[Outro] Obsessão, Compulsão ou Manias?

Há determinados comportamentos que nos acompanham durante fases da vida. Com que regularidade estes se repetem?
Podem ser hábitos, métodos recorrentes e maneiras distintas de agir, tanto no âmbito puramente social, como no profissional.

Quando estes factores afectam a ansiedade, podem por vezes associar-se a um transtorno obssessivo-compulsivo, mas nem sempre será assim.
As obsessões estão mais ligadas aos pensamentos e à consciência. As compulsões (comportamentos protectores) ou rituais compulsivos são a forma mais visível e cumprem de alguma forma a função de controlo da ansiedade ou da procura do alívio para a sensação de imperfeição.

Perturbação obsessivo-compulsiva. O que é?

- Tem pensamentos que o incomodam, quer porque surgem insistentemente, quer porque o seu conteúdo lhe provoca ansiedade e lhe parece absurdo, e de que gostaria de se livrar, mas, por mais que tente, não o consegue fazer?
- Quando um desses pensamentos lhe surge, costuma fazer alguma coisa específica, que ajuda a reduzir o desconforto?
- Sente-se na necessidade de repetir algumas acções várias vezes, sem nenhum motivo aparente?
- Passa muito tempo em actividades de limpeza pessoal ou da casa ou dos objectos que o rodeiam?
- Verifica frequentemente aquilo que fez?
- As suas actividades de rotina diária levam muito tempo a ser executadas?
- Preocupa-se com questões de organização dos objectos, a sua localização correcta e com a sua simetria?

Obsessões comuns:

- Medos de contaminação por micróbios, elementos patogénicos, sujidade, etc
- Medo de se ter magoado ou prejudicado a si próprio ou aos outros, inadvertidamente
- Imaginar que se perde o controlo sobre os seus impulsos agressivos
- Pensamentos ou impulsos intrusivos e indesejados de natureza sexual
- Dúvidas religiosas ou morais excessivas
- Pensamentos proibidos
- Necessidade de ter os objectos exactamente como ''devem estar''
- Necessidade de contar, perguntar, esclarecer, confessar
- Medo de certos números, cores ou palavras[/li][/list]

Compulsões comuns:

- Lavagens, limpeza (pessoal e/ou dos espaços que se habita)
- Repetições (de comportamentos, palavras, etc)
- Verificações (do gás, do fecho das portas, das janelas, das torneiras, etc)
- Tocar, bater, esfregar (determinados objectos, partes do corpo, etc)
- Contar (objectos, palavras)
- Organizar, colocar em ordem e/ou de acordo com uma noção específica de simetria ou organização espacial
- Coleccionar objectos (inúteis e não valiosos)
- Récitas mentais (frases religiosas ou supersticiosas comuns ou pequenas frases ou palavras que têm um significado particular para
cada um)

Fonte: oficinadepsicologia.com

Alguma aflição visual?

Fonte das fotos: sorrisomail.com

Até que ponto afectam determinados comportamentos o nosso dia-a-dia?
Consigo identificar no meu caso, alguns tipos considerados sintomas deste tipo de transtorno.
Não considero no entanto que interfiram ou prejudiquem de algum modo a minha rotina normal.

Exemplos pessoais:

- Ordenação e simetria: rituais para que as coisas fiquem absolutamente organizadas ou simétricas, sem necessidade.
- Preocupação com exactidão, ordem ou alinhamento em busca do 'ideal'.
- Conflito visual de objectos 'fora do sítio', seguido do impulso do seu alinhamento.
- Realização de tarefas numa determinada sequência ou seguindo alguma regra.
- Verificações ou controles excessivos, repetições ou confirmações de acções.
- Ruminação de dúvidas, questionamento de perfeição.

Tendo em conta que muitos dos outros sintomas ou diagnósticos não se aplicam (estando até em alguns pontos bem distantes da realidade), não serão apenas 'manias'?

Alguém partilha outros exemplos pessoais e de que forma se repercutem (ou não) na normalidade da vida?

Fontes auxiliares: Wikipédia, Infopédia

bom tópico
eu pessoalmente odeio ver torneira a pingar constantemente aquele barulho irritante do ping...ping...

também a nivel de organização da casa gosto de ter as coisas no seu lugar em vez de deixar aqui e acolá etc... a desarrumação causa-me uma certa ansiedade é verdade mas controlada   

CRI(P)TICO, excelente tópico, sou uma apaixonada por psicologia

Tendo em conta que muitos dos outros sintomas ou diagnósticos não se aplicam (estando até em alguns pontos bem distantes da realidade), não serão apenas 'manias'?

Atenção à palavra mania neste contexto, pois mania é também considerado um ditúrbio mental.
Mas percebo que queiras dizer "capricho" / "pancadas".

