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  • O livro de Mirdad
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sofiagov


Ao abrir O Livro de Mirdad, o leitor inicia uma viagem, na qual corre sérios riscos de ser transformado. Muito pouco conhecida fora dos meios esotéricos, essa obra do libanês Mikhail Naymy (1889-1988) é considerada uma das mais perfeitas traduções em prosa literária da espiritualidade.

O Livro de Mirdad é o mais conhecido livro do escritor libanês Mikhail Naimy. Ele conta a história da "Arca", um templo construído a mando de Noé para que os homens não esquecessem dos motivos que levaram Deus a provocar o Dilúvio.

Muito sinteticamente, narra a história da chegada de um estranho ao mosteiro A Arca, localizada no mais alto ponto das Montanhas Alvas, no Pico do Altar, que teria sido construído por ordem do lendário Noé.

O templo deveria ser uma imitação arquitectónica da arca original e deveria ser cuidado, sempre, pelo mesmo número de passageiros da arca original: nove. Quem optasse por entrar na Arca passaria o resto de suas vidas nela, e quando um viesse a falecer, a primeira pessoa que batesse a porta exigindo tomar seu lugar, deveria ser aceita imediatamente.

Isso aconteceu por muitos anos até que um dos monges faleceu e o primeiro homem que se apresentou para tomar seu lugar foi um mendigo e o Monge Superior resolveu não aceitá-lo na Arca, a não ser como servo.

Em princípio rejeitado pelo Superior do mosteiro, Mirdad ficou em silêncio durante sete anos, mas no oitavo resolveu falar, e o que tinha para falar é a sabedoria e a essência do Livro de Mirdad. Ele próprio, o estranho, o servo, o protagonista: Mirdad.

Este é um livro que faz refletir, independente de credos e religiões. Independente se você acredita na Arca de Noé ou não. É uma história que aborda temas para se pensar, coisas a respeito do próprio ser humano.


Mikhail Naimy,  conforme prova seu trabalho neste livro, pode trazer à humanidade as palavras de Cristo, ditas a seus discípulos no monte, brotadas do coração, plenas de riqueza de conhecimento iluminado.

Em nossos tempos de trevas e degeneração, de ódio cego e de iminente autodestruição, "O Livro de Mirdad" é um archote de luz universal para a humanidade buscadora. Escrito numa linguagem clara, poética, de ricas imagens múltiplas, irradiante de suavidade, amor compreensivo, ele dá prova da fonte original da qual o autor testemunha.

"Mirdad: O Amor é a Lei de Deus. Viveis para que aprendais a amar. Amais para que aprendais a viver. Nenhuma outra lição é exigida do homem."


O Livro de Mirdad é um dos muitos textos que têm sido legados à humanidade desde o princípio e que pertencem à doutrina universal. Sendo assim, ele também traz a assinatura da Verdade Vivente.
O Livro de Mirdad foi escrito para aqueles que buscam uma resposta às eternas questões fundamentais como: quem sou, de onde venho e para onde vou? Nele, Naimy faz-nos reconhecer que as respostas para estas perguntas podem ser encontradas aqui e hoje. Este livro contém uma mensagem da Luz e indica o caminho para essa Luz.


Num mosteiro, que antes se chamava A Arca, no alto de um pico da montanha, surge um estranho jovem. Sucedem-se surpreendentes revelações que são o testemunho de uma sabedoria viva, atemporal e impossível de classificar em rótulos.

"Certa manhã, exactamente no momento em que a escuridão começava a dissolver-se na Luz, sacudi dos olhos os sonhos da noite e, empunhando o meu bordão e sete pães, parti para a Escarpa. O suave alento da noite que expirava, o pulso rápido do dia que nascia, uma ânsia de enfrentar o mistério do monge prisioneiro e a ânsia, ainda maior, de libertar-me de mim mesmo, ainda que fosse por um só momento, pareciam pôr asas nos meus pés e dar vivacidade a meu sangue. Iniciei a jornada com um cântico no coração e um firme propósito na minha alma".


Começa assim o início de uma escalada à montanha que ameaça ser um mergulho nas profundezas do próprio Ser mais interior.



O Autor, Mikhail Naimy, nasceu em 17 de outubro de 1889, em Baskinta, uma aldeia no Líbano central, no sopé da montanha Sannine, a 1.500 m de altura, de onde se pode avistar o lado oriental do Mar Morto.

