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  • Carta de um soldado
    Iniciado por cepticooucrente
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"Olá princesa.

Amanhã vai ser um dia complicado aqui, há movimentações a leste e o inimigo deve estar próximo. Temos muitas baixas no nosso batalhão e eu sou um dos poucos soldados com forças suficientes para pegar numa arma. Mas a pátria estará sempre em primeiro lugar e a minha vida vem depois... se houver lugar. Mas a minha arma agora é apenas um bocado de madeira e grafite com que disparo palavras de amor, na esperança de te atingir o coração e deixar-te a morrer de saudades minhas.

Sabes amor, não te amava menos quando me zangava contigo e te desejava, sem querer, o pior do mundo. Não te amava menos quando acordavas com aquela cara de sono e um mau humor que afugentava meio mundo. Não te amava menos quando passavas o dia despenteada e com aquele pijama em que cabiam duas de ti. Não, nunca te amei menos em nenhum desses momentos e sabê-lo é a prova de que realmente te amei. Só sabia amar-te mais, mais e mais, sabes que nunca fui inteligente como tu, deram-me uma arma para a mão em vez de um livro, mas amar-te cada vez mais é tudo o que eu preciso de saber. O teu olhar, o teu toque, o teu abraço, o teu beijo, foram as melhores batalhas que conquistei, e se algum dia venci uma guerra, essa guerra foi o teu amor.

Desculpa não estar aí ao teu lado, desculpa não poder levar-te o pequeno-almoço à cama naqueles dias de preguiça, desculpa não estar aí para apagar a luz do quarto quando está muito frio fora dos lençóis. Desculpa não estar aí para te contar aquelas piadas sem graça mas que te faziam sempre rir. Desculpa não estar aí para te amar de perto.

Pareço um parvo a falar, não é? Deixa-me ser parvo desta vez, só desta vez, deixa-me parecer uma criança a escrever uma carta de amor com aquelas frases simples, que na sua inocência e ingenuidade transmitem tanto carinho. Tu sabes que eu nunca fui muito bom com as palavras, gostava muito de saber escrever bem tudo o que sinto, já que as palavras são a única forma de te amar daqui.

Queria cometer uma loucura contigo, sabes? E que tal vivermos juntos para sempre? Parece-me uma boa loucura já que amar-te foi a forma mais saudável que encontrei de ser louco. O amor é sempre uma boa desculpa para cometer loucuras. Sim, chama-me doido, chama-me parvo, chama-me infantil, chama-me louco, acho que o amor tem de tudo isso um pouco. E é amor, que mais poderia ser? E é tão grande que o universo ao lado dele ficaria envergonhado. Tão grande que precisaríamos de uma outra pessoa para o transportar, uma daquelas bem pequenininhas de pegar no colo. Tu sabes que eu gostava muito de ter um filho, pelo menos um, mas teríamos todos aqueles que quisesses, e não te preocupes com as estrias que isso pode causar, prometo que eu iria gostar, pois seriam a lembrança das novas vidas que criamos. Desculpa a minha parvoíce, mas sou um parvo sincero. Amo-te tanto e o tanto que te amo parece tão pouco.

Estou a chorar princesa, estou a chorar porque tenho uma má notícia para te dar. Se estás a ler esta carta é sinal de que eu não poderei mais apagar-te a luz do quarto nas noites frias, levar-te o pequeno-almoço à cama ou dar-te um filho que tanto queria. Mas não fiques triste, estava a cumprir o meu dever. Posso já não estar cá mais, mas lembra-te que tu foste a melhor oportunidade de viver que a vida me deu. Não chores princesa."



Raul Minh'alma

#1
Bolas, que carta! A triste realidade daqueles que partem... pelo serviço à Pátria!! E o que fizeram pelo serviço à sua própria vida?   :-\
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Foi o que pensei... Quando o meu pai foi para o Ultramar, escreveu uma carta à minha mãe terminando o namoro, pois queria que ela não ficasse à espera de quem podia não voltar e que pudesse ser feliz com outra pessoa.
A minha mãe, que graças a Deus teimosia não lhe falta, ;D não ligou ao que ele disse e não perdeu a fé no seu regresso... e ainda bem. :)

Enfim, é para isto que servem as guerras... :(

Wow...Linda a carta, linda mesmo :)
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Carta da namorada de um soldado

Esta é a carta de resposta:

CitaçãoOlá meu Guerreiro!

