Bem-vindo ao Portugal Paranormal. Por favor, faça o login ou registe-se.
Total de membros
19.523
Total de mensagens
369.634
Total de tópicos
26.970
  • Um País que desiste dos seus artistas é um País que desiste da sua inteligência
    Iniciado por Gawen
    Lido 2.127 vezes
0 Membros e 1 Visitante estão a ver este tópico.
É a cultura, estúpido!

As indústrias criativas são fundamentais para a economia. Mas elas não existem sem cultura e arte. O Estado quase não gasta neste sector, que vive no limiar da morte súbita. Vai cortar ainda mais.

É quase patético o que o Estado português gasta em cultura. Chega por isso a ser insultuoso que se insista em falar em subsidiodependência quando todo o dinheiro do Estado que nela é investido não daria para uma obra pública que se visse.

Poderá parecer normal a notícia de que os apoios às actividades culturais vão sofrer um corte de 10% graças à cativação geral de 20% do orçamento do Ministério da Cultura, aquele que de longe menos gasta aos contribuintes (e o pouco que recebe gasta consigo próprio) e que tem, em termos relativos, dos orçamentos mais baixos da Europa.

Para uma actividade que vive no limite da sobrevivência (e que já é largamente financiada pelos próprios criadores), 10% é o golpe de misericórdia. Sobretudo se tivermos em conta que, depois de dez anos de cortes sucessivos nos já magros apoios, esta é uma área onde a austeridade não começou agora.

Bem sei que o ambiente não está para defender a manutenção de apoios públicos. Se eu estivesse a escrever sobre agricultores provavelmente muitas almas se condoeriam. Sendo sobre produtores culturais e artistas, parte-se do princípio de que aquilo não é bem trabalho. Mas é. E, para quem não sabe, trata-se de uma das poucas áreas que, mesmo com apoios públicos ridículos, cresceu. Ao contrário de outras actividades económicas, cada tostão investido fez-se sentir em emprego, produção e exportação.

Não deveria ter de escrever que um País sem cultura nem criadores não é bem um País. Mas vou para outro argumento que talvez, neste tempo, pegue melhor: a cultura e o entretenimento são uma das áreas de maior crescimento em todo o Mundo. Segundo o "Creative Economy Report 2008" das Nações Unidas, o sector cultural e criativo representava, em 2005, 3,4% do comércio mundial.

Mais recentemente, Augusto Mateus coordenou um estudo onde se concluía que o sector cultural e criativo representava 2,8% da riqueza gerada em Portugal (3,691 milhões de euros) e que dava emprego a 126 mil pessoas. Neste sector estão incluídas as actividades culturais nucleares (património, artes visuais, criação literária e artes performativas); as indústrias culturais (música, edição, software educativo e de lazer, cinema e vídeo e rádio e televisão); e as actividades criativas (serviços de software, arquitectura, publicidade, design e componentes criativas noutras actividades). O combustível desta gigantesca indústria são as actividades culturais nucleares. Sem elas, o motor pára. Não perceber isto é o mesmo que achar que é possível ter uma indústria de ponta sem investir em educação.

Mais do que isso: a criação artística afecta todas as áreas económicas que queiram acrescentar valor ao que produzem. Basta olhar para o sector do calçado ou dos têxteis para perceber quem sobreviveu e conseguiu competir. Que valor ali foi acrescentado ao que se fazia? Ou seja, sem criatividade não há qualidade. E sem arte, não há design, publicidade e por aí adiante. Não há desenvolvimento das telecomunicações, dos novos media e do entretenimento (tudo áreas de negócio com futuro) sem os famosos "conteúdos". E não há "conteúdos" (como eu odeio esta palavra) sem produção cultural. Não há turismo competitivo sem actividades culturais. Não faltam no Mundo países mais baratos e com melhores praias.

