Bem-vindo ao Portugal Paranormal. Por favor, faça o login ou registe-se.
Total de membros
19.426
Total de mensagens
369.472
Total de tópicos
26.918
  • Heráclito, a Reencarnação e o Conhecimento
    Iniciado por sofiagov
    Lido 2.107 vezes
0 Membros e 1 Visitante estão a ver este tópico.
sofiagov

Heráclito, filho de Blóson, nasceu na cidade de Éfeso, colônia grega na Ásia Menor, cujo território hoje pertence à Turquia.
Membro de uma família aristocrática que conservava prerrogativas reais, Heráclito renunciou, em favor do irmão, a sua realeza hereditária e se recusou a participar do cenário político grego, causando espanto e repulsa em muitos dos seus concidadãos.
Elegeu para si mesmo uma vida filosófica dedicada ao estudo, ao exercício do pensamento e da observação. Abandonou a vida na cidade e retirou-se, primeiramente, para o templo de Ártemis; depois foi viver sua vida como misantropo nas montanhas, alimentando-se apenas de ervas e plantas da região.



Ao contrário dos pensadores da época, não consta nenhum registro histórico de viagens realizadas por ele com a intenção de expandir o próprio conhecimento e, tudo indica que passou toda a sua vida em Éfeso.
Heráclito não aceitou ninguém como discípulo e não teve nenhum mestre, pois dizia que é necessário conhecer a si mesmo e estudar as coisas por meio da própria inteligência.
Mas, isso não implica dizer que o seu pensamento estava isolado do saber e da cultura do seu tempo, muito pelo contrário, podemos fazer uma ligação entre as suas ideias e as de filósofos como Tales, Anaximandro e Xenófanes.



Um filósofo "obscuro"?
Não se sabe ao certo quantos livros foram escritos por Heráclito, mas temos conhecimento de uma das suas obras que recebeu o título de Sobre a Natureza. Esta obra se espalhou rapidamente, circulando por toda a Grécia por um bom período de tempo, antes de se perder com o avançar das épocas.
O livro foi escrito num estilo enigmático, semelhante às sentenças oraculares, e repleto de trocadilhos, paradoxos, antíteses, entre outras várias técnicas literárias e retóricas. A intenção de Heráclito era produzir expressões que tivessem um sentido além do óbvio e que incitassem a reflexão do leitor.

Ele não era um homem que fazia revelações esplendorosas ou que concedia ensinamentos mastigados para os outros. O sentido real das suas mensagens está codificado em aforismos complexos e cabe ao interessado o trabalho de aprender a interpretá-las.

"Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras."
Heráclito


A criação dessa obra tão enigmática junto com uma postura e modo de vida que rompiam com os padrões tradicionais da sociedade grega, serviram de base para que muitos filósofos lhe atribuíssem o apelido de Obscuro.
Heráclito também é caracterizado como uma pessoa arrogante, melancólica, cheia de desprezo pela plebe, pelos poetas e pelos outros filósofos, o que impulsionou a propagação da imagem de obscuro adquirida por esse sábio e que repercute até os dias atuais.
No entanto, é importante ressaltar, que esta personalidade foi construída através de diversas citações deixadas por pessoas que viveram anos após a morte de Heráclito e, como veremos a seguir, podem estar sujeitas a má-interpretação.

"Purificam-se manchando-se com outro sangue, como se alguém, entrando na lama se lavasse. E louco pareceria, se algum homem o notasse agindo assim. E também a estas estátuas eles dirigem suas preces, como alguém que falasse a casas, de nada sabendo o que são deuses e heróis."
Heráclito


Logos (a razão)
Apesar de tecer críticas aos sacrifícios religiosos e ao fato das pessoas dirigirem suas preces a estátuas, ele afirmava que a religião tradicional não está totalmente errada, mas expressa a verdade de forma incorreta.
No entanto, Heráclito discordava arduamente da visão antropomórfica atribuída a Deus pelos homens.
Acreditava em um Deus único e o nomeou de Logos, aquele que exprime a Verdade e a realidade eterna.
O Um está em Tudo, e o Tudo está no Um.

Outro ponto importante da sua teoria é a atribuição do Fogo como o elemento constituinte do espírito, isto é, o princípio único. Dessa forma, Heráclito apresenta uma nova concepção para o espírito que deixa de ser apenas a força vital e o centro da personalidade para, pela primeira vez, ser determinado como o princípio racional.

Mesmo sem ter recebido influências de outros mestres e não ter viajado para a fonte dos ensinamentos místicos no Oriente, Heráclito nos presenteou com mensagens profundas sobre o espírito, a lei do Karma e a Reencarnação, comprovando assim, que a capacidade de obter avanços no conhecimento espiritual não possui restrições territoriais ou intelectuais.

