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  • Preciso de opinião de entendidos em Umbanda e Candomblé
    Iniciado por sniperDemon
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Bom dia a todos!

Então é o seguinte, eu tenho andado com alguns problemas na minha vida, o pior deles uma doença grave que atingiu a minha mãe, e ao comentar isso com uma amiga brasileira que fez Erasmus cá em Portugal ela sugeriu colocar-me em contacto com um "Bàbàlòrixà" que segundo ela a tem ajudado muito. Assim fiz. O tal Bàbà está no Brasil mas ela deu-me o telefone dele, falámos por whatsapp e combinamos em fazer-me um jogo de búzios à distância, para o que me pediu o nome de baptismo completo e datas de nascimento, meu e da minha mãe.

Dois dias depois enviou-me um longo texto com o que tinha visto na consulta. Apesar de algumas referências um bocado vagas acertou com precisão em muita coisa, até algumas que eu não lhe tinha pedido para ver e não haveria maneira de saber pois ou eram irrelevantes para o caso ou eu próprio não me tinha lembrado de mencionar.

Depois, claro, questionei o que poderia ser feito para ajudar na situação. E é aqui que preciso da vossa ajuda. Em relação a mim disse que há boas oportunidades (indicou até algumas em concreto que fazem sentido) mas que caminham lentamente porque eu preciso de cuidados espirituais e de cuidar dos meus orixás e para isso é necessário "dar de comer" ou "fazer um oro" a exu. Usou as duas expressões. Eu confesso que não conheço muito sobre as religiões afro-brasileiras, por isso pergunto àqueles de vocês que sabem, isto é algo que faça sentido numa situação destas? É algo que se possa fazer à distância? Eu deverei ter algum papel interventivo ou é só deixá-lo fazer?

Quanto à situação da minha mãe, mais uma vez tocou alguns pontos muito específicos mesmo em cheio e disse que o problema dela para além de médico é espiritual e precisa de "uma limpeza e um bom bori para fortalecer o seu anjo da guarda". Mais uma vez, sou um perfeito leigo nestes assuntos mas segundo o que pesquisei um "bori" é feito como parte de um ritual iniciático. Também poderia ser usado para ajudar com uma questão de saúde? E, mais uma vez, seria algo que funcione assim feito à distância?

Agradeço opiniões que me possam dar. Até agora não tenho motivo para desconfiar do Pai de Santo, pesquisei o que pude sobre ele e não encontrei nenhumas referências negativas para além de que na consulta de búzios até foi bem preciso e falou de algumas coisas que acertaram em cheio. Mas, claro, como não percebo nada destes assuntos antes de aceitar fazer qualquer outra coisa gostaria de saber se isto faz sentido e se realmente se fazem estas coisas para estes problemas.

Obrigado!

Tokobá de Xango
Bom dia.
Vou tentar explicar o que pode ser explicado.
A começar pelas definições.
"Dar de comer", mais precisamente, "dar de comer a um Orixá" -- Significa preparar uma refeição para um determinado Orixa. No Candomble, não há essa coisa de alma e corpo serem diferentes, não há essa coisa de energia e matéria serem universos separados. No Candomble, matéria e energia são duas faces de uma mesma moeda. No Candomble e na física depois do Einstein (que percebeu que toda a matéria contem energia). Assim, quando queremos evocar, pedir ou apenas celebrizar um Orixa, usamos a mesma matéria que usamos para nos manter: comida. Por isso, o Pai de Santo, ou Baba (quer dizer Pai) falou em "dar de comida". E sim, faz todo os sentido, ser para Exu. Exu faz a ligação entre os humanos e os Orixás. É o Dono dos caminhos e das encruzilhadas, assim, se o teu caminho está atrasado, ou bloqueado, faz sentido, "dar de comer", ou fazer um "agradinho" a Exu, explicar a situação e pedir ajuda. Exú, ajuda. Exú é bom. As vezes as pessoas ignorantes confundem as coisas e baralham conceitos. Exú é do bem sim... simplesmente é um Orixá muito assertivo e directo... e isso assusta algumas pessoas.
Fazer um Oro -- é um acto diferente de dar comida, que pode incluir dar comida mas tem sempre uma componente de "festa". Um Oro é uma celebração. No Oro, reza-se, canta-se, eventualmente dança-se para o Orixá. Oro inclui algumas oferendas, podem ser simplesmente flores, mas normalmente, inclui a comida que falamos acima. Em alguns Terreiros, em algumas Casas de Candomblé, há pais de Santo que "dão comida" a um Orixa e "fazem os pedidos" para um cliente com essa comida; noutras casas, ou mesmo noutras situações, é preciso fazer um Oro, portanto uma cerimonia mais completa para "fazer o pedido". Vai depender da situação em concreto. E sobretudo do que o Orixá pediu que se fizesse no jogo de buzios.
Sobre Bori. Ou mais correctamente Ebóri. Que vem da junção das palavras Ebó de Ori, que pode ser traduzido como "trabalho para a cabeça" (ebó= trabalho espiritual; ori= cabeça). É sim um ritual de iniciação. E sim, também se pode fazer para ajudar numa situação de saúde. O que o Ebori, ou Bori faz, na realidade é alimentar a "cabeça" da pessoa. E quando se diz alimentar a cabeça, quer dizer reforçar a capacidade mental dessa pessoa. Ora esta cerimonia é imprescindível para iniciar alguém no Candomblé e os filhos de santo devem fazer um ritual destes regularmente, tipo todos os anos se trabalharem espiritualmente, ou ano sim ano não...
Quando se faz um bori a alguém que esta doente, estamos a reforçar a sua capacidade e sobretudo a sua "vontade" se se curar e o seu "querer".... muito importante na luta contra a doença.
Sobre fazer a distancia.
Dar de comida ao Orixá, ou fazer um Oro, pode ser feito a distancia sim. Tranquilamente. No dia em que o Pai de Santo, ou Baba, fizer, deve avisa-lo, e explicar o que deve e não deve fazer durante esse dia e os dias seguintes... E sim funciona.
Um bori feito a distancia, na minha ignorância, não conheço, mas não digo que não possa ser feito. Se a pessoa com quem falou, lhe disse que fazia a distancia é porque consegue fazer e "transferir" a energia das ofertas feitas ao Ori da sua mãe para a "cabeça da sua mãe".
De qualquer maneira, acho que esclareci mais um bocadinho.

Citação de: Tokobá de Xango em 18 fevereiro, 2019, 09:57

De qualquer maneira, acho que esclareci mais um bocadinho.


Sim, muito. Muito obrigado pela explicação.