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  • Vida, Morte e Reencarnação I
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Um bom documento que vale a pena ler:

www.autoresespiritasclassicos.com
Vida, Morte e Reencarnação
Paul Bodier - Charles Lancelin
Gustave Geley - Francesco Zingaropoli
Tradução do Dr. Francisco Klors Werneck
Jean Baptiste Camille Corot



1 - Obra
Charles Lancelin

Lado físico da morte
Como se morre?
Para esta pergunta cada um tem a sua resposta já pronta,
mais ou menos científica, mais ou menos exata, segundo o
ponto de vista em que se coloca.
O fisiologista dirá: pela sufocação; o espiritualista: pela
ruptura entre o corpo e o espírito; o materialista: pela
destruição e desagregação das células; o higienista: pela
ignorância; o fatalista: pelo destino; o padre: pela vontade de
Deus, etc.
Todas estas respostas só são verdadeiras se as
consideramos do ponto de vista particular de cada um dos
que a respondem; mas parece que, em um ponto de vista
geral, há um estudo especial a fazer do mecanismo da morte:
é o que vou tentar fazer aqui.
O Espiritismo divide o ser em três princípios corpo,
espírito e perispírito; já o Ocultismo, tanto o oriental como o
ocidental, o divide, segundo as escolas, em cinco, seta e nove
elementos, diante da quantidade dos quais o neófito se sente
um pouco atrapalhado. Pela minha parte, a princípio, dei
minha preferência ao ensino espírita que, pelo menos,
apresenta uma simplicidade e uma clareza que logo
seduzem: corpo físico, espírito e intermediário plástico, mas,
de uma parte, já há um certo tempo, espíritas esclarecidos
foram levados a admitir a divisão do corpo material em
sarcosoma (*) ou corpo material propriamente dito e em
duplo etéreo. De outra parte, pareceu-me que o perispírito,
intermediário plástico ou aerosoma, é infinitamente mais
complexo do que se pensa, por conseqüência, o ensino
ocultista da divisão em nove princípios me pareceu
aproximar-se mais da realidade e deve ser aceito de
preferência a qualquer outro.
(*) - Este termo "sarcosoma", que não encontramos no nosso dicionário de
português, é dado por Lancelin ao corpo físico, em oposição a "aerosoma" ou
perispírito. Vem do grego sarkos, carne, e soma, que convém ao corpo. (Nota do
tradutor.)
A experiência, porém, é que poderia dar-me alguma
certeza sobre o assunto. Ora, um estudo aprofundado do
fantasma dos vivos, empreendido com atenção nestes dois
últimos anos, me demonstrou, à evidência, que o ser é
constituídos pelos seguintes princípios:
Corpo material
Duplo etéreo (constituindo o fantasma aproximadamente
do corpo físico)
Corpo astral
Corpo mental
Corpo causal e princípios superiores do ser, ainda não
abordados pela experiência (constituindo o fantasma
afastado do corpo físico)
O corpo material não tomará o nosso tempo, pois todo o
mundo já o conhece.
O duplo etéreo, depositário da vida física, dotado da
forma humana, pois que é de qualquer forma a capa do
sarcosoma, constitui o apoio do fantasma que evolui junto ao
corpo físico, do qual não se afasta nunca e no qual reentra
desde que os elementos superiores dele se afastem.
O corpo astral, depositário da sensibilidade (força
nêurica), constitui o apoio fluídico do fantasma que evolui
longe do corpo físico, possuindo geralmente a forma
humana. (*)
(*) - Sobre as saídas em astral conscientes, vide o meu Méthode de dédoublement
personnel e a obra de Hector Durville Le fantôme des vivants.
O corpo mental, depositário da inteligência, não possui
nenhuma forma própria; é uma aura que envolve e penetra o
corpo físico e que é particularmente brilhante nas regiões
imediatas do cérebro.
O corpo causal não foi senão simplesmente entrevisto
por pessoas magnetizadas, postas em estado de vidência, sob
a forma de uma aura muito leve formando uma espécie de
chama, cuja extremidade superior é cercada de um halo assaz
brilhante. Ele parece ser a sede das faculdades intelectuais
mais elevadas: vontade, memória, etc., mas não se pôde
ainda nem isolá-lo, para se estudá-lo à parte, nem fotografálo.
Quanto aos elementos superiores do ser, certo é que eles
existem, pois as diversas escolas ocultistas e, em particular, a
Teosofia dão, no que lhes diz respeito, os mais variados
detalhes, mas não quero, neste estudo, afastar-me da base
precisa e segura que nos oferece a experimentação, pelo que
ater-me-ei aos elementos precedentes dos quais venho de
fazer rápida análise.
