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  • Seitas Religiosas
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josecurado
SEITAS RELIGIOSAS



O Processo Religioso



Antes de estudarmos o fenómeno sectário propriamente dito, entendemos ser conveniente relembrar resumidamente o nosso conceito de Religião.

A palavra "religião" vem do latim religio que significa "tornar a ligar" ou "religar". O significado implícito nesta palavra exprime a tentativa do homem de "religar-se" a Deus, ou seja, reatar uma ligação interrompida. Este sentimento é comum a todos os homens (e mulheres, bem entendido) quaisquer que sejam as suas origens sociais e geográficas.

A Religião surgiu, assim, de uma lacuna provocada pela quebra do "elo" que ligava o homem a Deus na comunhão ou "ligação" à cadeia espiritual cósmica. O homem foi criado para viver em comunhão com Deus e, na falta desta, experimenta, ainda que inexplicavelmente ou pretendendo ignorar ou até ser contra Deus, um sentimento de profunda angústia e frustração. Foi este anseio atávico que originou na humanidade a busca religiosa.

Posta a religiosidade nestes termos, apercebemo-nos que este fenómeno se reveste de complexidades que vão muito além da simplificação evolucionista, sustentando ter sido o homem o inventor da religião, e da simplificação criacionista, afirmando ter sido o homem criado por Deus mas nada esclarecendo quanto a este processo.

Quando se deu a quebra da ligação? O passado longínquo da história deste mundo está registado na mitologia geral a qual refere um período de Criação seguido de um período de Corrupção da humanidade e, por fim, uma Destruição da obra criada. As balizas cronológicas que delimitam estes três desenvolvimentos históricos são: o Caos Primordial (c. 20.000 AEC) e o Dilúvio Mundial (c. 5.000 AEC). A quebra da ligação ocorreu na destruição diluviana.

Depois do Dilúvio, Deus estabeleceu o processo religioso o qual consiste numa série de acções destinadas a proporcionar à humanidade oportunidades de se religar ao reino divino. Este processo integra determinadas alianças e pactos impostos pela divindade e a que o homem contrapõe sistemática relutância. Por conseguinte, a Religião é um processo muito longo que está na sequência dos anteriores e que lhe deram origem.

Em suma, sendo a Terra o habitat em que foi colocado o homem criado por Deus, temos de considerar que o primeiro processo consistiu na ligação de Deus à Terra preparando o acto criativo que culminou na criação do homem, macho e fêmea, feitos à imagem de Deus. Posteriormente, veio a desligação como consequência de uma desobediência humana aos projectos divinos e a corrupção geral da criação donde resultou a quebra do elo de ligação entre a humanidade e a divindade.

A implementação do processo religioso teve de ter em conta a necessidade de Deus construir uma civilização humana com raízes terrestres, completamente desligada dos Céus, como forma de fazer passar os seres humanos por terríveis provas e enormes dificuldades até que, pelo menos, alguns humanos pudessem sentir e compreender que o "Reino dos Céus" só pode ser alcançado pelo próprio esforço e não por um simples favor divino. Este raciocínio especulativo explica a misteriosa explosão civilizacional dos primórdios do Período Neolítico (desde 5.000 AEC) até à actualidade.



Os Conflitos Religiosos



No Processo Religioso considerado (Religião) intervêm obrigatoriamente duas partes: o Homem (entidade colectiva) que procura religar-se a Deus e Deus (também entidade colectiva, na mitologia) que procura religar-se ao Homem. Todavia, nesta convergência de esforços religiosos geram-se conflitos entre o humano e o divino porque cada uma das partes impõe regras à outra. Os conflitos religiosos eclodem como consequência do que Deus impõe como regras espirituais e morais a que o homem deve obedecer e aquilo que o homem entende ou interpreta sobre essas mesmas regras, agindo através de rituais, atitudes e práticas que, na maior parte das vezes não agradam à divindade. Deus exige ao homem um esforço de aperfeiçoamento espiritual que ele se recusa a exercer, devido à preguiça mental, preferindo refugiar-se nas crenças primárias, na oração pedinchona, nas práticas de magia e idolatria, procissões, sacrifícios de animais, etc.

Os conflitos religiosos verificam-se não só entre Deus e os homens como também entre homens e homens, donde resultam as guerras religiosas sangrentas em que cada um defende o "seu deus".

Finalmente, há um problema quase intransponível: o homem vulgar não consegue apreender o que é ser Deus na realidade e faz deste um conceito tremendamente fantasmagórico. A religião vulgar, tal como a conhecemos, é uma mixórdia desesperante de crenças e práticas, tudo fabricado por seres demoníacos, que não pode proporcionar ao homem a tão almejada comunhão com Deus. É uma religião falsa presidida por um deus ilusório multifacetado; este, sim, inventado pelo homem.