Respondendo às tuas questões:

Para diagnosticar este distúrbio, os psicólogos e psiquiatras sujeitam o indíviduo a extensos "questionários", afim de verificar até que ponto o problema afecta a vida e o bem estar mental do individuo.
Para ser diagnosticado o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), Fobias e outros distúrbios, o individuo tem de ter presente x sintomas e y comportamentos (por ex. pelo menos 7 numa lista de 10).

Falando do sintoma
" - Preocupa-se com questões de organização dos objectos, a sua localização correcta e com a sua simetria? "

Uma coisa é eu gostar de ter os perfumes na minha cómoda do mais alto para o mais baixo, as molduras alinhadas, e o espelho sem uma partícula de pó, outra coisa é isso transtornar-me o dia a dia.
Vamos colocar um exemplo se recebo amigas e não lá mexer e cheirar os perfumes e deixam desarrumados.
Enquanto o fazem, fixo ansiosa, enervada, transtornada por estar a ser tudo remexido? Vou arrumar tudo de imediato antes de irmos para a cozinha beber chá? É absolutamente urgente arrumar?
Ou posso ir trocando opiniões com elas sobre os perfumes, e depois ir beber o chá apreciando a companhia, e, só quando se forem embora é que vou arrumar a cómoda?

O transtorno e a aflição que causa a desordem e o grau de urgência de repor a ordem, é um indicador muito importante no diagnóstico da doença.

Outro indicador é o rigor com que se executa a tarefa.
Vou medir a diatância de um perfume para o outro enquanto os arrumo? Por exemplo, espaçados 2 dedos cada frasco. Farei a medição a olho, ou rigorosamente colocando 2 dedos entre cada perfume para estrem exacta e matemáticamente bem alinhados?

Falando do sintoma
"- Realização de tarefas numa determinada sequência ou seguindo alguma regra"

Individuo chega a casa, coloca a mala na cadeira da cozinha, faz festas ao gato, baixa o estor, acende o esquentador e vai tomar banho. Todos os dias, por esta ordem.
O psicólogo pergunta muitas coisas, como:
Porque é que a mal tem de estar na cadeira da cozinha e não no sofá?
É sempre na mesma cadeira?
Se o gato estiver na wc, espera por ele para fazer festas, ou vai fechando o estor e adiantando as coisas?
E se acender o esquentador antes de baixar o estor, qual é o mal?
Sente-se ansioso se trocar a ordem? Porquê?
E se um dia chegar a casa e estiver lá gente, como numa festa surpresa? Vai sentir-se feliz com a surpresa ou ansioso por não puder fazer as coisas à sua maneira?
etc etc etc.

Tudo isto conta, e os profissionais sabem distinguir o que são as tais manias do que são realmente transtornos mentais.

As pessoas mega-organizadas e eficazes não teem de se preocupar, pois não teem nenhum problema mental, mas sim uma virtude, o mundo precisa de pessoas assim, tem de haver todo o tipo de pessoas, desde metódicas a desleixadas, uns mais preocupados com o material outros mais preocupados com o espiritual, uns com vocação e olho para umas coisas, outros com vocação e olho para outras

Apenas se as suas exigências começarem a afectar a sua rotina diária, a sua paz de espírito, e inclusivé o seu meio social (familiares e amigos a descerem na hierarquia de prioridades e atenção), é que a pessoa se deve preocupar e verificar com um psicólogo se há algo de errado consigo que possa contornar, com psicoterapia ou medicação, ou ambos.

Aproveito para deixar uma mensagem para quem sofre deste tipo de problemas:
•Saibam que a doença mental já não é o estigma que era há uns anos
•Beneficiamos de muito mais privacidade (ninguém vai ficar a saber)
•Há mais gente com os mesmo problemas e piores
•Não há necessidade de sofrer em silêncio, há tratamentos (com ou sem fármacos), de duração limitada
•Nem todos os remédios psiquiátricos causam habituação (é um mito generalizado), os que causam, os médicos sabem fazer o desmame.
•Não é nenhuma vergonha, é até um acto louvável, procurar ajuda e tratamento
•Pode-se marcar uma consulta de psiquiatria/psicologia no seu hospital, por telefone (mas é preferível já ter a credencial da médica de família)

A partilha de informações, pontos de vista e experiências, é realmente uma mais valia no aumento de conhecimentos sobre os assuntos em discussão. Obrigado pela exemplificação de situações pessoais.
Filipa84, muito bom complemento informativo para o tópico e opiniões específicas muito bem apresentadas.
É verdade que mania é considerada como um distúrbio mental, sendo que neste caso específico utilizei a palavra por ser mais facilmente reconhecida pela sua constante utilização no português corrente.
Concordo com ''caprichos'', ''pancadas'', ''pancas'', como sendo excelentes alternativas.

