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  • Nunca amamos alguém - Bernardo Soares
    Iniciado por SaraRS
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"Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é objecto, mas, em exacta verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.

As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois «amo-te» ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma ideia diferente, uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstracta de impressões que constitui a actividade da alma."

Bernardo Soares

Esta é a opinião do autor destas linhas.
A minha opinião é bem diferente.
Amamos o nosso Deus
Amamos a nossa mulher/ marido
Amamos os nossos filhos
Amamos a vida.....

Só diz isto quem nunca soube amar.

Ele no fundo também quer dizer isso, apenas leva as coisas para termos mais complexos e filosóficos :) como a questão do conceito, do uso da palavra, etc. Ele aprofunda e analisa as situações a um nível bastante meticuloso, que nos costuma passar ao lado.

É exagerado afirmar que "nunca amamos alguém", mas não é menos verdade que quando conhecemos uma pessoa criamos uma imagem dessa pessoa, da qual gostamos mais ou menos.

No que diz respeito a amizades e paixões, muitas vezes acontece que as pessoas apreciam ou apaixonam-se por essa imagem que foi criada, que pode não corresponder ao que a outra pessoa efectivamente é. Daí as muitas desilusões que se tem pela vida fora.

A própria palavra "desilusão" é indicativa desse fenómenos: havia uma ilusão e ela foi destruída.

As imagens que criamos dos outros, as primeiras impressões, podem ser tão doces, tão sedutoras, que são dificeis de desfazer à medida que se vai conhecendo o outro. Apegamo-nos aos nossos sentimentos por essa imagem. O apego mantém a ilusão.

É evidente que se tivermos sorte, conhecemos pessoas que são o que aparentam ser, e aí podemos desenvolver relações sinceras e profundas, sejam de amor ou amizade.

No que estou a dizer não cabe o amor dos pais pelos filhos, que é necessariamente diferente do tipo de amor de que estou a falar.
"Cedo ou tarde você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho". 
(Morpheus, The Matrix)

Ainda estamos muito longe de saber o que é realmente o verdadeiro Amor.
Abençoado seja o seu santíssimo nome em favor de todos nós Deus nosso Pai.

#5
Citação de: misticopt28 em 07 novembro, 2015, 13:18
Ainda estamos muito longe de saber o que é realmente o verdadeiro Amor.

Ainda que o que eu veja como amor esteja bastante próximo do que é dito no texto inicial, não posso deixar de concordar que nós perdemos por completo a noção do que é o amor, estamos bem longe de saber o que é

O autor, na sua busca e elaborando na profundeza, consegue realizar a ideia e fazer-se entender.

Porém, o seu pensamento segue um caminho filosófico, é certo, mas de grande complexidade e conclusões, no mínimo, polémicas.

Prefiro inequivocamente a filosofia ao serviço da realidade. Não o contrário.

O amor, independentemente da interpretação que cada um dele faz, é o sentimento maior da humanidade e não só...

As coisas mais maravilhosas são, por norma, extremamente simples. O amor não deve ser diferente.

#7
Fico contente que este texto, do nosso querido Fernando Pessoa na pele de um semi-heterónimo tenha suscitado tanto debate e reflexão.
Concordo, sem dúvida, que o amor deve ser e é algo simples, algo que surge naturalmente. Mas também não posso deixar de ficar maravilhada com a análise excelente que este poeta faz das coisas simples, desfragmentando-as em coisas complexas e racionais que nos deixam a pensar.

Sem sombra de dúvida que as palavras são 'máscaras', são conceitos indefinidos que existem na mente de cada um. Certamente, também, que os sentimentos não são comparáveis e não se podem medir e aquilo que chamamos de Amor não é igual uns para os outros. Os conceitos existem dentro de nós e a forma como o autor chega a isto acho simplesmente maravilhosa.
Por vezes, eu própria fico a pensar na forma como eu sinto as coisas e como os outros a sentem e como nos expressamos de formas diferentes ou iguais.

Também acho de uma beleza extrema a forma 'egoísta', nua e crua como ele retrata o amor sexual. Se formos a ver, é uma forma de nos usarmos uns aos outros, tem o seu quê de verdade e o seu quê de frieza. Mesmo o casal que se ama, usa-se sem pudor para terem prazer juntos: é um egoísmo consentido que acaba por não o ser.

Perdoem os meus devaneios mentais :D

livro do desassossego se não me engano