Aqui vai outro argumento pragmático: o cinema português, por exemplo, fez mais pela internacionalização de Portugal do que qualquer outra actividade (talvez com a excepção do futebol). Numa lista recente dos cem melhores filmes da década, que tinha à cabeça obras primas como "Elephant", "Mulholland Drive" e "Saraband" e que está repleta de filmes chamados de "comerciais", surgem seis filmes portugueses, com João César Monteiro logo em 20º lugar. Noutra, da revista americana "New Yorker", surgem dois, em sessenta, com Manoel de Oliveira em quarto. Quantos países de dimensão económica semelhante à nossa atingiram o mesmo nível de qualidade e notoriedade? Quantos sectores de actividade nacional alcançam a mesma projecção internacional? E quanto gastou o Estado, se compararmos com outros países europeus e com outras actividades?

No entanto, a ideia de que num pais da dimensão de Portugal a cultura pode depender exclusivamente do mercado é absurda. Nunca assim foi, nunca assim será. Mesmo potências culturais como a França ou a Alemanha, com mercados internos bem maiores do que o português, investem muito dinheiro público no apoio à produção cultural. E consideram esse investimento uma prioridade. Ele não é um favor a ninguém. Assim como o investimento em Investigação e Desenvolvimento (garantido, em Portugal, quase exclusivamente pelo Estado) não é um favor aos cientistas, não é imediatamente rentável mas é central para o desenvolvimento económico e social de um País.

Um País que desiste dos seus artistas é um País que desiste da sua inteligência. Um País que desiste da sua inteligência é um País que desiste do seu futuro. Tendo em conta os reduzidos montantes de que estamos a falar, estes cortes são um crime. Um crime contra a esperança de sairmos do estado em que estamos. De virmos a ser mais do que uma bolsa de mão de obra barata.

E só o facto de me ter visto obrigado a dar argumentos económicos para defender o apoio público à cultura diz muito do estado a que já chegámos.

Daniel Oliveira
in "Expresso"

Acho que há razão neste artigo, o estado não pode desistir da cultura.
O problema é os subsidios que são canalizados para projectos que de culturais só têm a designação, é a velha maxima , por causa d'uns pagam os outros.


VIVA A CULTURA
mas a verdadeira!


Beijokas
Quando sou boa, sou boa, mas quando sou má, sou melhor ainda.

Aqui nem é tanto esse o problema, porque os projectos para serem aceites e subsidiados têm que cumprir uma série de "normas" para que sejam apoiados pelo Ministério da Cultura e afins.

O problema, é que o apoio do estado é e sempre foi muito pequeno, esta redução vai fazer com que inúmeros projectos que estão agora em andamento fiquem parados, e outros nem vão chegar a arrancar!
Ou seja, nos projectos em andamento, trata-se de um recuo com o que estava previamente acordado.

A própria Ministra da Cultura afirmou não ter resposta quando lhe foi perguntado o que faria se fosse uma artista independente.

Tudo bem que estamos em crise, e que em todos os sectores se têm estado a verificar cortes, mas na cultura, e tal como refere o artigo, os cortes têm sido uma constante e se os apoios do estado já eram escassos, agora então nem se fala.

Enfim, vamos lá ver onde é que isto vai parar.

Vai parar do modo seguinte:

Muitos artistas desistem pura e simplesmente, outros passam fome interrompem projectosmas morrem de pé.

O objectivo, bom isso já é uma outra história, é sómente o ceifar da inteligencia do cidadão comum, mais descaradamente do que no tempo de salazar.

Pove que não pensa, consente e não se revolta.

Aposto que os nossos antepassados darão milhões de voltas e reviravoltas nos seus túmulos gritando sem que ninguém os possa ouvir: - Liberte-me! tirem-me daqui! que já vos mostro como se fazem as coisas...

Enfim, sozinha nada posso fazer quando a maior parte dos outros se calam.
Sou como sou, quem gosta, muito bem.
Quem não gosta, paciência!
Viva a liberdade de escolha!

Moon*
A Arte e a Cultura, ainda para a maioria da população quer seja comum ou politica (mas estes tem que demonstrar uma preocupação e valorização da Arte, Cultura e Património) considera que "essas coisas" são dispensáveis, não se ganha nada.

Ora o teu tópico fez-me lembrar Vieira da Silva...