Era o terceiro filho de uma família greco-ortodoxa de cinco filhos e uma filha. Após o ensino fundamental em Baskinta, numa das muitas escolas missionárias que foram nessa região pela Sociedade Real Russo-Palestina, ingressa, em 1902, no Instituto de Formação de Professores, em Nazaré.

Em 1906, recebe uma bolsa para o Seminário Teológico em Poltava, na Ucrânia, onde estudou até 1911. Em 1911, Naimy vai para os Estados Unidos, para estudar literatura e direito na Universidade de Washington, em Seattle, onde fica até 1916.

Após terminar os estudos, muda-se para Nova Iorque. Aí encontra Khalil Gibran e funda, com ele e outros imigrantes libaneses e sírios, a famosa "Pen Society", cujo objetivo era levar a literatura árabe para uma nova época, onde poderia desenvolver-se de maneira pura, fresca e moderna.

Em 1932, um ano após a morte de seu melhor amigo e companheiro, Khalil Gibran, e depois de 20 anos de permanência nos Estados Unidos, Naimy decidiu voltar definitivamente para o Líbano.
Ao retornar à propriedade da família em El Chakroub, no sopé da majestosa montanha Sannine, um local onde a natureza tem uma beleza encantadora, Naimy decide dedicar o resto da vida a desenvolver sua mensagem espiritual, que se evidencia de maneira notável na sua obra O Livro de Mirdad, escrita em inglês, e traduzida por si para o árabe.

"O Livro de Mirdad é o livro que eu mais estimo. Mirdad é um personagem fictício, mas cada declaração e ato de Mirdad é imensamente importante. Ele não deve ser lido como um romance, mas como uma escritura sagrada, talvez a única escritura sagrada". - OSHO


Publicado pela primeira vez em 1948 em Beirute, Líbano, com uma nova edição em 1954 em Bombaim, Índia, seguida de outra em 1962 na Inglaterra, onde continua a ser publicado regularmente.

Novas traduções continuam a surgir em todas as principais línguas orientais e ocidentais. Naimy escreveu quase 53 obras de diversos gêneros literários conseguindo sempre unificar realismo e espiritualidade.


"Embora concebido e escrito em inglês, ele não se destina exclusivamente ao público de língua inglesa, nem pretende causar um choque ou alarme aos fiéis de qualquer crença, mas sacudir a humanidade que se acha entregue à letargia dogmática, prenhe de ódio, luta e caos". M. Naimy


Naimy morreu em casa, aos 99 anos, em 28 de fevereiro de 1988. Teve um funeral de Estado e foi enterrado no interior do sopé da montanha Sannine (a Escarpa Rochosa). Na sua lápide em forma de cruz está gravada uma citação de seu livro Solilóquio ao Pôr-do-sol: "Sou a tua criança, ó Senhor, e esta terra bela, rica e abundante, em cujo seio me puseste a dormir, é somente o berço de onde engatinho para ti."


"O amor é a única libertação do apego. Quando você ama tudo, não está preso a nada.
... O homem aprisionado pelo amor de uma mulher e a mulher aprisionada pelo amor de um homem estão ambos sem condições de receber a preciosa premiação da liberdade. Mas o homem e a mulher que, graças ao amor, tornaram-se uma só pessoa, inseparáveis, indistinguíveis, estão bastante qualificados para receber o prêmio". de O Livro de Mirdad, de Mikhail Naimy


O Livro de Mirdad,  é um dos famosos livros que não fazem parte de nenhuma escola de sabedoria ou filosofia em particular, mas que tem o teor de cânone por sua inspiração dita divina.

O trecho abaixo traz as palavras de Mirdad sobre Deus e a postura do homem em relação a ele, até então predominantemente separatista, inferiorizada, pobre, ritualística e, nas palavras do próprio Mirdad, "cega e ingrata".

Pelo verbo feroz e direto, mas principalmente pelo teor anti-dogmático, O Livro de Mirdad é considerado por muitos uma quebra de paradigma e um daqueles livros capaz de mudar a direção de muitos caminhos pessoais.

"ORAÇÃO", DO LIVRO DE MIRDAD [TRECHO, PAGS 124-125]

Por Mikkhail Naimy

Deus não vos dotou de nenhuma fração de Si – pois ele é indivisível; – mas de toda sua divindade, indivisível, impronunciável. Ele vos dotou a vós todos. Que maior herança podeis vós aspirar? E quem ou o que vos impede de vos apossardes dela senão a vossa própria timidez e cegueira?