Ora, que papel desempenham todos esses diversos
elementos na desagregação do ser?
Não falo aqui nem da morte súbita ou violenta que
aniquila bruscamente a vida material, nem da cujos
processos é muito rápido para permitir um estudo seguido de
fenômenos. Tomarei, para exemplo, a morte produzida por
um enfraquecimento geral devido à velhice ou por uma
enfermidade bem longa, o que constitui, em suma, a morte
natural.
O médico murmura, afastando-se, ao ouvido do parente
mais próximo: "Nada mais posso fazer; é uma questão de
horas. Esperai, pois, o desenlace de um momento para
outro."
O enfermo repousa, sem forças, em seu leito. Ele
pronuncia, de tempos em tempos, algumas frases soltas que
só podem ser percebidas por um ouvido atento. Sua
respiração é lenta e opressa, seu olhar vago, seus gestos
indecisos. Algumas palavras entrecortadas, piedosamente
ouvidas, lhe escapam do lábios, é uma recordação da
infância que parece reviver e cada um lhe busca em vão a
causa. Depois, são outras lembranças que reaparecem, a
maior parte esquecida ou desconhecida dos presentes porque
o moribundo nunca lhes falou delas.
Porque, a que propósito, essas recordações ressurgem do
esquecimento?
Subitamente, uma dessas recordações lembra ao enfermo
uma intenção que teve outrora e que não executou. Nesse
momento supremo, ele vê a necessidade de realizá-la e faz a
esse respeito uma recomendação... Que se passa?
O corpo causal sai pouco a pouco, lentamente,
progressivamente, do moribundo. Detentor da memória, ele
repassa todo o tempo decorrido desde os anos mais remotos,
faz renascer no cérebro o vestígio dos mais afastados
acontecimentos, mesmo os mais fúteis, ou, numa palavra: ele
passa, em revista, sua vida inteira e revê a vida que vai
findar.
Nesse período, como no do sono, o tempo não tem valor
e vivem-se anos, dia a dia, em poucos minutos. (*)
(*) - É a "visão panorâmica" ou "memória sintética", objeto de uma monografia
do Professor Ernesto Bozzano que já traduzi e que na oportunidade será publicada.
(Nota do tradutor.)
A vontade ainda existe e é ela que assinala os últimos
desejos, que ordena as recomendações supremas; é ela que
fazia Sócrates dizer, ao expirar; "Não nos esqueçamos de
que devemos o sacrifício de um galo a Esculápio."
O moribundo experimenta, porém, um espasmo e se
cala... O corpo causal acaba de retirar-se, levando consigo a
memória e a vontade. A partir desse momento, o agonizante
fala ainda, mas as suas palavras não são mais coordenadas
pelas faculdades da inteligência, agora ausentes; elas não são
mais motivadas.
O corpo mental ainda está aí, pois ele emite sempre
idéias, mas a essas falta ligação já que as faculdades
superiores do ser não mais existem para coordená-las. O
moribundo fala unicamente do que lhe fere os sentidos, seja
realidade, seja alucinação; mistura tudo e faz associações de
idéias que, em outras circunstâncias, provocariam o riso.
A título de exemplo, citarei um caso de que fui
testemunha: um enfermo, prefeito da comuna, ia entrar em
agonia quando lhe disseram que o seu adjunto viera pedir
notícias de seu estado. Ele perguntou então, procurando
olhar o relógio, que horas eram e, quando lhe responderam,
indagou porque todos os seus conselheiros municipais
estavam dependurados atrás do relógio. Nesse momento,
deu-se nele uma associação mecânica de idéias disparatadas,
encaixada numa alucinação.
O corpo mental, gerador dos pensamentos, ainda os
emite, mas a esses faltam, então, direção e coordenação.
Como se diz vulgarmente, o moribundo disparata. As
próprias idéias se enfraquecem, sua produção se espaça e o
doente guarda longos silêncios... É o corpo mental que se
exterioriza por sua vez e, quando ele tiver deixado
completamente o agonizante, esse ainda poderá falar, mas de
modo automático. Pronunciará algumas palavras soltas cujo
sentido lhe escapa, sob a influência única de um cérebro que
funciona mecanicamente sem mais ser dirigido pelo corpo
mental.
Começa então a agonia.
