Uma porta a ranger

Esta experiência passou-se comigo durante a minha adolescência...estava de férias no Alentejo, na casa da minha tia, que vivia a poucos metros de uma prima minha, que morava numa casa alugada...a minha prima tinha ido passar o fim de semana numa outra localidade, já que ela e o marido estavam a construir uma casa...apesar de não haver ninguém em casa e de esta estar fechada, a minha tia tinha a chave para qualquer eventualidade e naquele dia pediu-me para ir à casa da minha prima levar umas coisas dela e passou-me a chave...e lá fui eu...meti a chave na porta e abri-a sem dificuldades, voltando a fechá-la atrás de mim...era uma casa de um só piso, com um longo corredor que terminava noutra porta que dava para um quintal nas traseiras, com árvores de fruto...todas as janelas e portas estavam bem fechadas, devido à ausência dos seus moradores e lembro-me bem de ter fechado a porta quando entrei...pousei as coisas em cima da mesa da cozinha e comecei a caminhar em direção à porta de saída, mas de repente, ouvi o som distinto de uma porta a ranger atrás de mim, o som de uma porta a abrir, possivelmente a da sala... ...as portas interiores estavam abertas e reparei que nenhuma delas se mexeu um milímetro, pelo que me assustei e tive logo a sensação de que que algo anormal se estava a passar...comecei a correr para a porta de saída, abria-a e saí, reparando que na rua não corria nem uma brisa e estava um calor pesado...corri para casa e contei isto à minha tia, que não acreditou, como sempre...nunca esqueci aquele chiar de uma porta a abrir ...anos mais tarde, uma outra tia minha contou-me a triste história daquela casa, e o pior é que a minha prima viveu lá sem saber disto!!!...a minha tia, que sabia sempre tudo e adorava contar coisas, contou-me que durante os anos trinta aquela casa tinha pertencido a um primo dela que lá viveu com uma namorada...acontece que ele adoeceu subitamente e faleceu, deixando a rapariga a morrer de desgosto...no quintal havia um poço e desvairada, ela desistiu de viver sem ele e atirou-se... ...depois disto, o quintal foi encurtado, construíram uma parede e deixaram o poço fora do quintal, de forma que ninguém sabia que aquele poço abandonado lá fora, um dia tinha estado no quintal e pertencera à casa...e pensar que a minha prima alugou a casa, porque na primeira que viu, não quis lá ficar, porque lá também se tinha suicidado uma rapariga...o que tem de ser... ...esta experiência aconteceu-me depois de um primo meu, que adorava tudo o era do oculto, lá ter feito uma sessão de espiritismo, em que só participaram os adultos, nós os mais novos fomos recambiados para a casa da minha tia...talvez ele tenha aberto um portal naquele lugar onde houve tanta tristeza e sofrimento... ...o poço ainda lá continua, abandonado, testemunha silenciosa de um amor perdido... <3