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  • Ausência paterna: é possível crescer ou viver sem um pai?
    Iniciado por cody sweets
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Podemos notar que o estímulo dos pais em relação ao filho é uma questão muito importante para o desenvolvimento tanto do ponto de vista físico quanto emocional e social


O termo "ausência paterna" pode ser usado somente para pais que se preocupam mais com o trabalho e não dedicam tempo aos filhos ou também para pais que abandonam seus filhos?

Há diferença nos termos empregados, pois ausência paterna pode significar, por exemplo, além do que foi especificado na própria pergunta, como o companheiro que não dá apoio à mulher na época da gestação e no pós-parto. Ou ainda pode ser usado para aqueles pais (pais e mães) que não acompanham de perto e/ou afetivamente o desenvolvimento do filho, portanto, vale lembrar que essa ausência pode causar sérios prejuízos em seu desenvolvimento global.

Como a ausência paterna pode influenciar a vida do filho? Que lacunas se abrem por causa dessa ausência? Tanto reações boas quanto ruins.

Nós, enquanto espécie humana, somos seres completamente dependentes dos cuidados geralmente maternos, nos primeiros anos de vida. Um renomado pediatra e psicanalista – Spitz, um dos grandes estudiosos da relação mãe-bebê –, observou diversas doenças decorrentes tanto da ausência total da mãe na vida do bebê quanto de sua ausência parcial, ou mesmo quando os cuidados eram somente "eficientes"/"básicos" (troca de fraldas, alimentação, banho...), mas não afetivos. Podemos notar que o estímulo dos pais em relação ao filho é uma questão muito importante para o desenvolvimento tanto do ponto de vista físico quanto emocional e social, nunca se esquecendo de respeitar a faixa etária e o grau de desenvolvimento emocional em que a criança se encontra para que ela possa desenvolver do melhor modo possível suas habilidades naturais. Entretanto, há casos em que chamamos de "resilientes", ou seja, aqueles indivíduos que – apesar de terem sido muitas vezes até maltratados ou mesmo abusados na infância – conseguem se desenvolver e dar andamento adequado aos diferentes setores da vida. Nesse caso, a "ausência" significaria mais "a presença" de alguém que realmente atrapalha ou atrapalhou a saúde da criança como um todo. Mas, pelo fato de a criança ter – constitucionalmente – uma condição mental/emocional que a faz lutar pela vida, consegue seguir adiante, apesar do que sofreu na infância e/ou adolescência, e dar um bom andamento às dificuldades da vida.

Há diferença entre ter a ausência do pai desde criança ou sofrê-la no período da adolescência? Por quê? E é possível notar o sofrimento da criança ou adolescente por esse motivo através de algum sintoma?

A diferença é que, quando o pai é ausente desde quando o filho é pequeno ou mesmo quando se trata de uma criança maior, essa fica sem parâmetro de modelo masculino, a não ser que alguém faça essa função (tio, avô, amigo da mãe, professor) para que a criança possa se identificar e fortalecer cada vez mais sua personalidade e seu caráter, independentemente se a criança é do sexo masculino ou feminino. Já na adolescência, também há prejuízo, mas, dependendo de como foi a fase da infância, esse prejuízo será maior ou menor. Provavelmente, uma das reações é de muita revolta, quando o adolescente passa a não aceitar novas amizades que a mãe faz, ou quando ele faz o que bem entende, passando por cima da "autoridade" da mãe. Outras vezes essa ausência pode ser percebida quando o rendimento acadêmico cai, ou quando o comportamento do filho muda de forma radical – se era comunicativo e passa a ser muito calado, se fica muito isolado... São importantes aspectos aos quais o pai ou a mãe (ou quem estiver com a criança ou o adolescente) devem ficar atentos e, se necessário, procurar ajuda de um profissional.

Em caso de separação ou falecimento dos pais, como proceder para evitar possíveis traumas?

Penso ser impossível evitar possíveis traumas em caso de morte, já que a perda de pessoas queridas e importantes já é um trauma em si e terá que ser elaborado pelo tempo que for necessário. Muitas vezes, quando a criança fica "paralisada" em seu desenvolvimento, é fundamental buscar ajuda profissional.

O que é interessante é – no caso de separação – os pais poderem contar aos filhos que não viverão mais juntos, mas que os amam e que sempre serão seus pais, porém, não amam um ao outro enquanto casal, homem e mulher, e isso não tem nada a ver com os filhos. É comum que as crianças se sintam culpadas e responsáveis pela separação dos pais, daí a importância de esclarecer e reafirmar o amor por eles e quão importante é o fato de os filhos poderem cuidar dos setores da vida que dizem respeito a eles e não que se ocupem dos problemas do casal.

