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  • História de Tertuliano
    Iniciado por Marta149
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Tertuliano nasceu em família pobre, de pequenos agricultores. Desde pequeno apresentou
espírito refratário ao meio que o abrigou. Fazendo parte de uma prole extensa, nunca foi de dividir
com os onze irmãos quaisquer utensílios, brinquedos ou tarefas.
Tendo que acordar de madrugada desde garoto para trabalhar na roça, cada vez que era
sacudido pelo pai - homem austero que trazia sempre à mão a cinta ou a chibata como "bom"
corretivo - revoltava-se e se negava a sair da cama, principalmente nos dias de frio intenso do
inverno sulino. Não poucas vezes o patriarca jogou-o ao chão e com uma das pernas retendo-o pela
cabeça embaixo da bota o açoitava, botando-o a trabalhar com os pés descalços no campo coberto
de grossa camada de orvalho matinal, congelado pelas baixas temperaturas do pampa gaúcho.
Dessa maneira ele foi crescendo, entre a rebeldia e surras do pai que só lhe aumentavam a
revolta. Não aceitava ter que trabalhar daquele modo e o fato de não ser rico. Prometia para si que
assim que tivesse idade sairia de casa e nunca mais voltaria.
Por volta dos dezessete anos se alista nas forças armadas, na Aeronáutica. Tendo feito
Escola de Aprendizes de Sargento, se aperfeiçoa em treinamentos internos, chegando em alguns
anos ao posto de primeiro-sargento, resolvendo seguir carreira militar. Casa-se e tem dois filhos,
um casal.
Por volta do nascimento do primeiro filho, depara-se com ostensiva mediunidade aflorada,
o que o leva a se interessar pelas coisas do Além. De inteligência brilhante, rapidamente absorve
todos os conhecimentos kardequianos em pequeno centro espírita. Torna-se efetivo médium
psicógrafo, receitando homeopatia, o que era habitual pelos idos de 1950.
Atormentava-o uma curiosidade inata que o deixava muito inquieto. Começa a estudar
magia e se interessa pela Umbanda, o que o leva a freqüentá-la concomitante com o trabalho
espírita. Percebendo seus"dons"mediúnicos e a facilidade de intercâmbio com os Guias e
Protetores, Caboclos e Pretos Velhos, seguidos de curas fenomenais para a época, começa a se
envaidecer com os seguidos elogios dos consulentes. Um agrado aqui, um elogio acolá, sente-se
onipotente, indispensável. Resolve trabalhar com reduzidas pessoas na garagem da sua residência,
e começa a receber dinheiro pelos atendimentos e consultas.
Diante da necessidade de resultados e da cobrança insistente dos consulentes que pagavam
e queriam o serviço feito, acaba se entregando completamente à magia negra, com sacrifícios cada
vez maiores de animais, perdendo-se inteiramente no completo desrespeito às leis cósmicas, ao
livre-arbítrio alheio e ao merecimento individual de cada criatura.
Há muito os Guias e Protetores se haviam afastado, não por falta de amor pelo médium,
mas por completa incapacidade vibratória para aproximarem-se do dedicado aparelho de outrora,
que estava chafurdado num mar de lama pútrida, nas malhas de pesada organização do umbral
inferior.
E assim passaram-se os anos. Tertuliano se aposentou das Forças Armadas e nunca conseguiu ser rico como tanto almejava. Em completa perturbação, separado da esposa e os filhos
crescidos, o mais velho já casado, termina seus dias sozinho, em completa dementação, sem
dormir e muito magro. Fica noites seguidas como se fosse um autômato sem vontade, um robô
teleguiado, e é visto altas horas da madrugada abrindo buracos no cemitério da pequena cidade que
o abrigou, ao lado da igreja, na praça principal. Tertuliano reside à frente desse templo católico,
numa casa muito simples de madeira, nas cercanias da região metropolitana da Grande Porto
Alegre.
Para espanto geral da pequena comunidade muito beata, rola na terra úmida perto das
sepulturas, e com olhar petrificado, corta o pescoço de um cabrito, tomando o sangue quente que
verte abundante. Poucos dias após esta cena deprimente, morre de fulminante infarto agudo do
miocárdio, sozinho, magro e desnutrido, completamente louco.
Antes de sabermos o que ocorre com Tertuliano quando acorda do lado de lá, é oportuno
identificarmos a sua encarnação anterior, em que foi um poderoso médico e rico alquimista na
Espanha do século XVIII. Profundo conhecedor das ciências ocultas, utilizou ao máximo o poder
alquímico para dominar e enriquecer, tendo fundado uma espécie de seita satânica, em que as
longas orgias eram precedidas de rituais de magia negra com sacrifícios de belas donzelas em tenra
idade.
Tendo sido o seu corpo astral sensibilizado para ser médium de cura nesta última encarnação, no seio da Umbanda, recaiu abruptamente em fortes condicionamentos arraigados, e
num comportamento atávico, reativou a conduta de alquimista da Idade Média, esquecendo dos compromissos assumidos com os mestres cármicos e espíritos amorosos que o acompanhariam na
caridade terrena, que por sua vez muito o auxiliariam nos resgates dos desmandos do passado.
