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  • As Mouras Encantadas
    Iniciado por godsdog
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AS MOURAS ENCANTADAS

"Na minha terra natal (nos arredores de Viana do Castelo), existem várias lendas sobre mouras encantadas. Houve até um antepassado meu que contava ter tido um breve encontro com uma. Segundo reza a lenda familiar, esse meu antepassado (tio avô da minha bisavó), encontrou uma dessas fantásticas criaturas numa pedreira abandonada. A moura, que era de uma beleza indescritivel, disse-lhe que estava ali presa há mil anos, e que só um beijo a libertaria. Em troca do ósculo, prometia-lhe riquezas e glória. Desde criança que o meu antepassado ouvia histórias sobre criaturas maléficas que, fazendo uso das mais variadas seduções e artifícios, roubavam a alma dos comuns mortais... daí que, perante a proposta da moura, tenha fugido assustado. E estava ele alguns metros adiante, quando um grito lancinante se fez ouvir em toda a floresta... ele apressou o passo, ainda mais assustado, e de seguida ouviu uma forte explosão. O tio avô da minha bisavó nunca mais pôs os pés naquele local.

Encontrei um interessante site dedicado às Mouras. Lá encontrei um texto sobre o assunto, que passo a transcrever:

"(...) A tradição popular refere, amiúde, a existência de mouras, em menções de várias lendas. Os factos são complexos e baralhados. Vamos dividi-los em dois grupos, para melhor os estudar. Assim, temos:

1. Mouras encantadas. São seres, diz Leite de Vasconcelos, dotados de força sobrenatural, que vivem em certos locais, como se estivessem adormecidos, enquanto certas circunstâncias não lhes quebrar o encanto. Estes locais são, normalmente, poços, fontes, cisternas, montanhas e ruínas. Por vezes têm um aspecto sedutor e apresentam-se aos viajantes que passam pelos seus domínios, convidando-os a passarem no dia seguinte, com alusões a objectos preciosos que guardam e propostas diversas. A crença popular acredita na possibilidade de se transformarem em serpentes. Martinho de Dume, o evangelizador do Minho (Séc. VI), designava as mouras da época (lamias) como mulheres-demónios expulsos do céu!
Diz ainda a opinião popular que estas mouras se encontram nesses locais a guardar tesouros deixados pelos mouros, até que alguém os possa descobrir.

2. Mouras fiandeiras. Estão associadas às construções dos antigos monumentos porque, acredita-se, enquanto acarretavam as pedras à cabeça iam a fiar com uma roca à cinta. E até se dizia em tempos, lá para os lados da Citânia de Briteiros, que se via de vez em quando uma moura a fiar enquanto pastoreava o gado.

Tudo indica, no entanto, que as histórias das mouras encantadas ou fiandeiras tenham origem muito anterior à presença dos mouros no país. Sabe-se que, no primeiro século da nossa era, tinham "sido vistos" à beira mar, perto de Lisboa, um tritão, com o seu búzio, e diversas nereides. O tritão (sereia-macho) é um símbolo mitológico-cabalístico com origem na lenda de Perséfone e que significa que "alma sobrevive ao corpo" 1. Foi complexa a evolução da sua imagem. Entre os Gregos tem forma alada. Depois tomou a forma de mulher, com as pernas em forma de peixe. É assim que aparece nas pinturas e esculturas nas igrejas. Com o tronco masculino e cara barbada surge nos documentos náuticos dos séc. XV e XVI e em alguns monumentos, como os de Conínbriga.

E em Lisboa também se encontram facilmente restos dessas crenças, o que não admira sendo uma cidade tão antiga. Ainda hoje há um sítio, nesta cidade, chamado Cova da Moura. De facto, na região existem muitas covas, lapas e grutas, que tiveram serventias diversas. Da cova da Moura não resta o menor vestígio, estando o sítio ocupado pelo casario.

A relação das mouras com o elemento líquido é evidente. A santificação e o culto das águas tinha, para os antigos lusitanos, grande importância. Não diminuiu na época lusitano-romana e em muitos casos mantém-se ainda. A água tem mesmo grande importância em qualquer cerimónia religiosa. É um importante símbolo, que se relaciona com a vida, com as origens, com o renascimento e a regeneração.

Na crença popular há também, ainda hoje a convicção da existência de "águas mortas" (a que está fora de casa, à meia-noite) e de "águas vivas" (as que brotam da terra e têm prestígio sagrado. As águas mortas podem ser vivificadas com uma fórmula que todas as crianças conheciam 2 . Todavia, na manhã de S. João, todas as águas são consideradas sagradas, porque são fecundadas, nesse dia, pelo Sol. E daí a existência dos banhos santos no dia de S. João, como é hábito, por exemplo, na praia de S. Bartolomeu do Mar (Esposende)

3. Ficámos a saber que as mouras são seres sobrenaturais, normalmente associadas às águas, e que a sua existência é assinalada muito antes das invasões dos árabes. E que são, pelo menos em parte, as herdeiras das tradições culturais greco-latinas. Deve-se dizer, agora, que na Idade Média, muitas pessoas ainda tinham restos de clarividência negativa e viam seres chamados elementais, cuja função estava associada às forças que designamos por leis da Natureza. As ondinas e as ninfas eram os espíritos sub-humanos que habitavam nos rios e nas correntes de água. Além disso, as mouras também estão associadas às Parcas 4, que eram divindades que presidiam ao nascimento e depois ao casamento e à morte. Eram as "fiandeiras da vida e da morte". Uma segura o fuso e puxa o fio da vida (o cordão prateado); a segunda enrola-o, registando o "filme" da vida e a base da existência futura e determina o momento da morte; e a terceira corta inflexivelmente esse fio. Na arte, as três parcas foram associadas às "três graças".