O corpo astral, sede da sensibilidade, se exterioriza por
sua vez, o influxo nervoso se torna mais lento e, em
conseqüência, todos os sentidos se obliteram, se entorpecem
e desaparecem sucessivamente; o olhar se apaga, os ouvidos
deixam de perceber os sons, as sensações táteis não se
produzem mais: a morte está próxima. As palavras
proferidas durante esse período só constituem sons vagos de
sílabas sem qualquer sentido: o corpo astral acaba de retirarse
do moribundo, cujo sarcosoma só fica animado pelo seu
duplo etéreo, detentor da vida física, que o fantasma
exteriorizado procura arrastar atrás de si. Esse, por sua vez,
se evade progressivamente: o coração, privado de impulsão e
regulação, não bate senão irregularmente; os músculos
toráxicos não têm mais força para agir e os pulmões só
aspiram muito pouco ar por aspiração fraca e compassada; as
extremidades se esfriam e esse esfriamento se estende, ganha
pouco a pouco os centros vitais. O duplo etéreo finalmente
evadiu-se e vai juntar-se às outras partes do fantasma já
exteriorizadas. Produz-se então, muito geralmente, um
fenômeno particular. O agonizante faz certos gestos que
parecem puramente instintivos e mecânicos, cuja razão
escapa aos assistentes e cujo conjunto é conhecido sob o
nome de carfologia. Ele move as mãos diante do peito. Que
significa esse gesto? Algumas pessoas pensam que ele tem
frio e querem cobri-lo, outras vêem nisso o resultado de uma
opressão intensa; todas acham aí o indício de certo
sofrimento...
Na minha opinião, é preciso procurar a causa e a origem
desse movimento automático. O agonizante sofre, mas de um
sofrimento de que não tem consciência: ele quer libertar-se...
Qual o motivo dessa dor?
Sabemos, por nossas experiências sobre o fantasma dos
vivos, que esse está sempre ligado ao corpo físico por um
laço fluídico que tem o seu ponto de ligação no lado
esquerdo do peito. É esse laço que, por um movimento
reflexo, quer o moribundo romper para se ver mais depressa
liberto da matéria.
Um outro fenômeno, de uma natureza especial, se passa
finalmente, com muita freqüência, nesse instante. Vimos,
mais acima, que o duplo etéreo só faz parte do fantasma
quando esse fantasma evolui nas regiões imediatas do corpo
físico. Desde que o fantasma dele se afasta, o duplo etéreo,
conservador das vida física, reintegra a sua prisão de carne.
Parece que se passa então algo de semelhante, mas com uma
modificação especial.
Pode-se pensar, vendo o fantasma que se afasta
definitivamente do corpo material para não mais voltar, que
o duplo etéreo, que recebe do sarcosoma elementos
semimateriais sem os quais não pode ter existência, sente o
seu instinto próprio revoltar-se contra o seu próximo
desaparecimento. Ele reintegra, então, o sarcosoma, segundo
o mecanismo que lhe é habitual, (*) mas fazendo enérgico
esforço para aí reter o resto do fantasma. Isso consegue, às
vezes, por alguns segundos, e daí vem que alguns
moribundos, no momento de expirar, parecem despertar e
pronunciam, distintamente, algumas palavras sensatas. É o
que vulgarmente se chama o "melhor do fim".
(*) - O desdobramento do vivo, ainda que mal conhecido, é um fenômeno muito
comum entre nós. Muitas distrações, ausências, sonhos, são resultados dele. Sobre o
assunto recomendo o meu Méthode de dédoublement personnel e a obra de Hector
Durville Le fantôme des vivants, já citados.
Esse, porém, é o último esforço do duplo etéreo e logo o
fantasma se retira de novo, e, dessa vez para todo o sempre,
do que agora só é um cadáver. Deve-se então dizer, desde
esse momento, que a morte é completa? Longe disso! O
fantasma está unido ao seu antigo corpo, onde continua a
viver o duplo etéreo, por um laço fluídico cuja força diminui
a cada instante, isto é, à medida que morrem as células que
compõem o corpo, à proporção que os elementos deles se
desagregam, à medida também, que em seguida e como
conseqüência, se enfraquece o duplo etéreo.
Depois da morte aparente, oficial, a vida subsiste ainda,
mais de modo latente, sem coesão e como que
individualizada entre todas as células que morrem, por sua
vez, umas após outras. O corpo etéreo se dissolve
progressivamente no éter e, quando morre por sua vez, ao
cabo de alguns dias, o laço fluídico já se rompeu e o
fantasma, então liberto, se afasta definitivamente para os
seus destinos póstumos. Vê-se, pois, que o mecanismo da
morte é o de um verdadeiro e múltiplo parto, desde a
moléstia, que se assemelha aos pródromas dolorosos da
parturição, até à secção do laço fluídico, que torna a morte
perfeita como a secção do cordão umbilical dá vida própria
ao recém-nascido.
Do mesmo modo que a mãe que dá à luz está cercada de
pessoas amigas, nesse momento crítico, da mesma forma o
fantasma, que nasce para a vida superior, encontra em torno
de si, no Além, espíritos afins e protetores para trazer-lhe
socorro nesse instante de angústia e permitir-lhe assim
desembaraçar-se mais facilmente da matéria.
