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  • Exorcismo o que é realmente (excerto do manual do ritual romano do exorcismo)
    Iniciado por Gandalf
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"Desde a mais antiga tradição da Igreja, observada sem interrupção, o itinerário da iniciação cristã ordena-se de tal modo que a luta espiritual contra o poder do diabo (cf. Ef 6, 12) seja claramente significada e comece de facto a realizar-se. Os exorcismos na forma simples que se fazem sobre os eleitos, no tempo do catecumenado, ou seja, os exorcismos menores,19 são preces da Igreja, para que, instruídos sobre o mistério de Cristo, libertador do pecado, os candidatos ao Baptismo sejam libertos das consequências do pecado e da influência do diabo, se fortaleçam no seu itinerário espiritual e abram o coração para receber os dons do Salvador. Finalmente, na celebração do Baptismo, os baptizandos renunciam a Satanás e às suas forças e poderes e opõem-lhe a sua fé em Deus uno e trino. Também no Baptismo das crianças se faz a prece do exorcismo sobre essas crianças, que «hão-de experimentar as seduções do mundo e lutar contra as ciladas do diabo», para que sejam protegidas pela graça de Cristo «no caminho da sua vida». Pelo banho da regeneração, o homemparticipa na vitória de Cristo sobre o diabo e o pecado, quando passa «do estado em que ( ... ) nasce como filho do primeiro Adão ao estado de graça e 'de adopção de filhos' de Deus por intermédio do segundo Adão, Jesus Cristo», e é liberto da escravidão do pecado, porque Cristo nos libertou para sermos verdadeiramente livres (Gal 5, 1).
   Os fiéis, embora renascidos em Cristo, experimentam, contudo, as tentações do mundo e, por isso, devem estar vigilantes na oração e sobriedade da vida, porque o seu adversário «o Diabo anda à sua volta como leão que ruge procurando a quem devorar» (1 Pedro 5, 8). Devem resistir-lhe, perseverando fortes na fé, fortalecidos «no Senhor e na força do seu poder» (Ef 6, 10) e confortados pela Igreja, que reza para que os seus filhos vivam em segurança, livres de toda a perturbação.23 Pela graça dos sacramentos e especialmente pela repetida celebração da penitência, renovam as forças, para chegarem à plena liberdade dos filhos de Deus (cf. Rom 8, 21).
   O mistério da piedade divina, porém, torna-se para nós mais difícil de entender, quando, com a permissão de Deus, acontecem por vezes casos duma peculiar opressão ou possessão da parte do diabo, que atinge algum homem agregado ao povo de Deus e iluminado por Cristo para caminhar, como filho da luz, para a vida eterna. Então se manifesta claramente (cf. Ef 6, 12) o mistério da iniquidade que actua no mundo (cf. 2 Tes 2, 7), embora o diabo não possa ultrapassar os limites impostos por Deus. Esta forma de domínio do diabo sobre o homem difere daquela que atingiu o homem pelo pecado original, que é realmente pecado. Dadas estas circunstâncias reais, a Igreja implora a Cristo Senhor e Salvador e, confiada no seu poder, proporciona ao fiel atormentado ou possesso vários auxílios, para que seja liberto da opressão ou possessão diabólica.
Entre estes auxílios salienta-se o exorcismo solene, também designado grande exorcismo ou exorcismo maior, que é uma celebração litúrgica. Por este motivo, o exorcismo, que «tem por fim expulsar os demónios ou libertar da influência diabólica, e isto em virtude da autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja», é uma súplica do género dos sacramentais, portanto um sinal sagrado pelo qual «se significam realidades, sobretudo de ordem espiritual, que se obtêm pela oração da Igreja».
   Nos exorcismos maiores, a Igreja, unida ao Espírito Santo, suplica que Ele venha em auxílio da nossa enfermidade (cf. Rom 8, 26), para afastar os demónios, de modo que não causem dano aos fiéis. Confiada naquele sopro pelo qual o Filho de Deus lhe concedeu o Espírito Santo depois da ressurreição, a Igreja actua no exorcismo, não em seu próprio nome, mas unicamente em nome de Deus ou Cristo Senhor, a quem todas as coisas, inclusive o diabo e os demónios, devem obedecer.
