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  • O fantasma que vivia em casa da escritora
    Iniciado por Templa
    Lido 2.640 vezes
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Há dias que não escrevo nada de novo. Preciso de o fazer, a escrita alivia-me. Sobretudo por causa  da angustia dos últimos dias, quando um pedaço do céu desabou sobre algumas cabeças que me são queridas. É quando me sabe bem pensar que a vida é mais qualquer coisa, que deve ter um propósito escondido...
Às vezes sinto-me demasiado impotente para ajudar quem precisa. Se o assunto é dor de amor, sofro por não ter uma varinha mágica capaz de dissipar as nuvens negras que se abatem sobre quem ama e não tem fôlego suficiente para as soprar para longe. Se se trata de dinheiro, é igual, as duas impotências equivalem-se em género, número e grau. Pouco posso fazer para equilibrar o que entrou em desequilíbrio.
Quanto eu não gostaria de ser banqueira, uma banqueira filantrópica que pudesse proporcionar um emprego a quem precisa dele, dinheiro a quem necessita de pagar uma dívida que talvez não consiga pagar nunca!...
Noutros momentos, gostava de ser tudo o que fosse preciso ser para que o mundo fosse um pouco melhor: sem fome, sem guerra, sem essas coisas ruins e desalmadas que acontecem todos os dias por todo o lado.
Já há muitos anos, li algo curioso numa revista da época, não me lembro qual. Era uma entrevista a uma escritora que vivia harmoniosamente com um fantasma de mulher. A alma do além fazia prodígios: arrumava-lhe a casa, mudava-lhe o telefone do sítio e, sobretudo, metia-lhe dinheiro na carteira, quando a senhora precisava. Às vezes até viajava com ela de táxi, pelas ruas de Lisboa, com o maior contentamento. Provavelmente, seria a serva de alguém que não se desprendeu no outro mundo do ofício de servir neste.
Só não sei como conseguiu arranjar dinheiro em vida para o dar assim tão filantropicamente em morta, nem como conseguia papel e tingia as notas que, pelos vistos, eram verdadeiras. Talvez as roubasse a alguém mais rico do que a nova ama e o fantasma que me perdoe se levantei aqui um falso testemunho a alguém que nunca poderia ir a um tribunal de vivos...
Embora sem saber como a mulher fantasma conseguia semelhantes milagres, acredito piamente na senhora, na escritora. Já não era nova e podia dizer certas coisas que só são permitidas à idade. Acreditar em fantasmas e escrever até sobre isso é uma delas. A velhice liberta, traz consigo outros horizontes que a juventude não enxerga, por razões óbvias. Uma é a personificação da força e a outra é sabedoria, experiência, e nem uma nem outra podem ser negadas, por muito estapafúrdias que pareçam ao comum dos mortais.
É por isso que às vezes invoco os meus fantasmas, para a ajuda que, se chega, não sinto. Talvez eles me acotovelem, ao ponto de eu fazer certas coisas assim, em vez de as fazer assado. Talvez ajam mesmo na sombra, noutros confins, noutras latitudes, para que o universo abra um pouquinho o cinzento onde certas vidam tombaram e para elas voltarem a ver azul. Pode ser que façam qualquer coisa de útil, um puzzle que encaixe sem eu nem ninguém saber onde.
Eu, confesso, queria muito mais. Queria o acerto imediato dos casais desavindos, queria o desabrochar do amor onde nunca o houve, ou o renascimento dele onde murchou por falta de alimento. Queria, sei lá, que me saísse o euromilhões para pagar os melões, a casa ao banco, o arroz e o açúcar no supermercado, os trapos que nos vestem a nudez neste mundo onde todos chegamos nus. Enfim, queria que o tempo dos fantasmas coincidisse com o dos vivos e que eles sentissem como eu todas as minhas premências, no imediato, no meu agora.
Só me falta dizer o nome da escritora que vivia harmoniosamente com um fantasma em casa. Mas, embora tenha quase 100% de certeza quem era, não me arrisco a errar...
Também me falta confessar a inveja que eu sinto dela por não ter um ser do outro lado do véu que me arrume a casa e me dê dinheiro para as minhas necessidades.
Por outro lado, nunca saberei se o meu ou os meus generosos fantasmas não se puseram já a caminho para me ajudarem a compor, ao menos, um pouquito de mundo onde o sol volte a brilhar.
Templa - Membro nº 708

Hoje descobri uma das regras do forum que desconhecia... E como já passaram mais de 36 horas e me lembrei deste post, resolvi arrancá-lo da sombra onde está mergulhado há 3 anos. E queria apagar a mensagem anterior, mas já não posso... Eu não posso...