Contudo, há uma Religião Verdadeira que é preciso descobrir.



A Religião Verdadeira



Descobrir a Religião Verdadeira é, justamente, o acto que mais enfrenta todo o género de antagonismos. Cada uma de todas as pretensas "religiões" actualmente existentes arroga-se de ser, algumas de modo muito violento, a "religião verdadeira" acusando todas as outras de falsas e ao serviço do Mal.

O nosso estudo comparado, baseado nos textos sagrados de todas as religiões presentes no mundo, sem qualquer excepção, começa a revelar que existiu num passado muito longínquo (antes do Caos Primordial) um tronco comum de divindades do qual derivam todas as religiões, tanto as que existem agora como outras que desapareceram engolidas pela voragem da História. Nesta linha de pensamento, a Religião Verdadeira será aquela que caminhar para a restauração desse tronco comum, unificando todas as coisas. Será, então, a busca do Todo Divino que se fragmentou em partículas que deixaram de se entender entre si. A manutenção deste estado de fragmentação é que caracteriza o sectarismo ou proliferação das seitas religiosas.



O Fenómeno Sectário



Todos conhecemos o velho ditado: «Dividir para reinar».

A quem serve o sectarismo religioso? De certeza absoluta que não serve a Deus no conceito de um Complexo Divino não entendível pelo vulgo enquadrado no Mundo Profano e a quem se destina o Exoterismo (o que é projectado para o exterior do Mundo Sagrado pelo Esoterismo) e que, por isso mesmo, se presta a muitas interpretações. Cada seita, exibindo uma doutrina própria normalmente dogmática, interpreta e explica Deus à sua maneira, sendo o respectivo ritual proposto como o mais conveniente e aquele que a divindade deseja para que o homem entre na comunhão divina. Entretanto, a realidade demonstra que ainda nenhuma seita concretizou o objectivo religioso que anuncia, continuando a Humanidade a residir neste inferno (lugar inferior) que se chama Terra, na qual ainda nenhum Paraíso se construiu nem parece que a Divindade tenha dado algum sinal de que este estado de coisas lhe agrade. Pelo contrário, ao longo dos tempos têm sido muitos os sinais de que a humanidade, juntamente com todas as suas religiões, continua a ser rejeitada por Deus. Assim, o processo religioso terá de continuar ainda por muitos séculos se prestarmos atenção aos escritos apocalípticos.

Ora, para esta rejeição muito têm contribuído as seitas religiosas. Então, o sectarismo religioso, além de não servir a Deus, também não serve ao Homem, ou melhor, àquela parte humana que constitui o grosso dos adeptos e dos crentes que gravitam em torno das diversas organizações religiosas sectárias.

Restam os núcleos das seitas e dos indivíduos que estão nestes núcleos que mais não são do que os chefes religiosos sectários, os gurus, os mestres espirituais, com todas as suas denominações e honrarias, funções e privilégios. Estes núcleos sectários perdem-se nos labirintos tenebrosos e infindáveis do ocultismo cuja origem se situa, segundo a mitologia de Platão, na época do desaparecimento da Atlântida (c. 10.000 AEC) em plena banda do Ocidente do Éden, segundo julgamos pelas nossas investigações, quando as divindades criadoras supremas (Elohim, na tradição hebraica) decidiram fazer o homem à sua imagem, conforme à sua semelhança, e a ele concederam o domínio da Terra devido ao facto de as divindades inferiores terem decaído de tal forma que perderam todos os direitos divinos de que usufruíam. Sabemos que os líderes sectários, muitas vezes e paradoxalmente de boa fé, dão continuidade a antigas tradições ocultistas e que praticam poderosas manipulações mentais de que nos devemos precaver.

Em termos temporais, o fenómeno sectário começou a ocorrer praticamente desde que apareceram as primeiras organizações religiosas destinadas ao vulgo após a destruição diluviana, começando pela Religião Védica instituída por Rama a partir da Europa, donde derivou o Bramanismo, o Hinduísmo, o Budismo, etc.; depois a Religião Hebraica instituída por Moisés a partir do Egipto, donde derivou o Judaísmo, o Cristianismo, o Islamismo, etc. Entretanto, este fenómeno ganhou rápido incremento no início do século XIX EC com as grandes migrações da parte final da Era Colonial. Actualmente, já em plena Era de Aquário que, supomos, terá começado em 1948, as seitas mudam de forma multiplicam-se por todo o mundo a um ritmo nunca visto o que constitui um dos elementos mais característicos dos próximos tempos apocalípticos, conforme se deduz da Escatologia Geral.