O ministério de exorcizar os possessos é atribuído por licença peculiar e expressa do Ordinário do lugar, que normalmente é o Bispo diocesano.30 Esta licença deve ser concedida somente a um sacerdote dotado de piedade, ciência, prudência e integridade de vida 31 e especificamente preparado para esta função. O sacerdote a quem tal função é atribuída de modo estável ou ocasionalmente exerça esta obra de caridade com toda a confiança e humildade sob a orientação do Bispo diocesano. Neste livro, quando se diz «exorcista» deve entender-se sempre o «sacerdote exorcista». O exorcista, no caso de se falar de alguma intervenção diabólica, antes de mais proceda necessariamente com a maior circunspecção e prudência. Em primeiro lugar, não creia facilmente que seja possesso do demónio alguém que sofra de alguma doença, especialmente psíquica.32 Também não aceite imediatamente que haja possessão quando alguém afirma ser de modo peculiar tentado, estar desolado e finalmente ser atormentado; porque qualquer pessoa pode ser iludida pela própria imaginação. Esteja ainda atento, para se não deixar iludir pelas artes e fraudes que o diabo utiliza para enganar o homem, de modo a persuadir o possesso a não se submeter ao exorcismo, sugerindo-lhe que a sua enfermidade é apenas natural ou do foro médico. Examine exactamente, com todos os meios ao seu alcance, se é realmente atormentado pelo demónio quem tal afirma.
   Distinga rectamente entre os casos de ataque do diabo e aquela credulidade com que algumas pessoas, mesmo fiéis, pensam ser objecto de malefício, má sorte ou maldição, que terão sido lançados sobre elas ou seus parentes ou seus bens. Não lhes recuse o auxílio espiritual, mas de modo algum recorra ao exorcismo; pode, contudo, proferir algumas orações apropriadas, com elas e por elas, para que encontrem a paz de Deus. Também não deve ser recusado o auxílio espiritual aos crentes que o Maligno não atinge (cf. 1 Jo 5, 18), mas são por ele fortemente tentados, quando querem guardar a sua fidelidade ao Senhor Jesus e ao Evangelho. Isto pode ser feito por um presbítero que não seja exorcista, e mesmo por um diácono, utilizando preces e súplicas apropriadas.
O exorcista não proceda à celebração do exorcismo antes de confir¬mar, com certeza moral, que o exorcizando está realmente possesso do demónio 33 e, quanto possível, com o seu assentimento.  Segundo a prática comprovada, consideram-se como sinais de possessão do demónio: dizer muitas palavras de língua desconhecida ou entender quem assim fala; revelar coisas distantes e ocultas; manifestar forças acima da sua idade ou condição natural. Estes sinais podem fornecer algum indício. Como, porém, os sinais deste género não são necessariamente atribuíveis à intervenção do diabo, convém atender também a outros, sobretudo de ordem moral e espiritual, que manifestam de outro modo a intervenção diabólica, como p. ex. a aversão veemente a Deus, ao Santíssimo Nome de Jesus, à Bem-aventurada Virgem Maria e aos Santos, à Igreja, à palavra de Deus, a objectos e ritos, especialmente sacramentais, e às imagens sagradas. Finalmente, por vezes é preciso ponderar bem a relação de todos os sinais com a fé e o combate espiritual na vida cristã, porque o Maligno é principalmente inimigo de Deus e de tudo o que relaciona os fiéis com a acção salvífica. Sobre a necessidade de utilizar o rito do exorcismo, o exorcista julgará com prudência depois de diligente investigação, guardando sempre o segredo de confissão, e consulte, na medida do possível, peritos em ciência médica e psiquiátrica, que tenham a sensibilidade das realidades espirituais.
   Nos casos que afectam um não católico e outros mais difíceis, entregue-se a solução ao Bispo diocesano, que, como medida de prudência, pode pedir a opinião a alguns peritos antes de tomar a decisão acerca do exorcismo.
O exorcismo deve realizar-se de modo que se manifeste a fé da Igre¬ja e não possa ser considerado por ninguém como acção mágica ou su¬persticiosa. Tenha-se o cuidado de não fazer dele um espectáculo para os presentes. Todos os meios de comunicação social estão excluídos, durante a celebração do exorcismo, e também antes dessa celebração; e concluído o exorcismo, nem o exorcista nem os presentes divulguem qualquer notí¬cia a seu respeito, mas observem a devida discrição."

