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  • Inumano
    Iniciado por Puca
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Puca
Vejo-me envolvido a acender debates sobre o trabalho e o propósito da vida.
Normalmente qualquer uma destas histórias acende o rastilho.

História 1

Na cultura aborígene australiana sempre foi aceite que um individuo escolha não trabalhar, sendo livre de escolher como quer viver a sua vida, continuando a ser aceite e visto com dignidade dentro da tribo.

História 2

Na cultura inca, os habitantes tinham direito a comida, terra, cuidados desde a nascença e o trabalho era realizado não pelo dinheiro (que não existia nessa cultura) mas pelo gosto de criar algo para as várias gerações vindouras. Um inca poderia passar a vida a esculpir uma pedra de duzentas toneladas até à perfeição, porque o seu objectivo não era a produção quantitativa no tempo mas a produção qualitativa para a eternidade. O seu trabalho era movido pela arte e não pela produção. Motivo pela qual criaram construções ainda hoje consideradas sublimes.

História 3

No filme "la belle verte" o planeta Terra é visitado por uma civilização alienígena muito avançada. No filme a civilização alienígena é considerada avançada não pelos seus avanços na tecnologia (objectos) mas pelos seus avanços na sua humanidade (ser) ao passo que os terrestres são vistos como bárbaros e uma espécie muito atrasada em termos evolutivos.

Normalmente qualquer uma destas histórias deflagra um debate.
Quem me escute dizendo que um individuo é valioso mesmo que opte por não trabalhar, tende a interpretar que defendo o pelintra e a libertinagem. Seguem-se acesos argumentos de que "se fosse assim andavam uns a trabalhar para outros".

Em verdade não defendo o pelintra, nem tão pouco a libertinagem.
Aponto quatro perigos comuns:
•Coisificar um ser humano a um objecto
•A idolatração do trabalho e do trabalhador
•A idolatração do sacrifício/sofrimento pelo trabalho
•A avaliação de um ser em função da sua rotulagem

Tornar um ser humano num objecto de produção e avaliar o seu valor pelo seu mérito produtivo... parece-me simplesmente desumano. E no entanto, é o que fazemos diariamente em termos culturais e individuais, comparando-nos uns aos outros. É esta mentalidade que faz com que os idosos se sintam inúteis (como se o seu valor fosse a sua utilidade), os anormais (fora da norma) catalogados como deficientes (défices para a produção), que o desempregado entre em depressões profundas ao sentir-se segregado da sociedade (excluído da tribo). Que leva os indivíduos a compararem-se em termos qualitativos pelo trabalho "valho mais que tu". E seguidamente fazendo o mesmo em termos de povos "aquele povo não produz como nós, como tal isso demonstra que somos mais evoluídos". Esta é a mentalidade que permite expropriar as tribos amazónicas para a produção de pasto e madeira ou impor uma troika. Acusamos um indivíduo ou todo um povo de ser um pelintra (não produz ao nosso serviço) e após rebaixar o valor, impomos os nossos. E é por esta atitude que tornamo-nos os pelintras. Ao ficar a trabalhar depois da hora na empresa enquanto apontamos o dedo ao colega que saiu na hora normal. De forma pelintra sugerimos "Eu produzo, sou trabalhador, sou dedicado à empresa e aquele é um pelintra, um mandrião que não se quer sacrificar, que não quer trabalhar".

E por esta altura deixo uma poderosa pergunta:


O que farias e ao que estarias disposto a sacrificar-te se ninguém à tua volta viesse a saber ou mesmo sabendo não o valorizasse?

É mais ou menos o que acontece a um português, quando vai para o estrangeiro com esta mentalidade pelintra, do herói que se vai sacrificar no trabalho. Ainda me lembro da história de um português, que conta, como ao fim de uns dias a trabalhar numa empresa dinamarquesa, o patrão veio falar com este, tentando perceber porque saia sempre depois da hora. Segundo o patrão e os colegas, o português estaria a ter dificuldades em adaptar-se e a lidar com o trabalho. A sua incompetência era manifesta pelo facto de precisar de ficar mais tempo na empresa. A Oriente observei o mesmo. Não só o trabalhar mais horas não é valorizado, como é desvalorizado. É entendido como incompetência do trabalhador ou da empresa que não consegue gerir os seus recursos.


"Olhar um povo a partir de uma visão rasa de produção, de consumo, de riqueza e pobreza é, no mínimo, esvaziar os sentidos que buscam para si!" ~Daniel Munduruku

Alguém sem braços, sem olhos, ou que não produz não é um défice (um deficiente) tanto mais que um bebé, um cão, ou qualquer outro ser. Somos todos seres completos, valiosos e significativos independentemente das nossas características, das nossas limitações, ou do que produzimos. Um ser não é um objecto que se avalia pela sua função ("para que serve"). Os objectos tem funções a que servem ou não, conferindo-lhes um valor extrínseco. Os seres ainda que possam cumprir funções, não são objectos, o seu valor é intrínseco. Todo o ser é um ser valioso, independentemente, do seu propósito ou função para outros. Porém o pensamento actual, é um pensamento tribal, primitivo. Curiosamente, os povos ditos tribais, tendem a ter uma maior abertura neste sentido, o que demonstra uma cultura fora de série.