Está provado que as seitas actuais, de um modo geral e devido às más intenções ou irresponsabilidade dos seus líderes, são perigosas para as mentes influenciáveis.

O sectarismo inclui também organizações pretensamente espiritualistas que, à primeira vista, parecem não possuir carácter religioso, mais parecendo simples movimentos filosóficos. No entanto, uma observação mais cuidada revela que estão de facto ligadas a seitas religiosas e a elas pedem de empréstimo a maior parte das suas doutrinas filosóficas.



As Seitas e os seus Perigos



Na denúncia dos perigos mentais das seitas, é importante reconhecê-los e encontrar métodos para nos defendermos deles.

As organizações sectárias, como todos os fenómenos complexos e mal conhecidos, são objecto de juízos precipitados por parte de quem não está por dentro do fenómeno. Esses juízos, ora fazem das seitas caricaturas, ora as banalizam. Estes erros de precipitação comprometem uma prevenção eficaz contra as suas actuações.

Há o sentimento geral de que as seitas sempre existiram e o fenómeno da sua multiplicação actual não traz nada de novo. Todavia, ele é novo pela sua amplitude e sucesso num contexto de confusão e carência de referências espirituais ou éticas e também pelos métodos e pela organização multinacional de certos grupos que tiram partido das técnicas mais sofisticadas de gestão e manipulação mental, nomeadamente os meios informáticos incluindo a internet. Estas formas de actuação nada têm de comum com as dos grupos religiosos heréticos que, em todos os tempos, abandonaram as religiões matrizes apenas por questões de doutrina.

Pensa-se que a mensagem moral e espiritual difundida pela maior parte dos grupos sectários não tem nada de ameaçador. O erro aqui consiste em tomar esses grupos pelo que eles dizem ser e ignorar o que verdadeiramente são: organizações de subjugação, de manipulação mental, de submissão coerciva, de rupturas familiares e sociais, de subversão de ideias, etc.

Acha-se que as doutrinas das seitas são de tal modo irracionais que só espíritos ingénuos ou pouco informados se deixam arrastar por elas. Esses grupos não são assim tão irracionais como parecem. Muitas das suas teorias são extraídas de investigadores científicos autênticos e, a seguir, remodeladas, adaptadas aos seus pontos de vista e apresentadas num formato muito complexo que é difícil debater. As pessoas de raciocínio brilhante, manifestamente inteligentes e bem informadas, são tão manipuláveis como os outros desde que as seitas utilizem os métodos adequados.

Opina-se que as crenças emitidas por cada uma das seitas valem tanto como as outras. Não é aqui que está a questão, porque não é o conteúdo doutrinal que torna esses grupos perigosos, mas a subtil transformação por que fazem passar os seus adeptos. Portanto, o que está em causa são as suas acções, os seus métodos e as suas finalidades.

Considera-se que o fenómeno é marginal e, por isso, relativamente inofensivo. O fenómeno sectário é cada vez menos marginal, se tivermos em conta a sua extensão e o enorme poder psicológico e financeiro que gera. Não é, certamente, inofensivo, ainda que os efeitos perversos se façam sentir a longo prazo.



Máscaras e Armadilhas dos Grupos Sectários



Para ganhar adeptos em todas as camadas da sociedade, as seitas desenvolvem uma verdadeira estratégia de sedução oferecendo objectivos mobilizadores, propondo ideais elevados, multiplicando as promessas e apresentando uma fachada de máscaras irrepreensíveis destinadas a dissimular as armadilhas do recrutamento.

O que atrai um potencial adepto?

Num mundo de desordem, de dúvida generalizada, as seitas propõem, antes de mais, referências, respostas simples e claras. Trata-se do elemento mais determinante. Além disso, os grupos mobilizam as energias, apelam ao desejo natural de se dar, de se devotar, de agir, presente em todas as idades mas particularmente nos jovens.

À partida, o quadro visível é o de uma comunidade solidária e calorosa, em contraste com o sentimento de solidão e o clima de competição de que sofrem tantas pessoas no quotidiano social e profissional. É proposta uma progressão pessoal, uma "iniciação" visando o acréscimo de capacidades mentais, poderes paranormais, uma promoção por etapas, um poder sobre si mesmo e sobre os outros. O programa oficial da seita corresponde a um ideal religioso ou filosófico indiscutível, tal como é formulado. Os movimentos fazem coro com recusas e revoltas perfeitamente legítimas: recusas da injustiça, da violência, do materialismo... Claro que se trata de puras declarações de intenção, mas como distingui-las à partida?

