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  • Sozinho?...
    Iniciado por magikmike
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Acordei. Não sei porquê. Aliás, sei a razão porque despertei de um sono profundo. Foi o calafrio que nos dá a entender que algo está errado. O despertador na mesa de cabeceira marca 03:30. Estou deitado de lado, mesmo junto à berma da cama e não me atrevo a rolar para o centro. Porquê?
Há algo deitado a meu lado.
Sinto a pressão que faz nos lençóis, oiço a sua respiração pesada, mas para além disso...sinto o frio. Um frio intenso que me aperta, que me envolve, embora esteja completamente embrulhado nas mantas.
Engulo em seco. Deixo-me estar o mais quieto possível. O que quer que seja que está ali ao meu lado parece estar a dormir. Não existe razão nenhuma para aquele ser se encontrar na minha cama, junto de mim. Vivo sozinho. Não tenho animais de estimação. Não recebi visitas, nem fatídicos encontros de uma noite. Mas então...
Quem está ali?
Envolvido nestes pensamentos, apercebo-me que o intruso pode ser perigoso, um ladrão bêbedo que adormeceu na minha cama, um raptor, um assassino...
Este último palpite enche-me de um pânico indescritível que me faz saltar da cama para o chão, ao mesmo tempo que jogo a mão ao interruptor do candeeiro da mesa de cabeceira, e constato com crescente terror que...
...não há ninguém deitado na minha cama!
Abafo o grito que surge, a minha respiração acelera, e com a adrenalina a correr ao máximo nas minhas veias, levanto os lençóis e espreito por debaixo da cama, confirmando o que já esperava. Nada. Ergo-me, atento a qualquer movimento suspeito, sabendo no entanto, bem no meu íntimo, que era impossível alguém ter tamanha rapidez para se esgueirar do meu quarto nos segundos que demoraram estas ações. Por momentos não me mexo e penso no que realmente aconteceu. Faço desenrolar toda a fita na minha cabeça e o meu cérebro enche-se de dúvidas. Terá mesmo isto acontecido? Não estaria eu a sonhar que acordava com alguém deitado a meu lado? É verdade que os sonhos por vezes se tornam tão realistas que a barreira que os separa da realidade é fina como papel, um pequeno rasgo e deixa de existir.
Saio do quarto e dirigo-me à casa de banho, abro a torneira do lavatório e passo a cara por água. O fresco inesperado tem o efeito pretendido, levanto a cabeça e miro-me ao espelho, a luz que sai do meu quarto reflectida ao fundo do corredor.
"Tens que te ir deitar, tens que descansar, senão amanhã não aguentas o dia de trabalho", penso. "Amanhã? Daqui a umas horas!"
Fecho a torneira, limpo a cara, um último olhar ao espelho e o meu coração quase que pára.
A luz que saía do meu quarto apagou-se repentinamente.
Volto a sentir o calafrio, começo a tremer, pois agora tenho a certeza que estou bem acordado e não é a ~treta~ de sonho nenhum! E no mesmo momento tudo desaparece, dou por mim a sorrir, meio estúpido. "A lâmpada fundiu-se, claro! Querias que fosse o quê? Toda esta situação está a pôr-te num estado de nervos desnecessário. Com isto tudo estás é a perder horas de precioso sono".
Ainda com um sorriso nos lábios, saio da casa de banho e a meio do corredor, o meu sorriso desvanece-se.
A luz volta a acender-se.
Páro. "Ok...ok...tens mesmo alguém em casa. No teu quarto. E agora?"
Enquanto decido o que fazer, um ruído surdo chega-me aos ouvidos. Parece um arrastar de qualquer coisa, um som abafado, como...como...
...pés que se arrastam pelo chão.
Sinto que abro a boca, mas nem um som eu liberto. Um grito mudo que não ecoa pelo corredor. Recuo devagar, olhos postos naquela chama de luz que se espalha pelo chão, ao mesmo tempo que vejo (sim, vejo!) uma sombra surgir, esbatida no chão, que cresce, à medida que se aproxima do corredor.