Voltemos ao despertamento de Tertuliano, agora no Plano Astral. Acorda e se vê preso num buraco enlameado, fétido e com uma legião de "homens-lobo", seres desgrenhados e raivosos
do umbral inferior a lhe baterem com correntes pontiagudas de aço que lhe dilaceram as carnes.
Fica assim não sabe por quanto tempo. Não tendo mais forças, se entrega num estado de torpor àquela dor dilacerante, e não se espanta mais com seus ossos expostos, os músculos e nervos
pendurados em pedaços como se tivesse virado animal esquartejado e exposto num matadouro, e o sangue que nunca cessa de jorrar. Num determinado instante, sente forte desejo sexual, e se lhe aproxima lânguida e sensual "mulher", mas quando lhe chega perto do campo limitado de visão,
percebe que no lugar da pele tem escamas cobertas de um tipo de musgo esverdeado pegajoso, que seus olhos são vermelhos, as pupilas como de felino, as unhas estiletes cortantes. O ente ignóbil dança a sua frente em gestos obscenos. Aquele artificial do astral inferior, que ele criou,
manipulando-o muitas vezes para separar casais, hipnotiza-o e o envolve sensualmente. Não podendo se controlar pelo intenso hipnotismo, se entrega ao conluio sexual com essa "mulher"
assombrosa, que lhe suga as últimas energias vitais, e sente que não tem mais vontade própria, perdendo sua última gota de dignidade. Roga a todos os demônios e lucíferes que o tirem de tão sinistro destino.
Imediatamente, em completa prostração e fraqueza, vê-se diante de um mago negro, que veste uma longa capa escarlate, de tórax e abdome encovados e de feitio reptílico, de aparência
geral comprida e delgada, com o pescoço dilatado similar a uma cobra naja enraivecida pronta a dar a investida mortífera, que se propõe arrebanhá-lo para as suas hostes, dizendo-lhe que assim
como todos eles haviam trabalhado para ele enquanto estava encarnado, agora era chegado o momento dele retribuir sendo escravo deles. Caso não aceitasse esta situação, que ficasse a penar no buraco em que se encontrava. Concorda com a proposta e a primeira missão que lhe dão é atacar e destruir a sua ex-esposa, o filho e a filha, como prova da sua fidelidade. Reluta, mas por fim cede, e completamente perdido de ódio por tudo e por todos, instala-se na contraparte etérica da residência dos antigos parentes.
Leva-os verdadeiramente a um inferno de Dante pelos fluidos enfermiços que exalava, que não detalharemos para o nosso relato não ficar excessivamente fúnebre.
Quando tudo parece que está chegando ao fim, e a companheira de décadas está quase louca, o filho só pensa em suicídio e a filha está grávida de pai desconhecido, a ex-esposa - antiga
médium de Umbanda - num vislumbre de lucidez, vê-se em quadro ideoplástico clarividente, criado e inspirado por "sua" preta velha, um espírito protetor, que orienta-a para procurar ajuda espiritual, sob pena de todos sucumbirem. Resolve determinadamente, surpreendendo-se com as
próprias forças, procurar ajuda num Terreiro de Umbanda.
Em consulta realizada, um Caboclo denominado Ogum Sete Lanças, incorporado num médium, diz que há um espírito familiar muito perturbado desestruturando a família. Solicita a
continuidade dos atendimentos, fala da persistência que os membros da família terão que demonstrar, e concomitante aos trabalhos habituais da Umbanda, encaminha todos para uma sessão de desobsessão, em que, na última quinta-feira de cada mês, são realizados diálogos fraternos com espíritos sofredores, naquele terreiro.
Através do comando da falange espiritual desse Caboclo, toda a organização trevosa foi retida e Tertuliano foi esclarecido e aceitou ir para um local de correção e estudo no Astral sob a égide da Umbanda. Seus familiares encarnados têm novamente o bem-estar em suas vidas.
Após um longo período de aprendizado e treinamento numa escola corretiva, Tertuliano foi aprovado para trabalhar no Plano Espiritual, como auxiliar numa legião entre as muitas que
compõem a Umbanda. Passou a ser denominado de Bará Longo, tendo este nome que o identifica impresso no uniforme que ocupa, em vermelho, como um bordado luzente, junto ao peito, logo acima do coração. Diz-nos que é somente um identificador do tipo de tarefa, pois muitos outros assim também são denominados, o que caracteriza a impessoalidade necessária à rígida disciplina da falange de que faz parte, que está sob as ordens do Exu Guardião Pinga- Fogo. Aceitou pelo exercício do seu arbítrio, a escala de trabalho que lhe apresentaram. Hoje labuta como instrumento
de combate à magia negra e aos antigos comparsas do umbral inferior, auxiliando o Guia Vovó Maria Conga, do Orixá Yorimá.
Assim, Tertuliano evolui no Astral, sob a égide da Umbanda, como um disciplinado Auxiliar, se fortalecendo para não fracassar na sua próxima encarnação, pois novamente retomará como médium. Atua no meio mais vil e rastejante que existe, no que podemos chamar de sombra da humanidade, que conhece muito bem, aplicando seus vastos conhecimentos de magia em prol
da justiça cósmica, semelhante curando semelhante, o que está acima do bem ou do mal como entendemos precariamente ..."



DO LIVRO: "jARDIM DOS ORIXÁS" RAMATÍS/NORBERTO PEIXOTO