Um trunfo importante é a promessa de cura dos sofrimentos físicos ou psicológicos, apoiada por múltiplos testemunhos que podem impressionar. O facto de um próximo, no qual se confia, ser o portador da oferta de adesão, ou o facto de uma personalidade importante apadrinhar a organização, contribui para atrair. Uma série de circunstâncias desfavoráveis (desemprego, ruptura familiar, insucessos pessoais, doença, baixo nível de auto-estima, etc.) propicia uma fragilização, momentânea ou duradoura, da pessoa/alvo e esta será tentada a experimentar uma nova oferta sem ter consciência de cair numa armadilha de dependência.

E quais são as máscaras?

A primeira máscara é a dissimulação da real natureza do movimento. Se é verdade que alguns grupos anunciam imediatamente a sua verdadeira denominação, outros utilizam fachadas sem qualquer relação com a sua natureza real. Deste modo, podem ser propostos programas desportivos, culturais, filosóficos, ecológicos, de desenvolvimento pessoal, de pedagogia especializada, de medicina paralela, de auxílio ao Terceiro Mundo, até mesmo de defesa das liberdades e da ética.

A máscara religiosa é, juntamente com a do desenvolvimento pessoal, uma das mais utilizadas. Em certos casos, foi acrescentada por uma organização já existente. Esta máscara tem múltiplas vantagens: à primeira vista inspira o respeito e exclui toda a possibilidade de refutação. Por outro lado, nalguns países, isto representa benefícios fiscais. Finalmente, permite acusar de intolerância aqueles que pretendam denunciar comportamentos perigosos.

E o que é mascarado?

Antes de mais, os métodos de recrutamento e as manipulações mentais. O futuro adepto não pode sequer imaginar que vai ser condicionado a adoptar o vocabulário, os modos de pensar e de agir, os hábitos de obediência absoluta, a rejeição dos valores exteriores ao grupo e a ausência sistemática de reflexão crítica. Se o trabalho de manipulação mental é bem feito, ele julgar-se-á, até ao fim, totalmente livre e voluntário.

Outro factor importante a ser mascarado é a finalidade do grupo adjacente ao núcleo da liderança: domínio sobre os adeptos, exploração financeira e servidão das energias, lucros e poder dos dirigentes, constituição de um "exército" de adeptos bem adestrado e incondicional.

As inevitáveis rupturas com o mundo exterior, com todas as perdas que se seguirão, também são escamoteadas à partida. A seita não é um universo que se alarga e continua para fora, é um universo de substituição que não tolera aos adeptos a ultrapassagem dos limites que lhe forem fixados.

Como todos os fenómenos de dependência (droga, álcool e outros), os grupos sectários sustentam a ilusão de que é fácil afastar-se ("Se eu quiser, paro amanhã e saio no dia seguinte"). De facto, são menos os constrangimentos interiores (por vezes reais) do que as dificuldades de reinserção no universo habitual anterior que tornam a evasão problemática. Mas o futuro adepto não pode sabê-lo se não for advertido. E isso a seita nunca o fará.

Em resumo, é a conjugação de uma forte sedução ideológica e convivencial, de uma grande eficácia das máscaras utilizadas para seduzir e do desconhecimento (alimentado) de armadilhas perigosas que explica o sucesso do recrutamento de pessoas que para isso não estariam predispostas se fossem devidamente esclarecidas.



Os Grupos Manipuladores



Como conhecê-los?

Alguns são mundialmente conhecidos e deveria ser fácil identificá-los. Na verdade, é frequente as seitas não se apresentarem inicialmente sob o seu verdadeiro nome e utilizarem as diferentes máscaras atrás referidas. As filiais desportivas, educativas, culturais ou outras adoptam nomes anódinos e é difícil saber, à primeira vista, que se está a lidar com um movimento internacional de natureza sectária.

Outros grupos são novidade no tecido social normal e podem facilmente confundir-se com autênticos grupos religiosos ou simplesmente filosóficos, em particular no domínio do desenvolvimento pessoal.

Outros grupos ainda podem ter todas as aparências de seita, nomeadamente religiosa, sem apresentarem um carácter manipulador, totalitário ou perigoso.

Finalmente, não é de excluir que no próprio seio de uma grande organização esotérica, maioritariamente democrática e respeitadora das liberdades, uma minoria de "militantes" fomente um desvio sectário disfarçado, tanto mais perigoso quanto se desenvolva à sombra de uma instituição respeitada e com objectivos perfeitamente claros e sérios. É necessário não esquecer que manipulação implica dissimulação e que o primeiro cuidado dos grupos de influência é o de manter ocultos tanto os métodos como os recursos e as finalidades.

