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  • Lendas das Calendas gregas
    Iniciado por TEOCIDA
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LENDAS DAS CALENDAS GREGAS



O imaginário popular da Baixada Ocidental Maranhense é muito rico em crendices, simpatias e superstições. Conforme me confidenciou o professor Douglas, é propósito seu produzir um livrete abordando o tema em questão. E o universo eleito pelo mestre será, justamente, a Baixada Ocidental, tendo como foco, Pinheiro.
Com efeito, para compreendê-los melhor, é bom que se faça uma diferenciação entre estes três componentes do nosso sincretismo religioso:
Crendice: é a crença em entidades míticas. Que podem ser: curupira, saci-pererê, mãe-d'água etc. Esses deuses inferiores (semones) são heranças das nossas raízes afro-indígenas, ou mesmo lusitanas, como é o caso do saci.
Simpatia: é um conjunto de regras, sem um legislador que o tivesse instituído. Seus conhecimentos são repassados boca a boca, tal como uma obra apócrifa, de autoria desconhecida. Mesmo assim, àquele que experimentar as ditas leis, ser-lhe-ão assegurados supostos benefícios. Ainda hoje, na zona rural, distantes da assistência do poder público, os roceiros ainda recorrem às simpatias para tentar "resolver" seus problemas humanamente insanáveis. E é no curandeirismo onde esses rituais são mais praticados. Quando apresenta soluços prolongados, o bebê tem seu tórax percorrido pelos testículos do pai e, quase sempre, o espasmo acaba sendo extinto. Sob o ponto de vista psicanalítico, o ato não carreia nenhum fluído sobrenatural; ele nada mais é que um "estímulo" para atrair as vibrações mentais de todos ali presentes. Ou melhor: trata-se duma espécie de vibração grupal ou verve em prol da saúde do nenê.
Superstição: é uma "armadilha" ativada à espera de um incauto. Ao contrário da simpatia, o crendeiro não a procura, ele cai acidentalmente nela. Depois de transgredi-la, só resta à "vítima" tomar as medidas que anulem os efeitos negativos. Esta, por vezes, tem caráter repressivo e segregacionista. Os pais utilizam-na para intimidar seus filhos: "se você não tomar a mamadeira, a lula vai pegá-lo!" Os "superiores usam-na para depreciar os "inferiores". Um exemplo bem brasileiro dela, como instrumento de preconceito: no dia primeiro do ano, ao levantar da cama, não é aconselhável dar de cara com um indivíduo de cor negra; o supersticioso poderá levar um ano de azar.
1 - Faz poucas décadas, ao oeste de Pinheiro, um boateiro (não se sabe quem) espalhou um verdadeiro pânico, público. Ele conseguiu convencer as comunidades crédulas de que:
Estaríamos chegando para o final dos tempos. O sinal já teria sido dado pelo diabo. Este abrira o portão do inferno e havia liberado três megeras: peste, desgraça e miséria. O trio já estaria em campo, batendo de porta em porta para marcar os moradores com o signo 666. Contudo, nem todas as pessoas estariam entregues ao deus-dará. Ainda lhes restava um repelente. Naquelas casas onde houvesse uma tabuinha escrita a carvão: Jesus Maria José, aqueles lares estariam isentos da visita das três infernais. Mas, atenção: a placa com o esconjuro deveria estar localizada na frontaria da residência. Para se obter o carvão, dever-se-ia escavar debaixo do pote, lá estaria o carvão disponível.
Rapidamente esse trote grassou por grande parte da nossa municipalidade. Às vezes, só para encher o saco, chegava um impostor à porta duma moradia e simulava uma chamada murmurosa: "Ei, de casa!" Prontamente vinha uma voz lá de dentro retrucando: "Aqui tem Jesus Maria José!" De tanto os enganadiços esperarem pelas emissárias de satã, sem que elas viessem, as tabuinha acabaram na caieira, virando carvão também.
2 - Durante a primeira metade da década de oitenta, o pescado, prato típico do cardápio pinheirense, tornou-se vasqueiro. Tudo por conta de umas bolas de fogo que raptavam(abduziam) e até queimavam pescadores em seu mister. Os "aparelhos", como ficaram conhecidos aqui, chegavam de surpresa, presumidamente, atraídos pela luz da piraquera (peixe dormindo, em tupi-guarani). Ao tempo em que desciam alguns alienígenas, quando se iniciava o tormento. A base terrestre das fantásticas espaçonaves ficaria na Ilha do Caranguejo, próximo a São Luís. Tais aparições foram objeto de investigações de ufólogos nacionais e estrangeiros. As conclusões a que chegaram, pertencem ao sigilo profissional dos caçadores de enigmas.
Os aparelhos descritos pareciam ser uma versão extraterrestre da nossa legendária curacanga, tema de muitas fábulas dos pescadores baixadeiros. Hoje já se sabe que a curacanga é o próprio fogo-fátuo, produzido pela combustão espontâneo do metano (grisu) em contato com o oxigênio atmosférico. O curioso é que o termo, curacanga, é usado apenas nesta região. No Amazonas e na região norte inteira, o similar da nossa diabrete é o boitatá (cobra de fogo, em tupi-guarani). Aqui, tudo nasceu duma lenda: mulheres que apresentam vínculos no pescoço são predestinadas a virar curacanga. Às meias-noites, as cabeças dessas mulheres se desprendem de seus corpos e saem vagando sob a metamorfose de uma bola de fogo. Daí, o nome curacanga, da deturpação fonética(corruptela ou dissimilação) do tupi-guarani – cunhãacanga – cabeça de mulher. E existe até uma receita para quem quiser descobrir a mulher penitente. Quando alguém se defrontar com um fogo oscilante, se deseja revelar sua identidade humana, ofereça-lhe uma agulha virgem. A primeira mulher que for, na manhã seguinte, pegar a oferta, essa é a "bruxa". A nossa região é repleta de duendes e crenças: umas são telúricas, outras são importadas. Aquelas de menor importância vão-se perdendo ou se desvirtuando pelo subjetivismo da memória oral.
Estas "estorinhas da vovó" também são guardiãs da nossa identidade cultural. São os antídotos que nos fazem escapar da condição de robôs. Agora mesmo, a sociedade norte-americana, bombardeada de tanto tecnologismo, está na iminência de um ataque de nervo. Alerta dos psiquiatras.
E depois, o que seria da vida sem uma ilusão? _ Quem vive sem a utopia/ De um outro mundo além/ Sofre mais, pois já sabia/ Com bastante antecedência/ Que esse tal céu prometido/ É papo para iludir/ Os que ficam aqui vivendo.

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