Bem-vindo ao Portugal Paranormal. Por favor, faça o login ou registe-se.
Total de membros
19.508
Total de mensagens
369.625
Total de tópicos
26.967
  • Emília Agostinho e a morte do seu filho
    Iniciado por Paraphenomenal
    Lido 6.002 vezes
0 Membros e 1 Visitante estão a ver este tópico.


É uma história verídica de 2012 em Portugal, que desconhecia, e que deixa muito a pensar  :-\
Leiam e deem a vossa opinião:

No Verão de 2012, a jornalista do PÚBLICO Andreia Sanches encontrou-se com Emília Agostinho para ouvir o testemunho de uma mãe que perdeu um filho. À história de Emília seguiram-se outras, e de todas nasceu Os Anjos Não Comem Chocolate, editado pela Oficina do Livro, de que hoje pré-publicamos os dois primeiros capítulos. Um livro que fala da morte, mas sobretudo da vida e da capacidade de "encontrar um sentido. Até para o impensável"


Amanhã vou-me embora para sempre

A primeira vez que ele lhe disse que ia morrer foi em Novembro. Tinha 7 anos. Descia a Avenida da Liberdade agarrado à mão dela.

Enquanto caminhavam faziam um jogo: perdia quem se distraísse e pisasse algum dos desenhos cinzentos da calçada. Por isso, iam atentos ao chão. Às vezes ele apontava para qualquer coisa no fim da avenida e dizia: "Ó mãe, olha ali! Olha!" E ela fingia que se distraía - "Onde, Rodrigo?" -, pisava o desenho cinzento do passeio e Rodrigo ganhava.

Naquela tarde de Novembro saíram de mão dada do Hotel Altis, onde ela trabalhava, e desceram a avenida.

Brincaram - branco, cinzento, branco, cinzento... Depois ele perguntou "porque é que os sinais junto às passadeiras apitam", ela respondeu que era para as pessoas cegas saberem quando podiam atravessar a rua, ele quis saber como faziam, então, as pessoas que, além de cegas, também não ouviam, e ela não soube responder.

Quando estavam a chegar à Praça da Figueira, ele mudou de assunto.

- Mãe, vou morrer.

- Pois vais. Todos morremos. Nascemos e morremos. Mas ainda falta muito para morreres.

- Não, mãe. Eu vou morrer agora.

- Por amor de Deus, cala-te com essa conversa...

- Mas é verdade...

Rodrigo queria ser guarda-redes do Sporting. Gostava de desenhar, de andar de carro com o pai, de sugos, da comida da avó, de fazer cópias e exercícios de "escrita livre", letra muito direitinha. Andava a aprender a tabuada. Tinha amigos, brincava. Era encantador e parecia estar bem. O resto, algumas conversas, algumas atitudes que ela nem sempre compreendia, como se explicavam?

"São coisas de miúdos", disse-lhe uma vez o marido.

Chegou a pensar que talvez devesse levar o filho a um psicólogo. Mas nos anos 80 não era assim tão vulgar ir ao psicólogo.

Esqueceu a ideia do psicólogo.

E naquela tarde ali estava ele, 7 anos, quase 8, bonito, cabelos dourados, de mão dada com ela a descer a avenida.

- Mãe, vou morrer.

- Rodrigo, já viste o que estás a dizer? Eu nem quero imaginar... Deixar de te ver, deixar de te ter ao pé de mim!

- Ó mãe, tu não me vês, mas eu vejo-te. Só passo a ser invisível. Continuo a estar contigo.

- Pára com isso, Rodrigo.

Entraram numa loja.

Emília tinha 34 anos. Era uma mulher bonita, alegre, com uma energia inesgotável. Tinha-se casado com Agostinho 12 anos antes, o seu primeiro amor - um amor que começou no final de um Verão, numas férias de praia, ela com 14 anos, ele com 16, mas que resistiu ao final da década de 60, à falta de vontade dos pais dela de a deixarem namorar tão nova, à passagem dele pela guerra, em África, e tanto resistiu que deu em casamento.

Quando Rodrigo nasceu, sentiu-se a mulher mais feliz do mundo. Nove meses depois atravessaram o Atlântico, foram ao Brasil. As primeiras férias de Rodrigo tiveram vista para Copacabana.