E em vez de serem gratos por essa herança e em vez de procurarem os meios de tomarem posse dela, alguns homens – cegos e ingratos! – fazem de Deus uma espécie de quarto de despejo ao qual levam suas dores de dentes e de barriga, seus prejuízos nos negócios, suas brigas, suas vinganças e suas noites de insônia.

Enquanto outros fazem de Deus sua casa do tesouro onde esperam encontrar o que desejam, toda vez que cobiçam a posse de todos os pechisbeques deste mundo.

Há ainda outros que fazem de Deus uma espécie de seu guarda-livros particular. Pretendem que Deus deva não só manter em dia as contas de suas dívidas, mas também cobre o que lhes é devido, conseguindo sempre um grande saldo em favor deles.

Sim, são muitas e diversas as tarefas que os homens exigem de Deus. No entanto, poucos se lembram de que se isso estivesse a cargo de Deus, ele as executaria sozinho e não precisaria de homem algum para incitá-Lo a fazê-las ou Lhas recordar.

Por acaso relembrais a Deus das horas em que deve nascer o sol ou pôr-se a lua?

Lembrais a Deus de fazer brotar da terra o grão de milho naquele campo?

Tendes que lembrá-Lo para que aquela aranha acolá teça a sua teia?

Precisais lembrá-Lo dos filhotes do pardal naquele ninho ali?

Por acaso tendes de lembrá-Lo das inúmeras coisas que enchem este infinito universo?

Por que fazeis pressão, com vossos insignificantes seres, em Sua memória? Sois menos favorecidos em Sua vista do que os pardais, o milho e as aranhas? Por que, como eles, não recebeis os vossos presentes e não vos ocupais com vossas tarefas sem muito alarido, sem dobramentos de joelhos, e extensão de braços e sem ficardes ansiosos a espiar o amanhã?

E onde está Deus para que preciseis gritar nos seus ouvidos os vossos caprichos e as vossas vaidades, vossos louvores, vossas queixas? Não está ele em vós e em tudo ao redor de vós?

Não está o Seu ouvido muito mais próximo de vossa boca do que o está vossa língua do vosso céu da boca?

Basta a Deus sua divindade, da qual tendes a semente.

Se Deus, tendo-vos dado a semente de Sua divindade, tivesse que cuidar dela ao invés de vós, qual seria a vossa virtude? E qual será o trabalho de vossa vida? E se vós não tiverdes trabalha algum a executar, mas Deus precisar executá-lo para vós, que sentido terá, então, a vossa vida? E de que valerão todas as vossas preces?

Não leveis a Deus as vossas inúmeras preocupações e esperanças. Não Lhe peçais para abrir as portas das quais Ele vos deu as chaves. Mas buscai-as na vastidão de vossos corações, pois na vastidão do coração se encontra a chave de todas as portas. E na vastidão do coração estão todas as coisas pelas quais tendes sede e fome, sejam do bem ou do mal!.

Um poderoso exército aguarda o vosso chamado e atenderá imediatamente ao vosso mais leve apelo. Quando devidamente equipado, sabiamente disciplinado e corajosamente comandado, poderá saltar eternidades e destruir todas as barreiras que se opuserem ao seu ideal. Quando mal equipado, indisciplinado e timidamente comandado, ele ficará vagando inutilmente ou se retirará com rapidez diante do menor obstáculo, arrastando atrás de si a mais negra derrota.

E não é outro, esse exército, ó monges que aqueles diminutos corpúsculos vermelhos que estão agora, silenciosamente, a circular em vossas veias; cada um deles um milagre de força, cada um deles um registro completo e exato de toda vossa vida e de toda Vida, nos seus mais ínfimos pormenores.

É no coração que este exército se reúne, pois o coração é que faz o seu treinamento. Eis porque é o coração tão famoso e tão reverenciado. Dele brotam as vossas lágrimas de alegria e de tristeza. A ele acorrem os vossos temores da Vida e da Morte. Vossos anseios e vossos desejos são o equipamento deste exército. Vossa Mente é que o disciplina. Vossa Vontade, seu instrutor e comandante."

http://www.youtube.com/watch?v=_gzLB6GgGUA#ws

fonte: despertandonaluz