... que teve que ir para França porque não havia apoios aos artistas portugueses.
Hoje tem um Museu em sua honra, Museu Arpad Szenes (marido) - Vieira da Silva (ela).

Quem dá este exemplo dá outros, começando mesmo por cá e pela degradação do Património Artístico que cai aos pedaços, ou até mesmo aqueles que são abandonados.

Hummmmm

Acho que vou levar os meus livros para fora do país....

Quem sabe se daqui a uns anos também tenho uma biblioteca em meu nome.... eheheheheheheheheh
Sou como sou, quem gosta, muito bem.
Quem não gosta, paciência!
Viva a liberdade de escolha!

É frustrante, para mim, que estou a tirar o curso de Cinema, e para muitos outros ver assim o tapete a fugir debaixo dos pés, tapete esse que nunca foi muito seguro.

Falo por mim, acho que há muita coisa que se pode fazer neste país e, de certa forma, gostava de poder contribuir para o cinema português (e, consequentemente, para a cultura do nosso país). O que é certo é que é este mesmo país que nos empurra para fora dele. Não se dá valor ao que se faz em Portugal, apenas se critica "é português, logo não presta". Mas depois "come-se" de tudo o que venha de fora, preste ou não, desde que esteja na moda.

Está a decorrer uma petição contra estes cortes: http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=DL72A
Já conta com 1564 assinaturas.


Ministra da Cultura recua: Não haverá cortes orçamentais
12 de Julho de 2010, 21:46

A ministra da Cultura anunciou hoje que não haverá cortes orçamentais no sector das artes, invocando «solidariedade interministerial». O anúncio foi feito depois do encontro que Gabriela Canavilhas teve com representantes da Plataforma das Artes.

Desde que, em Junho, a ministra anunciou um corte de 10% no orçamento da Cultura que os vários sectores das artes têm protestado em várias reuniões públicas.

Depois de, este fim-de-semana, ter sido anunciado que Jorge Barreto Xavier se tinha demitido do cargo de Director Geral das Artes e de, em comunicado, o ministério ter mostrado «satisfação» com a saída, os artistas pressionaram Gabriela Canavilhas no sentido de marcar uma reunião em que pudessem fazer um ponto de situação.

Esse encontro aconteceu esta tarde, juntou representantes de áreas como o teatro, o cinema e a dança, e acabou por resultar num recuo da ministra.

SAPO/Lusa

Boas notícias. ;)

Vou aqui ressuscitar este tópico para ,tal como tenho noutro tópico semelhante, dar a minha opinião sobre a cultura em Portugal.
Em Portugal existem três tipos de culturas: Futebol, Vida alheia e Corrupção.

Para quê motivar as crianças a ver um concerto ou uma peça de teatro se pode ver pessoas a correr atrás de uma bola durante 90 minutos?!
Para quê ver uma exposição de arte quando podemos ficar a ver a Casa dos Segredos, onde pessoas mostram a sua falta de cultura e educação?!

Eu como um dos muitos artistas deste país, tenho vergonha! Tenho vergonha de ser músico neste país!
É por isso que tal como outros vou pegar nas minhas tralhinhas e vou para um país onde a ARTE e os ARTISTAS TÊM RESPEITO!!!! Onde ser músico é um orgulho para a nação! Onde ser ator ou pintor é uma profissão respeitada e valorizada!!!

Enquanto isto não mudar podem ter acerteza que não passamos disto, de um país inculto, um país de rebanhos controlados por tudo e todos.

I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Podes ter a certeza que ser artista neste país não é digno de respeito, aliás, é até ridicularizado.
Começa desde logo nas instituições de ensino: as cadeiras de música, arte visual e teatro, por exemplo, são logo deixadas de lado como as menos importantes, as menos cruciais. Os próprios professores menosprezam o valor e o talento dos alunos e acham que não passam de uns preguiçosos que não querem se esforçar em cursos 'decentes' como engenharia ou medicina...Cultivar o lado direito do cérebro para quê ? Não leva a lado nenhum, é só andar a inventar uns rabiscos ali, a cantarolar acolá, a apertar umas teclas acoli, ter uma certa piada no palco... Para quê investir nessas parvoíces? Não vale mesmo a pena.
Quem quer ter um futuro de jeito, investe na matemática, na biologia, na quimica...Os outros são todos uns atrasados mentais.
Viramo-nos para alguém e dizemos que somos da área de artes, olham logo com ar inquisidor ou de pena..."porque fizeste essa burrice?"
Enquanto a mentalidade geral não mudar e as crianças não forem educadas de certa maneira, isto nunca vai sair da cepa torta.