Pais ou mães que assumem os dois papéis dentro de casa conseguem exercer a função 100%?

Não é viável – humanamente falando – que o pai ou a mãe consigam ocupar o lugar do outro. O mais saudável é que saibam e sintam a falta que um(a) companheiro(a) pode fazer em termos de parceria, de ajuda mútua, e buscar preencher o que é real e possível – dentro do que lhes cabe. Obviamente, as responsabilidades que normalmente são divididas em um casamento onde há amizade, respeito, união, entre outros, ficam redobradas quando somente um dos pais passa a ser o único cuidador.

Tios e avós podem ajudar na tentativa de busca por figura masculina na vida da criança?

Certamente que sim e eles têm um papel muito importante, pois a ligação afetiva – comumente – é forte. Sendo assim, essa ligação auxilia a criança a superar a ausência, seja do pai ou da mãe, embora ninguém, nunca, possa vir a ocupar o lugar que é somente dos pais.

:(

Dra. Patricia V. Spada - CRP: 35169-6 - é psicóloga clínica com doutorado pelo Departamento de Pós-Graduação em Nutrição da UNIFESP/EPM. No Pós-Doutorado, atua em linha de pesquisa na área psicológica da alimentação/nutrição, principalmente nos seguintes temas: vínculo mãe-filho e obesidade infantil, bem como dinâmica familiar.


Autor: Dra. Patricia V. Spada
Fonte: Site Idmed
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Cody trouxeste aqui um tema particularmente importante, sob o meu ponto de vista. Apesar de te ser relativo ao pai, podemos estender a nossa análise à mãe também.

Este tema enquadra-se numa temática deliciosa que se chama "vinculação afetiva" ou "relações precoces". Este tema aborda a importância das primeiras relações do bebé e da mãe e de que forma estas primeiras relações afetam o desenvolvimento do bebé ao longo da sua vida inteira. Obviamente que apesar do foco ser colocado na mãe, porque ela é sempre uma figura cuidadora, sob o ponto de vista emocional, físico e psicológico do bebé, o pai não deixa de ser igualmente importante no desenvolvimento do bebé.
Muitos estudos foram feitos para se provar estas aceções, pois até aqui, considerava-se que os bebés e crianças eram um fardo para a sociedade, uns débeis mentais que não vivam por si sós e que precisavam sempre ser castigados para aprenderem a comportarem-se como pessoas, pois eram tidos como selvagens. Os estudos de vinculação vieram precisamente mostrar a importância dos laços afetivos no desenvolvimento de adultos salutares. As experiências mais interessantes foram realizadas por Ainsworth, Bowlby, Spiz, Harlow (com macacos bebés), Bion, Ana Freud e muitos mais.

Todos estes autores mostraram a importância do pai e da mãe no desenvolvimento integral do bebé e a sua constituição enquanto adulto. Mesmo não havendo pai ou mãe por qualquer motivo, há sempre uma figura significativa com a qual o bebé se vai identificar (chamada mãe de acolhimento).

Podemos não crescer com um pai, por diversos motivos, entre eles: separação, distância emocional apesar de haver presença física, morte, entre outros. A mãe, permanecendo junto à criança nunca conseguirá assumir o papel de ambos e quando o tenta fazer, normalmente nunca é bem-sucedida, porque a lacuna, a falta do pai está sempre presente.

No entanto, há aqui uma coisa importante a considerar, enquanto a mãe é o pilar da criança a vida inteira (quase sempre é assim), o pai é o pilar emocional crucial até que a criança resolva corretamente o seu complexo de Édipo (no caso do rapaz) ou de Electra (no caso da menina). Isto acontece por volta dos 4/5 anos. Em que é que consiste este processo? Simples, o rapaz tem que se separar (inconscientemente) da mãe, olhando-a não como a "mulher da sua vida", mas como a mulher do seu pai... ao separar isto, ele automaticamente identifica-se com o pai, assumindo-se homem. No caso da menina, ela tem que deixar de olhar para o pai como o "homem da sua vida" e identificar-se com a mãe, assumindo-se como mulher.

