Bem-vindo ao Portugal Paranormal. Por favor, faça o login ou registe-se.
Total de membros
19.507
Total de mensagens
369.620
Total de tópicos
26.965
  • A noiva que não queria engelhar o vestido
    Iniciado por Templa
    Lido 2.118 vezes
0 Membros e 1 Visitante estão a ver este tópico.


         Vislumbrei-a pela primeira vez numa esquina, ao que me pareceu, Rua do Almada com a da Fábrica. Ou talvez não. A rua, estreita, um carreiro entre casas que se abraçavam entre si, tinha ao centro umas lajes resultantes da última grande revolução das infra-estruturas subterrâneas no Porto que as do Almada e da Fábrica não têm. Na mesma esquina, antes, já tinha visto um carro de corso, no caso, de casamento, uma carrinha de caixa aberta cheia de pessoas com ar de quem ia ou regressava de um enlace matrimonial. Deparei-me também com um anjinho – não me lembro das asas, só de uma carinha bolachuda e dos cabelos louros, de sexo indistinto como só os anjos,  sentado atrás num banco da camioneta, no meio de adultos para quem não tive grandes olhos.

          Depois surge então a noiva, uma rapariga elegante,  de porte altivo como se fora a dona do mundo. Num belíssimo vestido branco a realçar-lhe as curvas esculturais, seguia sozinha à minha frente, sobre uns altíssimos sapatos de tacão, espevitando a curiosidade de quem, no interior dos estabelecimentos, corria à porta para a ver passar solitária e linda.
A meio do percurso, vindos de todo o lado, começaram a surgir inúmeros rapazes, estudantes trajando capas negras, que, mais adiante, as lançaram no meio do lajedo convidando com esse gesto a noiva a passar sobre elas.

          Sorridente, recusou sempre, prosseguindo no seu passo elegante de salto alto, cauda a arrastar como se quisesse prolongar a sereia que havia dentro de si.

          Até que chegou ao portal de uma casa.

          De repente descalçou os sapatos, meteu a chave na fechadura e virou-se para mim, que a seguia com um sorriso de cumplicidade feminina:

           - A modista esteve a passar o vestido, eu só não o queria encorrilhar. O casamento é só amanhã – sorriu também, entre a ironia e uma pontinha de perversidade.

          Compreendi. Nada melhor do que um cabide humano para dar vida a uma peça de roupa. Sobretudo um vestido de noiva. E nada como um bom sonho para acordarmos com um sorriso nos lábios.
Templa - Membro nº 708

Citação de: Templa em 15 novembro, 2018, 22:49

         Vislumbrei-a pela primeira vez numa esquina, ao que me pareceu, Rua do Almada com a da Fábrica. Ou talvez não. A rua, estreita, um carreiro entre casas que se abraçavam entre si, tinha ao centro umas lajes resultantes da última grande revolução das infra-estruturas subterrâneas no Porto que as do Almada e da Fábrica não têm. Na mesma esquina, antes, já tinha visto um carro de corso, no caso, de casamento, uma carrinha de caixa aberta cheia de pessoas com ar de quem ia ou regressava de um enlace matrimonial. Deparei-me também com um anjinho – não me lembro das asas, só de uma carinha bolachuda e dos cabelos louros, de sexo indistinto como só os anjos,  sentado atrás num banco da camioneta, no meio de adultos para quem não tive grandes olhos.

          Depois surge então a noiva, uma rapariga elegante,  de porte altivo como se fora a dona do mundo. Num belíssimo vestido branco a realçar-lhe as curvas esculturais, seguia sozinha à minha frente, sobre uns altíssimos sapatos de tacão, espevitando a curiosidade de quem, no interior dos estabelecimentos, corria à porta para a ver passar solitária e linda.
A meio do percurso, vindos de todo o lado, começaram a surgir inúmeros rapazes, estudantes trajando capas negras, que, mais adiante, as lançaram no meio do lajedo convidando com esse gesto a noiva a passar sobre elas.

          Sorridente, recusou sempre, prosseguindo no seu passo elegante de salto alto, cauda a arrastar como se quisesse prolongar a sereia que havia dentro de si.

          Até que chegou ao portal de uma casa.

          De repente descalçou os sapatos, meteu a chave na fechadura e virou-se para mim, que a seguia com um sorriso de cumplicidade feminina:

           - A modista esteve a passar o vestido, eu só não o queria encorrilhar. O casamento é só amanhã – sorriu também, entre a ironia e uma pontinha de perversidade.

          Compreendi. Nada melhor do que um cabide humano para dar vida a uma peça de roupa. Sobretudo um vestido de noiva. E nada como um bom sonho para acordarmos com um sorriso nos lábios.

Bravo! Fantástico! ;)

"Cedo ou tarde você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho". 
(Morpheus, The Matrix)

Obrigada LuaMoliSh e Cassanda. Beijnhos.
Templa - Membro nº 708