Eis um importantíssimo assunto de discussão que
abordarei mais adiante, quando tratar do lado astral da morte.
Não quero estudar, aqui, senão o mecanismo puro e simples
da morte, tal qual parece funcionar no corpo físico, isto é,
deste lado do véu.
Desde o momento, tirarei uma dupla conclusão do estudo
que fizemos.
A primeira é que a cremação, que, à primeira vista,
parece um progresso, deve ser, na realidade, considerada
como uma volta para trás no caminho da civilização ideal. A
natureza faz com perfeição a sua obra. Dissociando
progressivamente os elementos constitutivos do que foi um
corpo vivo, ela permite ao espírito propriamente dito
libertar-se lentamente e com facilidade e ao duplo etéreo
dissolver-se no éter, onde volvem os seus elementos, pouco a
pouco, com o mínimo sofrimento. Ao contrário, a cremação
é um ato de violência, que, dissolvendo instantaneamente o
corpo físico, inflinge uma dor atroz, ao mesmo tempo, ao
fantasma, cujo apoio, o corpo astral, depositário da
sensibilidade na vida, está ainda carregado de força nêurica e
sente romper brutalmente o laça fluídico que o liga ao
cadáver, e ao duplo etéreo que, ainda depositário do que
subsiste da vida física, deve experimentar uma tortura
indizível ao sentir-se desagregado, ao mesmo tempo em que
o próprio cadáver, pela chama devoradora.
A segunda conclusão é esta: a morte constitui apenas um
desdobramento definitivo em vez de um desdobramento
temporário. Ora, sendo o desdobramento um fenômeno
muito comum, sem que dele se possa duvidar, espero que o
homem que estudou a teoria desse fenômeno, que sobretudo
o experimentou subjetivamente, que, numa palavra, conhece
o mecanismo do desdobramento, este, quando a sua última
hora soar, saberá, melhor e mais facilmente do que qualquer
outro, e sobretudo com menos sofrimento, desembaraçar-se
dos laços terrestres e libertar dos laços da matéria a parte
superior e imortal do seu ser.
II
Lado astral da morte
Estudei, precedentemente, o mecanismo ordinário da
morte, do ponto de vista do plano físico, e comparei-a a um
parto múltiplo no qual a enfermidade representa as dores do
parto.
Vou agora procurar descrever o que se passa, em
semelhante ocasião, no plano astral. Não escondo que o
terreno em que piso parece, ao primeiro relance, muito
menos sólido do que o anterior, mas, como possuímos certos
dados muito sérios, resultados, quer de experiências
magnéticas realizadas, quer de princípios demonstrados da
Psicologia, vou tentar demonstrar a realidade da coisa.
É desejo meu não utilizar-me dos dados da filosofia
ocultista ou espírita senão quando esses dados tiverem sido
confirmados, antes, pela experimentação.
A comparação de um parto múltiplo que fiz, no ponto de
vista do plano físico, vai prosseguir no plano astral. Do
mesmo modo que na Terra a mulher, em trabalho de parto,
tem junto de si o cirurgião, a parteira, o marido, a mãe, para
suavizar-lhe esses momentos dolorosos, assim não se deve
crer que o ser que renasce para a vida superior não seja
assistido por entes queridos que lhe trazem auxílio e
conforto.
O belíssimo ensino, ainda que ligeiramente deformado,
do Catolicismo a respeito do anjo da guarda repousa no
fundo de uma inegável verdade. Sabemos que a cada um de
nós estão ligadas entidades espirituais que têm por missão
guiar-nos, fazer-nos progredir no caminho do bem que nos
deve conduzir aos planos superiores do Universo. A prova
objetiva disto está em que possuímos uma consciência e que,
após o mal, experimentamos remorsos. Se assim não fosse,
dever-se-ia perguntar de onde vem a voz de nossa
consciência tantas vezes, ai de nós, em oposição a atos
nossos, refletidos e praticados, indagar-se-ia quem cria os
nossos remorsos, que, como toda a evidência, têm uma causa
exterior. A consciência e os remorsos são, pois, fatos
provando, inegavelmente, a existência, em torno de nós, de
entidades superiores que nos guiam e nos confortam nas
misérias da vida. Isto admitido, é lógico, é possível pensar
que somos abandonados por esses auxiliares invisíveis no
momento mesmo da prova mais dolorosa qual seja a em que
vamos deixar aqueles que amamos, abandonando-os ao sabor
da sorte da miséria, do mal? Seríamos loucos em pensar tal
coisa! Ao contrário, essas entidades amigas, no momento
supremo, se comprimem ao redor de nós para facilitarem a
nossa tarefa, para nos tornarem menos terríveis a dor moral
da separação e a dor física da morte.
