Visões

     A minha esposa já partiu e por vezes perco-me a recordar momentos que vivemos juntos. Já me aconteceu estar deitado a pensar nela e de olhos fechados lembrar a sua imagem a falar comigo. Numa dessas vezes abri os olhos e continuei a vê-la. Achei estranha a visão mas continuei a conversa. Falava com ela sem dizer palavras pois as minhas palavras continuavam  a ser pensamentos e eu estava entre o acordado e o adormecido e a sua voz era também algo dentro mim.

     Mas perecia tudo tão real que me quis erguer da cama e foi exatamente como se acordasse de um sonho. A imagem desvaneceu-se sem mais nem menos. Acorreu-me logo o pensamento de que tinha sido a alma dela que ali estivera comigo a conversar e senti uma alegria imensa. Esforcei-me por recordar a conversa do sonho e veio a desilusão pois era a conversa que eu estava a recordar antes de a ver. A única diferença é que não estava-mos a conversar junto ao mar na nossa última passagem de ano juntos como quando aconteceu de verdade essa conversa, mas sim ali no quarto onde ela viveu os seus últimos minutos de vida.

     Não conhecesse eu os truques da nossa mente e garantia que tinha sido ela que ali estivera, mas não foi. A minha mente meio adormecida fez da recordação um sonho que eu sonhei meio acordado meio a dormir, embora a minha sensação fosse de estar totalmente desperto.

     Muita gente passa pelo mesmo e garante a pés juntos que viu espíritos quando se deitou ou a meio da noite. Talvez tenham mais sorte que eu e vejam mesmo, mas de certeza que com muitos ocorreu uma experiência igual à minha.

     E quem garante que a nossa mente não tem condições de provocar essas visões mesmo quando plenamente acordados, assim como se o mecanismo de sonhar se ligasse sem que a mente adormecesse? Se tal for possível o sonho seria enquadrado no ambiente que nos rodeasse naquele momento e que os olhos estivessem a ver e os personagens do sonho portar-se-iam como pessoas reais, tal como nos parecem reais durante os sonhos.

     Nem tudo o que parece é, mas também há coisas que são e não parecem.

Boa noite,

Caro F.Leite, lamento a sua perda.
É sempre complicado, quando perdermos a ligação física, com alguém por quem temos muito carinho e afecto.
Eu acredito que a consciência se mantenha a mesma, mesmo quando se "parte" deste mundo físico.
Também acredito que as consciências se podem comunicar telepaticamente, perto ou longe, uma da outra.

Medite e concentre-se nas pessoas que deseja. Acredito que as consciências se encontrarão e se comunicarão.

Lamento a sua perda.
No entanto, sendo verdade ou fantasia, o importante é que pensou na sua esposa e "esteve" com ela, por alguns momentos.