"Não encontrarás os limites da alma, porquanto tu percorras as suas sendas: tão profundo é o seu Logos".

Nessa passagem ele afirma que o espírito não pode ser medido através das nossas concepções físicas. Assim, como Deus, ele não possui extensão, ou seja, é ilimitado.

Reencarnação e Karma
Heráclito tinha o entendimento de que o corpo físico, após a saída do espírito, perde a sua utilidade, entra em decomposição e os seus elementos sofrem algum processo de transformação.
"O homem, na noite, acende a si mesmo uma luz, quando a lua dos seus olhos se apaga. Vivo, toca na morte, quando adormecido; acordado, toca os que dormem".
A crença na Reencarnação está nitidamente presente no fragmento acima. Por meio do seu estilo enigmático, Heráclito desenvolveu essa expressão fazendo uma correlação entre noite-dia, vida-morte, que está em concordância com os ensinamentos das mais espiritualizadas mentes orientais que escreveram acerca da reencarnação.



Ele também afirmava que os vivos e os mortos são idênticos e que o espírito de uma pessoa viva provém dos mortos.
Apesar de não entrar em detalhes específicos sobre o processo funcional da reencarnação, Heráclito deixa bem claro que o grau de pureza espiritual é o fator determinante para o que virá a acontecer com o espírito após a morte. O destino do espírito humano é determinado pelo seu caráter, ou seja, pelos seus pensamentos, humores, vontades, palavras e ações.

"A embriaguez prejudica a alma, fazendo com que ela se torne úmida, enquanto uma vida virtuosa mantém a alma seca e inteligente".

Conhecimento
Heráclito repudiava a preguiça da sociedade em procurar o divino. Para ele, assim como para Xenófanes, a compreensão de Deus é a coisa mais importante que um ser humano pode obter na vida, dessa forma, o estudo e a contemplação acerca das obras do divino devem ser os dois principais objetivos da existência de cada ser humano.
As pessoas caminham pela vida em um estado contínuo de sonambulismo, presos em um mundo privado, sem entender o que está acontecendo à sua volta e dentro deles próprios.  Elas são hostis às ideias com as quais não estão familiarizadas, mas aceitam as tradições e imposições das autoridades inconscientemente, sem questionamentos e reflexões, desperdiçando a capacidade intelectual inerente à mente humana.



Todos nós possuímos a capacidade de cultivar a inteligência e de expandir a nossa introspecção e sabedoria através da prática do pensamento crítico e da observação atenta dos fenômenos naturais. Para contemplar a beleza divina, o homem deve direcionar sua capacidade de ver e ouvir ao Logos.
As leis de Deus regem todas as manifestações encontradas na Natureza, isto é, podemos perceber a beleza divina por trás de todos os fenômenos naturais. Para compreender essas leis, é preciso superar as barreiras impostas pelo mau uso dos sentidos ao longo da vida e passar por cima de todos os aspectos superficiais do mundo material.
Com essa concepção, Heráclito reforça a mensagem deixada por Tales de Mileto de que "todas as coisas estão cheias de deuses".
Quanto mais expandimos a nossa sabedoria, mais nos assemelhamos ao divino. Mas, segundo Heráclito, não é preciso empanturrar-se de conteúdo escrito por outros filósofos para alcançar a Verdade. Muito pelo contrário, o passo mais importante dessa caminhada transcendental é a capacidade de analisar a si próprio, isto é, o autoconhecimento.



Fluxo e Dualismo
Heráclito ficou conhecido na história filosófica como o propositor da doutrina do mobilismo universal. Ele enxergava tudo em perpétua mutação, cada episódio como o prelúdio do episódio seguinte. Todas as coisas fluem e se transformam eternamente, modificando a sua essência, mas nunca a identidade.
Uma coisa transforma-se em outra através de um ciclo de mudanças. O que é constante não são as coisas, mas o próprio processo contínuo de mudança. Como exemplo prático para a sua teoria, ele afirmava que uma pessoa não pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque, ao entrar pela segunda vez, as águas do rio não serão as mesmas, e, além disso, a própria pessoa será diferente.
Outro ponto que é de fundamental importância no pensamento de Heráclito é a eterna luta entre os opostos.
A existência desses pares de opostos não possui um caráter negativo, pelo contrário, é por meio da guerra entre eles que movimento eterno e a harmonia do Universo são mantidos. A realidade que conhecemos não acontece em apenas um dos opostos, mas sim, na mudança. Essas duas partes não se excluem, formam, porém, apenas uma ideia, uma coisa, um ser.