Todas as escolas ocultistas estão de acordo a este
respeito e a existência, nesta vida, da consciência e dos
remorsos, nos mostra que o seu ensino repousa em bases
sérias.
Vimos, em nosso precedente estudo, que a morte é
constituída pelo desprendimento sucessivo:
1.º dos princípios superiores do ser, levados consigo pelo
corpo causal, detentor da memória e da vontade;
2.º do corpo mental, depositário da inteligência;
3.º do corpo astral, detentor da sensibilidade, formado, na
sua parte mais próxima da materialidade, pela forçasubstância
nêurica;
4.º do duplo etéreo, detentor da vida física, ligado
intimamente ao corpo material e ao corpo astral.
Vimos ainda que esses elementos se desprendem pouco a
pouco e sucessivamente do moribundo. Que se passa então
no plano astral?
Para explicá-lo e descrevê-lo, não vá o leitor pensar que
me lançarei no domínio da fantasia e darei livre curso à
imaginação. Longe disto! Apoiar-me-ei em experiências
seriamente conduzidas, cujos resultados podem ser olhados
como absolutamente verdadeiros.
No que diz respeito á vida póstuma, não estamos
desprovidos de documentos científicos obtidos na prática do
magnetismo, principalmente pelo processo dito de regressão
da memória.
Darei apenas um exemplo que demonstrará tudo o que se
pode tirar desta fonte.
No Congresso Espírita de 1900, o Sr. José Fernandez
Colavida, de Barcelona, Espanha, fez uma comunicação a
respeito da qual extraio a parte mais importante:
"O médium foi profundamente adormecido por meio de
passes magnéticos e se lhe ordenou dizer o que fizera na
véspera, na antevéspera, numa semana, num mês, num ano
antes e sucessivamente fê-lo remontar à sua infância, que fez
explicar em todos os seus detalhes. Sempre impelido pela
mesma vontade, o médium contou a sua vida no Espaço, a
morte na sua última encarnação e, continuamente impelido
pelo magnetizador, chegou até a quatro encarnações
anteriores, a mais antiga das quais era uma existência
inteiramente selvagem. Em cada existência, os traços do
médium mudavam de expressão. Para retornar ao seu estado
habitual, foi preciso fazê-lo voltar à sua presente existência,
depois do que foi acordado. Algum tempo após, de
improviso, com o fim de comprovação, o experimentador fez
magnetizar o mesmo individuo por outra pessoa, que lhe
sugeriu que as suas precedentes narrações eram imaginárias.
Apesar dessa sugestão, o médium reproduziu a série das
quatro existências anteriores; como antes fizera. O despertar
das recordações e o seu encadeamento foram idênticos aos
resultados obtidos na primeira experiência."
O Coronel Albert de Rochas e outros, depois dele,
fizeram experiências semelhantes e, em conseqüência, não
estamos desprovidos de documentação.
O fantasma se forma, progressivamente, à esquerda (pelo
menos de modo geral, a julgar-se segundo os fatos de
desdobramento experimental) do moribundo. Os corpos
causal e mental, exteriorizados os primeiros, não têm, no
começo do fenômeno, outra perturbação que a que lhe causa
a dor do corpo físico. Acontece-lhe muitas vezes, com efeito,
sair desse corpo (sono profundo, sonhos, etc.) e isto lhe
parece coisa natural. Ele crê num sono do sarcosoma e não
se apercebe do que se passa.
Vê ao redor de si entidades amigas que vieram socorrêlo,
mas não sabe o que pensar: tudo o que se passa lhe parece
um desses sonhos aos quais já está habituado. Eis, porém,
que se lhes ajunta o corpo astral, todo dolorido pela
enfermidade e que, com o seu papel de detentor da
sensibilidade, devia ligá-lo ao sarcosoma. Nesse momento,
uma perturbação enorme o invade e o espírito, que paira
acima de todos esses diversos elementos, fica como que
confuso, o espanto o domina e ele fere cega e
desesperadamente o infinito que começa a se lhe revelar;
uma angústia espantosa o oprime e ele não tem a lucidez
precisa para analisar o que lhe sucede.
Ele está desorientado, atônito, como que mergulhado em
um terrível pesadelo. As entidades amigas então se
aproximam da pobre alma errante e aterrada, a cercam com o
seu amor, a sustentam com o seu conforto e buscam levá-la à
compreensão do que se passa. O espírito, porém, continua
preso de louca angústia. O que se passa lhe parece
impossível, monstruoso: ele não pode acreditar que tudo
acabou; sente que ainda está unido, por um laço fluídico, ao
seu sarcosoma em dissolução e ele quer, sim, ele quer animálo.
