Saudade

Aqui vai um pequeno conto, escrito por mim. Espero que gostem. 


"Era de noite. O jantar encontrava-se na mesa, apenas se ouvia o barulho dos talheres, o resto era tudo silêncio.
Já há alguns meses que não conversavam, que não se riam, que não faziam nada em conjunto. O cansaço era demasiado.
Os dias eram todos iguais, levantava-se de manhã, saía para o trabalho e regressava a casa, jantava e deitava-se.
O silêncio era o que doía mais.
Lembrava-se dos momentos felizes, daquela vez em que foram de viagem e perderam as bagagens, mas que acabou por ser a melhor viagem de sempre.

Mas um dia, tudo isso mudou.

- Sinto a tua falta. – disse ele. – Sinto falta do teu cheiro, de te tocar, das nossas longas
conversas.

Silêncio.

Já não sabia o que fazer com os dias que passavam todos iguais. Ainda pensaram em adoptar um cão ou um gato, mas na altura acharam que tinham uma vida muito agitada para dar atenção a um animal. Também adiaram a resolução de terem filhos.

- Talvez um dia, quando tivermos uma vida mais calma. – disse ela.

Era noite, mais uma vez apenas se ouvia o barulho dos talheres. Era nestes momentos que sentia mais falta da sua companhia, da sua voz.

...............

Lembrava-se vagamente daquele dia. Já se tinham levantado tarde. Tinha sido tudo muito à pressa. Praticamente nem se despediram. Apenas disseram um até logo.

Lembra-se de chegar ao trabalho e ter ligado o computador.

Depois ligaram-lhe.

- Tem de vir rapidamente. Houve um acidente. – disseram-lhe.

- Como, porquê? – pensou.

Lembrou-se do seu sorriso, dos seus olhos, da sua boca. Será que nunca mais iria ver o seu
rosto?

De repente, só se ouviu o barulho dos travões e tudo escuro.

.............

Ouvia os médicos à sua volta, ouvia as máquinas e via alguém deitado na maca. Tentou gritar mas não conseguiu, porquê?

Estavam a tentar reanimar alguém. Voltou a tentar chamar a atenção dos médicos, mas nada.

Não saía nenhum som da sua boca. Aproximou-se e viu que era ela. Foi como se o chão lhe fugisse dos pés e viu tudo a girar à sua volta.

De repente tudo escuro de novo.

..........

- Tentámos de tudo. – disse-lhe o médico. – Mas não já não havia nada a fazer.

As lágrimas escorriam-lhe pela cara. Não queria acreditar. Tinham passado algumas semanas desde que tinha entrado no hospital depois do acidente. Sabia tinha tido uma paragem cardíaca, mas que os médicos tinham conseguido reanimá-la.

Ainda ficou alguns dias em coma, mas conseguiu recuperar. Ainda tinha de permanecer mais algum tempo no hospital, mas receber aquela notícia, parecia-lhe o pior de tudo.

- Mas, eu lembro-me de o ver. Ele esteve aqui, mesmo ao meu lado, algumas noites atrás. Eu lembro-me de ouvir a sua voz. – disse ela.

- Pode ter sido o seu cérebro a pregar-lhe alguma partida. Lembre-se que teve um traumatismo e que ainda não está completamente bem.

Passou-se tudo num instante. Quando deu conta, estava de novo em casa, sozinha, sem ele.

Silêncio. Só se ouvia o barulho dos talheres. Já tinham passado alguns meses desde que tinham
falado pela última vez, que tinham rido juntos.

- Eu estou aqui. Vou estar sempre aqui. – disse ele.

Mas ela não o conseguia ouvir. Tudo mudou."

parabéns ...continua. 

Triste, real, belo. Parabéns!

Obrigada pelas vossas opiniões

Muito bom, parabéns!

Obrigada Faty Lee!

muito bom, parabéns!