Templa
Templa - Membro nº 708

Citação de: Templa em 23 setembro, 2012, 00:09
Hoje descobri uma das regras do forum que desconhecia... E como já passaram mais de 36 horas e me lembrei deste post, resolvi arrancá-lo da sombra onde está mergulhado há 3 anos. E queria apagar a mensagem anterior, mas já não posso... Eu não posso...

Templa

Porque é que não pediste a um moderador para apagar?

Li o teu tópico, espero que o sol tenha voltado a brilhar  ;)
"Don't become a monster in order to defeat a monster" - Bono Vox U2

Mephisto
Citação de: Templa em 23 setembro, 2012, 00:09
Hoje descobri uma das regras do forum que desconhecia... E como já passaram mais de 36 horas e me lembrei deste post, resolvi arrancá-lo da sombra onde está mergulhado há 3 anos. E queria apagar a mensagem anterior, mas já não posso... Eu não posso...

Templa

Assunto resolvido  ;)

#4
Obrigada. ;)


Templa

Citação de: Azarenta em 23 setembro, 2012, 00:17
Porque é que não pediste a um moderador para apagar?

Li o teu tópico, espero que o sol tenha voltado a brilhar  ;)


Depois de tanto tempo, é claro que o sol voltou a brilhar... E também só hoje, quando abri o tópico,  percebi que tinha de apagar aquela resposta. Entretanto, aquela forma de dizer as coisas  tinha implicito um pedido nesse sentido...
Para bom entendedor...
Templa - Membro nº 708

anokidas
A Templa tem uma maneira de escrever espetacular,quem me dera a mim ter esta virtude pois o Português nunca foi o meu forte ...Parabéns adorei! :)

Citação de: anokidas em 23 setembro, 2012, 02:38
A Templa tem uma maneira de escrever espetacular,quem me dera a mim ter esta virtude pois o Português nunca foi o meu forte ...Parabéns adorei! :)


Obrigada pelo apreço.Curiosamente, entre tantas coisas que já postei aqui, este texto nunca teve muitos apreciadores.
E eu cá continuo na saga da limpeza geral ;D, mesmo sem fantasma para me ajudar!

Abraço


Templa
Templa - Membro nº 708

Prontos .... eu evitei, evitei, e pensei .. nahhh ... não vou ser repetitivo ... o valor está lá implícito, é só ler ...
E depois .. leio uma resposta tua desta s ? ?  :o :o

Curiosa de facto !!  :-\

Citação de: Templa em 23 setembro, 2012, 17:12
Curiosamente, entre tantas coisas que já postei aqui, este texto nunca teve muitos apreciadores.


Curiosamente, e fora do habitual não vou concordar ... desculpa !  >:(
E porquê ?
Falando por mim, obviamente nem sempre é fácil adjectivar de forma original um post com a qualidade que já nos habituaste ... :(

Citação de: Templa em 23 setembro, 2012, 17:12
E eu cá continuo na saga da limpeza geral ;D, mesmo sem fantasma para me ajudar!


Só espero que não demore muito, senão quem perde ... somos nós !!  ;)

Abraço
Causa Debet Praecedere Effectum -  ( Não há efeito sem causa )

De Nihilo Nihil - ( Nada vem do nada )



"...Curiosamente, e fora do habitual não vou concordar ... desculpa ! 
E porquê ?
Falando por mim, obviamente nem sempre é fácil adjectivar de forma original um post com a qualidade que já nos habituaste ...  Seth"



Por isso é que eu às vezes não leio poesia. Por exemplo, neste momento não estou com a veia aberta para ela entrar ;)

E não comeces já a extrapolar com a metáfora ;) ;) ;) ;)

Abraço

Templa
Templa - Membro nº 708