Aos fins-de-semana iam para o Banzão, ou para Colares, em Sintra, rodeados de amigos e de família. E Rodrigo foi crescendo, tinha conversas inteligentes, cativava toda a gente com os seus olhos grandes e a sua expressão "talvez um bocadinho melancólica".

Emília e Agostinho não eram muito ligados às coisas da Igreja. Ela tinha fé. Mas raramente iam à missa. Eram católicos "não praticantes", como se costuma dizer.

Rodrigo era outra coisa.

Costumava dizer à mãe que falava com Jesus e que Jesus lhe contava "coisas". E nas férias, a caminho do Algarve, quando passavam por uma igreja que nunca tinham visto, pedia ao pai para parar o carro, um Mini creme. Insistia que tinha de ver a igreja por dentro. Não, não era nada verdade que as igrejas fossem todas iguais. E lá iam, Emília e Agostinho, à procura de quem tinha a chave da igreja para Rodrigo poder espeitar.

Achava graça, mas não deixava de a desconcertar.

Desde muito pequeno que o filho tinha esse efeito nela. Por vezes, deixava-a sem palavras.

Nas semanas que se seguiram àquela tarde de Novembro de 1986, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, as conversas de Rodrigo tornaram-se mais inquietantes.

Ele dizia que se ia embora, dizia para onde ia e contava como era.

- Vou para um sítio muitoooooo lindooooo. Muito verde.

- Ó Rodrigo... explica -me lá. Vais para um sítio tão bonito... Como é que sabes?

- Às vezes, de noite, vou lá e Jesus já me explicou tudo.

Nenhum dos sonhos que Rodrigo relatava pareciam perturbá-lo. Não há memória na família de algum dia Rodrigo não ter querido ir dormir, de manifestar receio da noite e dos sonhos. Rodrigo nunca teve medo.

O sítio para onde ia era "muito calmo".

A 25 de Janeiro de 1987, Emília convidou uma amiga do filho para passar o dia com ele, em casa. Era domingo. Almoçaram bacalhau à Brás, o prato de que ele mais gostava - e que Emília não seria capaz de voltar a preparar durante muitos anos. Brincaram a tarde toda e, quando a amiga se foi embora, ele saltou para o colo da mãe.

- Foi tão boooommm este fim-de-semana, mãe! Amanhã, vou-me embora para sempre com o meu pai.

- Vais-te embora para sempre com o teu pai?

Coisas de miúdos.

Nessa noite, já na cama, antes de dormir, Rodrigo pediu -lhe que comprasse uma prenda para a professora.

- Mas a professora faz anos?

Não fazia. E o Natal já tinha passado. Mas Emília tinha de lhe comprar uma prenda, porque sim. E teria de ser ela a ir dar-lhe a prenda à escola. Ele não ia estar cá.

Emília despediu -se com beijinhos, boa noite e um "depois conversamos". Mas na manhã seguinte estava mais preocupada com o facto de o filho ter acordado adoentado do que com qualquer conversa.

Deixou-o no colégio. Voltou atrás para lhe dar mais um beijo. Depois seguiu e foi trabalhar incomodada.

Um aperto no coração. Um nervoso. Os colegas no hotel perguntavam-lhe o que se passava, mas ela sabia lá.

Coisas de mãe?

Ligou para a escola. O menino tinha sintomas de estar constipado mas não parecia grave. Ela não achava que ele fosse morrer. Não era isso.

Ligou para Agostinho. Pediu-lhe para ir ver o filho.

O colégio ficava muito perto do banco onde ele trabalhava, em Alcântara, era só lá dar um salto.

- Vai lá.

- Mas eu já liguei para lá...

- Pois, ligar liguei eu também, mas tu estás aí perto, vai lá vê -lo!

Agostinho desligou o telefone e ligou-lhe de volta depois.

Disse-lhe que ia buscar o Rodrigo à escola, que o ia deixar em casa da mãe dela, junto à Avenida de Roma, que era melhor assim, se fosse constipação o menino recuperaria e no dia seguinte estaria bem. Saiu do banco antes da hora de almoço.

