O Martelo das Feiticeiras - Manual de caça às bruxas

Há quem acredite que os dias de hoje estão extremamente difíceis e violentos, mas acredite... já foi muito pior. No fim do século XV e inicio do século XVl O terror espalhou-se por toda a Europa e chegou até aqui no Brasil. Trata-se da temida Santa Inquisição, onde os métodos de tortura aplicados baseavam-se no principio de que o demônio apenas abandonaria o corpo de uma "bruxa" mediante o sofrimento e agonia.

Por Rodrigo Messias

Há quem acredite que os dias de hoje estão extremamente difíceis e violentos. Assalto, violência domestica, seqüestros, pedofilia, rituais com sacrifícios em pleno século XXl, pais abusando sexualmente de filhas. Seria este o sinal do fim dos tempos?
   
Não. Pois já foi muito pior.
 
No fim do século XV e inicio do século XVl O terror espalhou-se por toda a Europa e chegou até aqui no Brasil. Trata-se da temida Santa Inquisição.
 
Os métodos de tortura aplicados baseavam-se no principio de que o demônio apenas abandonaria o corpo de uma "bruxa" mediante o sofrimento e agonia. Para tanto eram utilizados inúmeros instrumentos de tortura como:
 
A serra – onde o individuo (fosse ele mulher ou até crianças) era colocado de ponta cabeça com os pés amarrados um em cada tronco, em seguida uma serra de dentes grandes era colocada por entre as pernas e o acusado era serrado até a altura do umbigo, sendo que em muitos casos alguns conseguiam sobreviver sendo serrado até a altura do peito, isto se dava à posição que mantinha o cérebro oxigenado e a pessoa consciente.

Submersão - A submersão era uma técnica de interrogatório, tortura e execução. A vítima era amarrada pelos braços e suspensa por uma roldana sobre um caldeirão que continha água ou óleo fervente. O executor soltava a corda aos poucos e a vítima ia submergindo no líquido até confessar o pacto com o demônio.

Tortura do afogamento

Na Santa Inquisição, os acusados eram, geralmente, torturados até que admitissem ligações com Satã e práticas obscenas. Se um acusado denunciasse outras pessoas, poderia ter uma execução menos cruel.

Os inquisidores utilizavam-se de diversos recursos para extrair confissões ou "comprovar" que o acusado era feiticeiro. Segundo registros, as vítimas mulheres eram totalmente depiladas pelos tortura- dores que procuravam um suposto sinal de Satã, que podia ser uma verruga, uma mancha na pele, mamilos excessivamente enrugados (neste caso, os mamilos representariam a prova de que a bruxa "amamentava" os demônios) etc. Mas este sinal poderia ser invisível aos olhos dos torturadores. Neste caso, o "sinal" seria uma parte insensível do corpo, ou uma parte que se ferida, não verteria sangue. Assim, os torturadores espetavam todo o corpo da vítima usando pregos e lâminas, à procura do suposto sinal.

A roda de destroçar

Para uma pessoa ser acusada de herege bastava uma denuncia de um desafeto seu por um exemplo, daí cabia a você explicar que era mentira e na maioria das vezes a condenação era inevitável. Vide o filme as bruxas de Salem.
Porém em 85% dos casos a mulher era muito visada por causa do celibato, era a própria tentação para os inquisidores.
 
As justificativas para a caça as bruxas foram escritos em 1486 pelos frades dominicanos James Sprenger e Heinrich Kramer, o Malleus Maleficarum a partir do Manual dos Inquisidores elaborado 1380 por Nicolás Eymirick.

O Martelo das Feiticeiras – Malleus Maleficarum é uma das páginas mais terríveis do cristianismo. É difícil imaginar que, durante trezentos anos ele foi o manual da Inquisição contra a bruxaria.
 
O livro trazia as seguintes Informações principais:
 
1) O demônio, com a permissão de Deus, procura fazer o máximo de mal aos homens a fim de apropriar-se do maior número possível de almas.
 
2) Todo mal é feito prioritariamente através do corpo, único "lugar" onde o demônio pode entrar, pois, "o espírito é governado por Deus, a vontade por um anjo e o corpo pelas estrelas" (Parte I, Questão I ). Por as estrelas serem inferiores aos espíritos e o demônio ser um espírito superior, só lhe resta o corpo para dominar.
 
3) E este domínio lhe vem através do controle e da manipulação dos atos sexuais. Pela sexualidade o demônio pode apropriar-se do corpo e da alma dos homens. Foi pela sexualidade que o primeiro homem pecou e, portanto, a sexualidade é o ponto mais vulnerável de todos os homens.
 