Apresentamos a seguir características que, se estiverem em grande parte reunidas numa só organização, indicam um grupo de manipulação mental:

- Regras precisas e impostas de forma totalitária.

- Uma hierarquia frequentemente dominada por um mestre ou um guru autoproclamado vivo ou falecido mas citado como referência única e indiscutível, sobre o qual se pratica o culto da personalidade.

- A hierarquia é rígida, não democrática nem eleita em nenhum patamar mas unicamente cooptada pelo topo de onde procede todo o poder.

- O grupo reivindica um conhecimento global exclusivo, pretensamente universal, abrangendo frequentemente a natureza do homem, o sentido da vida, as doenças físicas ou mentais, define a organização que se impõe para o mundo, as regras de conduta obrigatórias, a única moral a seguir...

- Estas certezas colocam-se, na maioria das vezes, em ruptura com os conhecimentos científicos e a moral universalmente aceite à qual se substituem as regras do grupo.

- O grupo utiliza métodos de recrutamento e de manipulação para modelar os recém-chegados e torná-los impermeáveis a qualquer questionamento.

- O grupo propõe uma "iniciação" progressiva que exclui qualquer reflexão crítica entre os adeptos e os incita à submissão total.

- Os benefícios de todas as espécies dos dirigentes (poder pessoal, posição hierárquica, dinheiro, etc.) são obtidos à custa da exploração das energias, do trabalho e dos recursos económicos pessoais dos adeptos de base.

- Os perigos podem situar-se no campo das liberdades individuais, da educação, da saúde, da integração social e das liberdades democráticas.

- O grupo é forçado à expansão interior contínua e tem, por vezes, objectivos confessos de tomada do poder, qualquer que seja. O proselitismo é, assim, de regra e utiliza todos os meios de sedução e de pressão possíveis.

- Torna-se difícil deixar o grupo que invadiu progressivamente todos os domínios da vida do adepto, criando um universo artificial centrado na dependência.

- De um modo geral, o grupo exclui qualquer diversidade nos conhecimentos, nas filosofias, nas escolhas, nas condutas, nos discursos e procura criar uma permanência que elimina qualquer mudança e, portanto, qualquer liberdade.

Se é verdade que algumas (e apenas algumas) das características citadas se podem encontrar nos grupos não totalitários, é o facto de as encontrar maioritariamente reunidas no seio de uma só organização que permite considerá-la como perigosa.

Não são, em caso nenhum, o conteúdo doutrinal e as referências filosóficas ou religiosas de um grupo que servirão de base de apreciação; nem tão pouco o facto de o grupo ser novo ou minoritário. Aliás, cada grupo tem as suas particularidades e a amálgama é impossível.



Psicoterapias e seitas



Entre as máscaras utilizadas pelos grupos sectários, a religiosidade e a psicoterapia são as mais comuns. O equívoco mantido com a psicoterapia é difícil de dissipar para os leigos. De facto, as técnicas psicoterapêuticas (psicodrama, psicanálise, hipnose, etc.) apresentam-se como uma nebulosa de contornos esbatidos, envolvidas de mistério e encobrindo a maior diversidade. Além disto, exercem um forte poder de atracção sobre as personalidades em busca de referências ou simplesmente de desenvolvimento pessoal. Na falta de informação apropriada para o utilizador, é grande o perigo de se deixar agarrar pelas propostas de "tratamento" dos grupos sectários ou, inversamente, de suspeitar erradamente dos especialistas bem-intencionados. Por conseguinte, impõe-se uma tentativa de definição exaustiva do que é a psicoterapia:

- Trata-se de um contrato voluntário entre um ou vários pacientes e um ou vários psicoterapeutas definidos como tal e devidamente formados e credenciados para esse efeito.

- Trata-se de uma técnica que comporta um protocolo relativamente preciso com imperativos e limites.

- O método assenta em bases teóricas inerentes ao desenvolvimento inicial da pessoa, aos factores patogénicos, aos mecanismos accionados pelo tratamento e a uma definição de "homem (ou mulher) equilibrado".

- A terapia utiliza mediadores como a palavra mas também a expressão gestual, cénica ou corporal, ou ainda o próprio grupo, a música e o vídeo.

- A terapia implica um percurso evolutivo que vai de alguns dias (terapias breves) a alguns anos (terapias longas).