Se, eventualmente, este processo tiver algum obstáculo, decorrente da ausência de um deles, de tensões emocionais existentes, de relações precoces conturbadas, etc... este processo ocorre mas de forma deficitária, podendo levar a uma identificação patológica ou incorreta. O filho pode identificar-se com o pai na mesma e desenvolver ansiedades, depressões, etc... A menina pode identificar-se com a mãe na mesma e desenvolver exatamente estes e outros sintomas. Mas o grande problema surge quando o rapaz não se identifica com o pai, mas sim com a mãe e a menina não se identifica com a mãe, mas sim com o pai. Daqui decorrem inúmeros problemas que poderão assumir-se como "graves" em toda a sua vida adulta e terá uma grande consequência nos seus relacionamentos posteriores, seja como amigos ou namorados, maridos, etc.... Exemplos de problemas que podem decorrer: perturbações ao nível da orientação sexual, psicoses, neuroses, toxicodependência, falta de autoestima, autoconfiança, psicopatologias graves, entre muitas outras.

Mas é possível viver e desenvolvermo-nos sem pai, sabendo que a "lacuna" dentro de nós, estará sempre presente. No entanto, isto poderá ser ultrapassado através da psicoterapia, que vai propor um grownding (ancoragem) ao sujeito, no aqui e no agora, e tentar aceitar esta ausência de forma diferente. O primeiro passo é precisamente o perdão e a aproximação com a criança interior. Tentar que essa criança compreenda de forma racional e não emocional, aquilo que tem que compreender, sarar as suas feridas interiores e substituí-las pelas coisas positivas que fez na vida. É um trabalho árduo, mas não impossível.
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

sofiagov

Sofia infelizmente até sem dois pais é possível.....
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Ser possível é, agora se é saudável... não me parece. :-\

I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

É possível, mas com muita dificuldade.
Conheço casos desses. Há depressões difíceis.
Por isso sou contra as mães ou pais "independentes": aqueles que escolhem ser pais ou mães sozinhos.
A mulher vai a um banco de esperma, escolhe, engravida, tem a criança e vive assim a vida quase toda. Acho um ato de egoísmo. Pessoalmente não seria capaz disso.
O homem tem de encontrar uma mulher que aceite ser mãe solidária. É mais dificil, mas não impossível de concretizar.
Iei Or (faça-se luz)
Shalom Aleichem

Embora presentemente se discuta a falta dos pais no crescimento dos filhos, outrora quase todos os filhos da classe média e média alta eram criados longes dos pais. Uns, inicialmente eram entregues a amas de leite e até viviam em casa das mesmas até aos 6 /7 anos, altura em que iam para colégios , onde permaneciam até ao final da sua educação. Mais tarde chegou-se à conclusão que as crianças deveriam viver perto dos pais para que se estabelecessem laços afectivos mais fortes. Assim, passou a ser comum ter uma ama em casa e as crianças apenas viam os pais para lhes dar os bons Dias ou boas noites. Quando mais crescidas passavam a ter um perceptor e os encontros com os pais eram esporádicos.
Estas gerações aprenderam a viver sem os pais e encontraram outras figuras  (amas, percetores ou professores) que fizeram, embora deficientemente, o seu lugar.
Tambem, até meados do século passado era raro o pai que enquanto o seu filho fosse bebé tivesse muito contacto físico com o mesmo.

sofiagov
Citação de: cody sweets em 30 março, 2015, 11:26
Sofia infelizmente até sem dois pais é possível.....
claro... infelizmente ...não devia ser, mas há situações que ultrapassam o pensamento racional...o abandono por exemplo.
falo por  mim que sou mãe e pai...por isso sei o que é ter o peito dorido de mágoa em relação a ausencia ...e mais não falo.desculpem  :-X

Citação de: sofiagov em 30 março, 2015, 12:58
claro... infelizmente ...não devia ser, mas há situações que ultrapassam o pensamento racional...o abandono por exemplo.
falo por  mim que sou mãe e pai...por isso sei o que é ter o peito dorido de mágoa em relação a ausencia ...e mais não falo.desculpem  :-X

Força Sofia...

Forca Sofia estamos contigo!

Eu nunca tive um pai nem uma mãe por isso não posso falar muito :(
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

#11
Um abracinho e um beijinho doce para ti Sofia :-* e...estamos cá, para ti!

Citação de: cody sweets em 30 março, 2015, 13:20
Forca Sofia estamos contigo!

Eu nunca tive um pai nem uma mãe por isso não posso falar muito :(


Beijinho de mãe, para ti Cody :-*
Queria viver tudo numa noite...<br />Isis

Regra geral, quando há uma separação quando os filhos ainda são bebés, são as mulheres que ficam com as crianças ao seu cargo. São elas as grandes heroínas que se "desdobram " para suprir a falta do pai. Todavia, continuam, em grande parte, a suportar todas as despesas da família.
Abençoadas sejam!

Obrigado Ísis :'(

Tu consegues me pôr sempre com as lágrimas no canto do olho
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Queria viver tudo numa noite...<br />Isis