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  • A minha alma partiu-se - Alvaro de Campos
    Iniciado por SaraRS
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A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.


Alvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Que somos nós se não pequenos vasos de vidro que ao longo da vida nos partimos em pedaços, mas que mesmo assim não deixamos de ter luz que brilha? Essa luz é o acreditar na nossa capacidade de renascer, dos cacos fazer um novo vaso.

sofiagov

..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334


I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"