Saliento mais uma vez que são informações complementares bastante elucidativas, de onde destaco particularmente a transmissão da mensagem sobre estas realidades:

(...) O transtorno e a aflição que causa a desordem e o grau de urgência de repor a ordem, é um indicador muito importante no diagnóstico da doença. (...)

Aproveito para deixar uma mensagem para quem sofre deste tipo de problemas:
•Saibam que a doença mental já não é o estigma que era há uns anos
•Beneficiamos de muito mais privacidade (ninguém vai ficar a saber)
•Há mais gente com os mesmo problemas e piores
•Não há necessidade de sofrer em silêncio, há tratamentos (com ou sem fármacos), de duração limitada
•Nem todos os remédios psiquiátricos causam habituação (é um mito generalizado), os que causam, os médicos sabem fazer o desmame.
•Não é nenhuma vergonha, é até um acto louvável, procurar ajuda e tratamento
•Pode-se marcar uma consulta de psiquiatria/psicologia no seu hospital, por telefone (mas é preferível já ter a credencial da médica de família)

Por outro lado, a utilização de certos comportamentos considerados compulsivos, poderá ser encarada como uma forma de rentabilização do tempo e do espaço, como valorização do elemento estético, como um sistema complementar de organização pessoal ou um reforço das medidas de segurança essenciais.

Alguns exemplos:
- Guardar a roupa por cores, por estação (inverno/verão), tecidos, tipo de utilização, etc
- Ter as chaves dispostas segundo a sequência de uso das mesmas.
- Controlar exaustivamente sistemas eléctricos, electrodomésticos, interruptores e gás.
- Dispor objectos por altura, tamanho, formato, etc
- Elaborar listas, etiquetar itens, dispor livros ou outros documentos por ordem alfabética, assunto, etc

excelente tópico, é sempre bom ter estas informações e partilhar conhecimento...

Eu também sou muito organizada, gosto de ter as coisas arrumadas (de preferência à minha maneira), com uma ordem lógica.
Quando o meu namorado arruma a casa, eu fica agradada, claro, mas vejo logo que as coisas não estão exactamente como gosto, a moldura é mais para a esquerda, o prato decorativo é mais centrado, etc, mas isso não me perturba, simplesmente dou o meu jeito e pronto.
Se por acaso tiver a casa chei de gente e crianças numa festa, não vou passar o tempo a roer as unhas a pensar nas migalhas no chão nem no desalvoro, quando se forem embora arrumo e limpo calmamente.

Ser uma pessoa muito organizada e metódica por opção é isso mesmo, uma opcção, de viver num ambiente limpo, organizado, ordenado e facilitado.

Uma pessoa com TOC não o é por opção, na verdade é vítima e prisioneira de regras rígidas que criou na sua cabeça, às quais se não obedecer será assolapada de pensamentos angustiantes que só serão aliviados por rituais muito específicos (e diferentes para cada pessoa).

A pessoa com TOC sofre com medos, pensamentos irracionais e repete actos. A principal característica da doença é a presença de obsessões: imagens, impulsos ou pensamentos que invadem a mente (mtas vezes c/sensação que estes pensamentos não lhe pertencem, vêm de fora) e que são acompanhados de ansiedade ou desconforto. (esta é a parte de obsessão)
Depois começam a tomar rituais (acções estranhas) para aliviar esta ansiedade e afastar estes pensamentos, por ex, repetir determinada frase, ou tocar na mão 3vezes seguidas, ou lavar as mãos duas vezes, lavar as panelas mais uma vez,ect.  (esta é a compulsão). Alguns portadores dessa desordem acham que, se não agirem assim, algo terrível pode acontecer-lhes.

Segundo especialistas, essas obsessões geradas por pensamentos estranhos são ações criadas pelo doente para "trazer alívio". A psiquiatra Ana Hounie diz que o paciente tenta 'neutralizar' a situação de mal-estar com um comportamento diferente, que não faz sentido para os outros.

O paciente com TOC geralmente tem uma disfunção de julgamento em uma área do cérebro - segundo o neurologista Tarso Adoni, há uma região do cérebro que julga a necessidade de arrumar algo e, se houver, ela envia uma mensagem para outra região, responsável por executar a ação. Em pessoas com o transtorno, há um problema nessa região "julgadora", ou seja, mesmo com o ambiente limpo, elas continuam acreditando que há algo sujo e, por isso, acabam arrumando repetidamente.
(Psiquiatra Daniel Barros)
Fonte do texto azul:site g1globo)