Culpada?

                                                       Culpada?

Eu observava-a, e ela ali estava sentada na areia,com o rosto pousado nas pernas encolhidas.
Mas a areia em que ela estava não era a que fazia a alegria das crianças outrora,a cor tinha mudado devido à destruição,e ela ali estava sentada na areia marcada pela dor,onde pequenas ondas que surgiam do mar a molhavam,mas já não suavemente porque a agua que era tépida,fria e nos abençoava carinhosamente tinha-se tornado numa caldeira fervescente e bravia,que quer conquistar todos os seres que encontra.
Tudo tinha mudado,até o céu,que parecia agora o centro do inferno,o azul tinha-se transformado em vermelhos e amarelos e os pequenos pontos feitos pelas nuvens,eram agora labaredas de fogo.
E ela ali estava sentada,como se não sentisse o terror à volta,a terra que treme quando uma bomba cai,os gritos ensurdecedores,os choros,o movimento de pessoas histéricas à procura de um abrigo que não existe.Ela nada sente.Como se fosse ela que comandava todas aquelas tropas de destruição,como se ela não se interessasse,como se ela fosse o diabo e se sentisse bem no inferno que o mundo era agora.
A paz na terra tinha-se transformado em guerra,o silêncio em estrondos de bombas,a natureza em fogo,o mar em sangue,as pessoas em dor...
E ela não sentia.Não sentia nada disto,não existia,não vivia.
De repente uma criança perdida corre de encontro a ela saindo da multidão,e grita-lhe no meio de lágrimas:
-Quero a minha mãe,dá-me a minha mãe!|
Parecia que a criança entendia e sabia que ela era a causadora de tudo aquilo.Como?E ela seria mesmo?
Nem eu sabia ao certo se as minhas suposições estavam correctas,só o disse porque ela não sentia a destruição à volta dela.
Mas ela estava viva,levantou-se pegou a criança ao colo e disse-lhe:
-Queres ir ter com a tua mamã?Queres ir viver para um mundo melhor?Sem violência,sem ódios?Repara,por detrás deste céu em fogo há outro,onde todos estão em paz...
Depois ajoelhou-se,mas sempre com a criança ao colo e murmurou:
-Um mundo onde todos vivem em paz...
De repente,como um raio,um projéctil perdido no céu caiu sobre elas,e uma luz feriu-me os olhos,caí ao chão.
Alguém me tinha empurrado,levantei-me e juntei-me à histeria da população.