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  • Quando as personagens saltam dos livros
    Iniciado por Templa
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Não. Hoje não quero ser azeda. Quero ser mel em que apeteça por o dedo e lamber, soltando um ah! de prazer,  que se prolongue no ar por segundos. Porquê amargura, se tenho um livro inteiro só para mim?!... Nada me fará entrar na acidez do limão, hoje que o Ramon saltará das suas páginas para finalmente eu o conhecer.

Não sei se lhe deva dizer que a Frederica é profundamente infeliz, censurando-o também pelo seu silêncio de anos, depois de a filha ter caído da bicicleta. Talvez não precise. A vida já o castigou bastante, quando lhe roubou a única mulher que amou, esmagando-a ali à sua frente, sob os rodados do camião cinzento, depois de ela ter ido consultar a vidente Fortuna. A mulher viu-lhe uma morte na palma das mãos . Não sabia de quem, não vira o rosto do condenado.

Estela pensou que fosse Ramon e correu para o salvar. Queria mudar o destino.

Depois,  ali ficou sozinho com o Ramoncito. Isso despertou-o, por fim, para o seu egoísmo. Helena nunca conseguira tal coisa.  Ou talvez aquela tragédia o  fizesse confrontar-se consigo próprio e com o medo que o amor sempre lhe inspirou.

Enquanto espero por ele, apetece-me dizer a Frederica que a Estela morreu e que tem outro irmão do outro lado do mundo, no Chile,  de que ela mal se recorda. A mãe obrigou-a a abandoná-lo quando tinha simplesmente sete anos, com as suas recordações da infância e a caixa da borboleta que o pai lhe dera um dia de presente, quando regressou de uma das suas intermináveis viagens.

Não. Não lhe vou dizer nada. Seria contraproducente. Ela já sofreu demais. Dizer-lhe que o pai, praticamente, a substituiu no coração pelo rapazinho que nem sequer conhece, seria demasiado duro para ela. Sobretudo quando o seu casamento não passa de uma gaiola dourada, de que dificilmente sairá sem sofrer bastante mais.

Talvez devesse desmascarar a Helena, a mãe. Foi ela quem impediu Ramon de ver a filha, quando ela lhe enviou aquele grito de socorro, depois de Helena ter decido casar com o Artur.  Frederica nunca soube disso E também nunca suportou aquele padrasto barrigudo. Infelizmente, a mãe também não, embora se recuse a admiti-lo. Ramom foi o seu único amor. Desiludiu as duas. Abandonou-as demasiadas vezes. Até que ela se cansou....

O melhor é abanar um pouco a Frederica, chamando-a à razão para a estultícia do Torquil. Talvez até nem seja preciso muito, agora que ela começa a perceber que o esbelto e rico marido não passa de um homem sem escrúpulos. Ainda não sei bem, mas desconfio que até é estéril. Se não o for de nascença, deve ter apanhado uma dessas doenças que o deixou imprestável para procriar seja com quem for. Nem sequer com a amante de anos,  com quem trai Frederica,  na própria cama de ambos. A última vez foi na única ocasião em que a deixou ir à Cornualha. Diz que lá toda a gente é demasiado parola para os seus padrões. Foi no  funeral do Nuno, quando foi de carro, escoltada por um motorista que não passa de mais um espia de Torquil...

É melhor que o Ramon se apresse. Já vai sendo tempo de eu o conhecer e de ver ao vivo o homem por quem Helena se apaixonou nas falésias da Cornualha, quando ele tirava fotografias aos recantos onde os contrabandistas  escondiam os bens contrabandeados. Foi ela que lhe sugeriu essa história para o National Geographic...Finalmente Ramon chegou.

É um homem moreno, alto,  de olhos negros profundos agora encovados,  depois de tantas lágrimas derramadas por Estela,  e os cabelos, outrora negros, compridos  e lisos, continuam longos mas têm agora tantos fios de prata que o fazem parecer um velho. E é um velho. Pelo menos é assim que se sente. Velho.  Viveu demais... Mas ainda é bonito e vai com certeza reacender a chama que nunca se extinguiu no coração de Helena.

Eu não torço por ela. Torço por ele,  apesar de não aprovar nem um pouco o que ele fez com os miúdos. Concordar que fiquem juntos,  seria  condená-los aos dois, que não foram feitos um para o outro. Há casamentos que não nasceram para dar certo e o deles é o exemplo disso.

Tenho de pôr Ramon ao corrente do que se passa com a filha. Digo-lhe que é tempo de se redimir aos olhos dela,  depois de catorze anos  de abandono,  e vou alertá-lo também para as mágoas que a preferência dele  pela garota plantou no coraçãozito do Hal. O filho mais novo dele e de Helena sofre,  inconscientemente,  é certo,  por o pai nunca o ter levado à praia, quando, vindo das suas imensas viagens, se escapulia  com Frederica para a praia, deixando-o a brincar com o ridículo comboio que um dia lhe dera de prenda. Mas, agora, a urgência tem a ver com a Frederica. Ramon tem de a salvar das garras do marido. Não sem antes  saber da paixão da filha por Sam, que já vem da infância,  quando o rapaz, já matulão, a salvou do lago,  onde a garota quase morreu afogada. Ela sempre gostou de homens mais velhos. Devia lembrar-se do pai...

Frederica e  Sam têm de ficar juntos. E ficam,  porque eu não resisti e fui ver o final do livro . Mas era bom que Ramon desse uma mãozinha...Não sei se vai dar ou não. Se fosse eu a escrever o romance, embora não o fizesse com a mestria da autora, colocava-os nos braços um do outro, punha-os a chorar as lágrimas contidas num e noutro,  durante aqueles anos todos,   e ficavam, ele mais ou menos feliz – ninguém poderá ressuscitar a Estela... – e ela completamente feliz, sem nunca mais precisar de se reconfortar com A caixa da Borboleta.

É melhor que o Ramon vá sem demora para Londres...Vou levá-lo ao aeroporto...  

Entretanto,  vou continuar a ler o romance...
Templa - Membro nº 708

Bom. Já sabem que eu gosto muito de escrever. Escrevi isto para o meu blogue e...

Entre tantos foristas há alguns que devem apreciar, mesmo que saia um pouco do tema do Paranormal. Ou nem tanto, dada a velha Fortuna,  que lê as mãos,  e os sonhos premonitórios de Estela. Foi por causa de um, em que viu a morte de alguém, que ela foi a casa de Fortuna.
Se acharem que não se adequa, digam
Templa
Templa - Membro nº 708

Templa, o material colocado nesta categoria não tem de estar relacionado com o Paranormal.

Continue a colocar e a maravilhar-nos com as suas escrituras! :)

É sempre bom ouvir um estímulo. E,  últimamente, é o que não me tem faltado. Daí a minha produção estar, mais ou menos, em alta. lol

Obrigada Ice.

Abraço

Templa
Templa - Membro nº 708

Queria pedir-te um coisa Ice, por favor não me trates por você. Que diabo?!, não sou assim tão cota- Lol

Abraço

Templa
Templa - Membro nº 708


Mais uma vez adorei a tua historia ;D

tens um jeito nato para escrever,por favor

não deixe nunca de o fazer  :up: :yes:

continua assim :-* :-* :-*


Citação de: Templa em 25 setembro, 2009, 15:19
Queria pedir-te um coisa Ice, por favor não me trates por você. Que diabo?!, não sou assim tão cota- Lol

Abraço

Templa

Está bem. Fica combinado ;)