Quando recebeu um telefonema de alguém a dizer-lhe que tinha havido um acidente, Emília não acreditou que fosse "uma perna partida, no máximo", como os colegas do hotel, para a acalmar, asseguravam que seria.

As edições dos jornais dessa tarde já trazem a notícia. "Pai e filho morrem em Alcântara" - é o título da primeira página do Diário Popular.

Uma fotografia mostra uma amálgama de chapa e alguns bombeiros a retirarem um homem desfigurado de dentro do que já tinha sido um Mini.

Só no dia seguinte a imprensa trará mais pormenores. E relatará que a "tragédia envolve o neto de Artur Agostinho", o "conhecido homem da rádio e da TV".

fonte: https://www.publico.pt/temas/jornal/quando-o-filho-parte-27058199
ILYM

Há pessoas que sabem quando vão partir.
Quando era miúda, no dia 1 de novembro eu e a minha avó iamos ao cemitério visitava-mos todas as sepulturas de familiares e amigos. Sem estar doente no último ano que fomos juntas virou-se para mim e disse:
-Para o ano já estou aqui. E eu respondi:
-Claro, estamos aqui todos os anos. Eela respondeu-me
-Não, para o ano já vou festejar com eles. Já não passo deste ano.
O certo é que a partir dali começou a definhar e morreu no dia 31 de Dezembro.

Jo
Eu costumo dizer que vou morrer aos 40, não sei bem porquê mas digo sempre isso. Mas ao ler esta história, que desconhecia, assim como a que a romi contou, fiquei emocionada confesso...
Mas acho que quem sabe quando vai partir tem uma forma de ver a vida muito mais calma e pacífica...
Be true to yourself

#3
Vais nada Jô.

Mas por favor NAO andes de Mini.

;)

Riclif

Gratidão pela partilha, não conhecia!

Os que nos rodeiam não entendem e talvez nunca venham a entender porque não aceitam a partida de quem amam.
Eu acredito que nós sabemos quando chega o momento... talvez porque tudo se encacha, tudo se completa. 

Gostei muito, obrigado pela partilha.

De facto, dá muito que pensar.

Por exemplo, esta duas afirmações:
- "Ó mãe, tu não me vês, mas eu vejo-te. Só passo a ser invisível. Continuo a estar contigo."
- "Foi tão boooommm este fim-de-semana, mãe! Amanhã, vou-me embora para sempre com o meu pai."

Se a sequência temporal estiver correcta, parece que a criança passou de "vou morrer mas quero ficar com a mãe" para um "o sítio é tão bonito, afinal depois de morrer vou para ali".

Outra coisa curiosa é que a criança falou só da sua morte, nunca referiu a morte do pai.
Será que "Jesus" se esqueceu de lhe contar esse pormenor? Ou será que o pai não deveria ter morrido e isso só aconteceu porque houve uma alteração na rotina habitual?

Não me parece "correcto" que o suposto-Jesus tivesse tantos cuidados a explicar coisas à criança para no final de contas o pai também morrer e ele não saber ou, um pouco pior, morrer mais cedo do que o previsto porque o rumo natural das coisas foi alterado tanto por excesso como por falta de informação.
"Cedo ou tarde você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho". 
(Morpheus, The Matrix)

Riclif
#7
Cassandra.

Na tua opinião Jesus não deveria ter dado essa informação à criança, não tendo sido na tua opinião correcto da parte dele.
Se reparares na história dos pastorinhos de Fátima, Nossa Senhora também disse ao Francisco que ele iria morrer pouco depois das aparições.
Pelos testemunhos de pessoas ainda vivas e que na altura eram colegas de escola dos pastorinhos, Francisco isolava-se das restantes crianças porque dizia que não valia a pena brincar com os colegas porque Nossa Senhora lhe disse que ele ia morrer dentro em breve..por isso não valia a pena brincar com os restantes.

Também foi correcto da parte de Nossa Senhora ter dado essa informação tão cruel a uma criança?

São estas coisas que jamais irei entender..porque de facto na minha opinião, são informações demasiadamente crueis para serem dadas a criança ou adulto.