Esta carta exprime o que o meu coração não consegue explicar por palavras ditas. A solidão é a minha maior companhia nos últimos meses, nem a presença de milhares de pessoas atenua a solidão que sinto por não te ter aqui, e só a possibilidade de nunca mais te ter ao meu lado destrói-me.

Não esqueço nenhum momento nosso, pois todos eles constroem a nossa história de amor, que já dura há tantos anos. Eu sei que nunca deixaste de me amar em nenhum momento, eu também não. Nunca! Não te amava menos quando dizia aquelas palavras duras contra ti. Não te amava menos quando davas mais atenção ao jogo de futebol ou aos videojogos do que a mim. Não te amava menos quando acordava a meio da noite com o teu ressonar e tu acordavas com mau humor. Não te amava menos quando falavas de carros e motas, e eu não percebia nada. Não te amava menos quando te rias por eu não saber usar saltos altos ou estava borratada de maquilhagem. Não te amava menos nunca, porque cada dia que passa o meu coração se enche de amor puro e renovado por ti. Neste momento este meu amor é a maior força , a única que me faz sobreviver.

Meu amor tenho algo a confessar-te, tenho ciúmes dessa tua pátria e dessa tua arma, sinto que me trocaste por elas. Será que elas valem a pena a tua vida? Será que valem todo este sacrifício? Será que valem a nossa distância? Será que valem o nosso amor? Quanto mais me pergunto mais tenho a certeza de que não. Quem te deu essa arma para a mão não sabe ao certo a dor da saudade, o vazio da ausência e o medo de nunca mais vermos quem amamos.

SIM, quero muito fazer essa loucura contigo, ser só tu e eu, e os nossos pequeninos, apesar de saber que esta carta mostra que os nossos corpos nunca mais se vão tocar, os nossos lábios beijar, nem os nossos olhares se cruzarem. E é claro que te deixo ser doido, parvo, infantil e louco, foram das coisas que mais me atraíram em ti, esse sorriso de criança, essa doidice de adolescente e essa loucura de homem. Tudo em ti me cativava, pois tudo em ti falava.

Sabes amor, quando me dizias que me amavas e eu pedia para repetires não era por duvidar do teu amor, era para guardar no meu coração o maior número de «amo-te», eu sentia que mais cedo ou mais tarde iria ter que relembrar todos eles para me lembrar como este amor foi tão verdadeiro.

Depois de receber a tua carta e de chorar horas sem parar percebi que tinha que te responder, e onde quer que estejas sei que irás ler e reler, e lembrar de tudo o que nós passámos. Sim, porque esta carta vai acompanhar-te para sempre, tal como a bandeira da tua pátria, mas sei que agora percebeste que essa tua pátria não merecia tanto sofrimento.

Estou a chorar meu guerreiro, porque sei que nunca mais te vou ouvir a rir, nem abraçar, nem beijar. Tu foste a melhor oportunidade da vida em acreditares em mim e a prova de que a vida é bem melhor com amor. Obrigado por me teres feito viver.

Amo-te para sempre

Texto de Elodie Jesus. Fonte: Já Foste
Se um rema e outro cruza os braços ou rema para outro lado... mais vale abandonar o barco e seguir sozinho.

Oh Vodgas....agora deixas-te bastante sentimental...:'(
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Não conhecia... obrigada, é muito linda também. :)

Só quem sobreviveu às tragédias no Ultramar pode, em consciência, avaliar a tragédia dessa geração. Mães que perderam os filhos na flor da vida, mulheres que enviuvaram sem quase terem vivido o casamento, bebés que ficaram órfãos... Tudo sob a a ilusão de uma guerra perdida!