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  • A Mãe Coral (Uma história infantil)
    Iniciado por Templa
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Era uma vez uma mãe Coral que vivia num lugar escondido num grande oceano.
A mãe Coral era uma rocha linda, de mil e uma cores, mas muito dura. E ai dos barquinhos que resolvessem aproximar-se dela. Logo ela, bramindo no ar os seus milhões de picos, os destruía, esquartejando o corpo dos marinheiros e atirando-os ao fundo do mar, onde nunca mais ninguém os via.
A linda Mãe Coral, com o seu colorido multicores brilhando ao sol, por entre as águas, as plantas e os peixes era, apesar disso, bastante solitária. Só conhecia aquele mar em que nascera a sua própria mãe coral, no fundo do oceano de onde nem uma nem outra conseguiam emergir à superfície para ver de perto o brilho das estrelas, as flores e os cactos da praia, os pássaros do céu e todos animais da terra.
Elas bem tentaram espreitar por sobre as águas, mas como eram muito duras e pesadas, não conseguiam ver o que estava acima do oceano.
Um dia a mãe coral mais velha tinha dito à filha, quando esta era ainda pequena:
− Olha, sobe às minhas cavalitas, estica o pescoço e vê se cresces muito, para ver se vês Deus, se encontras o amor e a felicidade. Dizem que tudo isso existe, mas nós, aqui no fundo, apesar de maravilhosas, não passamos de duas solitárias.
E foi assim que a filha cresceu aos ombros da mãe, se expandiu para todos os lados, numa imensidão de rochas, cada uma mais bela do que a outra, de cores ainda mais brilhantes. Todavia, a superfície do oceano para ela ver a terra nunca mais chegava.
Um dia, a pequena Coral, cansada de não poder ir para lado nenhum sem ser agarrada à mãe, ao contemplar o corpo de um marinheiro que ela tinha lançado ao mar com os seus picos aguçados, resolveu fazer uma magia, transformando-o igualmente num belo coral. Finalmente iria ser feliz. Estava farta de viver às cavalitas da mãe e queria ter a sua própria família, num outro local onde pudesse, à noite, contemplar a lua cheia e as estrelas. Tinha-se cansado do barulho das ondas e queria ser livre. A mãe não a deixava ir mais além.
E foi assim que a Mãe Coral teve duas filhas, a Esmeralda, de um verde lindo e transparente como o mar e a Safira, mais azul do que o céu. Ambas eram mais brilhantes do que as estrelas e todos os planetas do Universo. Nasceram umas pedrinhas pequeninas, doces e afáveis e, de tão leves, podiam até nadar à superfície, ver e sentir aquilo que a Avó Coral e a Mãe Coral nunca conseguiram: a alegria de viver, a inocência e o amor do pai marinheiro que jazia transformado em coral no fundo do oceano e com quem a mãe casara para elas poderem nascer.
Depois, a Mãe Coral cedo se deu conta de que não conseguia ser senão a Coral solitária que crescera agarrada à dureza das pedras onde a mãe nascera, e onde também lançara o mesmo feitiço a um marinheiro, o Avô Coral, que um dia se aventurara a entrar naquela barreira de corais duros para contemplar a beleza de todas aquelas cores.
A Mãe Coral chamava-se Âmbar e depressa se cansou do marinheiro, a quem, mal fez a magia que o transformara em coral, chamara Topázio. Ele era um ser bem mais simples e livre, já tinha viajado por muitos oceanos, mas ela, desde logo, pareceu não apreciar muito isso. Ela nunca fora assim livre, pois sempre tinha vivido numa enorme barreira de cristal, agarrada às saias da mãe de quem nunca conseguira libertar-se.
Foi assim que Âmbar, aos poucos, foi colocando Esmeralda e Safira às suas cavalitas, construindo de dia para dia uma enorme barreira de coral de onde, custasse o que custasse, impediria que outros marinheiros e barcos se aproximassem.
Até que passou muito tempo e uma bela tarde, um grande navio carregado de petróleo o derramou sobre a barreira que a Mãe Coral erguera no fundo do mar, sem que algum dia as três tivessem podido ver a beleza do mundo na sua plenitude. Uma grande maré negra tiraras-lhe o brilho e os grandes corais que elas eram estavam agora feios e sem brilho.
Enquanto isso, os milhares de marinheiros que tinham morrido por causa daquela beleza dura e linda da família dos corais, sentiam-se completamente vingados por terem destruído quem os matara.
Esmeralda e Safira, então, abriram a custo os olhos. Escorria deles um negro crude e, olhando a custo para a mãe, pediram-se com amor para ela deixar de ser uma Mãe Coral de coração duro e  para se abrir ao amor. De uma vez por todas, tinha de deixar de construir barreiras cada vez maiores. Todos os seres que faziam parte do Universo mereciam ser felizes e não era com a dureza das belas rochas de Mãe Coral que alguém o iria conseguir. Mais ninguém devia morrer despedaçado às mãos de uma Mãe Coral, pois mais bonita que ela fosse.
Do rosto da Mãe Coral caiu uma grande lágrima e, quando respondeu, disse:
− Não sei se o vou conseguir...A minha natureza é assim...
−Ó mãe, Já que tu transformaste o pai num coral, que às vezes também é um bocado duro, não podias transformar-nos aos quatro num imenso jardim de flores?! É que elas são lindas como os corais mas são muito mais macias...
A Mãe Coral, acedendo ao pedido das filhas, foi ao fundo do seu coração, abriu-o e, tirando de lá os seus pozinhos mágicos, logo ali transformou a barreira de coral que tinha construído ao longo do tempo num bonito jardim.
− Obrigada, Mãe Flor – disseram à uma Esmeralda e Safira. Finalmente vamos ser felizes. O Amor triunfou. A partir de hoje vamos todos ser melhores e corrigir os nossos defeitos.

Vitória, vitória, acabou-se a história.

Templa
Templa - Membro nº 708