- Implica, também, indicações que devem ser formuladas com prudência e contra-indicações que devem ser efectuadas por profissionais capazes de avaliar os riscos.

- Deve ter como finalidades exclusivas, por um lado, o alívio das perturbações, por outro, o desenvolvimento pessoal mas também a autonomização da pessoa, a sua independência a prazo relativamente ao terapeuta.

- Em caso de doença física grave, pode constituir um complemento para mobilizar os recursos psicológicos do paciente, mas não deve substituir-se aos tratamentos médicos.

Quando estas condições não estão reunidas num todo, não se pode falar de psicoterapia propriamente dita, mas apenas de simulacros psicoterapêuticos.

As psicoterapias, cujo desenvolvimento corresponde ao nascimento da Psicanálise no princípio do século XX, conheceram um crescimento excepcional após a Segunda Guerra Mundial (desde 1948 para cá). Conhecem-se mais de trezentos métodos, sem contar com as variáveis individuais introduzidas pelos terapeutas. Nem todos oferecem os mesmos desenvolvimentos teóricos, a mesma seriedade nos cursos de formação, as mesmas unidades de investigação, as mesmas garantias de controlo por associações estruturadas.

O campo de aplicação das psicoterapias ultrapassa largamente as dificuldades psicológicas ou as doenças mentais. As técnicas foram frequentemente retomadas numa óptica de desenvolvimento pessoal, de melhoramento das relações sociais, ou ainda no campo das doenças psicossomáticas ou em benefício de certas categorias de utilizadores como pessoas no fim da vida, casais em dificuldades, delinquentes, toxicómanos, desportistas de alto nível, gestores, etc.

Algumas técnicas directamente saídas da nebulosa psicoterapêutica são correntemente utilizadas no mundo da publicidade, da venda, da gestão de empresas, da política e..., obviamente, pelos grupos sectários que descobriram aqui um filão.

Os métodos que conhecem a maior difusão, tanto no sector da saúde como noutras aplicações, são, primeiramente, a Psicanálise com as suas múltiplas escolas e os seus derivados, mas também as terapias comportamentais e cognitivas, as terapias familiares sistémicas, as terapias institucionais, a hipnose e os seus derivados, a análise transaccional, a programação neurolinguística, a bioenergia, sem falar do psicodrama, da arteterapia, da videoterapia, da cenoterapia, da musicoterapia, da cromoterapia, do sonho acordado dirigido, das técnicas orientais, do renascimento, da vegetoterapia, da audiopsicologia, etc., etc., etc.

Todas estas técnicas e muitas outras são utilizadas por terapeutas formados, credenciados, controlados e integrados em instituições públicas ou no quadro privado, tendo por finalidade o bem-estar dos pacientes e sem segundas intenções de colocação em dependência, de recrutamento e de exploração indefinida destes. Aliás, o resultado não é garantido e depende largamente do estado inicial da pessoa a ser tratada, da escolha judiciosa da técnica e sobretudo da qualidade do terapeuta, elemento insubstituível. Se um ou outro destes terapeutas ignora os seus deveres, o que acontece em qualquer corporação, é possível um recurso junto das autoridades de que depende (Ordem dos Médicos, por exemplo), ou junto da associação nacional que o controla. Mas isto não afasta todas as interrogações: estas podem visar os métodos, que por vezes parecem bizarros, e também as mudanças verificadas no paciente, as quais podem inquietar os que o rodeiam. A maior parte dos métodos combina elementos racionais e emocionais. A reactualização de experiências traumatizantes do passado, com tudo o que comporta de sofrimento e de emoção, tem frequentemente mau acolhimento junto de um público não informado. Na situação em que o homem comum preconiza o esquecimento do passado, o terapeuta convida o paciente a retomar e a analisar as experiências traumatizantes. Esta tendência torna suspeita a actualização psicoterapêutica junto das pessoas que não têm as mesmas razões que os pacientes para procurarem saber "o que se passou para que estejam assim".

Algumas técnicas têm por objectivo provocar deliberadamente importantes cargas emocionais: gritos, prantos, angústia, agitação motriz, cólera, perda momentânea do controlo. Tudo isto não deixa de ser inquietante para o observador não informado, mas faz parte de uma desestabilização transitória julgada necessária no quadro da maior parte das psicoterapias e não deve deixar sequelas duradouras.

Mais inquietante para o círculo de conhecidos e amigos são os sinais de uma transformação profunda da personalidade: modificação do carácter, dos comportamentos, das escolhas afectivas e existenciais.

É certo que algumas terapias não são tão perturbadoras, sobretudo se têm por objecto modificações parciais: melhoramento da auto afirmação, tratamento de uma fobia isolada, melhoramento das relações sociais por exemplo.