Heráclito entendia que se as coisas não fossem misturadas entre si, se cada uma fosse completamente distinta das outras, não teríamos capacidade de compreendê-las. Como entender a paz se não existisse a guerra? Como diferenciar o macho se não existisse a fêmea? Como identificar a música se não houvesse sons graves e agudos?

"Este cosmos, igual para todos, não fez nenhum dos deuses, nem nenhum dos homens, mas sempre foi, é e será um fogo eternamente vivo, acendendo-se e extinguindo-se conforme a medida".

Heráclito também lançou o seu conceito de princípio único, ou arché, e atribuiu esse posto ao Fogo. O Universo é gerado a partir do fogo, e de novo reduzido ao fogo em ciclos de tempo, por toda a eternidade.
Além de ser o único elemento que não pode ser concebido senão como movimento, o fogo também é o símbolo da mudança, da impermanência, se encaixando como uma luva na eterna luta entre os opostos propagada por Heráclito.

Esse fogo concebido por Heráclito como princípio único não é o fogo material que nós conhecemos. Quando os opostos se encontraram pela primeira vez, o Fogo gerado por esse choque deu origem a tudo, e, é ele que mantém esses opostos nessa luta contínua.


"O caminho para cima e o caminho para baixo são um único e o mesmo caminho".

Ao mesmo tempo, pregava uma vida sem luxúria e voltada para a Natureza e para o conhecimento divino. Heráclito sabia que essa vida era apenas uma das várias outras que os filhos de Deus teriam a oportunidade de viver e que os erros e acertos cometidos pelo ser humano durante a vida definem os rumos que espírito tomará em encarnações futuras.
O químico Lavoisier afirmou que "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" muitos séculos após Heráclito ter deixado escrito na história seus belos ensinamentos sobre mobilismo universal.
fonte:caosnosistema

Excelente!

Se todos nós nos conseguíssemos afastar dos "ruídos" exteriores que apenas servem para ocultar a nossa verdadeira essência, talvez a expressão de nós próprios e daquilo que nos une ao Universo se tornasse numa realidade coletiva. É a isto que Jung designa de "inconsciente coletivo"! O conhecimento verdadeiro só pode brotar de dentro para fora.

Mas a realidade atual está a léguas deste princípio. Escondemo-nos por detrás de "filosofias" e "teorias" sem primeiro termos experimentado em nós mesmos os seus verdadeiros efeitos. Resultado: enganamo-nos a nós próprios ao proclamar que defendemos isto ou aquilo (porque é moda ou bonito ou iluminado) e nada disso usamos para a nossa própria vida... obviamente que mais cedo ou mais tarde, a nossa máscara ilusória acabará por cair, lançando-nos no samsara que nós próprios criamos!

Excelente Sofia!
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Realmente ,este senhor vivia à frente do seu tempo ;)

sofiagov
Citação de: Faty Lee em 01 fevereiro, 2015, 14:43
Excelente!

Se todos nós nos conseguíssemos afastar dos "ruídos" exteriores que apenas servem para ocultar a nossa verdadeira essência, talvez a expressão de nós próprios e daquilo que nos une ao Universo se tornasse numa realidade coletiva. É a isto que Jung designa de "inconsciente coletivo"! O conhecimento verdadeiro só pode brotar de dentro para fora.

Mas a realidade atual está a léguas deste princípio. Escondemo-nos por detrás de "filosofias" e "teorias" sem primeiro termos experimentado em nós mesmos os seus verdadeiros efeitos. Resultado: enganamo-nos a nós próprios ao proclamar que defendemos isto ou aquilo (porque é moda ou bonito ou iluminado) e nada disso usamos para a nossa própria vida... obviamente que mais cedo ou mais tarde, a nossa máscara ilusória acabará por cair, lançando-nos no samsara que nós próprios criamos!

Excelente Sofia!

Gostei muito da tua resposta...afastar os ruidos externos e olhar para a nossa essência... . ;)

O PP tem tópicos espectaculares. Há alguns que não podemos deixar passar em branco, como este :)
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

sofiagov
Citação de: Faty Lee em 01 fevereiro, 2015, 19:29
O PP tem tópicos espectaculares. Há alguns que não podemos deixar passar em branco, como este :)

obrigado Faty, assim, como os teu poemas... ;)

Apenas mais um tópico excelente pela minha querida sofia!
Muitos parabéns ;)
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Um Homem bastante inteligente para a sua época.
Iei Or (faça-se luz)
Shalom Aleichem