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  • Um dia a gente aprende a conviver com os que ficam. E a sobreviver sem os que partiram
    Iniciado por cepticooucrente
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Não é fácil dizer adeus. A despedida é um outono de saudades. É uma tela sendo pintada em tons de cobre, alaranjado e nostalgia: o rio leva folhas caídas de árvores secas; os galhos, outrora carregados de flores em cores vivas, abraçam-se a si mesmos em sua nudez seca e doída. A estação da despedida nos entristece quando partimos.

Já era sabida a hora que esse dia chegaria. Os pais dizem adeus ao filho que parte para estudar fora, ou à filha que vai se casar. A república se desfez depois de terminada a faculdade, agora cada amigo tem o seu novo canto. O pai divorciado se despede dos filhos e vai para sua nova casa.

O destino é tão imprevisível quanto as nuvens negras que trazem a tempestade. Só o rio permanece no mesmo lugar. Esse rio que está em nós e em todos os lugares e ao mesmo tempo, porque é o passado, o presente e o futuro. Para sermos inteiros, nossa água corre ininterruptamente, sem cessar. Seca somente no dia de nossa morte.

Enquanto estamos vivos, a água corre, corre, corre e se agita com a tempestade lá fora. Mesmo assim, a água permanece em nós depois da tormenta. Foi assim que "Sidarta", de Hermann Hesse, à beira do rio, ao "olhar as verdes águas que corriam lá em baixo, sempre e sempre", salvou-se dele mesmo.

A vida é mesmo uma constante travessia. Embarcamos em diversas viagens que muitas vezes não sabemos o destino. Atravessamos obstáculos para nos formar, casar e ter filhos; mas, também, fazemos outras escolhas. Conseguimos acertar. Porém, muitas vezes, nos perdemos pelo caminho. Então, tomamos novos rumos.

Apesar das dificuldades e das lamúrias, não existe um único caminho a ser percorrido. Por isso, não procure por uma única resposta. Cada pessoa tem a sua própria jornada, que é valiosa porque a ela nos entregamos de verdade, quando navegamos nosso rio com o corpo e a alma, atentos a todos os detalhes.

Não ignore o outono em você. Nem sempre seremos primavera. Olhe as folhas amareladas que caem da sua solidão, elas estão tornando o seu entardecer mais leve. Como disse Rubem Alves, "somos seres crepusculares". O pôr do sol no outono é alegre-triste como a despedida. Ele nos traz a nostalgia dos momentos que tivemos com as pessoas que amamos e a poesia da espera pelo que virá em seguida. Porque precisamos ir embora. É que já decidimos seguir em frente.

Então você abraça seu pai e demora. Beija sua mãe e ambos choram. Há quem fique olhando o filho partir da sacada de casa e joga beijos de adeus. Tem partidas que são apressadas para doer menos. Uns vão e voltam para mais um tchau. Tem que diga até amanhã, outros dizem até o próximo ano. E há aqueles que se despedem na incerteza de se reencontrarem algum dia.

No fim você descobre o começo. Depois da despedida, já em paz com sua saudade, você está de volta ao seu rio. Desce em sua própria profundeza e percorre mistérios guardados enquanto seu crepúsculo arde. Coloca-se em movimento antes que amanhã seja tarde.

Olha as verdes águas que correm, sempre e sempre, mesmo com as mudanças das estações; e você sabe que as águas continuarão aí, independentemente de qualquer tempestade, dúvida ou dificuldade.

A beleza triste da despedida está em nós. Por isso, peça perdão àquela pessoa que você magoou; e perdoe-se a si mesmo. Permita-se chorar. A alegria nasce na pureza da tristeza. E quando a felicidade chegar abrace-a bem forte.

E não se esqueça de escrever uma carta à mão ou um email para dizer que está com saudade.



___
Escrito por Rebeca Bedone – Via Revista Bula

Simplesmente maravilhoso. Amei a analogia da vida com os restantes elementos.

Eu escrevo cartas de saudade, também... :(
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

:'(

Lágrimas são a única coisa que me permite dizer o que senti ao ler isto...
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

em portugal, quantos dias de luto temos direito, e com que ordem podem ser gozados.

Citação de: euripe em 20 agosto, 2015, 17:36
em portugal, quantos dias de luto temos direito, e com que ordem podem ser gozados.
Depende do grau de parentesco. Normalmente 5 dias para primeiro grau e 2 dias para 2º e 3º grau... mas por exemplo tio/tia, sobrinhos que são 3º grau, não há dias de nojo.

..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Citação de: Faty Lee em 12 agosto, 2015, 21:05
Simplesmente maravilhoso. Amei a analogia da vida com os restantes elementos.

Eu escrevo cartas de saudade, também... :(
como te compreendo... :)
O Homem é do tamanho do seu Sonho!

Este texto é sem dúvida de uma forma extraordinária uma coisa tão triste como a saudade dos que partiram.
"Your mistakes don´t define you"


"Your mistakes don´t define you"