra de "lobisomens" e, mais, contou-me como as coisas se passavam, para explicar porque razão não tinham a forma de homens-lobo mas de cavaleiros. Então tudo se passava assim: há pessoas que nascem com esse "dom" de se transformarem. Pode ser gente pacífica, até amigos próximos, mas em certas noites, sobretudo de lua cheia, sentem uma grande necessidade de sair de madrugada e transformam-se no rasto da primeira coisa, pessoa ou animal que pisam. Assim, poderiam aparecer na figura dum animal, dum objecto ou duma pessoa qualquer que ali tenha deixado o rasto. Aqueles, seriam quatro lobisomens que ao sair de casa teriam pisado os rastos dos cavaleiros e cavalos. E contava que se falava dum célebre barril que numa noite se fartou de atravessar a povoação dum lado para o outro, sem ninguém lhe mexer, até desaparecer.
Muitos deles (lobisomens), que tinham amigos de confiança, contavam-lhes as suas capacidades e pediam-lhes ajuda para os livrarem desse fardo. E só havia uma forma, que era a seguinte: O amigo devia estar junto da porta do seu colega lobisomem, munido duma agulha, quando fosse a altura das "saídas" (lua cheia), e assim que este metesse o pé na rua, mas antes de o fazer, devia picá-lo para que saísse o sangue com a energia causadora da sua transformação. Tinha que ser antes de pisar algum rasto, pois caso contrário, após a transformação, já não surtia efeito. Porém, o amigo que isso fizesse, devia ter muitas cautelas, pois se o sangue caísse sobre si, a "maldição"  passava para si e era ele que agora se transformava em lobisomem.

Enfim, mundos que nos separam em quase um século :)

Realmente, antigamente eram muito supersticiosos.
Já na terra do meu pai se contam muitas historias do género.
Quando sou boa, sou boa, mas quando sou má, sou melhor ainda.

Citação de: Arph em 16 maio, 2010, 18:33
Isto passou-se no litoral atlântico, no Centro de Portugal, na zona de Mira, há uns bons 90 anos.

(...)

Para o meu bisavô, e à luz da mentalidade supersticiosa de então, aquilo fora obra de "lobisomens" e, mais, contou-me como as coisas se passavam, para explicar porque razão não tinham a forma de homens-lobo mas de cavaleiros. Então tudo se passava assim: há pessoas que nascem com esse "dom" de se transformarem. Pode ser gente pacífica, até amigos próximos, mas em certas noites, sobretudo de lua cheia, sentem uma grande necessidade de sair de madrugada e transformam-se no rasto da primeira coisa, pessoa ou animal que pisam. Assim, poderiam aparecer na figura dum animal, dum objecto ou duma pessoa qualquer que ali tenha deixado o rasto. Aqueles, seriam quatro lobisomens que ao sair de casa teriam pisado os rastos dos cavaleiros e cavalos. E contava que se falava dum célebre barril que numa noite se fartou de atravessar a povoação dum lado para o outro, sem ninguém lhe mexer, até desaparecer.
Muitos deles (lobisomens), que tinham amigos de confiança, contavam-lhes as suas capacidades e pediam-lhes ajuda para os livrarem desse fardo. E só havia uma forma, que era a seguinte: O amigo devia estar junto da porta do seu colega lobisomem, munido duma agulha, quando fosse a altura das "saídas" (lua cheia), e assim que este metesse o pé na rua, mas antes de o fazer, devia picá-lo para que saísse o sangue com a energia causadora da sua transformação. Tinha que ser antes de pisar algum rasto, pois caso contrário, após a transformação, já não surtia efeito. Porém, o amigo que isso fizesse, devia ter muitas cautelas, pois se o sangue caísse sobre si, a "maldição"  passava para si e era ele que agora se transformava em lobisomem.

Enfim, mundos que nos separam em quase um século :)

A isto é o que se chama de Correr o Fado ou Tardo.
Mas nunca tinha ouvido esta variante com objectos e outras pessoas. Segundo sei, os "amaldiçoados" apenas se transformavam em animais, nunca em objectos e pessoas.

Relato impressionante. Penso tratarem-se de cavaleiros fantasma que por alguma razão contactaram o teu bisavô. Conheces bem a história da região? Investiga, pois talvez descubras coisas interessantes.

Belo relato! Não há nada como as histórias dos avós, realmente...


Talvez tenham sido cavaleiros da rosa-cruz, eles têm muitas raízes com santegrais e cenas assim cristãs, já houvi dizer que o santo-graal se encontra em Portugal, pois já vi académicamente num livro que Sintra é a capital europeia do ocultimo/espiritualismo!  ;)