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  • Culto dos promontórios em Portugal
    Iniciado por Tokobá de Xango
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Tokobá de Xango
Um artigo muito interessante do Professor  Heitor Batista Pato sobre os cultos magico-religiosos em Portugal.
O Professor Batista Pato, historiador, escreveu um livro muito interessante sobre o Cabo Espichel
Partilho o link:

https://muculmanoeportugues.blogspot.com/2019/02/o-culto-dos-promontorios-em-portugal.html?fbclid=IwAR3CNX0mGHb8lYb_PhJI9M9HCbBSvcRCrLPnQ8oD-dVMNx6Ym_vBYzS8uls

Sempre houve gente a venerar Gaia...
Como uma pedra na água, como um pássaro no céu, Como uma criança para o seu pai, tu nunca perguntas "porquê", apenas segues a corrente até morreres.

Que pena este tópico não ter mais atenção...

Não são só os promontórios, mas também algumas montanhas, fontes e rios. Portugal tem um número anormalmente alto de pontos antigos de culto e veneração, tal como a Galiza, a Bretanha ou as ilhas britânicas, é algo que vem do tempo das tribos celtas e que nos diferencia, por exemplo, da maior parte de Espanha.
C'est dans l'air.

Tokobá de Xango
Citação de: Gens em 15 maio, 2019, 08:23
Que pena este tópico não ter mais atenção...

Não são só os promontórios, mas também algumas montanhas, fontes e rios. Portugal tem um número anormalmente alto de pontos antigos de culto e veneração, tal como a Galiza, a Bretanha ou as ilhas britânicas, é algo que vem do tempo das tribos celtas e que nos diferencia, por exemplo, da maior parte de Espanha.

Bom dia.
Sem duvida que o culto de determinados lugares em ambiente natural pode estar ligado aos antigos cultos celtas. Mas tenho a convição que no caso peninsular, são anteriores à ocupação romana e à posterior colonização por tribos do norte... Veja que do paleolitoco chegaram a maior parta de pontos de cultos de arte e religiosidade rupestre. As antas, os cromeleques (particularmente dos Almenderes), as grutas do Escoral são exemplos disso...
Depois há ainda dois factores que devem equacionados:
1 Desde 1536 até 1821, a santa inquisição queimou na fogueira todos aqueles que pensavam diferente e com religiosidades diferentes. Na tentativa de exterminar todo e qualquer manifestação religiosa não católica, empurrou, literalmente para os lugares  escondidos naturalmente as serras e as matas.
2 A imigração forçada de pessoas escravizadas de africa para portugal. Em 1500 mais de um quarto da população de lisboa eram negros escravizados. Zonas como alcacer do sal, por exemplo, onde a malária foi endémica até ao século XX, no século XVIII cerca de 50% da população eram negros ou afro-descendentes... Essas pessoas foram obrigadas a cultuar os seus deuses escondidos... e porque cultuavam as forças da natureza procuraram celebrar sempre a sua religiosidade em ambientes naturais. Esse entre 10 a 20 por cento da população portuguesa de 1600 nunca se foi embora e deixaram na religiosidade popular, sobretudo nas praticas divinatorias e de magia, grande marcas. De norte a sul. Desde o Senhor da Pedra em Matosinhos, que na realidade é um Culto a Xango. Às procissões dedicadas às "virgens dos navegantes" que neste pais todo celebram Iemanja... ou aos cultos do Espírito Santo nos Açores celebrando Oxalá...Aos próprios Santos Populares com o culto a Santo António, Exu, a São Pedro, Ogun e São João Xango...
Ha realmente muita coisa a pensar, estudar e reflectir sobre estes cultos de lugares naturais em portugal.
Fique bem
Fique em Paz

Post interessante, nunca tinha pensado de facto na possível influência dos escravos africanos em Portugal na nossa religiosidade e cultos.

Mas acrescento mais uma informação. Portugal teve na Idade Média uma das maiores comunidades judaicas da Europa, havia povoações onde quase um terço da população era judaica, especialmente no Interior ou no Sul. Sabemos que na Idade Média muitas das bruxas em Portugal eram mulheres judias, e que havia o culto da Cabala, que atingiu grande esplendor na Idade Média em Portugal e Espanha. Existem aliás indícios fortes que o Tarot pode mesmo ter nascido em Portugal nesta altura, mas é certo que nasceu um baralho divinatório em Portugal que é dos mais antigos que se conhecem, e muito anterior à chegada dos ciganos à Península Ibérica. Além disso, também se sabe que havia uma importante escola de artes mágicas nos líderes islâmicos do Al-Andaluz, com ligação a uma escola Marroquina. Estes magos muçulmanos seriam mestres na viagem astral, nas artes divinatórias e no «encantamento»...