Desabafos à parte, por acaso, ainda há pouco tempo deu na televisão uma cantora lírica que anda há 3 anos a fazer sucesso por Londres...

Quem conhece países como a Alemanha, Inglaterra, suíça e similares sabe o quão valorizadas são as artes. É uma coisa de louvar a ligação, o respeito, o interesse da população sobre a arte.
Sabes o que andar na rua e as pessoas passarem por ti e reconhecerem-te de um concerto. Sabes o que é pessoas no final de um concerto porem-se de pé e aplaudirem com um sorriso na cara.
Cá Sao poucas as pessoas que já viram um concerto. Metade das pessoas não sabe o nome dos instrumentos.
O problema é não só a cultura mas também o conhecimento é escasso em portugal. Estamos condenados a viver um pouco inculto que nunca terá o lazer de partilhar a vida com a magnifica arte à nossa Volta.
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Puca
Pois por isso é que vivemos nesta miséria de sociedade. Só quando algum "inteligente" perceber que arte e cultura são alimento para a alma e que um ser humano (digno deste nome) necessita tanto disso como de alimento para o corpo para se manter em equilíbrio, talvez algo mexa nesta área. Até lá é melhor esperar sentado e fazer qualquer outro trabalheco que sirva para pelo menos alimentar o corpinho.

Excluo totalmente do meu conceito de arte e cultura, misérias como as touradas que todos nós patrocinamos com os nossos impostos como se tal o fosse.

O problema é que este país não valoriza os seus filhos. Não é só no campo artistico mas também no campo científico.
Exportamos médicos bem cotados- Importamos médicos do 3º Mundo
Exportamos cientistas bem classificados - Importamos "Zés Ninguém"
EXportamos músicos - Importamos música de 3ª categoria
Exportamos engenheiros especializados - Importamos "mão d`obra barata"
Exportamos a nossa juventude bem formada - Aceitamos , ladrões, assassinos, golpistas...

Citação de: Puca em 10 dezembro, 2014, 02:04
Pois por isso é que vivemos nesta miséria de sociedade. Só quando algum "inteligente" perceber que arte e cultura são alimento para a alma e que um ser humano (digno deste nome) necessita tanto disso como de alimento para o corpo para se manter em equilíbrio, talvez algo mexa nesta área. Até lá é melhor esperar sentado e fazer qualquer outro trabalheco que sirva para pelo menos alimentar o corpinho.

Excluo totalmente do meu conceito de arte e cultura, misérias como as touradas que todos nós patrocinamos com os nossos impostos como se tal o fosse.

Pois...quando a nossa sociedade perceber que a cultura e arte são algo importante, isto vai mudar! Até lá, resta-nos rezar para que isso aconteça.
Citação de: oculto em 10 dezembro, 2014, 07:27
O problema é que este país não valoriza os seus filhos. Não é só no campo artistico mas também no campo científico.
Exportamos médicos bem cotados- Importamos médicos do 3º Mundo
Exportamos cientistas bem classificados - Importamos "Zés Ninguém"
EXportamos músicos - Importamos música de 3ª categoria
Exportamos engenheiros especializados - Importamos "mão d`obra barata"
Exportamos a nossa juventude bem formada - Aceitamos , ladrões, assassinos, golpistas...

Nem mais! 70% dos músicos que se formaram cá estão lá fora a acabar mestrados e a trabalhar. Eu acabei a minha formação lá fora e vou para la trabalhar!
Nós estamos a perder tudo o que temos de melhor. Os nossos cientistas, médicos e semelhantes estão na Alemanha , Inglaterra..
Estamos perdidos...
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"