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  • Paula
    Iniciado por MissB
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MissB
- Faz hoje um ano que perdi a alegria! -, pensou Paula no exacto momento em que acordou. Há um ano que andava deprimida, sem alegria, num estado de coma social e alienação total. Paula não conseguia sorrir, toda a sua vida, tanto profissional como pessoal, estava gravemente afectada pelo acontecimento naquele triste dia de Dezembro.
Paula levantou-se e enquanto fazia a sua rotina diária em piloto automático, pensou, pela primeira vez, em todos os detalhes do dia que lhe tinha roubado a alegria de viver.
Nesse dia, Paula tinha acordado bem disposta, estava no último ano da faculdade, o Natal estava próximo e os exames ainda longe. Pouco depois o telemóvel tocou. Era a Joana, a sua melhor amiga desde a infância. A Joana parecia assustada, mas não queria falar do assunto ao telemóvel. Foram tomar o pequeno almoço juntas. Entre torradas, leite e alguns soluços, Joana lá desabafou: - Estou grávida! Não sei o que vou fazer!
Paula também não! Por um lado, apetecia-lhe descascar a Joana por ter deixado isso acontecer, por outro, pensava que o melhor seria apoiar a amiga, pois problemas já ela tinha de sobra.
No fim da manhã, deixou Joana em casa do namorado, para que os dois pudessem conversar e tentar chegar a uma solução. Ao final da tarde, recebe uma sms de Joana "olha, a tua mãe que é médica não me podia arranjar uma receita para o medicamento XPTO? Dizem que é para as úlceras, mas que tem efeitos abortivos. pfv amiga, é tudo que te peço".
Paula não sabia o que fazer. Na sua vontade enorme de ajudar a amiga, lá conseguiu a receita. Nunca se sentiu bem por o ter feito, mas o pior estava ainda por acontecer.
Nessa noite, Paula já a dormir recebe uma chamada do namorado da Joana. - Preciso de ti! A Joana tomou o medicamento, sentiu-se mal e foi para o hospital.
Quando chegou já era tarde, Joana tinha tido uma hemorragia grave e devido ao seu estado, não tinha resistido.
Não se recorda como regressou a casa naquela noite, só se recorda de nunca mais ter sorrido, nunca mais ter dormido uma noite sem pesadelos. Não falou com ninguém, nunca revelou que fora a fonte do medicamento, e tanto quanto sabia, o namorado de Joana também nunca falou no sucedido. Cada dia que passava, a angústia e a culpa cresciam dento de Paula. Queria terminar com a sua vida, mas não teve coragem.
Naquele dia, o dia em que fazia um ano, Paula tomou uma decisão: Iria ao cemitério pela primeira vez, prestar a sua homenagem a Joana. No fundo, Paula sentia que tinha sido culpada da morte da amiga e nunca foi capaz de lidar com essa culpa.
Vagueou pela cidade enquanto ganhava coragem, e, por fim, lá entrou no cemitério. As pernas tremiam, quase não conseguia andar, e um peso enorme no peito impedia que respirasse normalmente, estava pálida, sem cor, sem vida. Ao ver a campa de Joana, começou a chorar desalmadamente. Sentou-se no chão e teve que fechar os olhos pois não conseguia olhar para a fotografia da amiga sorridente, que estava na lápide. Ao fim de muito tempo conseguiu acalmar-se, e, embora não fosse pessoa religiosa, começou a rezar. Pediu que a amiga lhe perdoasse, pediu que a amiga estivesse bem, onde quer que fosse que estivesse. Voltou a chorar, e, enquanto chorava, ouviu um ligeiro sussurro: - A culpa não é tua! - Paula assustou-se, não estava ninguém perto de si! Teria imaginado? Novamente, um sussurro: - Não era para nascer, nem eu para viver!
Paula começou a correr assutada, correu durante muito tempo, sem rumo, sem pensar, apenas assustada, e muito! Sentiu-se mal, desmaiou desamparada na rua. Quando acordou estava no hospital, uma enfermeira sorridente olhava para ela. - Que se passou? - perguntou. A enfrmeira sorriu - A menina sentiu-se mal, mas já está tudo bem. Consigo e com o bébé. Paula fica incrédula! - Desculpe, disse bébé? A enfermeira sorriu e acenou com a cabeça - Vou chamar o médico menina, é melhor.
Enquanto aguardava o médico, Paula começou a pensar no que tinha acontecido durante o dia, a ida ao cemitério, a voz, o desmaio... De repente, tudo fez sentido! Procurou o telemóvel e ligou ao namorado. - Estou grávida! - O namorado, atarantado responde: - O quê? Então e agora? - Paula respirou fundo e sorriu. - Agora? Agora vou ser feliz!

Já te dei os parabéns noutro lado. Continua que escreves muito bem.

Bjs.
Templa - Membro nº 708

MissB
Obrigada :) Este surgiu hoje de manha no duche... embora ficção, parte é inspirado numa amiga.

Parabéns MissB, excelente texto !
Na verdade, em um sentido mais profundo, nem nascemos e nem morremos. São as identidades e sonhos que vão mudando...

MissB

olha olha, mais uma menina bonita e  que sabe escrever coisas lindas.

Miss B, continua lindona porque levas a bom porto as tuas plavras escritas.

Um destes dias falamos mais a sério as duas tal como fiz já com outras pessoas daqui do PP.

Margarida
Sou como sou, quem gosta, muito bem.
Quem não gosta, paciência!
Viva a liberdade de escolha!


Que história tão bonita e comovente!adorei,é linda!parabéns! Beijinhos :)


Muito bonita ;D

continua :-* :-* :-* :-*

Citação de: MissB em 11 dezembro, 2009, 17:45
Obrigada :) Este surgiu hoje de manha no duche... embora ficção, parte é inspirado numa amiga.

Os melhores escritos têm sempre algo de realidade.
Templa - Membro nº 708

MissB
Obrigada a todos :)
beijinhos***