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  • Feitiços e rituais portugueses
    Iniciado por frozenscarlet
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Olá! Comecei há cerca de meio ano a aprender sobre bruxaria, astrologia e tarot, muito em artigos escritos em inglês ou em português do Brasil.
Acontece que toda a vida ouvi falar em "ir à bruxa" (e todo o estigma envolvido), mas nunca percebi em que consistia a prática destas senhoras, no entanto, gostava de aprender.
Assim sendo, pergunto a todos os bruxos deste fórum onde aprenderam a sua prática, se tiveram algum mentor, ou se foi transmitido por gerações anteriores.

Boa Noite.
Excelente pergunta.
Na realidade, e falando apenas no âmbito nacional, há vários modelos distintos de aprendizagem que revelam realidades sociais diferentes.
Podemos falar de um modelo "antigo" das bruxas, médiuns, bruxos videntes...que aprenderam as práticas do seu trabalho até aos anos setenta, oitenta do século XX. São digamos os clássicos: a bruxa ou vidente que trabalhava no limiar do catolicismo, com santinhos, água benta e rezas católicas. Esta tradição vem desde o final do sec XIX. Como exemplo temos o Joãozinho de Alcochete,  a Emília Vieira (cartomante de Salazar)  ou antes a Madame Bruoillard (primeira república).  Foram pessoas autodidatas que fizeram a sua aprendizagem com vários Mestres e que trabalhavam na área da cartomancia, espiritismo cadercista e praticavam uma magia dita "classica" europeia.
Depois do 25 de Abril de 1974, e depois da descolonização em Portugal passaram a trabalhar muitos bruxos, adivinhos e médiuns africanos. Moçambicanos, angolanos e guineenses,  estes últimos a trabalhar sobretudo para a comunidade africana, mas angolanos e moçbicanos a trabalhar para o chamado grande público. Nestes,  a aprendizagem quase sempre foi feita no contexto familiar e por tradição oral. Como meio de oráculo,  usavam e usam ainda conchas, ossos e vísceras. A tradição de trabalhos de magia são as tradições da África oriental, no caso dos moçambicanos, e a tradição Fula e Banto no caso dos guineenses e angolanos.
Nos anos 90 viveu-se uma primeira vaga de imigração brasileira e em Portugal começou a praticar-se Umbanda e Candomblé,  com os primeiros Pais e Mães de Santo. Estes trouxeram a tradição africana de origem Ioruba e americana nos cultos de Pajes,  Cabolos e Torés. Nestas tradições a aprendizagem é totalmente ritualizada e "trabalhar" espiritualmente é o culminar de um processo e evolução dentro da hierarquia.
Com o seculo XXI e o advento da Internet, começaram a aparecer pessoas a trabalhar que fizeram a sua evolução baseada numa pesquisa individual e de alguma forma "criaram" o seu próprio estilo e vão aprendendo aqui e ali. 
Pessoalmente, eu que já aqui ando há uns aninhos e tive oportunidade de conhecer e "trabalhar" com pessoas dos vários estilos que atrás descrevi, acho ninguém pode aprender tudo sozinho. Há sem dúvida um grande esforço individual de aprendizagens que se faz a sós... Mas precisamos sempre de ir aprendendo com professores.
Mas como conta a tradição: "quando o aprendiz está pronto, o mestre aparece".
Isto para lhe dizer que deve continuar a estudar e aprender e que quando tiver dúvidas, pergunte. Só assim se aprender!
Da minha parte vou respondendo ao que souber e puder. Tendo em conta que aprendi o suficiente para saber que sei muito pouco.
Fique bem, fique em paz.
Existem as coisas que podemos mudar.
Existem as coisas que não podemos mudar.
Sabedoria é mudar o que pudermos mudar e adaptar-nos ao que tivermos que nos adaptar.

Boa noite. Obrigada pela resposta bastante informativa. Assim sendo, concluo que a prática portuguesa é influenciada por várias culturas, mas como referiu, por exemplo, a cultura e prática africana, seria a prática desses rituais, por mim, apropriação cultural? Ou isso iria depender de quem o tal mestre fosse?

Aproveito também para perguntar se há mais alguma fonte onde possa encontrar informações como esta, pois tudo isso é informação nova para mim que nunca tinha lido em lado nenhum e gostaria mesmo de aprender mais.