Compreenderemos melhor, agora, este assunto, se nos lembrarmos que a palavra moura não deve ser considerada o feminino de mouro, mas um sinónimo de moira, palavra grega que significa "destino", como se pode ver em Horácio 5.

O conceito popular de Moira atribui à fatalidade qualquer série de coincidências à primeira vista inexplicáveis e, sobretudo, as mais infelizes. Os mais conhecedores relacionam a Moira com a justiça e a providência, quer dizer, com a cadeia de causas ou série de causas, que determinam um efeito (lei de causa e efeito). E falam, por isso, em moira maléfica e moira benéfica relacionando-as com divindades ctónicas, que são seres sobrenaturais que habitam as cavidades da terra."


fonte: a-respublica.blogspot.com







Título alterado devido à utilização excessiva de maiúsculas. Consultar Regras Gerais do Fórum, alínea 12. Obrigado.


#1
Muito interessante! As histórias de Moiras encantadas também são comuns no Algarve.

Olá!

Realmente Leite de vasconselos apesar de pertencer ao sec XIX é um marco ainda actual na nossa cultura.Para além de escrever "as religiões da Lusitânia" têm inúmeras obras sobre etnografia.

Quanto ás Moiras,é verdade que é um tema transversal a todos os paises mediterrâneos,para não ir mais longe.

Em França temos a Lenda de Melusine,que é em tudo comparada á Dama Pé de Cabra conhecida em toda a península hiberica.

Em minha opinião o facto de habitarem em locais ermos,como pedreiras,lagos ou locais em tempos habitados,ligam-nas á vida e ao destino dos homens.
Veremos que as grandes cidades de origem medieval estão perto de rios.

Lisboa,Porto,Paris,Londres...Onde há agua há vida,está o destino humano.

Em Portugal e na Galiza todos os locais têm a sua moira encantada,qual branca de neve dormindo esperando seu amado.
Creio que os povos que aqui habitaram já tinham o conceito de Destino,Os Romanos trouxeram o termo,Moira,e os Árabes personificaram-no através da bela mulher,a princesa Árabe e que mais tarde o Cristianismo anatomizou.

Fada,Moira,são destino.Platão na "Republica" já no final do livro fala de Er-o Panfilio.
Leam-no ele esclarece o que é moira e como "tecem" o que chamamos Destino.

Para terminar,o  "encontro" de um humano com uma destas criaturas conduz no final a um embroglio.
Estas criaturas proporcionam tudo mas impoêm condições que não podem ser quebradas e que se o forem as consequências serão terríveis e irreversíveis para ambos.
A razão prende-se ao facto já referido,o ser humano é perecível,por isso fazemo-las habitar em locais não humanamente habitados como pedreiras,rios,fontes.Essas criaturas pertencem ao imaginario são eternas.
Ao contrario do ser humano essas criaturas contentam-se com sua condição.
A nossa condição é mais tarde ou mais cedo quebrar o contrato.Todas as historias acabam assim.Sabemos que não somos como elas,e temos curiosidade em conhecer seu segredo.

...E não sabendo que era impossivel foi lá...e fez

Quais segredos podem elas guardar, na tua perspectiva?
Então, elas não têm qualquer desejo de nos amaldiçoar?
Que procuram elas, assim?
Fiquei confusa... ::)
Beijo.

#4
Olá!

Primeiro estas "fadas" não existem na realidade,são seres imaginarios.

O mito de Eros e Psique é uma historia de fadas no masculino.
Acontece que o seu segredo,é a felicidade que a ilusão nos proporciona a sua beleza ou outro atributo . Sem querermos saber do que é que nos reserva o futuro,vivendo e usufruindo,nao questionando.
Se ultrapassarmos essa barreira e querermos saber, terminamos o encanto,a ilusão,então somos expulsos do sonho parasidiaco e entregues ao pesadelo da realidade.Sem retorno pois já sabemos.
...E não sabendo que era impossivel foi lá...e fez

Mmmm...
És é um grande céptico!!
Que sabe bué, para variar... :P
Mas sim, tens razão.
És mesmo assim, desacreditas estas coisas Sobrenaturais logo à primeira vista?
:-*

Olá!

Que te posso dizer mais?!
Sou crente quando o meu discernimento me diz para o ser ,sou ceptico pelos mesmos motivos.
Fica bem.
...E não sabendo que era impossivel foi lá...e fez