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  • Billie Holiday e o estranho fruto sangrento do sul
    Iniciado por MissTiny
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Billie Holiday e o estranho fruto sangrento do sul
Em 1939, Billie Holiday lançou uma música de nome esquisito: "Strange Fruit", ou "Fruto Estranho", falava das estranhas frutas que pendiam dos álamos do sul, corpos negros e o cheiro de sangue no ar.


"Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.

Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop"

"As árvores do sul dão um estranho fruto,
Sangue nas folhas e sangue na raiz,
Corpos negros balançando à brisa do sul,
Estranhos frutos pendurados nos álamos

Cena pastoral e galante sulista,
Os olhos saltados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresco,
E então o repentino cheiro de carne queimando.

Aqui está a fruta para os corvos depenarem,
Para a chuva enrugar, para o vento sugar,
Para o sol apodrecer, para as árvores derrubarem,
Esta é uma estranha e amarga colheita".


Tá, todo esse papo poderia ser o fruto (estranho) da imaginação de um diretor de filme de terror. Mas o pior é que, embora soe como um cenário fictício, os versos foram escritos por um professor judeu e eram inspirados na mais pura verdade.

Ok, mas como um professor judeu e branco do Bronx emplacou a autoria do maior sucesso de Billie Holiday, que é também um dos hinos contra o racismo — e a primeira música a se posicionar contra a discriminação? Certo, vamos chegar lá. Mas vamos contar essa história de trás para a frente.

Em 1939, Billie Holiday teve um pequeno conflito com sua gravadora, a Columbia, porque queria gravar uma canção composta por um tal Lewis Allan. Depois de muita discussão, ficou decidido que a já aclamada cantora obteria uma licença para gravar a tal música em outra gravadora, a pequena Commodore – cujo dono, Milt Gabler, começou a chorar feito criança depois que Billie cantou para ele uma versão acapella da música.

No mesmo ano, em um compacto 78 rpm, saía "Strange Fruit". A música fez um sucesso estrondoso; era o ponto alto (e final) dos shows de Lady Day. Todas as luzes se apagavam e apenas um foco de luz era aceso sobre a cantora; daí ela desfiava os versos tristes sobre aquele cenário de horror no sul. Dá uma olhada como era:
Billie Holiday - Strange Fruit

E os versos ficam mais tristes ainda quando sabemos que a canção, composta por Abel Meerpool (o professor judeu que usou o pseudônimo de Lewis Allan), foi inspirada por uma fotografia chocante, muito chocante.

A foto não saiu de nenhum filme de terror. É real e foi tirada em 7 de abril de 1930, quando uma multidão linchou Thomas Shipp e Abram Smith, ambos de 19 anos, em Indiana – e por pouco não pegou um terceiro rapaz, chamado James Herbert Cameron, 16. Os três, negros, foram acusados de roubar e matar um homem branco e estuprar a namorada dele. Antes que recebessem um julgamento, foram mortos e pendurados em árvores pela multidão.

Os linchamentos eram bem comuns em certas áreas dos Estados Unidos desta época – especialmente de homens negros acusados — ou não — de crimes contra brancos. Também eram usados como uma forma de amedrontar os negros e mantê-los longe das urnas e de qualquer exercício de seus (poucos) direitos de cidadãos. Depois que o fotógrafo Lawrence Beitler registrou a cena que inspirou a música "Strange Fruit" (e vendeu milhares de cópias desta mesma fotografia que você viu aí em cima, a 50 centavos de dólar cada), no entanto, eles deixaram de acontecer. Terá sido o impacto da música?

Epílogo

James Cameron escapou vivo, escreveu a auto-biografia "Time of Terror: A Survivor's Story" ("Tempo de Terror: a História de um Sobrevivente") e fundou o Museu Americano do Holocausto Negro, que, nas palavras do próprio site da instituição, se propõe a "educar o público sobre as injustiças sofridas por pessoas de ascendência negra, além de proporcionar aos visitantes uma oportunidade de repensar suas suposições sobre raça e racismo".

Fonte:Multidisciplinar

"Uma descoberta é ver o que toda a gente viu e pensar o que ninguém pensou..."