Mais uma vez obrigada!

Tuda a produção intelectual é apropriação cultural de uma determinada maneira.  As sociedades e culturas interpenetram-se e enriquecem-se. Se isto é uma verdade transversal,  no plano da magia e esoterismo ainda o é mais... Veja o enriquecimento que a tradição da magia africana teve ao ter contacto com a tradição dos índios no continente americano... Ou como a tradição da magia celta e do norte da Europa foi enriquecida com a tradição dos povos do norte de África e do Médio Oriente para   dar origem à tradição medieval Europeia (lembro que São Cipriano foi bispo em Cartago -- actual Tunísia e que os ensinamentos da cabala judaica vêm do médio Oriente).  Dou estes exemplos para mostrar que não há apropriação cultural, há apenas aprendizagem.
Aprenda o que puder com quem puder.  Prefira aprender directamente com quem sabe é faz a aprender com livros,  mas não deixe de ler os livros. Prefira aprender nos livros a aprender na net,  mas não deixe de pesquisar sites...
A aprendizagem é um processo... Deixe fluir. 
Existem as coisas que podemos mudar.
Existem as coisas que não podemos mudar.
Sabedoria é mudar o que pudermos mudar e adaptar-nos ao que tivermos que nos adaptar.

Citação de: frozenscarlet em 03 dezembro, 2020, 22:40
Olá! Comecei há cerca de meio ano a aprender sobre bruxaria, astrologia e tarot, muito em artigos escritos em inglês ou em português do Brasil.
Acontece que toda a vida ouvi falar em "ir à bruxa" (e todo o estigma envolvido), mas nunca percebi em que consistia a prática destas senhoras, no entanto, gostava de aprender.
Assim sendo, pergunto a todos os bruxos deste fórum onde aprenderam a sua prática, se tiveram algum mentor, ou se foi transmitido por gerações anteriores.


Olá Frozenscarlet 😃

Não é muito debatida a distinção entre Feitiçaria/Bruxaria maior (Iniciática, filosófica, espiritual) de feitiçaria/bruxaria menor (métodos,receitas e rituais para diversos fins).

Na Feitiçaria Iniciática é aprendido um conteúdo maior, desde as matérias mais elevadas e filosóficas às mais inferiores,que suprem necessidades físicas imediatas.Aprende-se estruturadamente sobre as Causas que geram as manifestações físicas e como naturalmente alinhar a nossa vontade com estas forças que produzem os efeitos no plano físico.

Encontras uma sólida formação em Confrarias, irmandades, officinas e grupos de Feitiçaria Iniciática, que não são simples de encontrar, visto que costumam ser sociedades discretas, pouco publicitadas.

Mas ainda sobre as distinções de Feitiçaria/Bruxaria.

A Feitiçaria Menor é um termo amplo que se refere a várias tradições mágicas e religiosas que têm suas raízes em diferentes culturas e regiões do mundo. Essas tradições podem incluir a Wicca não tradicional, Hoodoo, Santeria, entre outras, e podem variar significativamente em suas crenças, práticas e estrutura organizacional.

Por outro lado, a Feitiçaria Iniciática é uma forma específica de Feitiçaria que se baseia em tradições iniciáticas que enfatizam o trabalho com mistérios, rituais de iniciação e um sistema hierárquico de ensino.

Uma das principais características da Feitiçaria Iniciática é que ela é geralmente praticada em grupos ou covens, com uma estrutura hierárquica de liderança e ensino. Os praticantes da Feitiçaria Iniciática passam por um processo de iniciação, que envolve rituais e ensinamentos secretos transmitidos por um mentores ou instrutores iniciáticos para o iniciado.

Outra característica importante da Feitiçaria Iniciática é sua ênfase na prática de magia e trabalho com energias sutis. Os praticantes da Feitiçaria Iniciática usam uma variedade de ferramentas, como velas, incenso, ervas, cristais e símbolos mágicos, para trabalhar com essas energias e manifestar diversos objetivos.

Em resumo, enquanto a Feitiçaria Menor é um termo amplo que abrange várias tradições mágicas e religiosas, a Feitiçaria Iniciática é uma forma específica de Feitiçaria que se baseia em tradições iniciáticas e é praticada em grupos hierárquicos com ênfase na prática da magia.