Mas, em qualquer caso, existe uma ruptura: com os hábitos anteriores, com reacções repetitivas, com uma certa imagem de si e do ambiente, com uma visão "arrumada" do passado, com imagens parentais idealizadas, etc. Esta ruptura é, inevitavelmente, desestabilizadora e é frequentemente acompanhada por uma fixação sobre a imagem tranquilizadora e intensamente idealizada do terapeuta. Este trabalho de ruptura ou de desconstrução do universo anteriormente conhecido deve ser normalmente seguido de um período de reconstrução sobre novas bases com a eliminação da relação de dependência do terapeuta. A psicoterapia com êxito deve conjugar a diminuição dos sofrimentos, o desaparecimento das sequências dolorosas repetitivas e a autonomização do sujeito.

Quando se trata de terapia de grupo, os efeitos são ainda amplificados, a mobilização emocional é facilitada e os efeitos de sugestão aumentados. Uma distinção nítida entre o que se passa na sessão em grupo e os fenómenos da vida corrente, bem como um indispensável trabalho de autonomização, permitem evitar que a dependência momentânea em relação ao grupo se transforme em alienação duradoura.

Como saber discernir as diferenças?

Já se desenham aqui claras diferenças com a dinâmica criada nos grupos sectários. Estes seccionaram-se da religião matriz e, simultaneamente, perverteram o espírito doutrinal e confessional mudando-lhe os objectivos. Por exemplo: transformando dízimos, ofertas e esmolas em fontes de rendimento cujo destino é a satisfação de cobiças inconfessáveis dos líderes. Semelhantemente, as psicoterapias também foram seccionadas e pervertidas. É, portanto, necessário que os utilizadores tomem consciência das diferenças antes que seja demasiado tarde. Desconhecer, perigosamente, os grupos totalitários seria ignorar a extraordinária subtileza e hipocrisia que alguns mostram para assumir a aparência, a linguagem, os métodos, de verdadeiros terapeutas. Assim, a desestabilização, o enfraquecimento das referências e das certezas, a construção de um novo olhar, de um novo tom de voz, são sabiamente orquestrados. O vocabulário contribui, sendo equiparável a uma verdadeira iniciação. A desestabilização induz o recurso e a fixação ao pretenso terapeuta, visando criar uma dependência agora irreversível. O "tratamento" das dúvidas eventuais consiste em prescrever "um pouco mais da mesma coisa".

A teorização, mais ou menos elaborada segundo os grupos, pode evidenciar uma retórica sofisticada, tendo em conta a génese da pessoa, os supostos acontecimentos na origens das disfunções, as técnicas que permitem reduzir as disfunções e, finalmente, um modelo de "homem (ou mulher) liberto".

As referências, evidentemente derivadas da hipnose, da Psicanálise, da análise transaccional, da programação neurolinguística, das técnicas de grupo, nunca são explícitas e apresentam-se como originais e novas. Trata-se de um verdadeiro desvio de técnicas existentes com uma programação orientada da fase de reconstrução atrás referida.

Quanto aos efeitos produzidos, eles são inegáveis mas merecem ser examinados com mais atenção. Os efeitos imediatos podem ser espectaculares, o que explica a sinceridade de alguns testemunhos. A sugestão, o efeito de grupo, a mobilização das emoções, o sentimento de novidade, a dependência do "terapeuta" podem criar a curto prazo um sentimento de exaltação redutor dos conflitos, mobilizando as energias, suprimindo algum mal-estar, criando um sentimento de fusão com o grupo e de harmonia que se encontrará também nas situações autenticamente terapêuticas e ainda como nos primeiros meses e uma toxicomania, bem conhecidos pela expressão "lua-de-mel". Partindo daí, a verdadeira finalidade do grupo terá o seu efeito pleno, ou seja, a submissão ou construção de um universo fechado, impermeável e dogmático, escravizando os recursos da pessoa em lugar de a autonomizar.

Até aqui, retivemos apenas os elementos de analogia, ou mesmo confusão, entre terapias e grupos sectários: as mesmas expectativas da clientela, os mesmos métodos, vocabulário de iniciados genuínos, a mesma fase de desestabilização, a mesma diversidade de oferta na sociedade, custos não negligenciáveis de ambos os lados, porém finalidades diferentes mas ocultas no que respeita às seitas, a mesma desconfiança a priori da parte do grande público, a mesma ausência de estatuto oficial de alguns intervenientes, a mesma estranheza de certas práticas, os mesmos efeitos verificáveis a curto prazo... é preciso reconhecer que a máscara da psicoterapia funciona muito bem.