A nossa tem vindo gradualmente a trocar cultura por objectos de culto da "última geração".
Humanidade por leis mecânicas e lógicas simplistas.
É neste sentido que a nossa educação e des-envolvimento  progressivo, tende a regredir-nos para a mentalidade da pedra.


Artigo do Blog: Alquimian.com


Que texto fora de série! Amei simplesmente.

Grande convite para a reflexão, no entanto, não sei bem até que ponto aquilo que está aqui patente será bem compreendido. É preciso ter uma "alma" muito "nobre" para que o entendimento possa surgir.

É com estes exemplos de vida que as tribos indígenas se encontram, em termos espirituais, a anos luz dos Papalagui (homem branco)!.
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Puca
Oh Faty, lês-te o "Papalagui"? o indígena que aparece no meio de uma grande cidade? A descrição que ele faz do que vê? Simplesmente genial. :)

No meu tempo era um livro quase obrigatório, para o desenvolvimento da nossa capacidade crítica relativamente à realidade que nos cerca... marcou tanto que ainda o guardo na memória.

Simplesmente genial e lembrei-me logo dele, quando li o texto que partilhaste ;)
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Simplesmente genial.
O ser humano está a ser coisificado e como anda de "olhos fechados", não nota.
Iei Or (faça-se luz)
Shalom Aleichem

Como idealismo é lindo. Contudo, na sociedade actual, viver assim, seria uma utopia.

Puca
Será mesmo amigo Oculto? Totalmente independente é difícil, mas parcialmente não é assim tão utópico desde que haja um esforço, um empenho nesse sentido, desde que o ser se predisponha a tal. É difícil livrar dos apegos ao material, ao social, mas não é impossível.

Eu só me sentirei "coisificada" se a minha mente estiver aprisionada nestes padrões de pensamento, se for livre já não é assim. É um idealismo certamente, mas recuso-me a pôr-lhe entraves, no momento em que lhe colocar obstáculos dogmáticos ou deixar que os outros o façam deixarei de ser livre, ficarei "coisificada", presa na teia da aranha.

sofiagov
#7
(...) propósito da vida (...)
cada um com o seu...

sublime é como a água do rio que move a roda do moinho serão os os motivos que nos impulsionam a vivências e propósitos que nos prestamos a fazer pela vida (a nosso e dos outros...)

o que o oculto queria dizer que em termos teóricos é um idealismo muito razoável de acontecer no entanto em termos de praticabilidade isso infelizmente não se aplica , o que muito a mim me entristece ... :-\

realmente "coisificar" o ser humano é triste e não mais que outro ser igual para o aprisionar retirando-lhe liberdade...que muitas vezes achamos ter..."achamos" apenas, mas será que somos livres ?

Citação de: Faty Lee em 05 julho, 2015, 23:56
No meu tempo era um livro quase obrigatório, para o desenvolvimento da nossa capacidade crítica relativamente à realidade que nos cerca... marcou tanto que ainda o guardo na memória.

Simplesmente genial e lembrei-me logo dele, quando li o texto que partilhaste ;)
Leitura indispensável para entendermos coisas tão estúpidas que criamos sem necessidade nenhuma, ou pela menos uma necessidade ilusória.... Muito bem lembrado Puca e Faty Lee! :)

Somos uns Papalagui "idiotas"... ;D
O Homem é do tamanho do seu Sonho!

Puca
Sofia, percebo perfeitamente o que o Oculto quer dizer, na sua visão é algo impossível, utópico, inalcançável.
Essa praticabilidade depende de cada um, se eu me considerar livre, sou livre e ninguém me pode impedir disso. Eu alterei todo o meu modo de vida no sentido oposto do rebanho, mas para isso não posso estar dependente da opinião que outros fazem das minhas opções.

Se eu quero ir tomar banho nua no rio, vou. Se eu não quiser ter conta no banco, não tenho. Se não quero participar em eventos sociais, não vou. Se quero olhar para a vida com outros olhos, faço-o. Independentemente dos outros, das suas opiniões e preconceitos, sejam eles quem forem. Enquanto a minha liberdade não interferir na liberdade dos outros, não vejo outro impedimento para seguir a minha visão. Agora se acharem que sou um E.T, uma alienada, bruxa ou doida varrida, problema deles, é entre eles e Deus, não tenho nada a ver com isso, nem me afecta. :)


sofiagov
Citação de: Puca em 06 julho, 2015, 12:08
Sofia, percebo perfeitamente o que o Oculto quer dizer, na sua visão é algo impossível, utópico, inalcançável.
Essa praticabilidade depende de cada um, se eu me considerar livre, sou livre e ninguém me pode impedir disso. Eu alterei todo o meu modo de vida no sentido oposto do rebanho, mas para isso não posso estar dependente da opinião que outros fazem das minhas opções.

Se eu quero ir tomar banho nua no rio, vou. Se eu não quiser ter conta no banco, não tenho. Se não quero participar em eventos sociais, não vou. Se quero olhar para a vida com outros olhos, faço-o. Independentemente dos outros, das suas opiniões e preconceitos, sejam eles quem forem. Enquanto a minha liberdade não interferir na liberdade dos outros, não vejo outro impedimento para seguir a minha visão. Agora se acharem que sou um E.T, uma alienada, bruxa ou doida varrida, problema deles, é entre eles e Deus, não tenho nada a ver com isso, nem me afecta. :)

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