4) E como as mulheres estão essencialmente ligadas á sexualidade, elas se tornam agentes por excelência do demônio (as feiticeiras). E as mulheres têm mais conivência com demônio "porque Eva nasceu de uma costela torta de Adão, portanto nenhuma mulher poder reta" ( I,6).
 
5) A primeira e a maior característica, aquela que dá todo o poder às feiticeiras, é copular com o demônio. Satã é, portanto, o senhor do prazer.
 
6) Uma vez obtida a intimidade como demônio, as feiticeiras são capazes de desencadear todos os males, especialmente a impotência masculina, a impossibilidade de livrar-se de paixões desordenadas, abortos, oferendas de crianças a Satanás, estrago das colheitas, doenças nos animais etc.
 
7) E esses pecados eram mais hediondos que os próprios pecados de Lúcifer quando da rebelião dos anjos e dos primeiros pais por ocasião da queda, porque agora as bruxas pecam contra Deus e o Redentor (Cristo), e portanto este crime é imperdoável e por isso só pode regatado com tortura e a morte.
 
O livro é dividido em três partes:
 
1) Tem como principal personagem o Demônio e relaciona seus poderes ligando suas ações com a bruxaria. Por isso, que as mulheres eram o alvo mais desejado, visto que, a relação entre o Demônio e a Bruxa era a mais aceitável no caso dos pactos e relação sexual, como explica o manual.
 
2)  instruções para reconhecer e ao mesmo tempo eliminar a bruxaria, em todos os momentos do cotidiano das pessoas, em qualquer fato ocorrido: brigas; fenômenos da natureza; impotência sexual, entre outros.
 
3) O relato dos julgamentos e sentenças. Tudo detalhado para não ser esquecido nenhum detalhe na hora de julgar algum (a) acusado, muito menos deixar de punir rigorosamente de acordo com o que regia o Malleus Maleficarum.
 
Não existia meio de apelação real, não havia advogado nem defensores dos direitos humanos e a policia eram os soldados da igreja, daí correr pra onde?

Deirdre English e Barbara Ehrenreich, em seu livro Witches, Nurses and Midwives (The Feminist Press, 1973), nos dão estatísticas aterradoras do que foi a queima de mulheres feiticeiras em fogueiras durante esses quatro séculos. A extensão da caça às bruxas é espantosa. Um escritor estimou o número de execuções em seiscentas por ano para certas cidades, uma média de duas por dia, 'exceto aos domingos'. Novecentas bruxas foram executadas num único ano na área de Wertzberg, e cerca de mil na diocese de Como. Em Toulouse, quatrocentas foram assassinadas num único dia; no arcebispado de Trier, em 1585, duas aldeias foram deixadas apenas com duas mulheres moradoras cada uma. O número total de mulheres executadas subia à casa dos milhões, e as mulheres constituíam 85% de todos os bruxos e bruxas que foram executados.

Foi uma verdadeira passagem de terror, ceifando a vida de milhares de inocentes que não tiveram nem a opção de lutar pela sua própria liberdade de expressão atingindo a França, Itália, Alemanha, Espanha, Países Baixos, Inglaterra, Escócia, Áustria, Noruega, Finlândia, Suécia e por um breve período, saltaria o Atlântico até o Novo Mundo.

Quem não aceitasse a doutrina Romana no que se refere aos sacramentos, quem tivesse opinião diferente da igreja de Roma sobre um ou vários artigos de Fé e quem duvidasse da fé Cristã, todos eram torturados barbaramente.

Sorrir era proibido! O tom sério era a única forma de expressar a verdade e tudo que era importante e bom. O riso, por sua vez, era visto como o oposto: a expressão do que era mau (pecado). O riso foi declarado como uma emanação do diabo. O cristão deveria conservar a seriedade sempre.

É interessante notar que nas histórias infantis medievais essa articulação entre bem e seriedade, mal e riso tem forte representação. A mocinha sofre sempre e é triste; a bruxa está sempre dando gargalhadas. No final da história o sofrimento será recompensado e o riso castigo.

Como citei - já foi bem pior, afinal o mal, a inveja e a intolerância surgiram no mesmo instante do "faça-se a luz".

Muito bom post! Parabens!

Já agora, onde consigo encontrar esse livro?

Muito bom post! Parabens!

Já agora, onde consigo encontrar esse livro?

Na bulhosa deve haver...