Então, desconfiar, sim, mas com discernimento...

Uma atitude de desconfiança generalizada para com as psicoterapias e as seitas parece ser a pior das soluções. As psicoterapias fazem parte integral da nossa cultura religiosa e mostram-se insubstituíveis. Quando associadas às prescrições médicas convencionais, têm permitido nos últimos anos que uma grande proporção de pessoas que sofrem de perturbações mentais já não sejam mantidas em instituições afins. O auxílio psicológico tornou-se um recurso incontornável em múltiplos domínios. Infelizmente, esses domínios são tão diversificados e constituem objecto de tais controvérsias entre as diferentes escolas que não podem ser regulamentados oficialmente e a única garantia assenta na seriedade de associações reconhecidas que possam apresentar-se como fiadoras dos terapeutas que formam.

No que respeita às seitas perigosas, se não nos queremos contentar com um diagnóstico a posteriori, não se pode senão consultar organizações vocacionadas para o efeito que as reportariam após uma análise rigorosa. Existem, contudo, critérios que resumimos a seguir:

- organização hierárquica rígida, guru autoproclamado, métodos de recrutamento sofisticado (sedução, máscaras, constrangimentos, etc.).

Concluindo, não é por acaso que os grupos totalitários seleccionaram, a par com a fachada religiosa, o campo das psicoterapias. Vemos aí três razões principais: é atraente, está disponível e está mal guardado.

A etiqueta psicoterapêutica é atraente porque corresponde a um regresso do individualismo e da iniciativa pessoal no mundo do anonimato e da civilização de massas. Oferece a possibilidade de uma progressão pessoal e a aquisição de um sentimento de poder sobre o seu destino.

O campo das psicoterapias está disponível para cada grupo, ao passo que a procura do poder por outras vias é muito mais aleatória ou arriscada (dominação religiosa, económica, política, mafiosa, etc.) devido à dificuldade de dissimulação.

Este campo está mal guardado porque está em plena expansão e é muito diversificado. O estatuto de psicoterapeuta não é objecto de nenhum reconhecimento legal nem de um controlo oficial. Esta confusão é propícia a todos os desvios.

Apesar de tudo, pode esperar-se que o público, cada vez mais advertido, aprenderá a fazer a distinção entre o processo de autonomização que deve ser a psicoterapia e o processo de alienação que visam as seitas.



Que fazer por alguém que é arrastado por um grupo manipulador?



Os que conheceram de perto esta experiência sabem que a recuperação é muito difícil. A adesão a um movimento destes tem todas as características das outras situações de dependência ou de viciação, como a da droga ou do álcool. Encontra-se nelas uma recusa em admitir a dependência, um afastamento do meio familiar, uma inacessibilidade do raciocínio, uma negação dos danos existentes ou previstos, uma reivindicação da liberdade individual, mesmo que esta atitude consista em destruir-se. Além disso, o "adepto" confirmado foi totalmente condicionado à fidelidade aos seus "mestres" e à impermeabilidade para com o mundo exterior.

Finalmente, o membro recrutado encontrou no movimento, pelo menos a princípio, uma resposta aparente para as suas aspirações e interrogações, comparável à "lua-de-mel" conhecida na toxicomania.

É necessário ter em conta que as acusações, os argumentos contrários e as eventuais ameaças mais não fazem do que reforçar a convicção e acentuar a ruptura. Parece muito importante manter um contacto caloroso e multiplicar as referências e os laços com o universo familiar, profissional, afectivo, amigável e outros. Só deste modo, chegado o momento, o adepto poderá reconciliar-se pelo menor preço com o mundo do qual se separou. O mesmo é dizer que as acções "de força" não compensam e que, tanto por preocupação ética como de eficácia, alguns métodos por vezes praticados (desmobilização forçada, reprogramação, etc.) devem ser abandonados.

Concluindo: mesmo que algumas estratégias isentas de escrúpulos suscitem a indignação, é preciso nunca esquecer que o desvio sectário se alimenta de quatro dados inseparáveis:

- a actividade e a oferta de organizações poderosas;

- as aspirações, a vulnerabilidade e a predisposição das pessoas;

- o ambiente geral da nossa sociedade, designado por contexto sociocultural, onde predomina a solidão, a insegurança, a inquietude e a violência das relações sociais;

- a falta de perspectivas espirituais que as grandes religiões deixaram de oferecer perante a agitação do mundo actual.

Se nada mudar nestes quatro domínios sociais, será vão esperar o desaparecimento do fenómeno sectário.



J. Curado