Também sugiro a leitura do  "Tratado de demonologia e manual do exorcista" do Padre José Fortea e os muitos manuais do Padre Gabriele Amorth.

Espero ter ajudado a esclarecer algumas duvidas e que gostem deste meu humilde post.

coenuno
Conhecimento nunca é demais meu caro.

E todo ele é sempre bem vindo.

O exorcismo acontece em todas as religiões, o manual do ritual romano (católico) não é o melhor, nem o pior, é apenas mais um ritual de exorcismo. O conceito de possessão/exorcismo mudou muito com o triunfo do Cristianismo, que passou a encarar a possessão apenas do ponto de vista maligno, mas isso não acontece noutras tradições, nem sequer no Judaísmo, a origem do Cristianismo. Para o Judaísmo, e mais ainda com a crescente influência da Cabala, a possessão tanto pode ser benigna como maligna. Tudo parte da doutrina da transmigração das almas (Gilgul) e da ocorrência de 'Ibbur (sem tradução, mas que podemos traduzir por "engravidamento da alma"). Existe o "Bom 'Ibbur" e o "Mau 'Ibbur (Dibbuk). a causa é a mesma: uma alma em transmigração apodera-se do corpo de alguém para realizar a sua missão. uma missão para o bem geral (Bom 'Ibbur), ou para o mal geral (Mau 'Ibbur, ou Dibbuk). No primeiro caso o objectivo é a santidade. No segundo caso, o objectivo é destruir as boas obras humanas. Mantém-se o semelhante que atrai semelhante. É chamado para a santidade, aquele cuja alma está no caminho da santidade. É chamado para a malignidade, aquele que tem natureza má. Pode haver a possessão de mais de uma alma, no máximo 3, tanto para a santidade como para a malignidade. Quem incorpora 3 almas destruidoras, dificilmente escapará com vida ao exorcismo. O que aqui é dito sobre Dibbuk não tem muito a ver com o que passa em filmes do género. Dibbuk não se propaga a eito, pela respiração ou coisa parecida, mas escolhendo aquele que é suficientemente mau para realizar os seus fins.

Resumindo, numa perspectiva cabalística, possessão é quando uma alma, em transmigração, recebe a influência de outra alma, também em transmigração, para o Bem ou para o Mal.

MrM
Mãe do Bosque seque a kabalah?

Repare, que a palavra "exorcismo" vem do grego e significa simplesmente conjurar.

A Igreja Católica tem um Rito Romano, a Ortodoxa tem outro. Judeus têm outro.

Interessante é para uma kabalista ou estudiosa de kabalah ter uma noção errada do exorcismo para os catolicos.
Porque em nenhuma parte o exorcismo é considerado algo maligno, porque exorcismo é uma oração de conjuração.
A possessão também não poderá ser considerada maligna, porque nem sempre o é. Não me irem alongar.

Aconselho a ler mais.

Eu sei que a palavra "exorcismo" vem do grego, mas o rito de conjurar entidades negativas encontra-se em todas as tradições, ainda que com outro nome. é cabalista aquele que estuda a Cabala, tentando guiar-se pela sua máxima: "Que nenhuma certeza se instale, nenhum totalitarismo triunfe". A Cabala ainda é mal-entendida a Ocidente. Mas olhe que o Cristianismo considera a possessão sempre maligna, quanto à "incorporação por santidade" dar-lhe-á outro nome, que sinceramente não sei qual é, não tenho estudado muito o Cristianismo, talvez por ele estar aqui ao lado, sei lá.

Que me aconselha a ler mais? Sobre 'Ibbur? Pois aí, partindo dos escritos de Gikatilla, aquele que mais se interessou sobre o assunto, e já descontando o plágio que Farkhini fez da obra de Gikatilla, resta-nos precisamente 'Ibbur, bom ou mau (Dibbuk), sendo a palavra Dibbuk um acréscimo do hebraico yidish, pois para Gikatilla só existia o "Bom" e o "Mau" Ibbur. Foram os judeus da Volínia que no século XVII desenvolveram rituais de "exorcismo" para Dibbuk, ainda que os antigos judeus já tivessem fórmulas de conjuro para a "possessão" com vista a lançar o caos sobre as boas obras humanas.

Há que ser independente desta ou daquela tradição caso se queira estudar o chamado "paranormal". Claro que não sabemos tudo, nem podemos, mais não seja porque se soubermos tudo, ou acharmos que sabemos, suspendemos a procura. Eu não me importo de ler mais sobre a Cabala, mas já agora leia também.

MrM
Eu não entendo mal a kabalah.
Exorcismo é conjurar, algo que os misticos da kabalah fazem há mais de 3000 anos (penso eu), com recurso a tècnicas bem itneressantes.
Que foram evoluindo e são comuns a algumas "goéticas".

Mas exorcismo é conjurar, ordenar a um demónio que saia.
Por exemplo, é possível que o demónio saia com recurso a oração. Neste caso não é exorcismo, é pedido de intercessão a outra entendidade que o expulse.

Sim, há em muitas religiões.