E muito mais haveria a dizer, fora de um espaço público.
C'est dans l'air.

Tokobá de Xango
Sem duvida que a religiosidade judaica foi determinante nos modelos de ritualização das magias populares.
Inclusive, e esse foi um tema que tenho vindo aprofundar há alguns (poucos anos), verifa-se que por exemplo o culto dos Orixás no Brasil foi muitíssimo influenciado pelas praticas judaicas. Muitos judeus, fugidos de Portugal depois de 1536, foram parar ao Brasil e estabeleceram-se o mais afastado possível da inquisição... e sobretudo em engenhos de cana de açúcar... ora nesses engenhos que funcionavam com mão de obra escrava, tanto escravos como senhores de escravos, tinham como inimigo comum, a igreja católica e inquisição. Assim, havia uma tolerância de culto, e simultaneamente uma cumplicidade que permitiu que o Candomblé sobrevivesse no Brasil... Há muitos preceitos do Candomblé do Brasil, que tem uma origem judaica e não africana, coisas que não se verifica noutros países americanos onde se cultuam os Orixás: por exemplo varrer de fora para dentro, ou acender das velas à sexta-feira.
Relativamente às práticas religiosas de origem árabe... não tenho tanta  certeza...até porque a arabização da península acontece  no século VII sobretudo por berberes e não por árabes e a astrologia e geomancia árabes, que nessa altura tiverem o seu expoente em Bagdad, estão ligadas ao médio oriente... As pessoas que vieram para a península no sec VII apesar de islamizados, eram sobretudo magrebinos e a religiosidade que trouxeram foi a uma religiosidade norte-africana ligada ainda aos cultos romanos e cartagineses dos espiritios dos lugares...Acho que a influencia muçulmana estará mais a nivel da fitoterapia, sobretudo na utilização e ervas pelos curandeiros das serras algarvias e baixo Alentejo
Mas todo este universo de perguntas e respostas são sobretudo especulação e reflexão...
Sem grandes certezas, mas com muito interesse no estudo
Fique bem
Fique em Paz

Li por alto sobre uma escola de magia em Fez, afamada nesses tempos. Contudo importa referir que os almoádas e os almorávidas, por volta do século XII, que eram sunitas ortodoxos, acabaram por perseguir e até assassinar outros muçulmanos com visões diferentes da espiritualidade, como aconteceu por exemplo com sufis do Al-Andaluz. E sim, tenho ideia que as influências viriam dos cultos animistas dos berberes, e fala bem das plantas, ainda hoje os marroquinos sabem utilizar melhor as plantas da flora do Sul de Portugal e de Espanha que nós. Tenho um pequeno livro sobre plantas medicinais do Sul e quem o escreveu teve de ir aprender a Marrocos, onde dão uso a plantas que nós desprezamos, como a esteva. Contudo no Al-Andaluz também havia famílias descedentes de tribos do Yemen, da Síria e da Arábia, eram uma pequena minoria mas existiam, e não sei até que ponto teriam conhecimentos do Oculto. Sabe-se que eles existiam como diz e bem em Bagdad ou Alepo, onde se desenvolveu muito a Astrologia.
C'est dans l'air.

Tokobá de Xango
Parece-me que da tradição esotérica muçulmana ficaram as referencias ao djedins que ainda hoje são cultuados no Atlas e no Rif e que em portugal chamamos encantados ou mouras encantadas... mas la está terão esses cultos a entidades de bosques, serranias e desertos, ter sido herança cartaginesa e romanaizada de faunos gregos e romanos?

Se calhar são os mesmos seres, com nomes diferentes.

Por exemplo, o que são as mouras encantadas? Há quem diga que na realidade são fadas e seres das águas, que existem nas culturas celtas e germânicas. Mas também podem ser mulheres que por artes mágicas ficaram com a alma presa àquele local.
C'est dans l'air.

Citação de: Gens em 09 junho, 2019, 16:27
Mas também podem ser mulheres que por artes mágicas ficaram com a alma presa àquele local.

Pode não ser um caso de "alma presa", talvez tenha sido escolha delas esconderem-se do mundo.
"Cedo ou tarde você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho". 
(Morpheus, The Matrix)