Nesse momento, os últimos restos do corpo astral se
desprendem, voltam a se ajuntar ao fantasma e levam-lhe o
supremo pensamento do moribundo, o qual determina a
afinidade que possuirá a entidade humana logo depois da
morte.
O desejo, com efeito, é a base do ser. Ora, o desejo mais
intenso, que se manifestou antes da morte, determina o
sentido da impulsão dada a essa parte do ser humano. O
moribundo está animado de um grande desejo de felicidade,
espera o céu prometido pela sua religião e está certo de
atingi-lo. A tendência do ser é de ser levado para o Alto, mas
sua elevação espiritual é que determinará se irá para o plano
superior ou inferior (infeta, inferno). No primeiro caso, a
afinidade o levará para o amor e a síntese e, no segundo
caso, para o ódio e a perturbação.
É evidente, porém, que essa afinidade só subsiste nos
primeiros tempos: é, de qualquer forma, um resto da vida
terrena e, com o tempo, quando o espírito tiver alcançado a
plenitude da posse de si mesmo, ele refletirá e se desligará
dessa afinidade por assim dizer instintiva.
O fantasma está então quase completamente constituído
fora do moribundo: só falta o duplo etéreo, depositário da
vida física, o qual, por sua vez, se exterioriza.
Vimos, nas páginas precedentes, que o duplo etéreo,
quando o seu instinto lhe faz pressentir que ele vai
abandonar para sempre esse corpo agonizante sem o qual
não pode viver, tem um momento de espanto e, por um
enérgico esforço, procura atrair ao corpo inerte, para animálo
ainda, os elementos superiores do ser que despertam, às
vezes, no moribundo, no momento supremo, um instante de
razão. Quando esse fato se produz, e ele é bastante freqüente,
é nesse momento que se gera o monodeismo que vai
produzir essa afinidade póstuma que deve durar e prolongarse
certo tempo depois da morte.
Se um avarento pensa em seu tesouro, é junto desse
tesouro que permanecerá o seu fantasma e, por pouco que
seja, mais tarde, se encontrar, no duplo etéreo de um
sensitivo qualquer, a força-substância, que possa assimilar
para se materializar, se tornará "a alma guardiã de um
tesouro" das lendas.
Se viveu toda a sua vida no egoísmo mais absoluto, não
experimentará, no seu instante supremo, senão pesares por si
mesmo, pesares que o perseguirão no Além e lhe impedirão
todo o progresso, tanto menos quanto menos dele se
desembaraçar. Ao contrário, se o seu último pensamento for
um ato de altruísmo, a dor de abandonar os que ama na Terra
ficará perto deles até os seus desencarnes e, nesses
momentos, os auxiliará como ele próprio foi auxiliado na sua
hora extrema por aqueles que o amaram e que as saudades o
conservaram junto de si.
Mas esse apelo enérgico aos princípios superiores do ser
só se produz por alguns instantes e logo o organismo do
moribundo deixa de funcionar: a morte física se produziu.
Que fazem então os diversos elementos que compõem o
fantasma?
Sabemos pelas experiências do Coronel Albert de
Rochas e Hector Durville que o corpo astral, fundamento e
apoio dos princípios superiores do ser, está unido ao duplo
etéreo por um laço fluídico quase infinitamente extensível,
embora esse não possa afastar-se senão alguns metros do
sarcosoma ao qual o retém outro laço fluídico bem pouco
elástico.
Pode-se então representar o ser humano, no momento da
morte, como um balão cativo (corpo astral e elementos
superiores) retido por um comprido massame ao seu
cabrestante (duplo etéreo) que está fixo a um suporte de
pranchas apodrecidos (corpo físico) Esta comparação me
parece tanto mais exata porque o corpo astral, durante as
experiências com os fantasmas dos vivos, tem sempre
tendência a deixar a Terra em que se sente aprisionado, o que
dá certo trabalho para fazê-lo voltar ao corpo físico.
Estudando em 1887, com a sensitiva Srta. Lux, a
separação do corpo astral e do duplo etéreo, o Coronel de
Rochas notou, por diversas vezes, que o primeiro, antes de
atingir uma região de beatitude, tinha de atravessar uma zona
que o aterrava, na qual monstros horríveis tentavam retê-lo.
Ora, a maior parte das religiões ensina que, por ocasião da
morte, os seres devotados ao mal disputam a alma que
deixou a Terra.
Existe aí uma verdade oculta sob um mito ou um
simbolismo a ser interpretado. Eis, creio, a interpretação
dessa crença.