Volto a entrar na casa de banho e fecho a porta, trancando-a. Um terror indescritível apodera-se de mim, um medo absoluto, enquanto aquilo se arrasta do outro lado, pelo corredor, o som cada vez mais perto, vindo ao meu encontro. Encolho-me, encostado ao lavatório, de frente para a porta, o arrastar continua...está mesmo do outro lado, oiço até uma respiração pesada, um arfar profundo. Mãos (?) arranham a porta, começo a gritar de desespero, do outro lado o arfar torna-se num gemido horroroso, de algo que quer entrar. Deixo de gritar, apenas sons roucos saem da minha garganta, toda a minha sanidade mental é posta à prova e quando penso que já não aguento mais, tudo pára. O gemido. O arranhar. Tudo desaparece subitamente, como se fosse um rádio em que alguém simplesmente tivesse pressionado "off". O meu coração bate num compasso que nem sabia que seria possível. Todo o meu corpo treme, estrilhaçado por esta experiência surreal. Continuo sentado, encolhido na minha pobre existência, sem coragem de abrir a porta e enfrentar o que quer que seja que, poderá ainda, estar do outro lado. À minha espera. No silêncio. Aguardando pacientemente que eu saia do meu abrigo.
Subitamente a escuridão envolve-me. Novo terror. Novo pânico. A luz da casa de banho (onde estou, raios!) apaga-se.
Sustenho a respiração, atento a qualquer som, qualquer ruído. Apenas vejo um ponto de luz minúsculo, uma nesga do buraco da fechadura. Aproximo-me lentamente, gatinhando, tentando evitar todo e qualquer ruído, com o propósito de espreitar, na esperança de que aquilo tivesse desaparecido. Nada. Apenas a luz do meu quarto ao fundo do corredor. Afasto-me um pouco e jogo a mão à chave, rodando-a lentamente, cada estalido parecendo um foguete rebentando e ecoando no corredor vazio. Quando me preparo para abrir a porta, o meu coração gela. A respiração...oiço-a novamente, gradualmente transformando-se num gemido, bem audível, bem perto, bem...
...ali ao meu lado!
Está aqui comigo, junto a mim, no escuro!
O pânico controla-me, o terror conduz-me, faz-me abrir a porta em desespero, sinto mãos que me agarram e me puxam de volta para dentro, todo o meu corpo agita-se numa tentativa vã de se libertar. As minhas mãos tocam em algo húmido, um cheiro a coisas mortas invade-me os sentidos, sinto cabelos, oiço aquilo chamar o meu nome, a minha mente entra em colapso, dá-se o choque final e tudo termina. Tudo desaparece. Numa fração de segundo. Acordo a gritar, na minha cama, envolto em suor, o meu coração num ritmo alarmante, a minha respiração desenfreada, todo o meu corpo a tremer. Olho para o despertador. 05h00. Tento acalmar-me, há muito tempo que não tinha um sonho deste tipo, tão impressionante, tão real.
Levanto-me da cama e saio do quarto, esta experiência leva-me a acender todas as luzes da casa, a claridade dando o conforto que tanto preciso. Dirigo-me à casa de banho, ainda com as imagens do sonho na cabeça e páro, todo o meu ar é sugado de dentro de mim.
A porta da casa de banho está toda arranhada! Rasgos profundos na madeira sólida provam que realmente algo aconteceu. E que foi aquilo? Um som? Parece que ouvi algo...
Viro-me de repente, mas as luzes apagam-se neste momento, deixando-me indefeso na escuridão do corredor. Um cheiro estranho chega-me ao nariz, um odor a pôdre, algo se arrasta em direção a mim, gemendo, murmurando o meu nome. Sinto mãos húmidas que me tocam, um manto de cabelos cobre-me, à medida que me encolho no chão e espero que tudo acabe e que volte a acordar, seguro, na minha cama novamente.

                                                                         

                                                                          FIM

Muito bom! Parabéns!!  :)

Fantástica descrição  ;)

Porque por vezes muitas palavras dizem muito pouco digo apenas:

PARABÉNS
Não me trates por VOCÊ!!!
Respeito mais tratando-te por TU do que tu a tratares-me por VOCÊ!

Soberbo, mas preferia ter lido amanhã durante o dia, caramba, até olhei para o lado a ver se estava alguma coisa aqui no quarto, és um artista, muito bem escrito, prende mesmo até ao fim e assusta que se farta  ;D

Parabéns
O equilíbrio consegue-se entre o que é espírito e o que não o é.

Obrigado pessoal, ver se encontro inspiração pra escrever outro conto.  ;)

Mas que fantástico. Já tinha saudades de ver esta página, pela qual tenho um carinho especial,  assim arejada. Parbéns

Abraço

Templa
Templa - Membro nº 708