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  • Sobre amores, futuros e destinos
    Iniciado por F.Leite
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     Deparo-me muitas vezes com pedidos que se baseiam em questionar-me sobre se fulano é o ideal, a alma gémea, ou se é aquele que o destino lhe reservou.

     Por norma não respondo a esses pedidos, pois são um defraudar do uso das minhas capacidades mentais e mediúnicas. Além de que vão contra o que eu considero lógico e racional.

     O amor não se pode basear em ilusões embora as pessoas se iludam nessa imagem idílica do amor. Amor é ter um companheiro que é amigo e partilha ideias boas e más, que confia e concorda desde que não se diminua a ele mesmo nessa concordância. Amor é compreender que cada um tem a sua liberdade e maneira diferente de pensar e saber respeitar essas diferenças.

     Perguntar a um médium se "aquele ou aquela" são o par ideal é colocar o futuro nas mães de terceiros. Pedir conselhos a anjos, santos e guias é exatamente a mesma coisa.

     O par ideal descobre-se durante um namoro consciente, em que se procura saber da forma de agir e pensar do parceiro. Pela forma como se conversa dos problemas dos outros e pela observação das respostas é que se fica a conhecer o outro. Não são os abraços e beijos e sessões de sexo e loucura que permitem esse conhecimento.

     Ele ou ela até podem ser muito bons na cama, mas a cama nessas andanças da vida a dois, não são mais que algumas horas do mês. E o restante do tempo em que são as dificuldades da vida que tem que ser resolvidas? Não são as cartas nem as falas do médium que as vão resolver, são sim a amizade e a entreajuda aliadas às capacidade de cada um dos cônjuges. Se isso não existir a relação irá se afundar e então o acordar do sonho será duro e fará doer.

     O amor tem que se viver acordado e sem semear ilusões. Querem saber se é o namorado ideal?, pois bem tenham um namoro sério esforçando-se por conhecer o intimo do parceiro. Não o perguntem nunca a quem ganha a vida com esses conselhos inúteis e muitas vezes influenciados por quem logo à partida procura a infelicidade alheia. Ninguém sabe exatamente quem está na sombra a influenciar esses conselhos e futuros.

     Perguntar a alguém se fulano é o namoro ideal é colocar a vida futura nas mãos de terceiros, é não confiar em si mesmo e não ter confiança nas suas qualidades e capacidades de decidir. É brincar com a vida e a vida é curta e cheia de conflitos e esparrelas.

    Foi uma pena que caiu do céu um bom sinal? São os corações que aparecem por toda a parte um bom sinal também? Podem ser também um sinal de desgraça se em lugar de se focarem na vida se focarem nessas ilusões.

     Na vida não temos necessariamente de sofrer se soubermos de uma forma consciente antecipar os perigos e saber traçar o rumo incluindo o parceiro nessa viagem. Precisamos é de conhecer o parceiro como ele é e não como o julgamos ser e isso dá trabalho.

     Sejam felizes e para isso aprendam a saber usar a vossa cabecinha. É para isso que ela existe em cima dos ombros, para que do alto possamos observar o mundo que nos rodeia e desse alto saber tomar decisões.

     Desculpem se incomodo com estes assuntos, mas a minha intenção é alertar e ajudar quem realmente quer ajuda.

Parte do problema é as pessoas não saberem as partidas que a sua própria mente lhes prega.
O povo diz que "a primeira impressão é a que fica" e o engraçado é que estudos na área da psicologia têm vindo a demonstrar que isto é quase 100% verdadeiro.
De facto, a primeira impressão que se forma quando tomamos contacto com algo novo - neste caso, uma pessoa - fica gravada na nossa mente de forma muito vincada. Se é possível modificar essa primeira impressão, também é verdade que isso pode ser muito dificil se a pessoa estiver inconsciente de que o processo é este - isto é, fazemos uma primeira imagem mental e agarramo-nos a ela como se ela fosse "toda a verdade" sobre essa pessoa de quem sabemos muito pouco, afinal.

Ora, também é da sabedoria popular que as pessoas tentam dar a melhor imagem de si mesmas num primeiro encontro ou quando estão com alguém que lhes interessa. Modera-se a linguagem, moderam-se as opiniões que possam ser mais polémicas, fingem-se concordâncias para não criar atritos "desnecessários".

Tal como dizes, só o tempo permite que se vá conhecendo realmente a outra pessoa, porque ninguém consegue manter a máscara durante todo o tempo. E é aqui que devemos voltar à questão da primeira impressão. O tempo vai mostrando um defeitozinho aqui, uma incongruênciazita acolá, e o que é que a pessoa faz? A força da "primeira impressão" é tal que a tendência é ignorar estas discrepâncias, afinal já sabemos "toda a verdade" por isso essas discrepâncias devem ser eventos-sem-exemplo-e-que-não-se-vão-repetir.

Tenhamos sempre em mente que o mundo não existe. Ou melhor, é claro que o mundo tem uma existência concreta, mas nós só temos acesso a essa existência concreta através dos nossos sentidos e da interpretação que fazemos da informação que nos chega.

Então, tudo o que conhecemos do mundo é uma interpretação nossa, não é a realidade propriamente dita.
Claro que podemos ter uma interpretação da realidade muito proxima do que a realidade efectivamente é, mas tudo isso requer que tenhamos várias experiências com essa realidade.
E claro que se estamos a falar de objectos complexos, como uma pessoa, constantemente sujeitos a mudanças, então a nossa interpretação também pode ir ficando desatualizada com o passar do tempo.

Não interessa quão espectacular parece a relação, quão perfeita vocês julgam que a outra pessoa é, não interessa que vocês achem ou que alguém vos tenha dito que são almas gémeas. Lembrem-se que tudo isto são interpretações da realidade, não é necessariamente a realidade em si.

Portanto, se estamos num relacionamento e surge uma "peça" que não encaixa na ideia que temos do outro, não devemos jogá-la fora. Devemos sim tentar compreender qual é a parte da nossa imagem mental do outro que está incorrecta, corrigi-la e então encaixar essa peça.


Gostaria de frisar o seguinte: claro que todos temos paragens de cérebro ou dias maus. Mas uma coisa é estarmos num dia mau ou numa fase má e termos reacções incaracterístias nesta altura que depois passam e pronto. Outra coisa é haver dias maus ou reacções incaracterísticas de forma recorrente - isto já não é um evento-sem-exemplo-e-que-não-se-vai-voltar-a-repetir, é uma tendência ou forma de ser.
E é claro que uma coisa é estarmos rezingões e chatos e outra coisa é agredir alguém, por exemplo. Todos temos a capacidade de ser chatos se as circunstâncias se alinharem nesse sentido. Mas felizmente nem todos temos tendências de agressor. Portanto, se há coisas que podemos ignorar, há outras que nunca devem ser ignoradas, mesmo que até ao momento só tenham acontecido uma vez.
"Cedo ou tarde você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho". 
(Morpheus, The Matrix)