O Cristianismo nos ensina, de uma parte, a existência de
demônios ou espíritos maus e, de outra, nos diz que todas os
nossos pensamentos, todas as nossas ações nesta vida, estão
inscritos no "Grande Livro do Juízo". Por sua vez o
Ocultismo nos ensina que todos os nossos pensamentos,
todos os nossos atos, ficam gravados na parte inteligente
(corpo mental) do corpo astral já desligado. Neste caso,
seriam os monstros os maus pensamentos que, como em um
caleidoscópio, desfilam numa visão rápida por ocasião da
morte. O primeiro caso nos mostra que existem no plano
astral, na parte mais próxima de nós, seres que viveram no
mal ou que ainda não evoluíram pouco que fosse. Esses
seres, chumbados ao nosso globo por suas inferioridades, são
devorados por um vivo ciúme contra as almas que vêem
subir para os planos serenos da espiritualidade e se
encarniçam em retê-las, como eles mesmos, nas regiões
inferiores, enfim, na atmosfera do mal. É, então, de grande
utilidade o auxílio de entidades boas e simpáticas que se
comprimem em torno da pobre alma aterrada, a enlaçam, a
protegem e a fazem franquiar essa zona de perturbação.
Parece, com efeito, que há, assim, segundo experiências
feitas com pessoas magnetizadas assim como com
indivíduos que tornaram à vida, um instante crítico a passar,
do qual o único meio de evitar a angústia é o de ter vivido no
bem.
Está, na verdade, provado que o homem que, durante a
sua vida, evitou, tanto quanto pôde, pensamentos e atos
malévolos, não arrastará atrás de si uma malta de espíritos
encarniçados em retê-lo na atmosfera da Terra e, de outra
parte, não despertará a inveja de espíritos inferiores e
estacionados no mal por seus pecados, por sua falta de
energia ou mesmo por sua vontade. Ele terá formado, bem
antes do momento supremo, uma guarda, pode-se assim
dizer, mais numerosa e mais poderosa de entidades elevadas
que, chegado esse momento, o faz franquiar, sob a sua égide
e sem óbices, essa passagem crítica, rumo às regiões
superiores.
Não nos esquecemos de que o corpo astral, e com ele os
elementos superiores do ser, está retido por um laço flúídico
ao duplo etéreo que não pode, ele próprio, afastar-se do
sarcosoma tornado cadáver.
Esse duplo etéreo, detentor da vida física, levava em si,
no momento do desencarne, forças vitais armazenadas pelo
fluxo constante vindo do sarcosoma, mas a sua fonte de
força principal está esgotada, os órgãos não funcionam mais,
o cadáver se desagrega lenta mas seguramente e o dublo
etéreo vive uma vida latente, composta, pode-se dizer, de
uma multidão de vidas individuais. Pouco a pouco, porém,
essas morrem por sua vez e os seus elementos materiais se
dissolvem no ambiente voltando à matéria inorgânica. O
duplo etéreo se enfraquece cada vez mais à medida que se
tornam menos numerosas as células ainda vivas e, quando a
última desaparece, o duplo etéreo morre por sua vez. (*)
Desde que ele não mais existe, o laço fluídico, que o une ao
corpo astral, não tendo mais razão de ser, se dissolve como
cai o cordão umbilical no recém-nascido, e os princípios
superiores ficam livres de toda ligação material com a Terra.
Resta, porém, romper ainda os laços morais e essa ruptura é
ordinariamente bem longa.
(*) Para algumas escolas ocultistas, o duplo etéreo é apenas o fluido vital que,
quando acaba, completamente, no corpo material, esse começa a esfriar e putrefazer-se.
É por isso que se pronunciam contra a cremação, porque a saída às vezes não é total e o
espírito, pelo apego à vida, ainda se acha unido ao corpo material. (Nota do tradutor)
Aqui, preciso é dizê-lo, está a parte fraca do presente
estudo, mas não estamos, todavia, desprovidos de provas,
pois que, além das indicações dadas por certas pessoas
magnetizadas submetidas à regressão da memória, temos as
aparições de fantasmas de defuntos, das quais, pelo menos
certo número, são irrecusáveis.
É pois, sobre experiências magnéticas e fatos, que vou
estabelecer o que se segue. Quando falo de laços morais, não
tenho apenas em vista essas paixões baixas, a avareza, por
exemplo, que liga o defunto ao seu tesouro, o egoísmo que
retém sua vítima aos lugares em que se julga feliz...
Este é em suma o inferno da doutrina católica, eterna
como se diz, mas que, na verdade, não existe, porque as
almas não são jamais nem precipitadas nem retidas nele.
