Pai

Olá pai.

Sempre te vi na minha infância. Não como queria, não como devia ter sido mas sempre te vi. Lembro-me da nossa "primeira" conversa na praia, lembro-me de me mostrares o caminho, de te manteres firme por mim e de não cederes ao peso dos teus próprios ombros.

Afinal, tudo o que eu sempre quis... Era a eternidade dos nossos momentos, a eternidade das nossas conversas, dos desabafos, da descoberta, da percepção e do perdão que a outros foi dado. És e sempre serás meu pai. Ainda presente te encontras, mas por quanto tempo? Afinal, terei de esperar pelo ode que tu mereces?

Pois bem que não. Foste o único que na altura me apontou o caminho, o único que me compreendia e levava-me a ser como sou. E o que sou a ti te devo acima de todos, que em poucas horas, em poucos dias, em poucos anos, ajudaste a construir.

Mas saberás realmente como sou, e que o teu sangue corre em mim.. E por isso não te poderei acompanhar, por isso não pensarei em mim, por isso tudo será só mais um e lá me aguentarei quando o mundo sobre mim desabar.

Pai... porquê?

Diz-me... Porquê? Tinha mesmo de ser assim? Tinhas mesmo de estar longe aquele tempo todo? Tinhas mesmo de passar por aquilo? Tinha eu mesmo de passar por aquilo? Afinal qual foi a razão? Afinal o que é que trouxe? Só te tenho a agradecer e tempo limitado para aproveitar...

A minha vida agora abre-se diante de mim e nela já não vejo os nossos caminhos cruzados... Mas sabes que o quero, sabes que o que mais quero é estar contigo, aprender contigo, ensinar-te, renovar-te, ser renovado. Mas não poderá ser.. Vais para longe e eu cá fico, não porque quero, mas porque tenho... Porque o teu sangue corre em mim e outros não poderão ser deixados...

Pai, não quero que o adeus seja agora. Não o adeus definitivo, mas o adeus àquilo que temos agora... Porque é que ambos escolhemos estes caminhos? Talvez numa outra altura eles se juntem... Mas até lá...

Fica bem pai, fizeste tudo o que podias. Fizeste mais até. As minhas escolhas assim o dizem.. Sente-te orgulhoso, poucos fariam semelhante.. Sinto tudo isto demasiado e esmaga-me. Mas ensinaste-me a aguentar o meu peso e a suportar o dos outros... Porque afinal, o nosso é apenas... só mais um...

Até ao nosso próximo encontro pai, que ele seja tão fortuito quanto os outros...

Fingarfan, simplesmente lindo este "desabafo". Mas não há longe nem distância... quando amamos alguém e somos correspondidos, os nossos espíritos estão sempre juntos, onde quer que estejamos.

Adorei!

Obrigada pela partilha!

Muito bonito sem dúvida

lindo 

Que desabafo cheio de sentimento... acho que o senti, é profundo! Lindo!

Muito bom. Parabéns pelo talento.