Eu penso não ter lido mal... mas!

Ele falou do pai.

"_Amanhã, vou-me embora para sempre com o meu pai."


#9
Achas, Anasus, que ele ia sozinho?

:P

Agora para a audiencia: Ninguem pensou sequer na dor que essa mulher deve ter dentro dela. Perder marido e filho no mesmo dia...  :/

Podia ir sozinho.... porque não Santa M. ??

Eu na minha opinião ele refere-se ao pai dele biológico, mas também se pode estar a referir ao pai "Deus"... talvez esteja.

E tu o que achas Santa?


Riclif
#11
Citação de: Anasus em 16 junho, 2017, 11:44
Eu penso não ter lido mal... mas!

Ele falou do pai.

"_Amanhã, vou-me embora para sempre com o meu pai."



As minhas duvidas são; quem seria o pai de que o menino falava, se seria mesmo Jesus que falava com ele ou se seria apenas alguma entidade, o seu protetor....assim como poderia ter sido uma entidade que foi enviada para o acompanhar no seu desencarne

#12
Citação de: Anasus em 16 junho, 2017, 11:44
Eu penso não ter lido mal... mas!

Ele falou do pai.

"_Amanhã, vou-me embora para sempre com o meu pai."

Eu li isso mas não entendi pai "terreno", entendi Pai "do céu" ;)  A minha avó também se dirigia ao Pai dela, assim como Jesus também parece ter preferido usar a expressão Pai em vez de Deus (provavelmente para não criar confusão com deus).
Naturalmente, não sei a que é que a criança se estava a referir, só posso usar a lógica: se ele estivesse a falar do pai terreno, porque só falou com mãe e nunca teve estas conversas com pai? Acredito que se tivesse dito alguma coisa ao pai, este teria falado com a mãe.

Citação de: Riclif em 16 junho, 2017, 11:34
Na tua opinião Jesus não deveria ter dado essa informação à criança, não tendo sido na tua opinião correcto da parte dele.
Na verdade, eu não acho que a criança tenha falado com Jesus.

Eu mantenho a minha convicção que quem morre (neste caso, quem está para morrer) se estiver predisposto a ver e ouvir o chamado do outro lado, irá ver aquilo que precisa para avançar.
É isso que eu acho que aconteceu, esta criança tinha um guardião que o foi preparando e que lhe mostrou o que era preciso para que ele não quisesse ficar aqui, perto dos pais, quando morresse.

Talvez se o miúdo não visse "Jesus", ou o tal sítio muito bonito, verde e pacífico, não aceitasse a situação e o ter de deixar os pais. Talvez se o miúdo soubesse que o pai ia morrer não aceitasse a situação.

Acho estes métodos muito "redutores" para o ser que suponho que Jesus era/é.


Citação de: Riclif em 16 junho, 2017, 11:34
Também foi correcto da parte de Nossa Senhora ter dado essa informação tão cruel a uma criança?

São estas coisas que jamais irei entender..porque de facto na minha opinião, são informações demasiadamente crueis para serem dadas a criança ou adulto.
Não sei o que é uma "Nossa Senhora", mas duvido que seja quem dizem que é, por isso o tipo de informações que ela deu e vem dando não me causa muita estranheza.
"Cedo ou tarde você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho". 
(Morpheus, The Matrix)

Riclif
#13
Citação de: Cassandra em 16 junho, 2017, 12:07


Não sei o que é uma "Nossa Senhora", mas duvido que seja quem dizem que é, por isso o tipo de informações que ela deu e vem dando não me causa muita estranheza.

Não sabes? eu explico.

Nossa Senhora é o termo utilizado pela Igreja católica para denominar a mãe de Jesus Cristo.
Aproveito e também te digo o nome da senhora; Maria

Citação de: Riclif em 16 junho, 2017, 12:10
Não sabes? eu explico.

Nossa Senhora é o termo utilziado pela Igreja católica para denominar a mãe de Jesus Cristo
Oh Riclif, não sei se estás a entrar comigo ou se ficaste mesmo a achar que eu não sei quem é a personagem Nossa Senhora...  ::)
"Cedo ou tarde você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho". 
(Morpheus, The Matrix)