Cada um de nós está, mais ou menos, no seguinte caso:
"Os corpos só são vestes temporárias que as almas
devem despir, mas aquelas, que obedecem à matéria nesta
vida, formam um corpo interior ou veste fluídica que se
torna a sua prisão e o seu suplício depois da morte, até o
momento em que venha a se fundir na chama da luz divina
onde o seu peso a impede de subir. Lá não chegam senão
depois de esforços ingentes e com o auxílio dos justos que
lhes estendem a mão. Durante esse tempo, elas são
devoradas pela atividade interior do espírito cativo como
numa fornalha ardente. As que passaram pela fogueira da
expiação, lá as queimam como Hércules no monte Eta e se
libertam das suas torturas, mas à maior parte falta coragem
diante dessa última prova que lhes parece uma segunda
morte mais espantosa do que a primeira." (*)
(*) - Eliphas Levi Dogme et rituel de la haute magie (Dogma e ritual da alta
magia).
Mas não são apenas os sentimentos inferiores que nos
prendem à Terra; há também os sentimentos elevados, a
preocupação de uma obra benemérita à qual consagramos a
vida, o amor que levamos daqueles que deixamos atrás de
nós, etc.
Tudo isto forma tantos laços morais que nos ligam ainda à
vida terrena, como as saudades dos que nos amaram aqui nos
chamam de vez em quando, saudades que se elevam para as
regiões superiores em que são percebidas sob a forma das
vibrações mentais E todos esses laços, todas essas ligações
morais, estão conservados na parte mais próxima da matéria
do corpo astral. Isto dura certo tempo, durante o qual o
espírito quase liberto, auxiliado por entidades superiores,
retoma a consciência das suas vidas anteriores, vê qual o fim
particular assinalado na sua última encarnação, verifica se o
atingiu, estabelece, por um débito e crédito, o balanço das
suas boas e más ações, busca os meios próprios para fazer
frutificar algumas e reparar outras.
Pouco a pouco, porém, as suas obras terrenas têm a sorte
de todas as obras da Terra: estão mortas ou foram desviadas
de seu fim primordial e ele deixa de se interessar por elas.
Pouco a pouco também os que ele conheceu e amou na
Terra, por sua vez, suportaram a grande prova. Ele então vai
em seu auxílio para facilitar-lhes a passagem para a
verdadeira vida e acolhê-los do "outro lado do véu", assim os
indiferentes que o conheceram, como os descendentes aos
quais se falou do antepassado morto, cuja lembrança vaga
ainda o atraía à Terra. O esquecimento agora já se fez para
ele e nada mais o atrai ao planeta, a esse mundo que foi sua
morada temporária e ele pôde, por sua vez, despojar-se de
toda a recordação terrestre, salvo a que fica registrada no seu
carma. Pôde então subir para o plano espiritual que o atrai;
para ele, desde tal momento, a morte se fez completa.(*)
(*) Tal é o resgate da ambição e da grandeza humanas. O humilde, o modesto, o
ignorado é bem mais rapidamente que o poderoso e o ilustrado liberto dos últimos laços
terrestres e pode mais depressa seguir sua vida ultraterrena.
Vimos por esta rápida exposição, que estabeleci após
uma série de experiências, que o fenômeno da morte é
infinitamente mais complexo do que geralmente cremos, o
qual, como definem os léxicos, é apenas a "cessação da
vida".
Para não examinar o lado físico da morte, tal como
esquematicamente estabeleci no estudo precedente, direi
apenas que os fisiologistas são, mais ou menos, os únicos a
saber que a morte pode ser parcial (gangrena, etc.) e que, em
todos os casos, ela só é completa depois do aniquilamento da
última célula ainda viva no cadáver.
Vimos, pela exposição anterior, que esse fenômeno,
observado deste lado das portas da morte, apresenta
complexidades e um processus de que não se suspeita. O
fenômeno subjetivo, longe de ter a instantaneidade que se lhe
empresta, ordinariamente se estende e prossegue em fases de
tempos às vezes consideráveis e o que o vulgo chama morte
não é senão uma série de fenômenos secundários que
precedem uns aos outros e cujo encadeamento dura séculos.
Nas últimas linhas do estudo anterior, tirei duas
conclusões práticas: 1.º evitar a incineração e mesmo o
embalsamamento para não fazer o corpo astral suportar
inúteis sofrimentos; 2.º estudar, se não praticamente, pelo
menos teoricamente, o desdobramento do ser para, no último
momento, poupar ao corpo físico dores de uma agonia
penosa.
Que conclusões devo tirar agora destas páginas? Uma
única que contém todas as outras: o homem que, na sua
passagem pela Terra, conduziu sua vida segundo a norma da
Moral, da Justiça e do Bem, que praticou o altruísmo e se
devotou a um ideal de bondade, de grandeza e de verdades
celestiais para o qual dirigiu firmemente cada um de seus
passos, esse homem criou, nos planos espirituais superiores,
amigos divinos que estarão perto dele na hora inelutável das
aflições e receios!

FIM