Espero que esta definição possa ajudar a encontrar qual das vertentes buscas! 🌟

" Quod est inferius est sicut quod est superius, et quod est superius est sicut quod est inferius, ad perpetranda miracula rei unius "

#5
O que se entende tradicionalmente por bruxaria envolve um conjunto diverso de diferentes práticas muito diferentes entre si. A Bruxaria é uma Arte que foi intensamente perseguida em Portugal a partir de 1536, que foi o ano de fundação da Inquisição portuguesa. Por esta altura, século XVI, e depois, no século XVII, também houve uma paranóia de perseguição às bruxas na Europa do Norte e na Europa Central. É por esta razão que a Arte sobreviveu até hoje com mais vigor na Roménia ou na Bulgária, países que escaparam longe do fanatismo da Inquisição católica de Portugal e de Espanha ou da Reforma protestante, e entre a comunidade cigana.

No caso português a bruxaria original tinha a sua origem na Tradição pagã indo-europeia. Isto significa que tinha a sua origem nas tradições de povos de pastores que no Neolítico colonizaram a Europa, vindos da Turquia, do Cáucaso e do Médio Oriente. Ainda no Império Romano vieram para Portugal os judeus, que traziam linhas mágicas poderosas e diferentes da magia celta e romana, e mais tarde vieram árabes e berberes, que tinham também a sua escola mágica. Assim, misturaram-se conhecimentos de três tradições diferentes durante a nossa Idade Média.

Durante o período da Inquisição, de 1536 a 1822 o conhecimento mágico ficará mais restrito ao Sul do país, e era passado em segredo dentro da família, geralmente de mãe para filha. No século XIX, com o fim da Inquisição, aparecem então algumas pessoas que já atendem em casa. E o que faziam? Havia pessoas que faziam rezas diversas e benzeduras, outras tinham algum dom de mediunidade, outras ainda praticavam cartomancia tradicional, arte passada dentro da família, e havia claro quem fizesse "trabalhos" com diversos fins, geralmente para resolver problemas de heranças, curar doenças, curar animais, amarrações, pagamento de dívidas, alavancagem de negócios comerciais, etc. A Arte era passada de mãe para filha, no entanto considerava-se que os homossexuais também tinham especial dom para a Arte, e daí surgirem casos de bruxos (que na vida privada eram homossexuais, ou bissexuais). Mas as verdadeiras bruxas, eram digamos outra fruta...

E que era isto de verdadeiras bruxas? Eram mulheres iniciadas por entidade, com poderes mágicos avançados, por exemplo, a capacidade de sair no astral conscientemente. Pouquíssimas tinham tal privilégio. Muitas tinham gatos, que funcionavam como espíritos guia e protectores. Praticavam o baile das bruxas, ou sabath, onde tomavam ervas com poderes alucinogénicos que facilitavam a incorporação das entidades. Os bailes ocorriam no campo ou na serra, à noite. Um dos últimos ocorreu ainda nos anos 30, na região de Aljezur, e ficou na altura famoso por ter chegado ao conhecimento de Salazar, que proibiu a sua realização e a venda de livros de ocultismo.

Depois do 25 de Abril, como já foi dito, chegaram a Portugal outra linhagens e tradições, vindas de África e da América Latina. Mas nessa fase a dita tradição portuguesa já estava muito adulterada e distorcida, fruto de séculos de perseguição.

De resto, quanto a aprendizagens... hoje em dia é fácil aprender alguns oráculos, basta alguma dedicação e alguns meses depois já se consegue usar cartomancia ou Tarot para orientarmos a nossa vida pessoal. A Radiestesia é outra fruta e exige mais cuidado, estudo e preparação, mas também é possível. A Astrologia também se pode aprender, mas exige alguns meses de dedicação para se conseguir um conhecimento básico bem estruturado. Conhecimentos avançados de Astrologia podem exigir alguns anos de estudo... e muito avançados só se aprendem em algumas sociedades secretas pois há uma Astrologia esotérica que não é pública.

Contudo, ser um bruxo ou bruxa a sério, só com entrada numa sociedade secreta ou num coven, e os verdadeiros não estão aí a cada esquina. Além disso entrar não significa progredir, muitos são os chamados mas poucos são os escolhidos... para progredir é necessário ter qualidades especiais, uma das principais é a capacidade de guardar segredo em toda e qualquer circunstância!
C'est dans l'air.