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  • Poema ao avô - Março 2014
    Iniciado por SaraRS
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Nos rasgos da minha mente, eu revejo-te.
Os teus lábios formam uma curva feliz,
A tua voz firme cobre as paredes vazias,
Os teus braços fortes trabalham, em gestos soltos
E os teus olhos têm o brilho de um amanhã.

Agora eu volto a olhar-te.
Tens uma curva invertida no rosto,
O silêncio preso na garganta,
Os braços pendurados no corpo,
Os olhos apagados perdidos em ti mesmo.

Eu não entendia, mas agora eu vejo.
A tua curva feliz era por ela desenhada.
As palavras altas na vontade que ela te ouvisse.
Os teus braços seguros por serem precisos
E com teus olhos agarravas os restos do passado.

Quando te sentiste solto, a tua fortaleza ruiu,
Triunfou a escuridão, perdeste a sentido dos dias.
Os meus olhos temem o meu coração, quando olham pra ti.
Desabaste escadas abaixo e eu desabei contigo.
Onde estás tu que me agarras a mão, meu velho abrigo?


Sara ~

Parabéns Sara!! Excelente!!!
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

O avô deve ter adorado o que lhe quiseste transmitir... Parece quase como que uma espiral de desenvolvimento. Lindo, novamente :)
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

#3
Citação de: Faty Lee em 11 março, 2015, 22:59
O avô deve ter adorado o que lhe quiseste transmitir... Parece quase como que uma espiral de desenvolvimento. Lindo, novamente :)
Não adorou porque infelizmente já não se encontrava em condições para apreciar...
E é disso que o poema fala: a degradação de uma pessoa, que por acaso adoece gravemente após o falecimento da esposa, gravemente doente há 30 anos. ( de quem cuidou incansavelmente)

Sim, eu entendi a "degradação", não sabia é se ele ainda estava por aqui.... ;)
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Citação de: Faty Lee em 11 março, 2015, 23:12
Sim, eu entendi a "degradação", não sabia é se ele ainda estava por aqui.... ;)

Está fisicamente... Mentalmente é a sombra do que era.
Na altura que escrevi este poema estava ainda com revolta dentro de mim.
Hoje já me posso assumir como conformada com esta nova versão de avô perante mim e sortuda por ainda o ter a meu lado, de qualquer das formas.

É triste vivenciarmos esta espiral decadente... acho que todos deveríamos terminar com qualidade de vida física, psicológica, cognitiva e emocional... mas nem sempre isso se processa, infelizmente.
Acho que nunca ninguém se conforma... porque é, na verdade, triste!

..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

#7
Como concordo consigo...Quem me dera que tudo terminasse sem sofrimento e decadência.
É uma grande verdade: nunca nos conformamos totalmente, apenas a percentagem de aceitação e revolta vai tendo momentos de altos e baixos, em que umas vezes ganha uma, outras vezes ganha outra.

Mas apesar da triste realidade, são os momentos felizes que devem vingar na nossa memória  :)
Pelo menos faço para que assim seja.

E no fim, o amor vence a tristeza...porque a vontade de fazer a pessoa sentir-se amada é maior do que qualquer tristeza "egoísta"

Sara, obrigada por teres escrito este triste, mas lindíssimo poema. Identifico-me perfeitamente nas tuas palavras.  :'(

Muita força, muita paciência.
Bem hajas. :angel: